Este Capítulo apresenta o tema “Algumas Abordagens sobre Sistemas”; “Conceito Pensamento Sistêmico”; “Quinta Disciplina (Raciocínio Sistêmico)” e por fim: “Estratégia”. Os assuntos dispostos neste capítulo possuem por objetivo fazer com que o leitor consiga compreender melhor sobre este tema e todas suas ramificações.
A Gestão sistêmica busca essencialmente desenvolver as competências para: conhecer, identificar e comparar as diversas formas de organização; compreender e ser potencialmente capaz de utilizar as variáveis, ou seja, identificar as funções (essenciais e operacionais) e as ferramentas da administração para qualificar a atuação do gestor de uma empresa ou de uma unidade empresarial (MAXIMIANO, 2017).
A Gestão sistêmica também busca conhecer, compreender e ser potencialmente capaz de utilizar as competências essenciais da gestão, incentivando a promoção de mudanças e a inovação nas empresas contemporâneas (MAXIMIANO, 2017).
Maximiano (2017) ainda afirma que o ponto de partida do enfoque sistêmico é a ideia de sistema. Cientistas e filósofos há tempos trabalham com a ideia de sistema para auxiliar a entender e ofertar soluções complexas para problemas complexos. Destaca-se que sistema é um todo complexo ou organizado, ou seja, é um conjunto de partes ou elementos que forma um todo unitário ou complexo. Em termos, um conjunto de partes que interagem e funcionam como todo é um sistema.
Maximiano (2020) salienta que qualquer entendimento da ideia de sistema compreende:
Um conjunto de entidades denominadas partes, elementos ou componentes;
Alguma espécie de relação ou interação das partes;
A visão de uma entidade nova e distinta, criada por essa relação, em um nível sistêmico de análise.
Os sistemas, conforme Maximiano (2020) são compostos por dois tipos de componentes ou partes:
Físicos, concretos ou itens materiais, tais como equipamentos, máquinas, peças, instalações e até mesmo pessoas. Esse é o hardware dos sistemas;
Conceituais ou abstratos, tais como conceitos, ideias, símbolos, procedimentos, regras, hipóteses e manifestações do comportamento intelectual ou emocional. Esse é o software dos sistemas.
Muitos sistemas são compostos por uma combinação de elementos físicos e abstratos. Em alguns sistemas, predomina um tipo de componente. A ideia de sistema encontra grande receptividade em inúmeros campos de estudo. Sua utilidade para designar conjuntos complexos é notável e onipresente, como se pode deduzir por sua presença em nosso vocabulário. Apresentam-se exemplos de sistemas físicos e abstratos, como: Sistema da qualidade; Sistema sociotécnico; Sistema de transporte; Sistema de informações; Sistema social; Sistema de eventos; Sistema de ideias; Sistema do governo; Sistema judiciário; dentre outros (MAXIMIANO, 2017).
Segundo Chiavenato (2020) existem diversas espécies ou tipos de sistemas, ou seja, existe uma grande variedade de sistemas e várias tipologias para classificá-los. Por exemplo, no que diz respeito à sua constituição, observando-se que os sistemas podem ser físicos ou abstratos. Os Sistemas físicos ou concretos são compostos de equipamentos, maquinaria, objetos e coisas reais. São denominados hardware. Podem ser descritos em termos quantitativos de desempenho.
Já os Sistemas abstratos ou conceituais são compostos de conceitos, filosofias, planos, hipóteses e ideias. Nos Sistemas abstratos os símbolos representam atributos e objetos, que muitas vezes só existem no pensamento das pessoas. São denominados software.
Chiavenato (2020) aponta no que diz respeito à natureza dos sistemas, os sistemas podem ser fechados ou abertos. Os sistemas fechados não apresentam intercâmbio com o meio ambiente que os circunda, pois são herméticos a qualquer influência ambiental. Sendo assim, não recebem influência do ambiente e nem influenciam o ambiente. Também não recebem nenhum recurso externo e nada produzem que seja enviado para fora. A rigor, não existem sistemas fechados na acepção exata do termo.
Figura 10: Sistemas de Gestão
A denominação "sistemas fechados" é indicada aos sistemas cujo comportamento é determinístico e programado e que operam com pequeno e conhecido intercâmbio de matéria e energia com o meio ambiente. Também o termo é utilizado para os sistemas estruturados, onde os elementos e as relações se combinam de maneira peculiar e rígida, produzindo uma saída invariável. São os denominados sistemas mecânicos, como por exemplo, as máquinas e os equipamentos.
No que se refere aos sistemas abertos, Chiavenato (2020) destaca que estes apresentam relações de intercâmbio com o ambiente por meio de inúmeras entradas e saídas. Os sistemas abertos trocam matéria e energia regularmente com o meio ambiente. Os sistemas abertos são adaptativos, isto é, para sobreviver devem se reajustar constantemente às condições do meio. Eles mantêm um jogo recíproco com o ambiente e sua estrutura otimizada, uma vez que o conjunto de elementos dos sistemas se organiza através de uma operação adaptativa. A adaptabilidade é um contínuo processo de aprendizagem e de auto-organização.
Conforme observa Andrade et. al. (2011) o Pensamento Sistêmico é algo mais antigo que o modelo da Quinta Disciplina de Peter Senge. Entretanto, a ligação entre ambos é proeminente, tanto de uma perspectiva histórica como pragmática, a fim de entender a aprendizagem e a mudança em organizações.
Segundo Andrade et. al. (2011) existem duas questões básicas fundamentais para entender aonde leva essa trilha, ou seja, por que Peter Senge possui interesse especial pela aprendizagem? Que papel o Pensamento Sistêmico tem na aprendizagem e na mudança em organizações e na sociedade?
Andrade et. al. (2011) aponta que existe um corpo crescente de líderes, pesquisadores e consultores que estão preocupados com uma mudança profunda nas organizações. Porém, como mudanças profundas em organizações e comunidades se processam? Precisam-se buscar noções no conhecimento sobre antropologia, no estudo da cultura, na educação, na psicologia e nas ciências cognitivas. Todas estas ciências apontam para um caminho em comum: os modelos mentais ou os pressupostos mais profundos que são modificados por meio do processo de aprendizagem. Logo, mudança profunda implica diretamente na aprendizagem.
Senge (2013) destaca que as organizações e comunidades que desenvolvem capacidades superiores de aprendizagem são capazes de se transformar mais rápida e profundamente. Porém, para isso ocorrer, deve haver um sólido e fomentado ciclo de aprendizagem profunda. Este ciclo de aprendizagem envolve o desenvolvimento de habilidades e capacidades especiais que provocam novos níveis de percepção, sensibilidade e consciência. Essas habilidades e capacidades especiais são as que efetivamente transformam a maneira de perceber e sentir o mundo.
As habilidades de aspiração; reflexão e conversação; e conceituações moldam a forma como as pessoas enxergam o mundo, pois elas interferem na maneira de entender e executar ações (ANDRADE, et al, 2011).
O ciclo de aprendizado profundo é um processo individual que se dá ao nível cognitivo, bem como também é um processo coletivo que se dá ao nível cultural. Logo, não está sujeito a uma “manipulação” direta (ainda que muitos a desejassem), porém, a entrada possível no ciclo é justamente por meio do desenvolvimento dessas habilidades e capacidades (ANDRADE, et al., 2011).
O Pensamento Sistêmico, conforme Andrade et. al. (2011) entra na história, pois a habilidade de conceituação está ligada à necessidade de ver forças maiores em jogo na complexidade e de construir descrições coerentes de todo complexo. O Pensamento Sistêmico é o arcabouço que proporciona o desenvolvimento dessa habilidade.
Senge (2013) afirma que ao ofertar pistas para os líderes das organizações conseguirem executar os primeiros passos de ativação do ciclo de aprendizado, se indicaria e apontaria as habilidades e capacidades essenciais que facilitariam o aprendizado e a mudança profunda. Depois disso, se demonstraria e se comprovaria que há um local que é o real domínio de ação. Nesse raciocínio os líderes deveriam construir uma arquitetura organizacional capaz de facilitar o ciclo de aprendizado.
A aprendizagem organizacional ocorreu a partir das cinco disciplinas propostas por Peter Senge, que nasceu em 1947, disciplinas estas que tem a capacidade de conduzir e incentivar pessoas e equipes se proporem às mudanças contínuas e as renovações constantes nas organizações.
Senge et. al. (2013) apud Chiavenato (2016, p. 294-295) destaca as cinco disciplinas de aprendizagem para as organizações:
Domínio pessoal. É a disciplina de aspiração. Envolve a formulação de um conjunto coerente de resultados que as pessoas desejam atingir como indivíduos (sua visão pessoal) em um alinhamento realístico com o estado atual de suas vidas (sua realidade atual). Aprender a cultivar a tensão entre a visão pessoal e realidade externa aumenta a capacidade de realizar melhores escolhas e alcançar resultados superiores aos escolhidos.
Modelos Mentais. É uma disciplina de reflexão e habilidades de questionamento. Focalizam o desenvolvimento de atitudes e percepções que influenciam o pensamento e a interação entre as pessoas. Visão Compartilhada. É uma disciplina coletiva. Estabelece um foco sobre propósitos mútuos. As pessoas aprendem a nutrir um senso de compromisso em um grupo ou organização, desenvolvendo imagens do futuro que pretendem criar e os princípios e as práticas orientadoras que elas esperam alcançar.
Aprendizagem de equipes. É uma disciplina de interação grupal. A aprendizagem é feita por meio de equipes e utiliza técnicas, como diálogo e discussão, para desenvolver o pensamento coletivo, aprender a mobilizar energias e ações para alcançar objetivos comuns e desenvolver inteligência e capacidade maiores do que a soma dos talentos individuais.
Pensamento sistêmico. É uma disciplina de aprendizagem. Por meio dela, as pessoas aprendem melhor compreendendo a interdependência e a mudança para lidar eficazmente com as forças que produzem efeitos em suas ações. O pensamento sistêmico é baseado na retroação e na complexidade. Trata-se de mudar sistemas na sua totalidade e não apenas os detalhes.
A aprendizagem organizacional é realizada a partir dessas cinco disciplinas, que são capazes de fazer com que pessoas e grupos consigam conduzir as organizações para a mudança e a renovação contínua (SENGE et al. 2013 apud CHIAVENATO (2016).
Figura 12: A Quinta Disciplina
A aprendizagem é a principal vantagem competitiva de uma organização. Ela conduz à criatividade e ao empreendedorismo. Embora pareça um produto, a aprendizagem organizacional é um processo, e os processos não se revelam facilmente para que todos os vejam. Assim, é necessário desenvolver nas organizações uma mentalidade de aprendizagem contínua, para assim, obter através dela uma grande e principal vantagem competitiva (SENGE et. al. 2013 apud CHIAVENATO, 2016).
Toda organização precisa inovar e aprender para enfrentar os desafios que bloqueiam o seu progresso. A vantagem competitiva de uma organização somente é sustentável por meio do que ela sabe através do aprendizado, bem como ela consegue utilizar esse conhecimento e a rapidez com que ela aprende algo novo (GEUS, 1997 apud CHIAVENATO, 2016).
A aprendizagem organizacional exige uma cadeia integrada de líderes e de todas as pessoas que possuem o conhecimento adequado às necessidades da organização, para que assim se construa uma organização maior do que a soma de suas partes e que ultrapasse os resultados esperados (GEUS, 1997 apud CHIAVENATO, 2016).
Figura 13: Aprendizagem Organizacional
O conceito tradicional de ensinar é diferente do conceito de aprender, ou seja, ensina-se transmitindo informações e aprende-se com as vivências. No primeiro, utiliza-se somente o pensamento. No segundo, utiliza-se os sentimentos e os pensamentos. A aprendizagem humana é o resultado dinâmico de relações humanas entre as informações e os relacionamentos interpessoais (GEUS, 1997 apud CHIAVENATO, 2016).
Assim, a aprendizagem organizacional busca desenvolver o conhecimento e as habilidades que capacitam as pessoas a compreender e a agir eficazmente dentro das organizações. Uma organização de aprendizagem constrói relações colaborativas no sentido de dar força aos conhecimentos, experiências, capacidades e maneiras de fazer as coisas que as pessoas devem utilizar. Trata-se de repensar e revitalizar as organizações em direção ao sucesso e à sua identidade futura. A meta da aprendizagem organizacional é aprimorar os processos de comunicação que levam as pessoas a articular e refinar suas aspirações e seus objetivos para melhor alcançá-los (SENGE et al., 2013 apud CHIAVENATO, 2016).
A palavra estratégia possui sua origem do grego Strategos e está intimamente relacionada com a questão militar. Strategos significa um general em comando de um exército, ou seja, “a arte do general” (OLIVEIRA, 2018).
Entretanto, segundo Pereira (2015) a palavra estratégia foi incorporada ao mundo dos negócios na qual ela começou a ser adotada pelas organizações para significar a maneira como essas se comportavam e agiam frente ao seu ambiente e sua concorrência. Importante salientar que não existe nenhuma organização sem estratégia, mesmo que esta não esteja formalizada, mas sempre existe certa ou não, coerente ou não, mas existe, uma vez que a estratégia faz parte da sobrevivência de qualquer empresa. A estratégia expressa como uma organização emprega seus pontos fortes e seus pontos fracos, tanto os existentes como os potenciais, a fim de alcançar seus objetivos, sem deixar de considerar as oportunidades e ameaças que o meio (mercado) lhe impõe.
Hamel e Prahalad (2012) afirmam que a essência da estratégia está em desenvolver vantagens competitivas no futuro mais rápido, antes que os concorrentes possam imitar. Assim, a melhor vantagem competitiva de todas ocorre quando uma organização tem a capacidade de melhorar suas habilidades já existentes e aprender novas habilidades através de novos conhecimentos.
De acordo com Robbins (2015) as empresas utilizam estratégias como determinação básica das metas e objetivos de longo prazo, bem como a adoção de ações e alocações dos recursos necessários para atingir suas metas e objetivos, ou seja, o seu propósito.
Chiavenato e Sapiro (2018) afirmam que a estratégia é, basicamente, um curso de ação escolhido pela organização a partir da premissa de que uma futura e diferente posição no mercado irá ofertar ganhos e vantagens em relação à situação presente da empresa. A estratégia é, ao mesmo tempo, uma arte e uma ciência, uma reflexão e uma ação, ou, simplesmente, pensar rapidamente antes de agir.
Segundo Mintzberg; Ahlstrand e Lampel (2020) para alguns pesquisadores a estratégia é uma posição, isto é, a localização de determinados produtos em determinados mercados, como por exemplo, o Egg McMuffin (MacDonald’s) para o mercado de breakfest (café da manhã).
Michael Porter (2018) salienta que estratégia é a criação de uma posição única e valiosa, envolvendo um conjunto diferente de atividades.
Para Peter Drucker (1994) estratégia é uma perspectiva, isto é, a maneira fundamental de uma organização fazer as coisas, ou seja, a maneira do McDonald’s, da Coca Cola, dentre outras empresas realizarem seus negócios. Estratégia para este autor é a “teoria do negócio”.
Mintzberg; Ahlstrand e Lampel (2020) observam que alguns autores relevantes agregam, há muito, estratégia com espírito empreendedor e descrevem o processo em termos da criação da visão de um grande líder.
Contudo, segundo Porter (2018), se a estratégia pode ser uma visão pessoal, então sua formulação também necessita ser percebida como o processo de obtenção deste conceito de criação e visão na mente das pessoas.
Porter (2018) ainda reforça que analogamente, foi também desenvolvida uma escola cognitiva, pequena, mas importante, que procura utilizar as mensagens da psicologia cognitiva para entrar na mente do estrategista, em razão disso, possuir uma estratégia implica uma posição única e diferenciada para a empresa.
Nesse sentido, Porter (2018) destaca que se torna um grande desafio empresarial definir uma posição exclusivamente única que envolva uma forma particular de desenvolvimento das atividades, principalmente, que agregue a empresa uma forma particular de valor. A estratégia empresarial define desta forma, um rumo para a organização de maneira holística, no intuito de reconhecer um diferencial em relação às demais organizações que atuam no mesmo setor e têm por finalidade desenvolver uma vantagem competitiva para a organização sobreviver no atual mercado acirrado e extremamente disputado.
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