Celebrando os 130 anos de fundação do Instituto Nossa Senhora do Carmo, recordamos também o jubileu de presença das Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil, vindas em 1892 para fundar e conduzir esta casa que temos por primeira em terras brasileiras. Assim, este singelo acervo tem como objetivo homenagear e preservar a história da nossa "Mornese brasileira", resgatando a trajetória desta casa e do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora em terras brasileiras.

Origens

O início da expansão

Fachada, 1892

Vista da parte externa, 1892

Entrada, 1892

O ano é 1877. Na solenidade da natividade de Maria Santíssima, 08 de setembro, Dom Bosco anuncia o desejo de enviar à América, mais especificamente ao Uruguai, a primeira expedição missionária do Instituto, cujo objetivo era dar início à tão sonhada expansão do carisma salesiano feminino.

Aos 27 de setembro do mesmo ano, ele anuncia os nomes das Irmãs missionárias que seriam enviadas às terras uruguaias. Meses depois, em 14 de novembro, parte o navio Savoie tendo a bordo as seis Irmãs escolhidas, chegando em Montevidéu em 12 de dezembro. Lá elas abrem a casa de Vila Colón e iniciam suas atividades na América.

Não tardou a começarem as movimentações para a vinda das Irmãs ao Brasil que, a essa altura, já conhecia a figura do bom Pai Dom Bosco.

A vinda para o Brasil

Com a chegada dos Salesianos, em 1883, o sonho de ter também a presença da congregação feminina começou a tomar forma. Em 1886, Monsenhor João Filippo dá início ao projeto de construção do Colégio que leva o título de Nossa Senhora do Carmo, começando a obra em 1887. Ao final da construção, em 1891, o sacerdote obtém do Reitor-Mor, Pe. Miguel Rua, a autorização para a vinda das Irmãs Salesianas para assumirem a direção da casa destinada às meninas. Inicia-se assim a missão Salesiana FMA em terras brasileiras.

Em 5 de março de 1892 partiram, de Montevidéu, doze Irmãs FMA com a finalidade de assumir o Colégio do Carmo e abrir mais duas casas no Brasil. Foi nomeada a Superiora a Irmã Teresa Rinaldi, tendo em sua companhia as Irmãs: Florinda Bittencourt, Helena Ospital, Paula Zuccarino, Joana Narizano, Dolores Machin, Ana Couto, Dileta Maldarin, Justina Gros, Francisca Garcia e as noviças, Matilde Bouvier e Maria Luisa Schilino. A expedição veio acompanhada ainda pelo Revmo. Pe. Domingos Albanello, nomeado prefeito do Colégio São Joaquim, de Lorena. Chegaram ao porto do Rio de Janeiro no dia 10, às 20h, no navio Sud América.

1ª Expedição Missionária

14 de novembro de 1877 - Itália x Uruguai

1ª Expedição para o Brasil

1892 - Uruguai x Brasil

Chegada e Inauguração do Colégio

Após passarem por Niterói e Lorena, seguiram viagem em trem até Guaratinguetá no dia 16 de março, tendo sido recebidas às 14h, na estação ferroviária da cidade. Haviam lá para a recepção alguns sacerdotes, autoridades civis, muitas famílias e grande população, além de uma animada banda musical. Após uma solenidade na Igreja Matriz, dirigiram-se ao Colégio que previamente havia sido adornado com arcos e flores.

Acompanhadas do fundador, Pe. Monsenhor João Filippo, e do diretor do Colégio Salesiano de Lorena, Pe. Carlos Peretto, entraram primeiramente na Capela, onde a lâmpada acesa no altar indicava a presença de Jesus Sacramentado que já havia tomado posse da casa. Em seguida visitaram todo o edifício, mobiliado e abastecido completamente com capacidade imediata para 200 meninas, podendo a estrutura acolher 400. Tamanha era a benfeitoria de Mons. Filippo que fez o necessário para prover tudo às Irmãs e às jovens que atenderiam.

E a partir deste dia, a presença das Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil criou raízes como uma árvore frondosa e fecunda, se espalhando com grandeza e graciosidade pelos quatro cantos do país. Seguiram-se então a inauguração desta casa, em 20 de abril do mesmo ano, e de inúmeras outras ao longo do estado e além dele.

O Colégio do Carmo assim, guarda em seu existir a semente original que brotou e deu frutos por toda a terra brasileira, concentrando sobre seu chão a história de inúmeras gerações e figuras que por aqui passaram. Suas paredes guardam a dedicação de um sacerdote que, com quase nada, fez o muito que temos hoje. Guarda também o testemunho das primeiras Irmãs que para cá vieram e que aqui lançaram à terra suas vocações. E, especialmente, o carisma salesiano feminino das origens, aquele dos tempos de Madre Mazzarello, que faz do nosso Carmo a Mornese brasileira há 130 anos.


Fontes:

Cronistoria do Instituto FMA, vol. 2

Crônica do Colégio Nossa Senhora do Carmo (1892-1928)

As Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil: Cem anos de história, vol. 1

monsenhor joão felippo

Benditos são os frutos que os sonhos permitem semear e colher. E de sonho em sonho, consolidou-se o maior deles nesta terra fecunda e abençoada. Recorrendo ao passado, nos lembramos que São João Bosco foi um homem de grandes sonhos, e também de grandes realizações. Feitos que custaram muito do seu árduo trabalho, do seu suor, das suas economias e, sobretudo, da sua vida inteiramente dedicada aos jovens. “Eu não disse que seria fácil, mas que valeria a pena!”, afirmava o Santo dos Jovens. Pode-se dizer que João Filippo seguiu as mesmas instruções para consolidar sua vida.

Nascido em 24 de junho de 1845, em San Vincenzo La Costa, Província Italiana de Cosenza, chegou em Guaratinguetá em 1873 para transformar a realidade à sua volta. Na ‘terra das garças brancas’ ele fez grandes coisas, que ficariam mais tarde impressas na história da cidade. Monsenhor João Filippo é ainda hoje lembrado pela ‘salvação das almas’, não somente na prática religiosa e na formação integral com as quais se preocupou, mas também na promoção da dignidade, sem fechar os olhos para as questões sociais da época.

Dentre seus muitos feitos, lembramos a direção da reforma da Matriz de Santo Antônio, também o auxílio nas reformas da Santa Casa de Misericórdia, e sua atuação como Provedor do Asilo Santa Isabel durante muitos anos.

Mas além das marcas de sua santa passagem, deixou ainda monumentos nesta terra. E falar em ‘Monumentos’ em uma mesma reflexão que cita Dom Bosco não é mera coincidência. Monsenhor Filippo deixou monumentos construídos com o suor de seu trabalho e devoção, para que os outros muitos ‘Monumentos’ que Dom Bosco fundou pudessem criar suas raízes no Brasil e ser, como era desejado, sinais de sua gratidão à Maria Auxiliadora.

A maior entre suas obras foi a construção do Colégio do Carmo, no coração da cidade que o acolheu. A casa que mais tarde se tornaria o mais tradicional Instituto de educação do município, começou do desejo de cuidar das meninas da região. E diante de tão especial desejo, não poderia a Providência deixar de agir. Onde mais poderia encontrar carisma para assumir a casa e tornar seu sonho realidade senão em Dom Bosco e Madre Mazzarello?

João Filippo concretizou na pequena Guaratinguetá o que os fundadores salesianos desejavam para o mundo: um lar onde reina o amor. E assim, fez de nossa terra a ‘Mornese brasileira’, a casa mãe de uma presença que não tardaria a se espalhar pelo Brasil como as raízes da semente que cai em terra boa.

O Colégio do Carmo torna-se assim referência na formação feminina, trazendo consigo os valores da educação salesiana que tanto poder tem em transformar o mundo. Entre os inúmeros desafios que a sua imponente construção demandava, a Providência não deixou faltar nada que fosse necessário, ainda que muito custasse aos esforços do santo sacerdote.

Finalizou a construção em 5 anos, deixando tudo pronto para atender cerca de 200 meninas com tudo o que fosse necessário e coubesse na despensa. E em pouco tempo a casa passou a abrigar 400, até 600 meninas que aqui viviam em regime de internato e vivenciavam junto das Irmãs a sua formação primária. Permaneceu assim até 1971, quando passou a receber também meninos para a educação.

O Colégio é, portanto, desde aquele longínquo 16 de março de 1892, a casa de inúmeras gerações que por aqui passaram e que continuam a chegar, somando às milhares de vidas que aqui se deixaram transformar.

Mas Monsenhor Filippo não parou aí. Construiu o Colégio, equipou, solicitou a presença das Irmãs e entregou a elas toda a sua obra para que tomassem conta e realizassem aqui o seu projeto de vida, dedicada inteiramente à juventude. E depois de tudo isso, preocupou-se ainda com os meninos e, mais tarde com os orfãos.

Três anos após a inauguração do Colégio, em 1895 Monsenhor Filippo já possui outra obra: o Colégio São José, para os meninos. Mais tarde, em 1914, inicia a construção do Orfanato Puríssimo Coração de Maria, finalizado e inaugurado em 1924, e também dirigido pelas Irmãs Salesianas, Filhas de Maria Auxiliadora.

Neste período de construção, inaugura em 1921 a gruta dedicada a Nossa Senhora de Lourdes, trazendo em seguida, diretamente da França, pedras do local onde aconteceu a aparição de Nossa Senhora, pedindo-lhe que abençoasse toda água que ali passasse, realizando as mesmas graças que realizava em Lourdes.

E se fôssemos mencionar aqui todos os feitos do amado sacerdote, incontáveis seriam estas páginas que dificilmente conseguiriam resumir 55 anos de vida apostólica a serviço da Santa Igreja e do povo guaratinguetaense. Mas cabe aqui ressaltar o quão importante foram as contribuições deste ilustre morador, não somente italiano, mas de coração brasileiro que entre nós viveu.

Seu olhar atento, repleto de caridade e pobreza, fez coisas inimagináveis por aqueles que mais precisavam. Contribuiu de diversas formas para o desenvolvimento da cidade, seja no âmbito social, econômico, educacional e mesmo religioso, infundindo nos corações do povo uma fé inabalável e capaz de tudo por amor.

Deu às crianças e jovens da região a dignidade que só a educação concede, e permitiu que muitos tivessem uma formação completa, desenvolvendo suas profissões, vocações e valores.

E depois de anos tão bem vividos com humildade, generosidade e visíveis sinais de santidade, João Filippo permanece junto das Irmãs, no Orfanato, até sua morte em 1928, aos 83 anos de idade. Lá é cuidado por elas nos últimos anos de sua vida, já acometida pela doença que aos poucos o levou.

Com toda a sua sensibilidade, afirmava: "Preciso ser coração, preciso ser amor para de todos os modos, pôr fim a todas as tristezas". E deixou-nos de herança suas obras que permanecem sendo um tesouro, provas de sua humildade e dedicação para com o outro.

Algumas de suas construções já não existem mais. Foram levadas pelo progresso, ou mesmo pela necessidade humana de se fazer e refazer. Mas permanece forte e robusto o seu Colégio, seu orfanato que com o tempo tornou-se obra social, e todas as demais contribuições que sua santa generosidade foi capaz de providenciar. E mais do que isso, deixou-nos de herança o carisma salesiano que aqui chegou por primeiro.

Talvez, e muito provavelmente, a obra de Dom Bosco e Madre Mazzarello chegaria ao Brasil e se espalharia por aqui, como água que inunda a terra, por outras mãos que não fossem as dele. Mas a Providência quis que por João Felippo viessem as primeiras Irmãs e se instalasse no país o carisma que conquistou o mundo. E por isso, não poderia ser mais especial esta nossa trajetória.

Do que sonhou Monsenhor, brotou uma robusta árvore que se aproxima dos seus 130 anos, semeada no que se tornou o coração do Brasil salesiano, e que continua a dar bons frutos nesta terra que a acolheu. Eis então a importância desta casa, idealizada e construída por este santo homem: a primeira das muitas obras de presença das Irmãs Salesianas no país, a casa-mãe, o santuário das memórias desta nossa família religiosa, o jardim onde João Felippo depositou a mais preciosa obra de sua vida: a santidade.

Se nossas paredes pudessem falar, certamente agradeceriam com louvor os feitos deste sacerdote tão querido, que com as próprias mãos, boa vontade e sacrifícios, as levantou. Resta depositar aqui, os mais sinceros e merecidos agradecimentos ao fundador e, porque não dizer, pai de nosso Colégio, para sempre lembrado, Monsenhor João Felippo.


Guaratinguetá, Janeiro de 2022

Isadora Lina, Ex-aluna e Educadora do Colégio do Carmo

Mons. João Felippo

Inauguração do busto em sua homenagem, em 1917.

Comunidade Religiosa, 1917. À esquerda da imagem, na fileira de baixo, a Diretora, Ir. Domenica Odone

Capela

Capela original, 1892

Modificação, 1913