Em continuidade aos nossos estudos, no Capítulo 3, abordaremos as contribuições/ações do profissional psicopedagogo e sua relação com o processo de ensino-aprendizagem.
UNIDADE 3 - APRENDIZAGEM COMO FOCO NORTEADOR DO PROFISSIONAL PSICOPEDAGOGO
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:
Conhecer as contribuições da Psicopedagogia no processo de ensino e aprendizagem.
Aplicar os conhecimentos adquiridos para compreender os possíveis problemas de aprendizagem.
Dinamizar de maneira contemplativa muitos dos processos de ensino e aprendizagem em que o sintoma aparente seja o fracasso escolar.
“Quando você pensa que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas”.
Luís Fernando Veríssimo
Caro(a) leitor(a), pretendemos, neste terceiro capítulo, abordar um pouco mais sobre quais as reais contribuições/ações do profissional psicopedagogo e sua relação com o processo de ensino e aprendizagem. A intenção dessa discussão surge da necessidade de buscar alternativas para prevenir e amenizar, ou, quem sabe, extinguir (caso seja possível) a “sombra” do fracasso escolar.
A importância desse enfoque é apontar caminhos e direcionamentos que condicionem mais harmonicamente as intervenções psicopedagógicas. A partir dessa ação, busca-se um olhar mais amplo e inclusivo, considerando sempre as possibilidades e oportunidades, e não o oposto deste pensamento.
A cada interpretação psicopedagógica, um novo olhar se faz necessário. Não há um modelo padrão de intervenção psicopedagógica engessada. O que deu certo em algum momento, pode não dar conta noutra realidade. A solução de um determinado problema está na raiz deste e não em sua aparência artificial. Essa leitura é bem mais complexa e instigante. Cada caso é “um” caso. Cada forma de “perguntar” muda toda a resposta. Por isso, pesquise o “novo”, busque respostas apropriadas e não padronizadas. Recorra aos estudiosos que iluminarão suas respostas. Não se contente com possibilidades evasivas.
Para ilustrar esse pensamento, nada melhor que Freire (1996, p. 32):
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.
Que as belas e significativas palavras de Paulo Freire possam realmente inspirar na busca contínua por mais conhecimentos. Bons estudos!
Paulo Freire (1996) incentiva à reflexão dizendo que a curiosidade ingênua, de que resulta indiscutivelmente um certo saber, não importa que metodicamente sem rigor, é que caracteriza o senso comum. O saber de pura experiência feito.
Portanto, para dar continuidade aos estudos, é necessário rever de alguns autores, e analisar de outros, conceitos a respeito da aprendizagem humana. Segundo Scoz (1998, p. 2) “a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os”. Scoz (1998, p. 82) ainda diz que: “a origem de toda a aprendizagem está nos esquemas de ação que o indivíduo desenvolve e que dependem, por sua vez, da integridade orgânica e corporal”.
Do ponto de vista de Weiss (1994, p. 6), “a psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores”.
Para Visca (1987, p. 7), “a psicopedagogia nasceu como uma ocupação empírica pela necessidade de atender crianças com dificuldades de aprendizagem, cujas causas eram estudadas pela medicina e psicologia”. O mesmo autor acrescenta, ainda, que “com o decorrer do tempo, o que inicialmente foi uma ação subsidiaria destas disciplinas, foi se perfilando como um conhecimento independente e complementar”. Também ressalta, com relação ao processo de ensino aprendizagem, que a psicopedagogia é possuidora de “recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios”.
Para Bossa (1994, p. 8), o objeto central de estudo da Psicopedagogia “está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos - bem como a influência do meio (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento”.
Nesse pressuposto devemos considerar, conforme Fernandez (1990), que a origem do problema da aprendizagem não se encontra na estrutura individual, pois o sintoma se ancora em uma rede particular de vínculos familiares os quais se entrecruzam com uma também particular estrutura individual. A criança suporta a dificuldade, porém necessária e dialeticamente, os outros dão o sentido.
Para Freire (1986, p. 29), “não há saber mais ou saber menos, há saberes diferentes”. Diante dessa análise, é preciso humildade, como alguém que anuncia seu saber e suas descobertas relativas. Jamais adotar uma posição de ser “superior”, de quem ensina a um desprovido de conhecimento, o qual no senso comum costuma ser chamado rotineiramente de “ignorante”, pois, isso, é psicopedagogicamente inadmissível!
O saber se faz por meio de uma superação constante. O saber superado já não é uma ignorância. Todo saber humano tem em si o testemunho do novo saber que já anuncia.Todo saber traz consigo sua própria superação, portanto, não há saber nem ignorância absoluta, mas somente uma relativização do saber ou da ignorância. Lembre-se que ao interpretar e compreender dessa forma, os julgamentos serão muito mais coerentes e sensatos (FREIRE, 1986).
Segundo Freire (2014, p. 112):
A auto-suficiência é incompatível com o diálogo. Os homens que não têm humildade ou a perdem, não podem aproximar-se do povo. Não podem ser seus companheiros de pronúncia do mundo. Se alguém não é capaz de sentir-se e saber-se tão homem quanto os outros, é que lhe falta ainda muito que caminhar, para chegar ao lugar de encontro com eles. Neste lugar de encontro, não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há homens que, em comunhão, buscam saber mais.
Sabendo que a comunhão aproxima com segurança o “saber compartilhado”, é possível seguir com mais confiança nos nossos estudos, não é mesmo?
Pois bem! No sentido de compreender a Psicopedagogia além do olhar inicial, ou seja, da singela junção dos conhecimentos advindos da Psicologia e da Pedagogia, Beauclair (2006, p. 28-29) esclarece que é “uma área do conhecimento que se propõe a interagir, de modo coerente, conhecimentos e princípios de diferentes ciências humanas, com a meta de adquirir uma ampla compreensão sobre os variados processos inerentes ao aprender humano”.
Para um maior aprofundamento sobre o assunto, sugere-se a leitura das seguintes obras: a) PAÍN, Sara, Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artes médicas, 1985; b) PAÍN, Sara. A Função da ignorância. Porto Alegre: Artmed, 1999.
Bossa (1994, p. 8) ressalta que “a psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto”. Para o autor, compreender melhor a construção complexa do conhecimento é “colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que estão implícitos”.
Com base na informação anterior, é possível dizer que a ação psicope-dagógica deve estar sempre pautada em alguns cuidados primordiais. Um deles é compreender e interpretar de maneira segura o que cada sujeito traz consigo, implicitamente, sua bagagem cognitiva, afetiva e social.
Para obter bons resultados na aprendizagem, é imprescindível que, primeiramente, o aprendente, ou seja, o estudante, consiga de maneira segura reconhecer e decodificar; conhecer as regras lógicas e de convivência; ter condição emocional e neurológica saudável; atribuir e anunciar algum significado ao objeto de aprendizagem; unir esta representação ao seu sentido e condição psicomotora, entre tantos outros. Com esses movimentos investigativos, torna-se menos complicado identificar aquilo que possa estar “travando” a condição subjetiva do ser humano em seu processo de aquisição de novos conhecimentos.
A cada dia escrevemos uma nova afirmação referente aos nossos desejos de obter sucesso, pois somos nós mesmos os escultores da nossa própria história de vida. Nesse sentido, é importante lembrar as lições de Morin (2000, p. 59–60). Veja:
Somos seres infantis, neuróticos, delirantes e também racionais. Tudo isso constitui o estofo propriamente humano. O ser humano é um ser racional e irracional, capaz de medida e desmedida, sujeito de afetividade intensa e instável. [...] ansioso, angustiado, gozador, ébrio, extático; é um ser de violência e de ternura, de amor e de ódio [...] nutre-se de conhecimentos comprovados, mas também de ilusão e de quimeras. E, quando na ruptura de controles racionais, culturais, materiais, há confusão entre o objetivo e o subjetivo, entre o real e o imaginário, quando há hegemonia de ilusões, excesso desencadeado, então o homo demens submete o homo sapiens e subordina a inteligência racional a serviço de seus monstros.
Para aprofundar seus estudos, sugere-se a leitura da seguinte obra: MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora da Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez, 2000.
Uma versão digital da citada obra pode ser encontrada no seguinte endereço eletrônico: <http://goo.gl/wc6psV>.
Todo ser humano que se preze busca sentido em sua vida e atribui sentidos em toda sua atividade humana existencial. Isso é especialmente humano, pois essa vontade de significar deixa o indivíduo mais atento, reflexivo, dinâmico e alerta, muito mais propenso a se equilibrar na corda bamba da vida, não é mesmo?
Com base nesse movimento reflexivo, compartilhamos com você, pós-graduando(a), um texto que é quase poético. Ele foi extraído do livro intitulado Rede de significações e o estudo do desenvolvimento humano, organizado por Maria Clotilde Rossetti-Ferreira, Kátia de Souza Amorim, Ana Paula Soares da Silva e Ana Maria Almeida carvalho. Vamos à leitura?
As crianças nascem em um mundo repleto, prenhe de significações.
E começam a viver e a fazer sentido das práticas de cada um...
Vivem os cuidados, os carinhos, os afetos, as distâncias, as ausências, as contingências, as contradições que vão se impondo.
Vão sentindo e sofrendo, de diversas formas, as múltiplas relações com os outros e com o mundo.
E vão sendo afetadas por essas relações.
Em maior ou menor grau, experienciam, hoje, a intensidade, a premência, a rapidez, a abundância, a simultaneidade das mais variadas informações, mensagens, apelos e linguagens.
Acolhem, reagem ou resistem, de maneiras diferenciadas, às demandas e aos impactos dessas mensagens e linguagens.
Imersas que estão na trama dessas relações, participam, inescapavelmente, das significações que se produzem.
Fonte: ROSSETTI-FERREIRA, M. C. et al. (Org.). Rede de significações e o estudo do desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2003. p. 35. v. 1.
Agora, para seguir nos estudos, que tal compreender as concepções educacionais e as teorias de desenvolvimento e aprendizagem humana? Então, vamos lá!
“Educar não é apenas ensinar, mas criar situações de aprendizagem nas quais os aprendentes possam despertar [...]”.
Hugo Assmann
É preciso entender que a escola é um espaço privilegiado para a aprendizagem e o desenvolvimento humano. É composta de recursos humanamente humanos, não é mesmo? Sendo assim, a forma pragmática da atuação docente precisa ser constantemente revista e analisada.
Chraim (2009, p. 65) diz que “é preciso incluir no sistema de ensino estruturas físicas e humanas eficientes para avaliar uma criança em seu contexto, seja ele físico, emocional ou intelectual”. O citado autor segue dizendo que “no âmbito humano há urgência de serviços de orientação pedagógica e psicopedagógica eficientes”.
Com relação à inclusão, Chraim (2009, p. 63) observa que “é humanamente impossível falar de educação sem que se tenha dedicado um tempo à inclusão, pois ao educar estaremos diante das semelhanças e das diferenças de cada indivíduo”. Todas as crianças apresentam semelhanças, pois são humanas e trazem na alma o dom da adaptação (CHRAIM, 2009). Nesse sentido, para melhor integrar cada criança ao seu meio acadêmico e, consequentemente, ao meio social, é importante distinguir as diferenças que existem em cada uma delas. Para Chraim (2009, p. 64) “algumas diferenças são percebidas a olhos nus, outras não. Essas diferenças são capazes de gerar conflitos e camuflar o entendimento das potencialidades de cada criança por toda uma vida, caso não sejam assistidas”.
Sobre o assunto em debate, leia a seguinte obra: BOSSA, Nádia Aparecida. Fracasso escolar: um olhar psicopedagógico. Porto Alegre: Artmed, 2002.
Com base nos pensamentos de Levi Semenovich Vygotsky (1896-1934), o ser humano deve ser estudado na unidade, na sua totalidade e considerado multideterminado. Oliveira (1997) entende que o homem deve ser analisado como corpo e mente, na condição de ser biológico e social, membro da espécie humana e participante de um processo histórico.
A teoria de Vygotsky (1996), diferentemente das outras concepções, compreende que a relação entre o processo de desenvolvimento humano e a aprendizagem estão relacionados desde o nascimento da criança. Sendo assim, os processos não são previsíveis, nem tão pouco universais ou lineares, sendo construídos no contexto, na interação com a aprendizagem.
Ainda em Vygotsky (1996), a aprendizagem promove o desenvolvimento atuando sobre a zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que é a distância entre o nível evolutivo real, determinado pela resolução independente do problema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado por meio da solução de problemas, com auxílio, orientação ou colaboração de colegas mais capazes ou um adulto.
Nesse sentido, o sujeito transforma o desenvolvimento potencial em um desenvolvimento real. Um exemplo disso seria proporcionar uma mediação de conhecimento por meio da interação de uma criança mais adulta, mais experiente, com outra criança que ainda não teve a oportunidade de desenvolver tais atividades. Dessa forma, ao demonstrar como se realiza a ação, antecipa-se o desenvolvimento da outra criança (VYGOTSKY, 1996).
Para ampliar seus estudos acerca do tema, acesse o sítio eletrônico indicado e faça a leitura do artigo científico intitulado “Concepções de desenvolvimento e de aprendizagem no trabalho do professor”, escrito por Aline Frollini Lunardelli Lara, Elenita de Ricio Tanamachi e Jair Lopes Junior. Veja: <http://www.scielo.br>
Nos estudos de Oliveira (1997, p. 33) a respeito da teoria de Vygotsky, encontramos que “o processo de mediação, por meio de instrumentos e signos, é fundamental para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, distinguindo o homem dos outros animais”. Compreende que “a ideia de atividade envolve a noção de que o homem orienta-se por objetos, agindo de forma intencional, por meio de ações planejadas” (OLIVEIRA, 1997, p. 96).
Com base nessa perspectiva, podemos, então, compreender que é por meio das relações homem/mundo ao longo da vida que constituímos, reproduzimos, ressignificamos e construímos a sociedade que nos cerca. Por essa razão, devemos ficar atentos aos exemplos de atividades que compartilhamos.
Para aprofundar os estudos, faça a leitura da seguinte obra:
CHRAIM, Albertina de Mattos. Família e escola: a arte de aprender para ensinar. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
É uma obra pequena, com poucas páginas, porém muito dialógica. Vale a pena conferir!
Dando continuidade, também é importante mencionar, embora de maneira mais singela, a contribuição de Sigmund Freud (1856 – 1939) para o desenvolvimento humano. Ele afirma que é da natureza humana sofrer processos conflitivos (segundo sua visão psicanalítica que antevê o desenvolvimento emocional como condição para o desenvolvimento de outros potencias humanos). Nessa concepção, as experiências vividas inconscientemente moldam nossa personalidade.
Freud (1969) acredita que devemos encarar o fato de possuir pulsões (desejos) sexuais (produtivas) e agressivos (destrutivos).
Para Freud (1969) as fases do desenvolvimento humano são:
a) Fase oral (desde o nascimento até o final do primeiro ano de idade). Nessa fase, a característica mais presente se concentra no instinto sexual pela estimulação da região da boca, no ato de sugar, mastigar e morder, em que o bebê representa os sentimentos de prazer e satisfação;
b) Fase anal (desde o primeiro ano até os três anos de idade). É nessa fase que a criança estabelece inicialmente a maturação neurológica da região pélvica, conseguindo perceber o enchimento da bexiga e do intestino. Com isso, sentem que urinar e defecar causa certa satisfação e prazer. Dessa maneira, ao adquirir o controle esfincteriano, também promove seu autocontrole em outras esferas;
c) Fase fálica (desde os três anos até os seis anos de idade). A característica mais presente nessa fase é a descoberta do corpo, principalmente dos órgãos genitais, bem como as sensações que costumam estar presentes no ato de manipulá-los;
d) Latência (desde os seis anos até os onze anos de idade). Para Freud (1969), essa não é bem uma fase, pois as pulsões sexuais são organizadas diferente das fases anteriores, sendo deslocadas para atividades sociais. Nesse período, é considerável estabelecer, de maneira segura, quais são as normas sociais de convivência para as crianças, pois seu desenvolvimento psicológico é contínuo e se amplia conforme as habilidades adquiridas;
e) Fase genital (a partir dos dozes anos de idade). Essa é a fase dos conflitos de identificação sexual. É a fase da puberdade. É nesse período que se marca a passagem para a vida adulta, para o amadurecimento relacional.
Para conhecer mais sobre a teoria psicanalítica de Sigmund Freud, acesse o sítio eletrônico indicado e faça a leitura do artigo científico intitulado “As teorias sexuais infantis na atualidade: algumas reflexões”, escrito por Silvia Maria Abu-Jamra Zornig. Veja: <http://www.scielo.br>
Wallon (1981), baseado na teoria do materialismo-dialético, ensina que o desenvolvimento humano é composto por cinco estágios. Veja:
a) Impulsivo-emocional (desde o nascimento até o primeiro ano de idade). Nessa fase as emoções contagiam e costumam visar à exploração do corpo e das sensibilidades externas e internas. Movimentos que garantem a aproximação do outro no sentido de satisfazer suas eventuais necessidades costumam ser selecionados pela criança como instrumentos de bem-estar ou mal-estar;
b) Sensório-motor e projetivo (desde um ano até os três anos de idade). Concentra-se na exploração do espaço-físico, auxiliado pela fala que acompanha os gestos;
c) Personalismo (desde os três anos até os seis anos de idade). Dá início à exploração de si mesmo em oposição ao outro, ou seja, entre o “eu” e o “outro”;
d) Categorial (desde os seis anos até os onze anos de idade). Nesse estágio, estando clara a diferença entre o “eu” e o “outro”, é mais confortável para a criança, em muitos níveis de abstração, explorar o mundo físico em atividades de agrupamento, seriação, classificação e categorização;
e) Puberdade e adolescência (a partir dos onze anos de idade). Por meio de confrontos, acontece a exploração de si mesmo.
Para regular o funcionamento dessas fases ou estágios, Wallon (1981) legitimou quatro leis. Primeira, a lei da predominância funcional, que se baseia no predomínio das dimensões afetivas ou cognitivas em cada estágio apresentado. Segunda, a lei da alternância funcional, baseia-se no predomínio das dimensões afetiva, cognitiva e motora, que se alternam ao longo de cada estádio. A terceira lei é da integração funcional, que avalia a integração entre os estágios do desenvolvimento humano. A quarta, a lei da tendência do sincretismo à diferenciação, a qual confere inicialmente que, de forma gradativa, movimentos, afetos e ideais, tornar-se-ão bem mais objetivados, precisos e claros.
Conheça mais sobre a teoria do materialismo-dialético de Wallon, acessando o sítio eletrônico indicado e realizando a leitura do artigo científico intitulado “Afetividade e o processo ensino-aprendizagem: contribuições de Henri Wallon”, de autoria de Abigail Alvarenga Mahoney e Laurinda Ramalho de Almeida. Veja:<http://goo.gl/4gCVIq>
Caro(a) pós-graduando(a), diante das várias teorias referentes ao desenvolvimento humano apresentadas, cada membro educacional, embora conhecendo um pouco sobre cada uma delas, é, em sua atuação educacional, livre para escolher qual método deve adotar.
É interessante investigar detalhadamente cada teoria do desenvolvimento e aprendizagem, aprofundando os estudos para não se deixar corromper por teorias mal interpretadas, mas sim, por meio das fontes teóricas, buscar a melhor orientação como profissional mediador.
Lembre-se de que há diversas mediações em diferentes contextos educacionais, não é mesmo? Assim, avaliar a situação quando há conflito de relacionamento entre ensinante e aprendente é imprescindível e indispensável. O motivo é muito claro, pois a falta de comunicação adequada entre ensinante e aprendente prejudica/dificulta muito a organização da própria aprendizagem.
Diante dessa indagação, surge um importante alerta! Como é analisada a competência de cada membro da relação? Nesses casos, é importante considerar todo o sentimento ou ressentimento que o ensinante (professor) transfere e aplica no contexto escolar. Com esse cuidado, avalia-se qual a imagem que o profissional carrega na condição de mediador do conhecimento.
Para aprofundar os estudos, sugere-se a leitura da obra seguinte obra:
FERNANDEZ, Alicia. Os idiomas do aprendente: análise das modalidades ensinantes com famílias, escolas e meios de comunicação. Tradução de Neusa Kern Hickel e Regina Orgler Sordi. Porto Alegre: Artmed, 2001.
Pondere sobre a subjetividade desse sujeito! Reflita se a postura do professor é definida como submissa ou autoritária, permissiva ou dominadora. Pense: em qual perfil a personalidade subjetiva desse sujeito, que media determinados conhecimentos, costuma se encaixar?
Na atuação psicopedagógica não se deve esquecer que um bom educador envolve, cativa e cria laços com o aprendente (aluno). Já o ensinante, avesso a essa qualidade, pode causar frustrações, desânimos, insegurança e desinteresse no sujeito aprendente durante o processo de mediação da aprendizagem.
Mas, qual olhar está sendo utilizado nessa troca? Um olhar de segurança ou desconfiança? Quais valores estão sendo ponderados? Nunca esqueça que nessa troca de experiências os valores trazidos de casa são constantemente reeditados nos meios educacionais.
Nesse sentido, psicopedagogicamente pensando, a proposta mais assertiva é que haja, de modo preventivo, um equilíbrio estrutural do professor como figura geradora de exemplos que promovem a aprendizagem escolar. Essa suposta aprendizagem deve interferir diretamente na vida acadêmica, pessoal, profissional e social do sujeito.
Corroborando com o que foi dito, Vasconcellos (2002, p.14) afirma que “é uma síntese que o educador faz dos apelos da realidade, das expectativas sociais, de seus compromissos e objetivos, das condições concretas do trabalho”. O autor ainda aponta que a proposta da atuação do professor em sala está na maneira que este encontra para organizar e estruturar suas atividades rotineiras, como, por exemplo, quais metas pretende alcançar, quais abordagens e conteúdos serão propostos e discutidos, de que forma esses movimentos e instrumentos serão avaliados, entre outros. É nessa suposta organização que se encontra um excelente instrumento de autoformação, na medida em que favorece a reflexão crítica sobre a prática, o sair do piloto automático e a mera rotina (VASCONCELLOS, 2002).
A Psicologia colabora com o estudo da subjetividade, pois essa é a sua forma particular de contribuição para a compreensão da totalidade da vida humana, ou seja, em todas as suas expressões, as visíveis (nosso comportamento) e as invisíveis (nossos sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim). Nesse sentido, destacam-se o homem-corpo, homem-pensamento, homem-afeto, homem-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade (BOCK et al., 1999).
Para Bock et al. (1999, p.23):
A subjetividade é uma síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural; é uma síntese que nos identifica, de um lado, por ser única, e nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividade social. Esta síntese – a subjetividade- é o mundo de ideias, significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivencias e de sua contribuição biológica; é, também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais.
A síntese que a subjetividade representa não é inata ao indivíduo, mas é construída aos poucos, apropriando-se do material do mundo social e cultural. É criando e transformando o mundo externo que o homem constrói e transforma a si próprio (BOCK et al., 1999).
Agora, que tal descontrair um pouco e, caso seja possível, ouvir a música indicada? Mas, caso conheça a melodia, não se envergonhe de entoar cada verso com inspiração. Saiba que a música é muito apropriada em algumas terapias psicopedagógicas, principalmente quando se busca corrigir, ajustar ou equilibrar uma postura mais rígida e bastante introvertida. Um semblante apático e pouco interativo deve ser investigado com muito bom senso e comprometimento. Fica a dica!
Assim, leia os versos da música “É preciso saber viver”, dos compositores e cantores Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Depois sugiro usar todos os recursos disponíveis para apreciar uma bela canção, como, por exemplo, ouvir, cantar, cantarolar, gesticular, bailar, representar, encantar-se e deixar-se levar por ela, através dela, ao encontro consigo mesmo. Então, vamos lá!
É Preciso Saber Viver
Quem espera que a vida
Seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco
Ou morrer na solidão
É preciso ter cuidado
Para mais tarde não sofrer
É preciso saber viver
Toda pedra do caminho
Você deve retirar
Numa flor que tem espinhos
Você pode se arranhar
Se o bem e o mal existem
Você pode escolher
É preciso saber viver
É preciso saber viver!
É preciso saber viver!
É preciso saber viver!
Saber viver!
Toda pedra do caminho
Você deve retirar
Numa flor que tem espinhos
Você pode se arranhar
Se o bem e o mal existem
Você pode escolher
É preciso saber viver
É preciso saber viver!
É preciso saber viver!
É preciso saber viver!
Saber viver! Saber viver!
É preciso saber viver!
É preciso saber viver!
É preciso saber viver!
Saber viver! Saber viver!
Fonte: Disponível em: <www.letras.mus.br>. Acesso em: 29 fev. 2016.
A inspiração dessa bela canção deve estar pautada na ação psicopedagógica, porém numa compreensão muito bem estruturada e sensata, pois nem todo mundo sabe como fazer isso, ou seja, como viver bem. É possível uma pessoa conseguir vencer seus problemas de aprendizagens? Claro que é, não é mesmo? Ainda mais quando pode contar com uma escuta psicopedagógica transparente e adequada. É nesse sentido que esta intervenção precisa se encaixar perfeitamente na real necessidade do sujeito. Não invente milagres, muito menos crie falsas expectativas. Encare o possível, a serviço do impossível, e não o contrário.
A frase da letra dessa música que fala sobre as pedras no caminho é muito peculiar para os psicopedagogos, pois permite compreender que muito arranhão encontrado no “interior”, no mais profundo “âmago” dos atendidos, deu-se por tropeços que a vida causou. Assim, fica mais confortável tentar organizar a estrutura mental e psicológica do sujeito para que este alcance a aprendizagem com sucesso e menos resistência. Essa organização possibilitará uma escolha melhor na condição de sujeito, conseguindo significar a importância de criar bons laços com a aprendizagem de forma segura e equilibrada.
Baseando-nos nesse pensamento profundo, mas necessário, daremos continuidade aos estudos, apresentando, em seguida, a singularidade da instrumentalização psicopedagógica frente às teorias do desenvolvimento e aprendizagem. Mantenha-se focado nos estudos!
Inicialmente, é importante salientar, segundo Scoz (1987, p. 18), que “a prática educativa, que pertence a práxis humana, é esclarecida e enriquecida por diferentes áreas do conhecimento. São claras as contribuições dadas pela filosofia, sociologia, psicologia, ciências médicas e pela psicolinguística”.
Scoz (1987, p. 19) aduz que a especificidade do trabalho do psicopedagogo reside nos seguintes pontos:
1 – Para o psicopedagogo o distúrbio de aprendizagem é considerado como manifestação de uma perturbação que envolve a totalidade da personalidade.
2 – Considera a evolução da criança dentro de uma perspectiva dinâmica. Assim, o sintoma distúrbio de aprendizagem não pode ser compreendido como entidade fixa. Acredita que o processo de desenvolvimento da criança foi inibido e que se for oferecida uma forma de relação melhor e diferente daquela a que estava acostumado, sua evolução retornará ao curso normal.
3 - O psicopedagogo sabe que sua atividade, que consiste em transmitir conhecimento, não é uma atividade neutra e indiferente para a criança e para ele. Por isso, enfatiza o papel da relação que estabelece entre ele e a criança, verdadeira relação transferencial e contratransferencial, necessária para o desenvolvimento da relação educativa.
4- A tarefa do psicopedagogo é levar a criança a reintegrar-se à vida escolar normal, segundo suas possibilidades e interesses.
Considerando o que foi apresentado até aqui, mensurar as possibilidades que cada sujeito possui em si mesmo é a base intransferível e inadiável em que o profissional psicopedagogo deverá, sem pressa, mas gradativamente, apoiar-se.
Para tanto, é necessário compreender melhor o que é uma instrumentalização psicopedagógica. Vamos lá!
É manter bons hábitos de leitura que promovam um saber direcionado para cada momento de ação e intervenção psicopedagógica, pois tais bagagens teóricas fortalecem o direcionamento das ações preventivas e terapêuticas.
O uso correto dos recursos teóricos relacionados aos mais variados temas que buscam compreender e contemplar a construção do processo de ensino e aprendizagem, bem como a ênfase às abordagens referentes à concepção e construção humana, sem sombra de dúvidas, contribuem para iluminar e instrumentalizar a ação psicopedagógica.
Obras literárias das áreas de Psicologia, Neurociência, Psicanálise, Psicolinguística, entre outras, são oportunas para o aperfeiçoamento profissional. Esses recursos são instrumentos indispensáveis para obter bons resultados ao longo da atuação psicopedagógica.
O importante é se reconhecer como um ser em formação e construção humana que não se limita, mas que corre atrás de respostas para seus questionamentos diários. Acredite!
Baseando-nos nessa discussão e na tentativa de ilustrar melhor o que foi estudado até aqui, que tal a leitura de um poema de Rubem Alves, extraído do livro “O amor que ascende a lua”? Esperamos que goste!
Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/2WbmcD>. Acesso em: 24 fev. 2016.
A PIPOCA
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.
Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e de uma dureza assombrosas.
Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor.
Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, um filho, o pai, a mãe,
o emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, depressão ou sofrimento,
cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!
Sem fogo, o sofrimento diminui.
Com isso, a possibilidade da grande transformação, também.
Imagino que a pobre pipoca, dentro da panela fechada, cada vez mais quente,
pense que chegou a sua hora: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, não pode imaginar
um destino diferente para si.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.
A pipoca não imagina aquilo do que é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: bum!
E ela aparece como outra coisa completamente diferente,
algo que nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, recusam-se a mudar.
A presunção e o medo são a casca dura do milho que não estoura.
No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva.
Não vão dar alegria a ninguém.
Fonte: ALVES, Rubem. O amor que acende a lua.
Capinas, Papirus, 1999. p. 38.
Reflexivo texto, não é mesmo? Muito oportuno para essa abordagem, por qual motivo? Encare o milho de pipoca como o sujeito que se encontra estático num problema de aprendizagem. Imagine nesse contexto um psicopedagogo, inspirando-o a passar pelo fogo. Desafiando-o a buscar um caminho nunca antes percorrido, nunca antes oferecido, talvez. Mas, mesmo desconhecido, é um caminho que “esquenta” sua sempre “morna” rotina acadêmica. Chame essa tentativa profissional de tentar “provocar” certa transformação, de ousada, insensata, ou de corajosa, ou o nome que quiser adotar, pouco importa. Sabe o motivo?
O que realmente importa é seu retorno ou recomeço. O que deve prevalecer é a possibilidade de apertarmos os laços da aprendizagem que foram, de alguma maneira, afrouxados. Ou quem sabe, talvez, nunca antes experimentados entrelaçar. Ao mantermos os laços seguros e firmes, nunca mais irão se desamarrar ou se desprender. Tal resultado é extremamente gratificante; a atitude é compensadora, reconfortante e instigante. O conjunto desses sentimentos nos fazem perceber que, definitiva ou reveladoramente, essa é uma ação surpreendentemente “humana”!
Entenda que a expressão “fogo” é quando de alguma forma a vida lança um momento “novo”. Sabe-se que o “novo” sempre assusta um pouco, não é mesmo? Nem sempre é possível contar com os recursos apropriados que transmitem mais segurança. Porém, ao nos atrevermos, ao menos tentamos, saímos da zona de conforto, concedemos a nós mesmos a chance de mudança e de transformação, que são essências para o equilíbrio emocional humano!
Aceite a condição de que no final de cada caminhada o que realmente importa é a transformação. Saiba que sempre há uma escolha. Permanecer com a grossa camada de casca dura ou romper esta barreira e deslumbrar a mais bela e branca flor encontrada no interior cabe somente ao indivíduo. Para decidir qual rumo tomar, basta acreditar com convicção e responsabilidade!
É preciso também avaliar a importância de cada ação humana, psicopedagogicamente pensando. Só é possível descobrir a força da atuação ao se deparar com problemas nunca antes resolvidos e, que por enquanto, precisam ser revistos, reavaliados, reestruturados e enxergados como uma “queixa” que possivelmente é mediada e intermediada na busca da almejada solução.
Caro (a) pós-graduando(a), esperamos que a leitura do presente capítulo sirva de instrumento inspirador na busca de sua autoimagem como futuro psicopedagogo. Reconheça que por meio das escolhas diárias, você abraça elementos importantíssimos para a construção profissional. Durante o percurso talvez encontre algumas pedras no caminho ou, até mesmo, alguns espinhos finos e pontudos. Mas não desanime! Busque inspiração no “milho de pipoca”, que é colocado no fogo para se transformar!
No próximo e último capítulo, a discussão será em torno dos princípios éticos da Psicopedagogia, principalmente acerca das competências fundamentais que determinam uma postura ética psicopedagógica.
“Suba o primeiro degrau com fé. Você não tem que ver toda a escada. Você só precisa dar o primeiro passo”.
Martin Luther King Jr.
Em continuidade aos nossos estudos abordaremos as contribuições/ações do profissional psicopedagogo e sua relação com o processo de ensino-aprendizagem.
Vamos refletir sobre Qual a contribuição do Psicopedagogo para o processo de ensino-aprendizagem?
No capítulo 3, apontamos caminhos e direcionamentos que condicionam mais harmonicamente as intervenções psicopedagógicas, pois esta ação vislumbra um olhar mais amplo e inclusivo, considerando sempre as possibilidades e oportunidades de aprendizagem.
Após a interação com o Objeto de Aprendizagem, sugerimos a leitura do artigo: Professor-psicopedagogo: o que este profissional faz na escola, o qual ampliará seu repertório de conhecimentos.
Esperamos que a leitura do Capítulo 3 sirva de instrumento inspirador na busca de sua autoimagem, como futuro psicopedagogo.
Lembre-se, você poderá acessar todos os materiais sempre que quiser, ou sempre que tiver alguma dúvida!
Agora, vamos avançar para os videos de Conceito.
Continue estudando. Faça novas descobertas!
Boa leitura e bons estudos!
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