TOXICOLOGIA VETERINÁRIA

Prof. Simone Thomé

(simone.thome@ulbra.br)

NESTE CAPÍTULO VOCÊ IRÁ APRENDER:

  • Introdução à Toxicologia Veterinária

  • A contextualização Histórica da Toxicologia

  • Os conceitos da Toxicologia Veterinária

  • A avaliação da Toxicidade e Ensaios de Toxicidade

  • Reconhecer e diagnosticar um quadro de intoxicação, e principais condutas de urgência.

  • Toxicologia Ocupacional

INTRODUÇÃO:

A Toxicologia Veterinária é uma área de conhecimento que desperta muito interesse nos dias de hoje. Estas páginas desenvolvidas para a disciplina de TOXICOLOGIA VETERINÁRIA, reúnem informações sobre os princípios e conceitos da toxicologia. A página introdutória tem o objetivo de trazer dados que elucidam e apresentam a contextualização histórica da Toxicologia e os conceitos a serem desenvolvidos durante os estudos dos capítulos seguintes. Este módulo também apresenta os campos de trabalho e as áreas da toxicologia. Podemos desenvolver também assuntos referentes à avaliação da toxicidade, assim como diagnóstico e condutas de urgência nos quadros de intoxicação. Neste capítulo também iremos estudar a Toxicologia Ocupacional, com ênfase para a prevenção de alterações da saúde do médico veterinário.

Bom trabalho e bons estudos!!!

INTRODUÇÃO À TOXICOLOGIA

A toxicologia Veterinária é uma área do conhecimento que tem despertado grande interesse nos dias de hoje, não só do ponto de vista do médico veterinário, que assiste os animais de companhia (principalmente cães e gatos), como também dos animais de produção (bovinos, suínos, aves, etc.), que estão expostos a agentes empregados na agropecuária e/ou a medicamentos veterinários. Os animais de produção podem deixar resíduos em seus tecidos, e consequentemente, causar efeitos nocivos em seres humanos que consomem os alimentos de origem animal.

Deve ser salientada também a contribuição do médico veterinário nas questões ligadas ao meio ambiente e aos ecossistemas, visando à preservação do ar, do solo, da água e dos animais no seu habitat natural.

HISTÓRICO

A história da Toxicologia acompanha a evolução da civilização humana. O conhecimento dos venenos e extratos vegetais para caça, guerra, disputas políticas e crimes é evidenciado na história. O homem, observando a natureza, começa a distinguir aquilo que era benéfico, daquilo que poderia causar dano à saúde.

Papiro de Ebers (civilização Egípcia (1.500 a.C.)

Um dos documentos mais conhecidos é o Papiro de Ebers (datado cerca de 1.500 a.C.), pertencente à civilização egípcia e contém informações sobre a toxicologia. Neste documento encontramos anotações relativas a muitos venenos, como a cicuta, acônito, ópio, chumbo, cobre e antimônio. Estas são substâncias químicas reconhecidas como tóxicas nos dias de hoje. Nesse documento, há mais de oitocentas receitas. Os egípcios antigos, por exemplo, sentenciavam à morte (eutanásia legal) com sementes de amêndoas amargas (Amigdalus comunis amara).

Na civilização grega clássica são encontradas também, referências relativas a várias substâncias tóxicas. O filósofo grego Sócrates, em 402 a.C., foi condenado à morte pela ingestão de cicuta. Nesta história, Sócrates foi acusado de corromper a juventude de Atenas e introduzir falsos deuses. A descrição de sua morte, feita por Platão, é um documento de interesse não só pela literatura, como para a medicina e a toxicologia.

Demóstenes, político e grande orador grego (384 a 322 a.C.) suicidou-se ao ingerir veneno escondido no seu instrumento de escrita.

A Morte de Sócrates

A Morte de Sócrates (em francês: La Mort de Socrate) é uma pintura óleo sobre tela pelo francês Jacques-Louis David, executada em 1787.
Hipócrates (460 a 377 a.C.)

Hipócrates, considerado o pai da medicina, relatou princípios da toxicologia clínica referentes à biodisponibilidade em terapia e sobredosagens. Estudando e praticando, fez menção a uma série de venenos. Ele foi o primeiro a descrever as formas de controlar a absorção de substâncias tóxicas.

Império Romano

Mitrídates VI, rei do Ponto (região atual ao norte da Turquia), costumava realizar experimentos toxicológicos. Ele era conhecido por seu caráter ambicioso que o levou a querer ampliar seu território, tornando-se um dos principais inimigos do Império Romano. Com medo de ser envenenado, realizava experimentos com seus escravos na tentativa de encontrar antídotos para os venenos. Ingeria regularmente uma mistura de 36 ingredientes como proteção contra esse tipo de assassinato. Quando foi capturado por inimigos, suas tentativas de suicídio com veneno falharam. O termo mitridato é usado na farmacologia antiga como aquisição de imunidade contra os efeitos de veneno mediante sua ingestão em doses gradualmente crescentes (tolerância adquirida).

Na história da civilização romana, há vários relatos sobre o uso das substâncias tóxicas e, em particular, envolvendo as atividades políticas da época. Nas cortes havia os provadores oficiais, na tentativa de evitar-se os atentados, nos quais era muito empregado o arsênico.

Agripina envenenou Cláudio (Imperador Romano de 41 a 54) para tornar Nero o Imperador de Roma (governou de 54 a 68). Nero, por sua vez, com o auxílio de Locusta, envenenou Britânico, filho natural de Cláudio (sucessor do trono). A primeira tentativa fracassou, uma vez que Britânico só adoeceu, apresentando sinais de intoxicação por arsênico

Durante a Idade Média (476 a 1456), o emprego de substâncias tóxicas continuou a oferecer riscos nas atividades políticas, dizendo-se até que houve um aprimoramento na “arte de envenenar”.

Maimônides (1135 a 1204)
Lucrécia Bórgia (1480-1519)

Moses bem Maimon, ou Maimônides (1135 a 1204) contribuiu para o desenvolvimento da toxicologia. Escreveu um tratado sobre o tratamento das intoxicações por insetos, cobras e cachorros loucos (Poisons and their Antidotes, 1198). Foi ele quem primeiro notou que a absorção de toxinas pelo estômago pode ser diminuída pela ingestão de substâncias como leite e óleos.

Lucrécia Borgia serviu de instrumento da política de seu pai (papa Alexandre VI, eleito por motivos políticos e não religiosos) e do seu irmão (César, 1475 a 1507).

Catarina de Médici enviava cosméticos envenenados com diferentes substâncias para a França. Catarina testou cocções tóxicas em doentes e mendigos, notando a velocidade da resposta tóxica, a eficácia dos compostos (potência), o grau de respostas em diferentes regiões do corpo (especificidade e local de ação), os sinais e sintomas demonstrados pelas vítimas.

Giulia Tofana (Lady Toffana), a pedido das esposas de nobres da realeza, adicionava arsênico em cosméticos (água de Toffana), e, dessa maneira, eliminava os maridos.

Catarina de Médici (1519-1589)
Giulia Tofana, a indomável envenenadora de maridos da idade média
Paracelsus (1493-1541)

Personagem de destaque na história da medicina e também da toxicologia foi Paracelsus (Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim). Um médico alquimista, que apontou que a experimentação é essencial para análise da resposta a substâncias químicas. Além disso, destacou que devem ser feita a distinção entre as propriedades terapêuticas e tóxicas destas substâncias e que as estas propriedades terapêuticas e tóxicas estão relacionadas à dose administrada. Este é o primeiro passo para os estudo da relação entre dose e resposta.

“Todas as substâncias são venenos, não existe nada que não seja veneno. Somente a dose correta diferencia o veneno do remédio.” (Paracelsus)

Os nativos do continente americano, muito antes da chegada de Cristóvão Colombo, já conheciam plantas tóxicas das quais tiravam proveito para a guerra e a caça. O curare, por exemplo, era conhecido pelos nativos das florestas tropicais da América do Sul, há muitos séculos, como um veneno extremamente potente, empregado em flechas. O nome provém da palavra indígena wooraro, woorali, urari, que significa veneno. O curare é o termo genérico para muitas preparações feitas pelos indígenas, que utilizavam várias combinações de plantas.

As flechas eram confeccionadas com curare e arremessadas com zarabatanas feitas de bambus ocos. A potência do veneno era testada contando-se o número de saltos que um sapo dava após ter sido flechado. O animal atingido morria em poucos minutos.

A toxicologia moderna iniciou-se com Orfila (1787 a 1853), químico e médico espanhol que viveu na França, na corte de Luis XVIII, e lecionou na Universidade de Paris. Teve um papel importante na história da toxicologia, papel este que o nomeou como “pai da toxicologia”. Ele foi o primeiro a estabelecer a relação entre as substâncias ingeridas e os efeitos biológicos. Grande parte de suas observações foi realizada em cães, nos quais se buscava a correspondente terapêutica.

Orfila apontou a necessidade de análises químicas para obtenção de provas legais em intoxicações letais, desenvolvendo métodos para a detecção de venenos, alguns utilizados atualmente. Em 1815 publicou um trabalho dedicado à toxicidade de agentes naturais (Traité de Toxicolagie, 1815). Juntamente com outros estudiosos da época, oficializou a toxicologia como sendo uma ciência distinta, na qual se estuda os venenos. O trabalho científico “Treatise on Poison” ou “Traité des Poisons“ introduziu métodos para detectar e quantificar vestígios de arsênio, cianeto, antimônio e morfina. Utilizou material de autópsias e análises químicas como prova legal de envenenamento. este tipo de análise atua como preceito básico da toxicologia forense.

Mathieu-Joseph-Bonaventure Orfila
Considerado o pai da toxicologia forense moderna, Orfila apontou a necessidade de análises químicas para obtenção de provas legais em intoxicações letais, desenvolvendo métodos para a detecção de venenos.

Com a chegada dos anestésicos e desinfetantes em 1850, teve início a toxicologia como ela é entendida atualmente. A história também mostra incidentes de intoxicações com medicamentos em fase de "patente". No início da década de 1900, a descoberta da radioatividade e das vitaminas ("aminas vitais") desencadeou a necessidade dos bioensaios (estudos com animais) para determinação de riscos e benefícios. A Food and Drug Administration (FDA) fundada em 30 de junho de 1906, teve seu fortalecimento na década de 1950 com a aprovação pelo congresso americano de emendas aditivas para a Lei de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos. Uma delas, a cláusula Delaney (1958) estabelecendo que qualquer produto químico sendo considerado cancerígeno para animais de laboratório ou em humanos não poderia ser adicionado aos alimentos nos EUA. Pouco tempo após esta emenda, foi lançada a primeira revista americana de toxicologia (Toxicology and Applied Pharmacology).

No início da década de 1960 foi observado o incidente com a talidomida, resultando no nascimento de milhares de crianças com defeitos congênitos. Este evento impulsionou as tentativas de estender os efeitos das substâncias químicas sobre o embrião e o feto, assim como o meio ambiente. A partir daí, a avaliação de risco é o principal objetivo das investigações toxicológicas.

CONCEITOS

Toxicologia é a ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes da interação das substâncias químicas com o organismo, englobando também os agentes físicos. Estuda os mecanismos pelos quais as substâncias produzem os efeitos adversos nos sistemas biológicos. Estes efeitos incluem alterações estruturais (lesões anatômicas e histológicas) e de resposta (lesões bioquímicas, fisiopatológicas e psíquicas) em um ser vivo ou em seus descendentes. A toxicologia define os limites de segurança dos agentes químicos e físicos.

Agente tóxico ou toxicante é qualquer substância química ou agente físico (radiações X, UV, γ, etc.) que ao interagir com o organismo vivo provoca algum efeito nocivo. Causa danos ao sistema biológico, alterando uma função ou levando-o à morte, sob certas condições de exposição.

A intoxicação ou toxicose é o efeito nocivo provocado pela exposição a um agente tóxico, com consequente manifestação dos efeitos tóxicos. É um processo patológico causado por substâncias químicas endógenas ou exógenas e caracterizado por desequilíbrio fisiológico, em consequência das alterações bioquímicas no organismo.

Xenobiótico é o termo usado para designar substâncias químicas estranhas ao organismo, qualitativa ou quantitativamente, não indicando, necessariamente, que provoca efeito nocivo. Quando o xenobiótico provoca algum efeito nocivo, ele é considerado também um agente tóxico ou toxicante. Entretanto, nem todo xenobiótico é um toxicante. Agentes poluentes da atmosfera e metais do tipo chumbo e mercúrio são xenobióticos, desde que não possuem efeito fisiológico conhecido.

Toxinas são substâncias tóxicas produzidas por seres vivos e, em geral, não são bem definidas. As toxinas bacterianas (endotoxinas ou exotoxinas), micotoxinas (produzidas por fungos), fitotoxinas (plantas), zootoxinas (animais). Esta última quando transmitida por mordida ou ferroada é chamada de peçonha (serpente, cobra, abelha) e se estiver localizada em tecidos é chamada de veneno. Geralmente, a toxina recebe o nome do gênero do ser vivo que a produz. Quando as toxinas são bem caracterizadas e sua estrutura química é definida, é comum denomina-las de acordo com sua estrutura química. A toxinologia é a área da toxicologia que estuda as toxinas.

Veneno qualquer agente ou substância que causa efeito prejudicial ou deletério quando administrado, proposital ou acidentalmente, em qualquer organismo vivo.

Droga é toda substância capaz de modificar ou explorar o sistema fisiológico ou estado patológico, utilizada com ou sem intenção de benefício do organismo receptor. Difere de fármaco, pois este é definido como sendo toda substância de estrutura química definida, capaz de modificar ou explorar o sistema fisiológico ou estado patológico, em benefício do organismo receptor.

Toxicidade é a capacidade inerente da substância química de provocar intoxicação (efeito nocivo) ou propriedade de agentes tóxicos ou substâncias químicas de promoverem injúrias às estruturas biológicas, por meio de interações físico-químicas.

Toxicidade deve ser diferenciada de risco, termo que traduz a probabilidade estatística de uma substância provocar efeitos nocivos pelo uso ou pela manipulação de um agente tóxico em condições definidas de exposição.

Ação tóxica é a maneira pelo qual um agente tóxico exerce sua atividade sobre as estruturas teciduais.

Via de exposição: em toxicologia, são de maior importância as vias oral, dérmica e inalatória.

Suscetibilidade individual: espécie, raça, idade, peso corporal, características genéticas, prenhez, estado nutricional, são algumas variáveis que influenciam a toxicidade. Os gatos, por exemplo, têm maior dificuldade em eliminar substâncias químicas que precisam conjugar-se com o ácido glicurônico, em função da deficiência de uma enzima hepática, aumentando o risco de intoxicação.

Índice terapêutico é a relação entre a dose do medicamento que produz efeito tóxico e a dose necessária para o efeito terapêutico.

Interação medicamentosa quando na administração de dois ou mais medicamentos, estes interagem entre si. A interação pode ocorrer quando um fármaco estimula ou inibe determinadas enzimas importantes na metabolização de outro fármaco. Outra possibilidade é a competição por determinados sítios de ação.

Superdosagem evidencia-se em todo e qualquer paciente submetido a grandes doses de medicamentos, ou seja, quando ultrapassa o limite de tolerância ao medicamento, em tempo de tratamento curto ou longo (efeito cumulativo).

Intolerância são os quadros de toxicidade evidenciados em doses habitualmente não tóxicas para o paciente tratado.

Idiossincrasia ocorre com a manifestação de um quadro antagônico àquele da ação farmacológica

Campos de trabalho da Toxicologia:

Toxicologia Analítica ou Química

Toxicologia Clínica ou Médica

Toxicologia Experimental

Áreas da toxicologia:

Toxicologia Ambiental

Toxicologia Ocupacional

Toxicologia Social

Toxicologia de Alimentos

Toxicologia Medicamentosa

Toxicocinética e Toxicodinâmica

1) Fase de Exposição:

É a fase em que o organismo entra em contato com o toxicante. Nesta fase devem ser considerados a dose ou a concentração do xenobiótico, a via de introdução, a frequência ou a duração da exposição, as propriedades físico-químicas das substâncias, assim como a susceptibilidade individual. Todos estes fatores condicionam a disponibilidade química do xenobiótico, ou seja, a fração do mesmo disponível para absorção.

2) Fase Toxicocinética:

Inclui todos os processos envolvidos na relação entre a absorção e a concentração do agente tóxico nos diferentes tecidos do organismo, através dos deslocamentos da substância no organismo. Participam desta fase a absorção, distribuição, armazenamento, biotransformação e os processos de excreção das substâncias químicas. As propriedades físico-químicas dos toxicantes determinam o grau de acesso aos órgãos-alvo, assim como a velocidade de sua eliminação do organismo. O balanço deste movimento é que condiciona a biodisponibilidade da substância.

  • Absorção: passagem de uma substância a partir do local de contato para a circulação sanguínea (biodisponibilidade). As principais vias de absorção são oral, dérmica e inalatória.

  • Distribuição: transferência reversível do agente tóxico da circulação geral para os diferentes tecidos que constituem o organismo

  • Biotransformação: transformação química de substâncias, sejam elas medicamentos ou agentes tóxicos, dentro do organismo vivo, visando favorecer a sua eliminação.

  • Excreção: processo pelo qual uma substância é eliminada do organismo.

3) Fase Toxicodinâmica:

Compreende a interação entre as moléculas do toxicante e os sítios de ação, específicos ou não, dos órgãos e, consequentemente, o aparecimento de desequilíbrio homeostático. Envolve os mecanismos de ação tóxica exercida por substâncias químicas sobre o sistema biológico, sob o ponto de vista bioquímico e molecular.

4) Fase Clínica:

É a fase em que há evidências de sinais ou sintomas, ou ainda alterações patológicas detectadas mediante provas diagnósticas, caracterizando os efeitos nocivos provocados pela interação do toxicante com o organismo.

DIAGNÓSTICO DAS INTOXICAÇÕES

O diagnóstico exato de uma intoxicação com a determinação da causa do problema (exposição ao agente tóxico) permite fazer a prevenção e iniciar o tratamento específico, que possibilita salvar a vida, evitar complicações e acelerar a recuperação. Quando o diagnóstico não é feito, a intervenção do médico veterinário é limitada à aplicação de medidas terapêuticas sintomáticas e de manutenção. O diagnóstico da intoxicação ainda é um grande desafio para o profissional, pois a resposta à exposição a um agente tóxico é individual. Dessa maneira, o médico veterinário pode observar manifestações variadas em diferentes pacientes expostos ao mesmo agente tóxico.

A conduta adequada para o diagnóstico da intoxicação é semelhante àquela empregada para diagnosticar qualquer outra enfermidade, isto é, usando-se o processo de eliminação. O diagnóstico das intoxicações é obtido utilizando-se informações provenientes dos seguintes critérios:

  • História (anamnese);

A anamnese dos casos de intoxicação deve ser criteriosa, de forma a obter todas as informações relevantes.

  • Avaliação clínica (exame físico e exames complementares)

Na maioria das vezes, e nos casos graves o paciente deve ser tratado, empiricamente, antes de qualquer resultado de exame. Muitas vezes não são evidenciadas alterações patognomônicas de uma determinada toxicose e, ainda, os sinais produzidos numa mesma espécie não são constantes, variando consideravelmente em cada indivíduo.

  • Achados post mortem (alterações anatomopatológicas)

Nos casos de intoxicação fatal, a necropsia é importante para a conclusão do diagnóstico, pois além da descrição de todas as lesões macroscópicas, há a possibilidade da coleta de diferentes tecidos para o exame histopatológico e a análise toxicológica.

  • Exame toxicológico (análise química)

Este exame não deve ser encarado como fundamental para o diagnóstico da intoxicação, pois tem suas limitações, sendo as principais delas a impossibilidade de se ter métodos analíticos para a identificação de todas as substâncias químicas capazes de produzir efeitos tóxicos, a quantidade da amostra biológica, bem como laboratórios equipados e pessoal treinado para a interpretação dos resultados obtidos. No caso em que o exame toxicológico for solicitado, o médico veterinário deverá apontar sua hipótese diagnóstica.

  • Ensaios com animais

O ensaio com animais é pouco utilizado na prática clínica, embora em alguns casos seja muito valioso para auxiliar no diagnóstico da intoxicação, principalmente no caso de toxinas vegetais, bacterianas ou fúngicas presentes no alimento. É realizado administrando-se o agente tóxico suspeito a um animal ou a um pequeno grupo de animais, de preferência da mesma espécie do animal suspeito de intoxicação.

Alguns cuidados devem ser tomados com a coleta, a conservação e o transporte da amostra a ser submetida a análises toxicológicas, a fim de que a prova possa chegar em condições que permitam auxiliar no diagnóstico da intoxicação.

Portal ANVISA GUIA Laboratórios Analíticos

CONDUTAS DE URGÊNCIA NAS INTOXICAÇÕES

Na conduta de urgência, propõem-se os seguintes passos:

  • Instituição de uma terapia de emergência para a manutenção da vida.

  • Determinação do diagnóstico clínico para que se possa realizar uma terapia racional.

  • Emprego de medicamentos (antídotos, se houver) e recursos adequados.

  • Determinação da fonte de exposição ao agente tóxico para determinação de medidas de prevenção, instruindo o proprietário sobre os riscos da exposição ao agente tóxico e as formas de evitar exposições futuras.

INSTRUÇÕES AO TUTOR

Comumente a manifestação clínica de um quadro de intoxicação é aguda. Este início súbito dos sinais clínicos causa atenção por parte do tutor, que deve imediatamente procurar a assistência médica veterinária. Quando ocorre contato telefônico, o tutor deve ser instruído a proteger o animal e os contactantes. Pode ser recomendado, por exemplo, que o animal seja mantido aquecido, em lugar tranquilo, evitando qualquer fator estressante. A abordagem inicial deve ser iniciada com a tentativa de assegurar que, de fato, trata-se de um quadro de intoxicação.

Se a exposição ao agente tóxico foi oral, o proprietário deve ser desestimulado a induzir o vômito ou a administrar qualquer outra substância por via oral. Nenhuma substância deve ser administrada quando o animal encontrar-se deprimido ou inconsciente, uma vez que há risco de aspiração destas substâncias pela inibição dos reflexos protetores de tosse.

Se a exposição do animal ao agente tóxico foi tópica, o proprietário deve ser instruído a lavar a pele do animal com água corrente em abundância. Preferencialmente, a água deve ser fria ou morna para evitar a vasodilatação periférica que favorece a absorção do agente tóxico. A pessoa que realizar este procedimento deve proteger-se usando vestimenta protetora impermeável (luvas, aventais, botas).

O animal deve ser encaminhado ao atendimento veterinário e o proprietário deve ser instruído a levar o produto ou os materiais suspeitos.

MEDIDAS DE URGÊNCIA

A preocupação mais importante frente ao atendimento do animal intoxicado é a manutenção das funções vitais: respiração e atividade cardiovascular. Uma vez obtida a estabilização dos sinais vitais, pode-se dar andamento às medidas terapêuticas subsequentes.

MEDIDAS PARA DIFICULTAR A ABSORÇÃO DO AGENTE TÓXICO

As medidas de descontaminação têm por objetivo reduzir a taxa de absorção do agente tóxico antes da chegada na corrente sanguínea. Uma importante medida no tratamento das intoxicações.

As principais vias de absorção de agentes tóxicos são a via oral, cutânea e respiratória. A partir do momento e que o animal esteve exposto ao agente tóxico, as medidas para prevenir a absorção podem favorecer o tratamento. As medidas de descontaminação devem ter em consideração a via de exposição.

  • Exposição Cutânea:

O banho pode remover ou diminuir a concentração do agente toxicante na pele. Recomenda-se banho com água morna corrente por pelo menos 15 minutos, uso de sabão neutro e enxaguar e secar bem o paciente. Não utilizar secador, pois o aumento da temperatura causa vasodilatação e favorecimento da absorção. Deve-se ter cuidado com a temperatra da água do banho e atenção especial para a manutenção da temperatura corporal. O banho é recomendado somente quando o quadro clínico do paciente estiver estável. Animais com pelagem espessa podem ser tosados para auxiliar a remoção do agente toxicante. As pessoas responsáveis pela realização do banho devem utilizar vestimentas adequadas e equipamentos de proteção, como luvas, avental e sapatos fechados.

  • Exposição Ocular:

Nesta situação é indicada a lavagem do local acometido com água corrente (ou solução fisiológica) por pelo menos 20 a 30 minutos. A indicação de colírios anestésicos pode trazer maior conforto ao paciente.

  • Exposição Inalatória:

Manter o animal em ambiente arejado e com temperatura agradável, longe do local de exposição. Muitas vezes podem ser necessários o fornecimento de oxigênio e suporte ventilatório adequado. A ventilação forçada pode ser realizada para favorecer a diminuição da concentração do agente tóxico dos alvéolos pulmonares.

  • Exposição Gastrintestinal:

Os métodos geralmente utilizados para impedir a absorção do agente tóxico presente no trato digestivo são:

Indução de êmese: este procedimento deve ser feito no máximo até uma hora após a ingestão, com exceção das substâncias que retardam o esvaziamento gástrico (como anticolinérgico ou barbitúrico). A êmese pode ser provocada com a administração oral de água oxigenada 10% na dose de 10 mL. A apomorfina (0,08 mg/kg SC) é um emético potente, mas pode causar depressão respiratória.

A êmese é contraindicada nas seguintes situações: ingestão do agente tóxico há mais de 60 minutos, ingestão de substâncias cáusticas, animal inconsciente ou severamente deprimido e quando não há conhecimento do agente tóxico responsável pelo quadro.

Lavagem gástrica: realizada quando não há indicação de indução de êmese. A lavagem gástrica deve ser realizada até, no máximo, 1 a 2 horas após a ingestão do agente tóxico. A remoção do conteúdo gástrico ocorre de forma rápida e por meio de uma sonda esofágica, não expondo novamente as mucosas ao agente tóxico e permitindo a administração de carvão ativado (1 a 5 g/kg). O animal deve estar com sonda endotraqueal de maneira a evitar a ocorrência de falsa via. Apresenta como desvantagens a necessidade de anestesia geral para a realização desse procedimento e o risco de ocorrência de traumatismo no esôfago (perfuração) e estômago.

Transformação do agente tóxico em uma forma não absorvível: esta conduta objetiva o impedimento da absorção do agente tóxico que não pode ser eliminado fisicamente do trato digestivo. O processo mais empregado para esta finalidade é a adsorção onde ocorre a captação física das moléculas do agente tóxico, que, aderidas ao adsorvente não são absorvidas pela mucosa do trato digestivo, sendo eliminadas do organismo. O adsorvente disponível mais eficaz contra uma ampla variedade de agentes tóxicos é o carvão ativado.

Uso de catárticos: os catárticos têm absorção limitada e exercem força osmótica na luz intestinal, causando a retenção de líquidos dentro do trato intestinal. Os laxantes salinos ou a base de óleo mineral aumentam o trânsito intestinal e a eliminação do agente tóxico. Os laxantes a base de óleo vegetal devem ser evitados pois podem facilitar a absorção de tóxicos lipossolúveis.

Eliminação direta do agente tóxico: uso de procedimento cirúrgico (gastrotomia ou enterotomia) para eliminação do agente tóxico não absorvido. As situações que exigem o uso de cirurgias para a remoção de agentes tóxicos do trato gastrintestinal são raras. Nestes casos a endoscopia pode ser uma alternativa mais segura.

MEDIDAS PARA INATIVAR O AGENTE TÓXICO ABSORVIDO OU SEUS EFEITOS

Neste caso o procedimento envolve a administração de antídoto. Um antídoto é uma substâncias químicas capaz de ligar-se ao agente tóxico dentro do organismo do animal impedindo o seu efeito tóxico nos tecidos.

MEDIDAS PARA ELIMINAR O AGENTE TÓXICO ABSORVIDO

Eliminação Renal:

O rim é a principal via de eliminação dos agentes toxicantes. A fluidoterapia tem o objetivo de aumentar a taxa de filtração glomerular e a diurese. O uso de diuréticos ou alteração do pH da urina pode alterar a velocidade de eliminação do agente toxicante. Esta conduta exige função renal adequada e bom estado de hidratação do paciente. Os diuréticos de escolha são o manitol (diurético osmótico administrado na dose de 0,25 a 0,5 mg/kg) e a furosemida (diurético de alça administrado na dose de 0,5 a 4 mg/kg).

Modificações no pH urinário pode favorecer a eliminação de ácidos ou bases fracas, por causa do aumento da parte ionizada do agente tóxico e da redução da absorção nos túbulos renais.

MEDIDAS DE SUPORTE

Hipertermia:

O tratamento imediato é indicado quando a temperatura corporal atinge valores superiores a 41°C. Preconiza-se a administração de oxigênio, soluções cristaloides (ringer com lactato ou cloreto de sódio 0,9%) por via intravenosa, controle das convulsões, banho com água morna ou corrente e uso de álcool isopropílico embebido em algodão colocado nos coxins e abdômen.

Hipotermia:

Temperaturas abaixo de 36,5°C podem ser obtidas em pacientes intoxicados e geralmente são acompanhadas de baixo nível de consciência, bradicardia e fibrilação ventricular. São recomendadas as técnicas de aquecimento externo e interno.

Convulsões:

As convulsões frequentes podem causar apneia, hipoventilação, hipóxia, acidose metabólica e aspiração pulmonar. O tratamento de primeira escolha é o uso de benzodiazepínicos como o diazepam (0,5 a 1 mg/kg IV, ou 1 a 4 mg/kg via retal).

Insuficiência Respiratória: hipóxia

Agentes toxicantes podem causam depressão direta do centro respiratório ou disfunção dos músculos respiratórios. A hipóxia pode ocasionar danos cerebrais, arritmias ou parada cardíaca e acidose.

Hipotensão:

A hipotensão pode ser decorrente da hipovolemia, vasodilatação ou diminuição do débito cardíaco, e pode evoluir para choque, insuficiência renal aguda, lesões cerebrais, necrose da mucosa intestinal e morte. O tratamento geralmente está relacionado com a administração de soluções cristaloides por via intravenosa.

Hipertensão:

A elevação da pressão arterial (pressão arterial média acima de 145 mmHg) pode causar hemorragia intracraniana, insuficiência renal, encefalopatia, hemorragia retiniana ou deslocamento de retina, como também insuficiência cardíaca congestiva.

EXAMES COMPLEMENTARES PARA AVALIAÇÃO DO PACIENTE INTOXICADO

Os exames complementares podem ser recomendados de acordo com a necessidade clínica do caso. A solicitação dos exames está relacionada com a suspeita do agente toxicante envolvido, e necessita de conhecimento sobre os efeitos nocivos no paciente. Contribuindo para o diagnóstico das intoxicações podemos citar:

  • Hemograma

  • Determinação de bioquímica sérica (ureia, creatinina, ALT ou Alanina aminotransferase, Fosfatase alcalina, glicose)

  • Determinação sérica de eletrólitos

  • Urinálise

  • Hemogasometria

  • Provas de coagulação

  • Radiografias

  • Eletrocardiograma

O CIT (Centro de Informação Toxicológica do RS) foi criado em agosto de 1976 com uma proposta de prestar assessoria e orientação frente à ocorrência de acidentes tóxicos no Rio Grande do Sul. Atualmente atende em caráter de emergência e em regime de plantão permanente (24 horas/dia).

CIT (Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul)

AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE

Podemos considerar que toda substância química pode ser um agente tóxico, dependendo das condições de exposição (dose, concentração, duração e frequência de exposição, via de exposição, propriedades físico-químicas e suscetibilidade individual). Portanto, é necessário conhecer o tipo de efeito tóxico que uma substância pode produzir e estabelecer as condições de uso seguro desta substância para não causar dano ao meio ambiente e à saúde dos animais e de outros seres vivos.

Neste contexto, os ensaios de toxicidade auxiliam na tomada de decisão sobre a segurança de uso de novos produtos, obtidos a partir da síntese de novas moléculas, sejam eles medicamentos, defensivos agropecuários, conservantes ou germicidas de água ou alimentos, etc.

ENSAIOS DE TOXICIDADE

As substâncias químicas produzidas pelas indústrias farmacêuticas são submetidas a ensaios de toxicidade após a triagem farmacológica geral. Os ensaios de toxicidade devem ser realizados para cada nova substância a ser utilizada. Os ensaios de toxicidade são úteis para caracterizar que tipo de efeito tóxico uma substância produz, não sendo planejados para demonstrar que a exposição à substância é segura. Sendo assim, esses ensaios são aplicados em animais de laboratório e sob condições previamente estabelecidas, visando determinar os possíveis efeitos da substância, em última análise, em seres humanos expostos a ela.

Os testes de mutagenicidade são realizados in vitro e in vivo.

Teste de Ames: faz o uso de Salmonella tiphymurium mutante para avaliar a capacidade de produzir histidina.
Teste em Drosophila melanogaster: possibilita o estudo de mutações pontuais, deleções e translocações
Teste cometa: avalia danos no DNA e mostra probabilidade de surgimento de mutações.

A área de investigação sobre a interação entre substâncias que interferem no aparato genético das células denomina-se toxicologia genética. Com os avanços trazidos pelo uso de ferramentas de biologia molecular, essa área vem crescendo extraordinariamente. Ela ocupa um amplo campo de investigação e aplicação na avaliação do risco de mutagenicidade e carcinogenicidade de substâncias naturais ou produtos industrializados. Atualmente, é impossível registrar um novo medicamento ou aditivo alimentar sem a comprovação de estudos relativos ao potencial mutagênico ou carcinogênico das substâncias. A Drosophila melanogaster é utilizada em um ensaio conhecido como Teste para Detecção de Mutação e Recombinação em Células Somáticas (SMART) para avaliar atividade genotóxica.

Uso de Animais em Ensaios de Toxicidade

Ainda não existe uma legislação que efetivamente regule a criação e o uso de animais para a pesquisa e o ensino em âmbito nacional. Contudo, há recomendações embasadas em legislações internacionais e princípios éticos que norteiam a conduta no uso de animais. Uma delas é a criação de comissões de ética (Comissão de Ética no Uso de Animais) dentro das instituições que fazem uso de animais em experimentos, estabelecendo diretrizes para o uso destes, além de avaliar e aprovar os protocolos destes ensaios. Os protocolos devem conter informações como a espécie e o número de animais que serão utilizados, a justificativa e a descrição dos procedimentos empregados nos experimentos.

Além disso, diversos ensaios alternativos são propostos no sentido de diminuir o número de animais utilizados na experimentação. O princípio fundamental é baseado no conceito dos 3 R’s (Refine, Reduction e Replacement). A origem do conceito dos 3R’s foi proposta em 1954 por Charles Hume, em um projeto iniciado pela Federação das Universidades para o Bem estar Animal (Universities Federation for Animal Welfare - UFAW) no Reino Unido.

Este projeto resultou na publicação do livro "Os Princípios das Técnicas Experimentais Humanas" (“The Principle of Humane Experimental Technique”) em 1959, por Willian Russell e Rex Burch (com edição especial em 1992 - Foreword to Special Edition).

Este conceito proposto envolve o refinamento, a redução e a substituição racional dos animais, minimizando assim, o seu uso e sofrimento, sem comprometer a qualidade do trabalho científico realizado.

São considerados métodos alternativos todos aqueles que se propunham a reduzir (Reduction) o número de animais necessários para se executar determinado experimento, diminuir o sofrimento animal através do melhor treinamento de pessoal e refinamento (Refinement) da técnica e por fim sempre que possível, a completa substituição (Replacement) do uso de animais por outros métodos.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL

Muitas substâncias químicas são liberadas no ambiente. Estas substâncias podem ser potencialmente tóxicas, isoladamente ou em combinação com outros agentes químicos. A industrialização e o crescimento populacional contribuiram para aumentar a poluição e causar efeitos prejudiciais na população humana e animal. Ecotoxicidade é o termo utilizado para referir-se aos efeitos tóxicos provocados por uma substância química no ecossistema e seus componentes.

A Toxicologia Ambiental é a área da Toxicologia em que se estudam os efeitos nocivos causados pela interação de agentes químicos contaminantes do ambiente – água, solo, ar – com os organismos humanos. O Monitoramento Ambiental é realizado com intuito de antever danos ambientais durante o funcionamento de determinada unidade industrial ou obra civil e até mesmo durante sua construção.

Ecossistema: refere-se ao relacionamento da comunidade (fator biótico) com os diversos fatores do meio (fatores abióticos).

Poluente: também chamado de contaminante ou contaminante ambiental. Preferido sempre que tratar de substâncias químicas que prejudicam o meio ambiente em quaisquer dos seus componentes e que sejam, ao menos em parte, resultado de uma emissão antrópica da atividade industrial e agropecuária.

Emissão: lançamento antrópico de substâncias químicas de natureza sólida, líquida ou gasosa. É necessário referir-se ao estado físico da substância.

Efluente: qualquer emissão de origem exclusivamente líquida.

Processo de Bioacumulação:

O Processo de Acumulação está relacionado com o aumento na concentração de determinado agente químico em um organismo biológico comparado à concentração deste agente no meio ambiente.

Biomagnificação:

A biomagnificação ocorre quando poluentes são passados, por meio da cadeia alimentar, de um nível trófico inferior a um nível trófico superior, permitindo que organismos de níveis tróficos superiores tenham altas concentrações do poluente.

A bioacumulação pode levar à biomagnificação, ou seja, ao processo pelo qual uma substância é absorvida por um organismo e, por intermédio da cadeia alimentar, vai se acumulando em concentrações cada vez maiores nos indivíduos nos níveis tróficos superiores.

TOXICOLOGIA OCUPACIONAL

A Toxicologia Ocupacional dedica-se ao estudo dos efeitos nocivos produzidos pela interação dos agentes químicos provenientes do ambiente de trabalho com os indivíduos a eles expostos. O objetivo da toxicologia Ocupacional é a prevenção de alterações da saúde dos trabalhadores expostos a fatores de risco diversos. No Brasil, na ausência de instrumentos legais específicos para a atividade de veterinária, seguem-se as normas gerais, como é o caso das Normas Regulamentadoras (NR).

Normas Regulamentadoras (NR)

A NR n° 09, do Ministério do Trabalho, estabelece os princípios básicos para avaliação e monitoramento da exposição ocupacional a agentes químicos, físicos e biológicos.

A NR n° 31 estabelece a segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura.

A NR n° 15 anexo 11 fixa as substâncias cuja insalubridade é caracterizada por Limites de Tolerância e fornece uma tabela de valores. Se estes valores ultrapassam os limites fica caracterizada a insalubridade, resultando na obrigatoriedade de proporcionar um adicional de 10, 20 ou 40% do salário mínimo ao salário do trabalhador exposto. A NR 15 utilizou os limites da American Conference of Governmental Industrial Hygienists / USA (ACGIH).

BIOSSEGURANÇA

A biossegurança é uma área de conhecimento definida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como: “condição de segurança alcançada por um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e o meio ambiente”.

Lei de Biossegurança, n° 8974 de 05 de Janeiro de 1995

Esta lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização no uso das técnicas de engenharia genética na construção, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, liberação e descarte de organismo geneticamente modificado (OGM), visando a proteger a vida e a saúde do homem, dos animais e das plantas, bem como o meio ambiente”.

PREVENÇÃO DE ACIDENTES TÓXICOS OCUPACIONAIS NA MEDICINA VETERINÁRIA

A exposição às substâncias químicas no ambiente de trabalho pode provocar um efeito tóxico com potencial de desenvolver alterações no estado de saúde das pessoas que trabalham em tal ambiente. Os efeitos tóxicos podem variar desde os considerados leves, como a irritação dos olhos, até respostas mais sérias, como o dano hepático ou renal. A prevenção da intoxicação normalmente é realizada por monitorizações do ambiente de trabalho e trabalhador.

Os riscos no ambiente laboral podem ser classificados em cinco tipos, de acordo com a

PORTARIA Nº 3.214, DE 08 DE JUNHO DE 1978, do Ministério do Trabalho do Brasil.

1) Riscos químicos:

Consideram-se agentes de risco químico as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo do trabalhador pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, gases, neblinas, névoas ou vapores, ou que seja, pela natureza da atividade, de exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo através da pele ou por ingestão.

2) Riscos físicos:

Consideram-se agentes de risco físico as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, calor, frio, pressão, umidade, radiações ionizantes e não-ionizantes, vibração.

3) Riscos biológicos:

Consideram-se como agentes de risco biológico as bactérias, vírus, fungos, parasitos, entre outros. Os microorganismos que apresentam algum risco à saúde do trabalhador em ambientes veterinários são classificados de acordo com o grupo de risco. São conhecidas 4 classes de riscos (Classificação de risco dos agentes biológicos).

4) Riscos ergonômicos:

Qualquer fator que possa interferir nas características psicofisiológicas do trabalhador, causando desconforto ou afetando sua saúde. São exemplos de risco ergonômico: o levantamento de peso, ritmo excessivo de trabalho, monotonia, repetitividade, postura inadequada de trabalho.

5) Riscos de acidentes:

Qualquer fator que coloque o trabalhador em situação vulnerável e possa afetar sua integridade, e seu bem estar físico e psíquico. São exemplos de risco de acidente: as máquinas e equipamentos sem proteção, probabilidade de incêndio e explosão, arranjo físico inadequado, armazenamento inadequado.

Quais os principais riscos para o Médico Veterinário?

Importante salientar que os aspectos referentes à qualificação profissional são de extrema importância quando se trata de segurança e higiene no trabalho. O conhecimento adquirido pelos trabalhadores ao longo de sua vida acadêmica e profissional é fundamental na identificação de fatores de risco, bem como no reconhecimento de suas fontes e efeitos. O cumprimento de normas sanitárias já existentes são medidas importantes para melhorar as condições de trabalho e biossegurança.

REFERÊNCIAS:
KLAASSEN, C. D.; WATKINS III, J. B. Fundamentos em Toxicologia. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012.
OGA, S.; CAMARGO, M. M. A.; BATISTUZZO, J. A. O. Fundamentos de Toxicologia. 3 ed. São Paulo: Atheneu, 2008. OSWEILER, G.D. Toxicologia Veterinária. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. RABELO, R. C. Emergências de Pequenos Animais: condutas clínicas e cirúrgicas no paciente grave. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. SPINOSA, H. S.; GÓRNIAK, S. L.; PALERO-NETO, J. Toxicologia Aplicada à Medicina Veterinária. 2.ed. Barueri: Manole, 2020. Imagens: https://www.google.com/