Está página foi elaborada no formato de uma trilha do conhecimento, estruturada da seguinte forma: inicialmente, são apresentados os fundamentos necessários para compreender o problema das mudanças climáticas. Posteriormente, são abordados conceitos relacionados ao problema, em si. Por fim, são descritos conceitos associados às soluções para adaptação e aumento da resiliência climática. Recomendo que você percorra a trilha, lendo os conceitos na ordem em que são apresentados.
Os fundamentos
Atmosfera: é a massa de gases que envolve a Terra, dividida em várias camadas que se diferenciam, principalmente, pela temperatura (adaptado de (MILLER; SPOOLMAN, 2021).
Tempo: o tempo (do ponto de vista atmosférico) é o estado momentâneo/instantâneo da atmosfera, em um determinado local e instante (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). Esse estado é caracterizado por um conjunto de atributos, como a temperatura, a umidade e a pressão (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). Por exemplo: ao observar o local onde você se encontra e dizer que, naquele momento, está “quente e ensolarado”, ou “frio e chuvoso”, você está descrevendo o tempo, de forma resumida e simplificada.
Clima: o clima pode ser entendido como o conjunto de características (dentre elas, temperatura, quantidade de chuva, etc) médias, de longo prazo, do tempo. Segundo Ummah (2022), “O clima [...] é geralmente definido como a média do tempo, ou mais rigorosamente, como a descrição estatística em termos da média e da variabilidade de quantidades relevantes ao longo de um período [...]. O período clássico para a média dessas variáveis é de 30 anos, conforme definido pela Organização Meteorológica Mundial. As quantidades relevantes são [...] variáveis de superfície, como temperatura, precipitação e vento.”. Pense no local onde você mora, ou morou, por muitos anos. Como, geralmente, são os verões? São quentes, úmidos e chuvosos? E os invernos? Normalmente são mais frios, com dias limpos (sem nuvens), e com pouca chuva? Essas características que geralmente ocorrem em cada estação (ou que se espera que ocorram) podem ser entendidas como uma descrição bastante simplificada do clima da sua região. Devido às mudanças climáticas, o clima das diversas partes do planeta está sendo alterado. Por exemplo: em locais onde os verões normalmente eram muito chuvosos, secas podem se tornar frequentes; já em regiões tipicamente frias, a temperatura média pode aumentar.
Gás de efeito estufa: são alguns dos gases que constituem a atmosfera, de origem natural ou humana. Esses gases “[...] absorvem e emitem radiação em comprimentos de onda específicos, dentro do espectro da radiação terrestre emitida pela superfície da Terra, pela própria atmosfera e por nuvens. Essa propriedade causa o efeito estufa.” (Ummah, 2022).
Efeito estufa: “[...] ocorre quando parte da energia solar absorvida pela Terra é irradiada para dentro da atmosfera como radiação infravermelha (calor).” (MILLER; SPOOLMAN, 2021). Essa radiação interage com os diversos gases de efeito estufa presentes na atmosfera, causando o seu aquecimento e o da superfície terrestre.” (MILLER; SPOOLMAN, 2021). É importante saber que o efeito estufa ocorre de forma natural, e é fundamental para a vida na Terra. Ele se torna problemático quando é intensificado pela ação humana.
O problema
Aquecimento global: diversas atividades humanas (por exemplo, a queima de combustíveis fósseis) estão aumentando a concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera. Conforme explicado anteriormente, o efeito estufa causa o aumento da temperatura da atmosfera e da superfície terrestre. Esse aumento gradual da temperatura média, por um período de pelo menos 30 anos, é chamado de aquecimento global (MILLER; SPOOLMAN, 2021).
Mudança climática: é a alteração do clima terrestre decorrente do aquecimento global. A mudança climática é atribuída direta ou indiretamente às ações humanas, que alteram a composição da atmosfera global (através da emissão acelerada de gases de efeito estufa que, por sua vez, causa o aquecimento global) (adaptado de (Ummah, 2022)). Essa alteração pode ser identificada “[...] por mudanças na média e/ou na variabilidade de suas propriedades, e persiste por um período prolongado, tipicamente décadas ou mais.” (Ummah, 2022).
Evento extremo: são eventos climáticos/meteorológicos raros em determinado local e em determinada época (Ummah, 2022). Em outras palavras, ocorre quando o valor de uma determinada variável climática/meteorológica fica muito acima ou abaixo do valor médio esperado (adaptado de (Ummah, 2022)). O excesso ou a falta de chuva, em relação aos valores esperados em um determinado local e em determinada época do ano, são exemplos de eventos extremos. As mudanças climáticas estão causando o aumento da frequência e da intensidade de eventos extremos, ou seja: os eventos extremos acontecem cada vez mais, e estão cada vez mais “fortes”.
Ameaça climática (adaptado de (Ummah, 2022)): são eventos físicos (naturais ou induzidos pelo ser humano) que podem causar danos e perdas, em termos de vidas, saúde, ecossistemas, propriedades e estruturas. Os eventos extremos (por exemplo: tempestades e secas) são exemplos de ameaças climáticas.
Vulnerabilidade (climática): é a propensão ou susceptibilidade de uma pessoa, comunidade ou sistema a ser afetado de maneira adversa por uma ameaça climática ((Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação, 2024; Ummah, 2022)).
Exposição (climática): é a presença de pessoas, ecossistemas, infraestrutura, dentre outros, em locais que podem ser afetados adversamente pelas mudanças climáticas (adaptado de (Ummah, 2022)). Envolve, também, o grau, a duração e a extensão do contato com uma ameaça climática (Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação, 2024).
Risco (climático) (adaptado de (Ummah, 2022)): é o “[...] potencial para consequências adversas de uma ameaça climática [...]”. Resulta da combinação entre o tipo e a probabilidade de ocorrência de uma ameaça climática, e a vulnerabilidade e a exposição do sistema considerado.
As soluções propostas
Adaptação (climática) (baseado em (Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação, 2024; Ummah, 2022)): é o ajuste e a adaptação de sistemas (humanos ou naturais) à nova realidade climática, decorrente das mudanças climáticas. A adaptação tem o objetivo de reduzir os danos provocados pelas mudanças climáticas, e também, de explorar oportunidades e possíveis efeitos positivos causados por estas mudanças.
Resiliência (climática): “capacidade dos sistemas sociais, econômicos e ambientais de lidar com um evento, tendência ou distúrbio perigoso, respondendo ou se reorganizando de maneiras que mantenham a sua função, identidade e estruturas essenciais, ao mesmo tempo em que preservam a capacidade de adaptação, aprendizado e transformação.” (Ummah, 2022).
Laboratórios vivo: no contexto dos campi universitários, a abordagem de “laboratório vivo” consiste em utilizar o campus (ou seja, a sua área física, infraestrutura, atividades-meio e atividades-fim) como objeto dinâmico para atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária. Na prática, essa utilização pode ocorrer por meio da medição e monitoramento de processos físicos, análises e modelagem, intervenções físicas e operacionais, e experimentos específicos, que transformam o campus em uma “bancada de ensaios em escala real”.
Serviços ecossistêmicos: são todos os benefícios que os ecossistemas (incluindo aqueles “construídos” pelos seres humanos, como parques e áreas verdes urbanas) proporcionam aos seres humanos. São, geralmente, classificados em quatro categorias: serviços de provisão (por exemplo, produção de água nas bacias hidrográficas), regulação (exemplo: regulação climática), suporte (são aqueles necessários para a existência/fornecimento dos outros tipos de serviços ecossistêmicos. Por exemplo: formação do solo) e culturais (serviços imateriais, como a recreação e a beleza cênica).
Soluções baseadas na natureza (SBN): “Soluções que são inspiradas e apoiadas pela natureza, que são custo-efetivas, e que ao mesmo tempo proporcionam benefícios ambientais, sociais e econômicos, e ajudam a construir resiliência. Essas soluções trazem maior quantidade e diversidade de natureza e de processos naturais para cidades [...], por meio de intervenções adaptadas localmente, eficientes em recursos e sistêmicas.” (European Comission, 2024). Segundo a Comissão Européia (European Comission, 2024), “As soluções baseadas na natureza devem, portanto, beneficiar a biodiversidade e apoiar a prestação de uma variedade de serviços ecossistêmicos.”. Exemplos de SBNs que podem ser utilizadas no contexto dos recursos hídricos, para a adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, são: criação de áreas verdes, sistemas de biorretenção, alagados (wetlands) construídos, dentre outros.
Sistemas sustentáveis de drenagem: esta abordagem recebe diversas denominações, por exemplo (Fletcher et al., 2015): desenvolvimento de baixo impacto, projeto urbano sensível à água, sistemas sustentáveis de drenagem urbana, melhores práticas de gestão, técnicas compensatórias e controle na fonte. Apesar de possuírem diferenças e especificidades, estas abordagens “sustentáveis” de manejo de águas pluviais convergem em dois aspectos essenciais (Fletcher et al., 2015): (1) mitigação das mudanças hidrológicas e evolução para um regime de fluxo/escoamento o mais próximo possível do nível natural, ou dos objetivos ambientais do local, e (2) melhoria da qualidade da água e redução dos poluentes.
Infraestrutura verde: são “[...] redes interligadas de espaços verdes que podem proporcionar múltiplos benefícios, tais como gestão de águas pluviais, melhoria da qualidade da água, conservação da vida selvagem e fornecimento de recreação para os seres humanos. A infraestrutura verde pode assumir a forma de redes de sistemas ecológicos multifuncionais naturais, seminaturais ou artificiais.” (Pan et al., 2018).
Referências
EUROPEAN COMISSION. Nature-based solutions. [S. l.], 2024. Disponível em: https://research-and-innovation.ec.europa.eu/research-area/environment/nature-based-solutions_en. Acesso em: 8 out. 2024.
FLETCHER, Tim D. et al. SUDS, LID, BMPs, WSUD and more – The evolution and application of terminology surrounding urban drainage. Urban Water Journal, [s. l.], v. 12, n. 7, p. 525–542, 2015. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1080/1573062X.2014.916314.
MENDONÇA, Francisco; DANNI-OLIVEIRA, Inês Moresco. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. 1. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2007.
MILLER, G T.; SPOOLMAN, Scott E. Ciência ambiental. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2021.
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E INOVAÇÃO. AdaptaBrasil MCTI. [S. l.], 2024. Disponível em: https://adaptabrasil.mcti.gov.br/sobre/glossario. Acesso em: 9 out. 2024.
PAN, Shu-Yuan et al. Advances and challenges in sustainable tourism toward a green economy. Science of The Total Environment, [s. l.], v. 635, p. 452–469, 2018. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S004896971831194X.
UMMAH, Masfi Sya’fiatul. Annex I: Glossary. In: GLOBAL WARMING OF 1.5°C. [S. l.]: Cambridge University Press, 2022. v. 11, p. 541–562.