CORREDORES ECOLÓGICOS

 Mapas para Subsidiar a Identificação de Áreas para Implantação de Corredores Ecológicos e o Estabelecimento de Programas de Conectividade das Espécies Alvo do PAN Primatas do Nordeste

Apresentação

As espécies alvo do Plano de Ação Nacional para Conservação dos Primatas do Nordeste, PAN PRINE, são ameaçadas de extinção, classificadas como Criticamente em Perigo (Callicebus barbarabrownae, o guigó-da-Caatinga), Em Perigo (Sapajus flavius, o macaco-prego-galego; Sapajus xanthosternos, macaco-prego-do-peito-amarelo; Alouatta ululata, guariba-da-Caatinga; e Callicebus coimbrai, o guigó-de-Coimbra) ou Vulnerável (Alouatta belzebul, guariba-de-mãos-ruivas). Estes primatas ocorrem na Mata Atlântica, Caatinga e parte do Cerrado, sendo estes biomas considerados internacionalmente como de grande relevância biológica e fortemente ameaçados.

Considerando que estes biomas se encontram bastante impactados, é importante conhecer a estrutura do ambiente onde estas espécies vivem, para se compreender como elas se movimentam em ambientes tão heterogêneos. Neste sentido, as áreas de cobertura do solo que são adequadas à sobrevivência e reprodução de uma ou mais espécies são conhecidas como manchas de hábitat, enquanto chamamos de matriz todos os outros tipos de cobertura do solo não naturais ou modificadas que compõem a paisagem entre as manchas de hábitat. Em larga escala, a matriz pode ser frequentemente composta por diferentes tipos de cobertura do solo (como áreas urbanas, estradas, pastagens, lavouras, dentre outras), muitas vezes formando um mosaico com diferentes classes, que podem impactar o deslocamento de um determinado organismo de diferentes formas.

A perda e degradação de hábitats resultam em paisagens identificadas como fragmentadas, onde as manchas de hábitat se tornam cada vez mais isoladas. Esta fragmentação representa grande impacto na dinâmica de movimentação das espécies, muitas vezes resultando em populações também isoladas e susceptíveis aos diversos impactos que o isolamento pode causar às populações naturais, como aumento da suscetibilidade a eventos estocásticos (como incêndios ou eventos de seca severa), aumento da endogamia (cruzamento entre indivíduos geneticamente muito próximos ou familiares), aumento da vulnerabilidade à pressão de caça e domesticação, entre outros. Assim, o estabelecimento de estratégias de conservação que visem minimizar ou reverter os impactos desta fragmentação de hábitats é essencial, especialmente para espécies ameaçadas, com distribuição restrita ou com tamanho populacional reduzido.

Um dos objetivos do PAN PRINE é o de promover a conectividade de hábitats e de populações das espécies alvo do PAN, estabelecendo como produtos previstos a criação e divulgação de mapas para orientar a restauração da conectividade, principalmente nas áreas importantes para a conservação das espécies. Assim, no âmbito do projeto “Primatas Ameaçados do Nordeste: Conhecendo Populações e Hábitats para Conservar Espécies”, financiado pelo Fundo de Defesa de Direitos Difusos - FDD, e executado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros, CPB/ICMBio, foram executados modelos de corredores ecológicos para as seis espécies alvo do PAN PRINE, gerando mapas com propostas de caminhos de menor custo para potencial implantação de corredores ecológicos.

Cada mapa gerado traz a identificação das áreas para potencial implantação de corredores ecológicos, com informações sobre as classes de uso e cobertura do solo e as áreas importantes de cada espécie, quando disponível. A partir da divulgação destes mapas entre colaboradores do PAN PRINE, gestores estaduais e municipais, empresários e representantes da sociedade civil organizada, pode-se construir programas de conectividade regionais específicos, de acordo com a realidade das áreas com presença das espécies, visando promover iniciativas de conectividade de hábitats e de suas populações.

Todos os mapas gerados pelas análises de conectividade, em diferentes formatos, estão disponibilizados abaixo. Além dos mapas estáticos, disponibilizados em alta resolução, foram criados mapas iterativos, em formato .html, com as propostas de corredores ecológicos para cada espécie, com os registros de ocorrência conhecidos e o destaque das áreas importantes. Neste formato, será possível a qualquer interessado, analisar com maior detalhamento os caminhos de menor custo que foram identificados para cada espécie, favorecendo futuras análises detalhadas sobre as diferentes possibilidades de corredores ecológicos, estabelecimento de prioridades e potenciais ajustes, quando necessários, considerando as especificidades de cada localidade, recursos existentes ou parceiros identificados. 

Metodologia

Os modelos de corredores ecológicos foram produzidos para as seis espécies alvo do PAN PRINE, considerando a área de distribuição de cada espécie (Figura 1). Os modelos foram gerados utilizando as ferramentas do aplicativo Linkage Mapper. Este aplicativo utiliza um mapa vetorial de hábitat central, um mapa tipo raster de superfície de resistência ao movimento e um arquivo de distâncias euclidianas entre as áreas de hábitat. Desta forma, são gerados corredores de menor custo entre os hábitats das espécies, considerando a capacidade delas se movimentaram na paisagem.

Os mapas de superfícies de resistência e de hábitat, utilizados como base para a geração dos corredores, foram criados a partir de mapas de cobertura e uso do solo do Projeto MapBiomas, Coleção 7, Rodovias estaduais e federais e Altura da vegetação (para as espécies com distribuição na Caatinga), sendo todas camadas tipo raster, com resolução de ~30 m.

Os mapas de superfície de resistência, assim como os de hábitat, foram criados a partir de valores relativos de resistência e de hábitat atribuídos a diferentes classes da paisagem (como estradas, áreas urbanas, rios, áreas de mata, lavouras, dentre outras) (Figuras 2 e 3). Especialistas em cada espécie alvo foram consultados para atribuir os valores de resistência ou de hábitat para as classes de característica da paisagem. Após reuniões com os grupos de especialistas, os valores para cada classe foram definidos. As decisões foram tomadas com base em características biológicas e ecológicas das espécies, como, por exemplo, a capacidade de dispersão e de deslocamento pelo solo, dentre outras que indiquem a probabilidade de uma espécie se movimentar em diferentes tipos de cobertura do solo.

Para melhor detalhamento sobre a metodologia utilizada e parâmetros utilizados nos modelos, acesse o Relatório com os resultados das análises de conectividade e identificação das áreas para implantação de corredores.


Figura 1. Mapa indicando as áreas de ocorrência das espécies alvo do PANPRINE: Alouatta ululata, Alouatta belzebul, Sapajus flavius, Callicebus coimbrai, Callicebus barbarabrownae e Sapajus xanthosternos.

Figura 2. Representação da produção do mapa de hábitat central para a área de ocorrência do macaco-prego-galego, gerado a partir dos mapas de superfície de resistência e de hábitat, além das informações sobre a ecologia da espécie (parâmetros como tamanho de área de uso e distância de dispersão da espécie). No mapa de hábitats centrais a cor verde representa as áreas de hábitats centrais para a espécie e utilizadas para posterior geração dos modelos de corredores

Figura 3. Representação de como foi gerado o mapa de superfícies de resistência (A) e de hábitat (B) para a área de ocorrência do macaco-prego-galego, utilizando as três camadas em formato raster: cobertura e uso do solo do Projeto MapBiomas (MAPBIOMAS PROJECT, 2022), Estradas federais e estaduais (DNIT, 2021) e Altura da vegetação (POTAPOV et al., 2021), todos com uma resolução de aproximadamente 30 m.

Referências Bibliográficas

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DNIT. Sistema VGeo: Visualizador de Informações Geográficas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). , 2021. Disponível em: <https://servicos.dnit.gov.br/vgeo/>. Acesso em: 6 out. 2022

FERRARI, S. F. et al. Living on the Edge: Habitat Fragmentation at the Interface of the Semiarid Zone in the Brazilian Northeast. Em: MARSH, L. K.; CHAPMAN, C. A. (Eds.). Primates in Fragments. New York, NY: Springer New York, 2013. p. 121–135.

FORMAN, R. T. T. Some general principles of landscape and regional ecology. Landscape Ecology, v. 10, n. 3, p. 133–142, jun. 1995.

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MAPBIOMAS PROJECT. Collection 7 of the Annual Land Cover and Land Use Maps of Brazil (1985-2021). MapBiomas Data, , 2022. Disponível em: <https://storage.googleapis.com/mapbiomas-public/initiatives/brasil/collection_8/lclu/coverage/brasil_coverage_2021.tif>. Acesso em: 27 dez. 2023

MARSH, L. K. et al. Fragmentation: Specter of the Future or the Spirit of Conservation? Em: MARSH, L. K. (Ed.). Primates in Fragments. Boston, MA: Springer US, 2003. p. 381–398.

MCRAE, B. H.; KAVANAGH, D. M. Linkage Mapper Connectivity Analysis Software. Seattle WA, 2011. Disponível em: <https://linkagemapper.org/>. Acesso em: 29 nov. 2023.

MCRAE, B. H.; SHIRK, A. J.; PLATT, J. Gnarly Landscape Utilities: Resistance and Habitat Calculator User Guide. Fort Collins, CO, 2013. Disponível em: <https://.org/gnarly-landscape-utilities/>. Acesso em: 29 nov. 2023.

POTAPOV, P. et al. Mapping global forest canopy height through integration of GEDI and Landsat data. Remote Sensing of Environment, v. 253, p. 112165, fev. 2021.

Relatório

Realize o download do documento completo com os resultados das análises de conectividade e identificação das áreas para implantação de corredores.

Mapas (downloads)

Realize o download dos mapas resultados das análises de conectividade e identificação das áreas para potencial implantação de corredores ecológicos, visando o estabelecimento de um programa de conectividade para as espécies alvo do PAN PRINE. 

Guariba-de-mãos-ruivas (Alouatta belzebul)
Mapa Interativo | Mapa Estático
Guariba-da-Caatinga (Alouatta ululata)
Mapa Interativo | Mapa Estático
Macaco-prego-galego (Sapajus flavius)
Mapa Interativo | Mapa Estático
Macaco-prego-do-peito-amarelo (Sapajus xanthosternos)
Mapa Interativo (Leste e Oeste) | Mapa Estático
Guigó-de-Coimbra (Callicebus coimbrai)
Mapa Interativo | Mapa Estático
Guigó-da-Caatinga (Callicebus barbarabrownae)
Mapa Interativo | Mapa Estático