Série humanidades
Abertura
O que diria Tales de Mileto do alto de seu trono, erguido pela geometria e filosofia, sobre a infantil e artificial divisão do pensamento humano: exatas, humanas e biológicas?
Provavelmente, não diria nada. Afinal, para o grego, não existem os campos dos números e das letras. Apenas o fazer racional típico do conhecimento. Porém, verdade seja dita: a separação dessas áreas e a consequente especialização dos acadêmicos permitiu o rápido crescimento da produção científica contemporânea, em uma lógica próxima a de dividir e conquistar.
Acontece que nos perdemos nessa cisão, de modo que, hoje, observa-se uma supervalorização das exatas em detrimento das humanas, notada pelas decisões do poder público, por exemplo, por meio do corte de verbas para linhas de pesquisa que tocam as humanidades.
Assim, o PET EQ sai em defesa das ciências humanas e sociais, apelando, então, para a raiz comum entre todas as áreas ilustrada neste post pela pintura “Escola de Atenas”, que representa a comunhão, respeito e adoração de todas as formas de conhecer o mundo. Este é o início de uma série de postagens na tentativa de devolver a luz do protagonismo às humanas, dando nossa contribuição para colocá-las novamente no pedestal ao lado das outras ciências. Lugar de onde nunca deveriam ter saído.
Linguagens
O desenvolvimento da comunicação através da linguagem permitiu à Humanidade a sua sobrevivência diante da dimensão temporal. Um dos registros mais antigos do surgimento da escrita é datado entre 3.500 e 3.000 A.C. na Suméria, parte sul da antiga Mesopotâmia, onde esse mecanismo começou a ser utilizado para a contabilidade de bens de consumo. Com tal artifício, houve a transformação de como ideias, conhecimentos e emoções seriam transmitidos, assim como possibilitou a maior autonomia dos indivíduos e a formação de pessoas capazes de pensar criticamente.
Com a maturação desse aparato, nos séculos V e IV A.C., surge a figura de professores itinerantes que percorriam as cidades da Grécia antiga ensinando, mediante pagamento, a arte da retórica às pessoas interessadas. Tais indivíduos foram nomeados sofistas e a licitude de suas práticas era fervorosamente questionada por pensadores como Platão e Aristóteles, uma vez que o exercício não estava interessado pela procura da verdade, mas sim pelo refinamento da arte de vencer discussões. Desse modo, a linguagem, seja por mecanismos orais ou escritos, afirma-se como uma ferramenta poderosa cujo uso culmina na cegueira daqueles com domínio raso, originando uma possível verticalização do saber.
Com o decorrer do desenvolvimento da Humanidade, o conhecimento acerca da linguagem elucidou inúmeras vezes a sua importância, instituindo os pilares para a interlocução social eficiente entre entes políticos, fundamentando a noção de leis, instituições estáveis e estruturas de governança produtivas. Sem essa interligação, o cenário mundial estaria disposto em uma possível configuração de arquipélagos, onde não se teria fluxo de ideias, culturas e relações humanas.
Assim, a linguagem demonstra-se como elo primordial na constituição de sociedades civilizadas, permitindo a transferência de conhecimento, informação e tecnologia. Outrossim, ela caracteriza-se como um mecanismo central para a vigência informacional do círculo social humano, uma vez que o seu desconhecimento tem capacidade de catalisar mal-entendidos, problemas de compreensão e escolhas errôneas, originando o aprisionamento dos indivíduos nas armadilhas da palavras. E, como toda armadilha, ela não é casual, obedece a uma intenção e planos determinados. A manipulação desse artifício, enquanto forma de opressão, conduz o ser humano à obscuridade em seu comportamento social, sobretudo naqueles momentos em que as pessoas são usadas como massa de manobra.
Jornalismo
As ciências sociais e humanas são componentes essenciais do nosso cotidiano, mas, muitas vezes, não aparecem de maneira tão explícita como as ciências exatas, por exemplo. Porém, elas estão muito mais próximas do que imaginamos! Vamos falar um pouco sobre o Jornalismo. Nos arriscamos a afirmar que a maioria dos brasileiros lê, escuta ou assiste ao jornal pelo menos uma vez ao dia. Podemos dizer então que o jornalismo, de certo modo, faz parte do cotidiano do brasileiro, correto?
Antes de qualquer coisa, vamos definir esse campo do conhecimento. As ciências sociais constituem um ramo da ciência responsável por estudar fenômenos da sociedade, utilizando como objeto de estudo o ser humano. Ou seja, procuram explicar o que acontece na sociedade analisando as ações das pessoas. Podemos citar aqui alguns nomes de grandes pensadores dessa área, como Émile Durkheim e Max Weber. A partir dessa ciência, derivam-se profissões como o próprio Jornalismo, a Economia, as Relações Internacionais, entre outras.
O papel do Jornalismo, em linhas gerais, é apurar e levar informações de interesse público à sociedade. Desse modo, ele, como ferramenta de comunicação, atua como um tradutor de fatos e números, e é aí que entram as ciências sociais. A apuração consiste em uma análise e averiguação da validade das informações em questão; isso pode envolver o estudo de uma certa estatística, como a demografia; a entrevista de fontes; a análise de documentos, e muitas outras coisas. Depois disso, é veiculada a informação que chega a você, espectador. E aí como provocação deixamos a vocês as perguntas: como seria sua vida sem o Jornalismo? Qual a sua importância em um momento onde as fake news são elevadas ao status de notícias? Teria o jornalismo, de certo modo, uma influência política?
Abaixo, a tela “A morte de Marat”, de Jacques-Louis David, representa a morte de uma das figuras mais emblemáticas da revolução francesa. Famoso por ser, enquanto jornalista e revolucionário, assíduo e comprometido com o movimento jacobino, Marat foi assassinado por Charlotte Corday, uma militante girondina. Ele representou, em essência, o espírito do Jornalismo: a busca, averiguação e divulgação da verdade à população.
Arte
Acreditamos que nesse período você, com acesso a livros e plataformas de streaming (como a Netflix e o Spotify), esteja consumindo-os em uma frequência e quantidade maiores em relação ao período pré-quarentena. Ao mergulhar em ao menos um deles, de alguma maneira, nos emocionamos, afinal, estamos entrando em universos, muito vezes estranhos ao nosso, que, de algum modo, nos fazem experimentar diferentes sensações.O livro “O Sol é para todos”, de Harper Lee, por exemplo, nos leva à década de 30, no Alabama (Estados Unidos), em que, sob a ótica de uma garota entre os seus 6 e 8 anos de idade, experienciamos as suas interpretações acerca da natureza moral de vários dos personagens que perpassam a sua vida no decorrer da trama. O poema “Rosa de Hiroshima”, de Vinicius de Moraes, nos incita a sentir, por meio das palavras, a dor daqueles que viveram as consequências do ataque atômico realizado pelos Estados Unidos contra o Japão, no final da segunda guerra mundial. E esses são só dois entre as várias formas de expressão existentes por aí.
Por meio da música, da pintura, do cinema, da poesia, da escultura, da literatura, da dança e do teatro ocorre aquilo a que denominamos arte. Utilizando-se de técnicas específicas há a expressão das suas várias formas de ser e estar. Porém, não é esse aspecto técnico que nos sensibiliza; por vezes, ele não é sequer notado, mas está lá. Então, se não pelo seu aspecto técnico, por que nos sensibilizamos e sentimos emoções diversas quando assistimos a um filme, escutamos uma música ou lemos um livro?
A arte nas suas várias formas de ser e expressar, abre espaço à novas interpretações acerca de fatos e situações que permeiam ou permearam a nossa sociedade. Diante disso e extrapolando ao que ocorre hoje, onde vivemos um coletivo que naturaliza e internaliza cada vez mais as injustiças e desigualdades, a arte assume o importante papel provocativo de nos fazer enxergar em perspectiva, nos mantendo, enquanto seres sociais, humanos. Agora imagine como seríamos sem a arte. Para quem é interessante que não tenhamos uma cultura crítica? O que há por trás do desejo daqueles que deslegitimam a importância da arte para a formação da cidadania? Você, em algum momento desse breve texto, parou para pensar que há pessoas que não têm sequer acesso a internet? Se não nas escolas, onde e quando essas pessoas terão contato com esse tipo de conteúdo?
PET Humanas
A série vem apresentando a importância da área de humanidades como um todo. Chegou a hora de nos voltarmos especificamente para os grupos PET que, subordinados ao MEC, também vem sofrendo ataques. Nesse contexto, o intuito desse post é reforçar a importância e validade dos trabalhos executados por grupos PET de humanas, ainda mais vulneráveis aos cortes.
Sustentado pelo pilar de pesquisa, o projeto "Descaminhos para casa", executado pelo PET Ciências Sociais-Unesp, aborda a violência pública a partir de dados sobre abusos sofridos pelos discentes da universidade no caminho para casa, colocando em pauta um grave problema social cujos estudos ainda são escassos.
Enquanto isso, no PET História-UFC, pesquisas acerca de como a fome é experienciada em diversos períodos e locais têm sido feitas no projeto "Narrativas da fome", que aborda o problema como um fenômeno social fortemente ligado à má distribuição de recursos e alimentos no país.
Já sob os pilares de ensino e extensão, o PET Letras-Unicentro executa o projeto "Aulas de Leitura para Deficientes visuais", buscando suprir as necessidades de informação e transmitir os limites que se impõem a esses deficientes. Na Associação APADEVI, o grupo organiza diálogos sobre obras literárias e atualidades, com enfoque para as obras requisitadas no Concurso vestibular da Unicentro.
Os exemplos apresentados são uma pequena amostra do imenso potencial de impacto de grupos PET-Humanas. Acima das diferenças técnicas, esses e outros grupos PET são movidos pelo mesmo propósito: fazer da universidade instrumento de transformação da sociedade, guiados pelos pilares de pesquisa, ensino e extensão.
Enfim concluímos a série de humanidades, que como colocado em sua abertura, nasceu com o intuito de “devolver a luz do protagonismo às humanas, dando nossa contribuição para colocá-las novamente no pedestal ao lado das outras ciências. Lugar de onde nunca deveriam ter saído”.
Série Você Sabia?
Comunidade
Você sabia que o projeto Comunidade, do PET-EQ Unicamp, firmou um contrato com a Gaia Social?
Antes de qualquer coisa, você deve estar se perguntando o que é o PET-EQ; do que se trata o projeto Comunidade e qual a importância desse contrato.
O PET (Programa de Educação Tutorial) é um projeto do Governo Federal que estimula as atividades de ensino, pesquisa e extensão no nível superior. Sua estrutura é composta por: bolsistas, não bolsistas e um professor tutor que é a figura do PET para o MEC (Ministério da Educação). O grupo, dentro do tripé no qual baseia-se a universidade pública, desenvolve uma série de projetos, sendo um deles o Comunidade.
O Comunidade surgiu da necessidade, atestada pelo PET-EQ, de realizar um projeto além das fronteiras da Unicamp, que utilizasse conhecimentos teóricos da universidade para promover um impacto social prático. Assim, encontramos a Gaia Social, que conectou o PET-EQ à cooperativas de reciclagem.
Primeiramente, realizamos estudos de gravimetria nestas cooperativas, levantamos problemas relacionados à separação do lixo reciclável e analisamos os rejeitos. Agora, estamos na fase de propor soluções para os problemas encontrados.
Então, o grupo PET-EQ foi convidado a participar de uma reunião organizada pela Gaia Social e RECISP (Rede de Comercialização do Interior de São Paulo) na cooperativa Reviver em Itatiba, entre os líderes das mais de 4 cooperativas da rede, onde realizamos uma apresentação sobre o projeto Comunidade e apresentamos nossos resultados. A partir dos resultados obtidos pelo PET-EQ, especificamente na cooperativa Reviver, observou-se uma perda de aproximadamente 6 mil reais, no seu faturamento mensal, em materiais recicláveis não separados nos rejeitos, que poderiam acarretar um acréscimo de aproximadamente 160 reais no salário mensal de cada cooperado. Com essa informação, aprimorou-se a separação de recicláveis, demonstrando assim a importância da cooperação entre a universidade e o mundo exterior à ela.
A foto é a celebração do contrato firmado entre as partes.
Joule
Você sabia que o PET EQ aprovou 8 alunos na 1º chamada da Unicamp?
O Joule, um dos projetos do PET, é um cursinho popular que acontece todos sábados das 8h às 13h40 na Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, onde nossos membros lecionam matemática, física, química e redação. Em 2019, o projeto auxiliou na aprovação de 6 estudantes em Engenharia (Química, Ambiental, Controle e Automação, Mecânica e de Alimentos), 1 em Estatística e 1 em Ciência da Computação.
A próxima edição começará no dia 04/04, com inscrições em breve. As matrículas são totalmente gratuitas, assim como todo o curso.
A foto mostra os aprovados Daniel e Eduardo, junto com uma de nossas integrantes, Letícia, que participou deste processo.
Feira
Você sabia que o projeto Feira PIBIC-EM do PET EQ - Unicamp recebeu o prêmio de melhor projeto na área de Simulação, Otimização e Controle de Processos no COBEQ – IC 2019?
O Feira de Tecnologia, um dos projetos do PET, surgiu em 2013 com um propósito: expandir as fronteiras da ciência e da tecnologia para além da faculdade. Todo ano, alunos do ensino médio de escolas públicas recebem uma bolsa de iniciação científica do PIBIC-EM, realizando projetos na Universidade sob a orientação de professores e pesquisadores. No PET, os membros responsáveis pelo Feira atuam como tutores dos alunos, auxiliando no desenvolvimento de protótipos de Engenharia Química.
Entre 2018 e 2019, os bolsistas Lucas Bechel, Vinícius
Augusto e Lucas Secon desenvolveram um protótipo de produção de ácido
sulfúrico. O projeto contou com a elaboração de uma maquete composta por uma torre de absorção, uma torre de adsorção e um trocador de calor.
O prestígio do projeto foi grande: apresentado no Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação Científica (COBEQ-IC) pelo PET, ele recebeu o prêmio de melhor projeto na sua área: Simulação, Otimização e Controle de Processos. Além disso, os bolsistas foram premiados no Congresso de Iniciação Científica da UNICAMP, tendo seu projeto reconhecido como o melhor do PIBIC-EM.
ENAPET
Você sabia que o PET-EQ Unicamp organizou o ENAPET XXIII?
O Encontro Nacional do Grupos do Programa de Educação Tutorial (ENAPET) é a reunião anual dos grupos PET. Seu objetivo é discutir, coletivamente, assuntos relevantes para o desenvolvimento e a manutenção do programa a nível nacional, que atualmente envolve 842 grupos.
O ENAPET também é uma excelente oportunidade para os grupos PET exporem seus trabalhos acadêmicos apoiados em seus pilares Ensino, Pesquisa e Extensão, suas vivências, trocarem informações e experiências com grupos de diversas universidades e regiões do país, tudo isso com o intuito de colaborar com o progresso e aprimoramento de um pensamento social coletivo acerca de temas relevantes para a sociedade.
Em 2018, o evento foi sediado na cidade de Campinas, organizado pelo PET-EQ em parceria com o PET-UFSCAR, formando uma comissão organizadora conjunta, a UFSCamp. O tema do ENAPET XXIII foi “unidos pela mesma raiz”, simbolizando a importância da rede de grupos PET.
A organização do evento foi um dos maiores desafios já enfrentados pelo PET EQ Unicamp, desafio assumido com energia pelos membros e tutor do grupo. Dentre as conquistas, vale citar o convite, recebido pelo tutor, para uma cadeira na diretoria nacional do CENAPET e, claro, a realização de um ENAPET inesquecível!
Pesquisa
Você sabia que o PET estuda inteligência artificial?
Diante da pandemia, o projeto pesquisa, que originalmente era experimental, agora, conta com a modelagem de um processo contínuo de biodiesel paralelo a um curso de inteligência artificial, que trata de programação Fuzzy e Redes Neurais.
Após o término do curso, os conceitos estudados serão aplicados para uma descrição inteligente de um processo tão complexo quanto o proposto, que ainda conta com uma membrana semi-permeável para a separação dos produtos.
As plataformas de desenvolvimento utilizadas são o Matlab e o Scilab.