Compreender os diferentes contextos em que as crianças estão inseridas é fundamental para contribuir com o seu desenvolvimento. As especificidades que permeiam as práticas pedagógicas inclusivas devem levar em consideração a realidade do aluno, da família e da escola.
A legislação para a educação inclusiva no Brasil, contribui para a discussão sobre os espaços a oferta de atendimento educacional especializado, bem como a construção de ambientes que favoreçam a troca de saberes entre os diferentes pares.
A criança com surdez precisa estar inserida em um ambiente acolhedor que respeite o modo como se comunica e preserve a Libras como sua primeira língua. Neste contexto, o papel do tradutor/intérprete é fundamental, uma vez que este profissional deverá mediar a comunicação entre surdos e ouvintes, crianças e crianças, professore aluno e contribuir com a acessibilidade nas comunicações.
O papel do intérprete é
Realizar a interpretação da língua falada para a língua sinalizada e vice-versa observando os seguintes preceitos éticos: a) confiabilidade (sigilo profissional); b) imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com opiniões próprias); c) discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação); d) distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal são separados); e) fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode alterar a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o que realmente foi dito). (BRASIL, 2004, p.28)
É fundamental compreendermos como este processo acontece na prática. Desta forma, a seguir, apresentamos um exemplo de interação entre o surdo e o intérprete.
1- Professor: hoje iremos tratar sobre o problema da camada de ozônio.
2- Tradutor: HOJE AULA SOBRE PROBLEMA C-A-M-A-D-A O-Z-Ô-N-I-O (“Camada de ozônio” será datilologiado, pois, na Libras, desconhecemos um sinal correspondente).
3- Surdo: C-A-M-A-D-A D-E O-Z-O-N-I-O NÃO SABER.
4- Tradutor: POLUIÇÃO/ MUNDO/ ACONTECER/ BURACO/ CÉU.
5- Surdo: POLUIÇÃO/ MUNDO/COMO?
6- Tradutor: FÁBRICA/ FUMAÇA/ TAMBÉM/ FOGO/ FLORESTA/ SUJO/ CÉU.
7- Surdo: PROBLEMA/ C-A-M-A-D-A/ O-Z-O-N-IO/ IGUAL/POLUIÇÃO/ ABRIR/ BURACO/ CÉU.
8- Tradutor: OK
Na primeira linha, o professor da disciplina de português do ensino fundamental de uma escola de educação regular da rede estadual, onde há um surdo incluído e um intérprete, anunciou o tema sobre a camada de ozônio, do qual iria tratar em sua aula. Na segunda linha, o tradutor realizou uma interpretação simultânea da fala do professor. Podemos observar, na terceira linha, que o surdo não tinha o conhecimento do que significa camada de ozônio. Ainda que seja um assunto polêmico e muito divulgado pela mídia, essa informação não chegara ao conhecimento do surdo. Portanto, observa-se que, na quarta linha, o tradutor busca referenciais em seu sistema linguístico, para contextualizar uma possível significação de “camada de ozônio”. Na quinta linha, o surdo questiona o que seria a poluição no mundo. O tradutor busca, então, novamente, no seu referencial, escolhas linguísticas que permitem ao surdo elaborar uma imagem, recorrendo, para tanto, a representações como poluição de fábrica e queimadas das florestas. Na sétima linha, o surdo faz a relação do que seja o problema da “camada de ozônio”, produzindo um sentido para essa expressão.
Apresentada essa contextualização, verifica-se uma possibilidade da construção de conceitos por meio das referências do intérprete, em que ele buscou em seu referencial escolhas linguísticas para sanar um ruído conceitual apresentado pelo surdo, isto é, nesse caso, o surdo não possui em seu sistema referencial e linguístico conhecimento sobre o assunto tratado pelo professor, assim dificultando sua compreensão sobre o mesmo.
Verifica-se, também, a importância de o surdo ter clareza dos signos sobre o assunto tratado, para que haja um entendimento linear da situação, sem ruídos. Sendo assim, para que esse processo ocorra com sucesso, é indispensável o planejamento por parte do intérprete em relação ao assunto, de modo que este deve buscar informações precisas sobre o objeto de estudo, para poder interagir, eficientemente, com o surdo nas suas dificuldades linguísticas.
Fonte: MARCON, A. M. O papel do tradutor/intérprete de Libras na compreensão de conceitos pelo surdo. ReVEL, v. 10, n. 19, 2012.
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