Noções Básicas| Preparação| Dicas de Orientação | Equipamento | Alimentação | Cães | Regras | Ética
O pedestrianismo, também conhecido como passeios pedestres, caminhadas ou ainda por trekking, é uma actividade praticada ao ar livre e um desporto de natureza, não competitivo nem agressivo. É uma actividade que pode e deve ser praticada em grupo, em família, e por pessoas de todas as idades. A relação permanente com a natureza e o contactando com variados aspectos turísticos, culturais e ambientais promove a sua conservação.
Nos últimos anos, o Pedestrianismo tem vindo a ocupar um lugar cada vez maior na sociedade, proporcionando o contacto da população urbana com zonas rurais e de montanha, de uma forma ordenada, pelo que a procura destes percursos tem vindo a aumentar.
Os percursos pedestres têm vindo a assumir uma grande importância no que respeita à preservação e valorização do património natural, cultural e humano, promovendo o desenvolvimento sustentável do meio rural, a preservação da natureza, o intercâmbio cultural entre as pessoas através do conhecimento de gentes, costumes e tradições, e contribuindo para o desenvolvimento sócio-económico desses locais.
Por outro lado, os percursos pedestres são infra-estruturas turísticas, uma forma de divulgar as regiões e os caminhos tradicionais das zonas rurais e de montanha, numa altura em que cada vez se valoriza mais o "Turismo Verde" ou "de Natureza".
Praticar esta actividade não requer um equipamento sofisticado, nem material técnico.
Estes percursos podem desenvolver-se em trilhos ou veredas ou ainda por caminhos bem definidos e sinalizados com marcas e códigos normalizados internacionalmente. Estes últimos estão classificados em percursos de Pequena Rota (PR) e Grande Rota (GR).
O Pedestrianismo (caminhada ou trekking) é tão antigo como o próprio homem e situa entre o desporto e o turismo. O único objectivo é percorrer um determinado caminho, desfrutando de toda a natureza que o rodeia, ora descansando, ora tirando fotografias num contacto mais íntimo com o mundo animal e vegetal, sem pressas de chegar ao fim. Pode-se dizer que o objectivo do pedestrianismo é o contacto íntimo com a natureza e o relaxamento que esse contacto provoca, principalmente nas pessoas habituadas ao stress das grandes cidades. Este desporto pode ser praticado por pessoas de todas as idades, em função da duração e da dificuldade dos percursos, visto que não exige técnicas especiais. As únicas condições são uma forma física razoável e o gosto pela natureza.
Percurso Pedestre Sinalizado
Um percurso pedestre sinalizado é uma rota previamente sinalizada com marcas próprias e que permite caminhar numa determinada região com a certeza de não se perder e de, ao mesmo tempo, ter a oportunidade de visitar os locais mais interessantes e singulares.
Existem dois tipos de percursos pedestres: os de pequena rota e os de grande rota, designados respectivamente por PR e GR. Os primeiros são normalmente caminhadas de um ou dois dias, enquanto que os segundos são longas travessias, normalmente com mais de 100 Km. Um dos GR's mais conhecidos da Europa é a travessia dos Pirinéus desde o Atlântico ao Mediterrâneo numa distância superior a 300 Km. No nosso país existem apenas seis GR's marcados, três deles já muito antigos e por isso com manutenção duvidosa. São eles o percurso Lisboa - Linhas de Torres, o percurso Palmela - Sesimbra (Serra da Arrábida) e um outro na Serra da Estrela. Mais recentemente, sinalizaram-se mais três: um em Penacova, outro na Serra de Grândola e um outro novamente na Serra da Estrela, na zona de Gouveia. As marcas para os GR's em Portugal são iguais às de Espanha e França, isto é, usam o branco e o vermelho. Para os PR's utiliza-se o amarelo e o vermelho (em Espanha e França utiliza-se o amarelo e o branco). Existem ainda umas marcas específicas para se assinalarem pequenas variantes.
Uma boa maneira de se preparar para fazer uma caminhada é começar a passear, até mesmo na zona onde habita, aumentando gradualmente a extensão e a dificuldade do percurso. O pedestrianismo não envolve grandes conhecimentos técnicos. No entanto há uma série de conhecimentos imprescindíveis para uma prática correcta de trekking. Aqui ficam algumas regras que podem ser adaptas aos percursos a realizar:
Conhecer as técnicas de orientação: saber interpretar os mapas, escolher os de escala adequada, calcular distâncias; é também conveniente saber manejar a bússola;
Conhecer as técnicas de socorrismo;
Saber definir os limites físicos dos caminhos. Sempre que possível, devem evitar-se as estradas asfaltadas ou as vias de comunicação transitáveis por veículos motorizados;
Estar ciente de que o percurso é feito sempre a caminhar, não se utilizando qualquer meio mecânico nas deslocações. Avança-se por caminhos, carreiros, veredas, azinhagas, caminhos florestais, etc.;
Não evitar núcleos de população, sejam casas rurais isoladas, aldeias ou cidades;
Procurar a passagem por zonas de interesse paisagístico, natural, social, histórico, monumental ou cultural;
Estabelecer o grau de dificuldade do percurso dispondo de dados como a extensão, o tipo de terreno e o desnível.
Alguns conhecimentos de climatologia também são importantes.
Factores a considerar antes de se iniciar um percurso:
Extensão;
Tipo de terreno;
Desnível;
Sinalização;
Condições climatéricas;
Forma física e experiência do(s) caminheiro(s).
Calcular distâncias
A distância percorrida por uma pessoa apenas pode ser calculada de uma forma aproximada, dado que ela depende muito da velocidade à que a pessoa se desloca. Normalmente, um caminheiro demora cerca de 10 minutos a percorrer 1 km em terreno plano.
É preciso ter atenção ao facto de os objectos parecerem mais próximos quando:
Estão muito iluminados;
Se situam para além de um lençol de água ou neve;
Se encontram numa cota superior ou inferior à nossa (abaixo ou acima de nós).
Por outro lado, parecem mais longínquos nos casos em que:
Estão ensombrados;
Se localizam para lá de um vale;
A cor do fundo é a mesma;
Sempre que estamos deitados ou ajoelhados;
Nas neblinas de calor – são umas das famosas miragens nos desertos.
Usar a bússola
A agulha da bússola aponta sempre para o Norte. A sua escala vai dos 0 aos 360º, descrevendo uma circunferência, e alguns valores têm a denominação de pontos cardeais (Norte, Sul, Este e Oeste) e pontos colaterais (Nordeste, Sudeste, Sudoeste e Noroeste). O Norte corresponde aos 0º, o Este aos 90º, o Sul aos 180º e o Oeste aos 270º. Assim, a direcção e sentido de qualquer ponto podem ser indicados pelo rumo da bússola ou pelo ângulo, medido em graus, em relação aos 0º (Norte). A este desvio dá-se o nome de azimute. A bússola tem, normalmente, além do ponteiro indicador, um traço pintado ou colado no seu vidro, chamado traço de direcção ou de viagem. Deve sempre rodá-lo no sentido para o qual deseja encaminhar-se, de modo a que possa determinar o azimute. É aconselhável que vá frequentemente olhando para a bússola de modo a se certificar que caminha no sentido pretendido. É muito fácil perder o sentido de orientação quando se caminha na floresta ou na montanha. A manipulação de uma bússola exige alguns cuidados:
Em algumas bússolas pode não ser imediato qual o extremo do ponteiros que aponta o Norte. Este tem normalmente o extremo pintado a vermelho. No entanto, quem tiver menos experiência deve sempre verificar se não está, inadvertidamente, a caminhar para Sul.
Coloque sempre a bússola na horizontal quando a consulta.
Evite locais onde existam pontos de atracção magnética. Os postes de alta tensão, um objecto de ferro que se carregue num bolso ou a presença de uma mina podem alterar a direcção do ponteiro.
Consoante as diversas condições climatéricas, distância, e duração dos percursos, cada aventureiro deve fazer-se acompanhar de equipamento próprio. Calor: roupas leves e frescas, cores claras, cobertura para a cabeça, óculos escuros e protector solar. Vento forte e/ou chuva: impermeável leve e transpirável, blusão, calças e polainas. Frio: roupa quente em lã (mantêm o calor, mesmo molhada) ou fibra polar (mais leve, mais resistente à abrasão, mais transpirável e maior manutenção do calor), gorro e umas luvas. É preciso não esquecer que na montanha o tempo muda repentinamente. O calçado é a peça fundamental da actividade de andar a pé. As botas devem ter uma confortável protecção do tornozelo, ser maleáveis, impermeáveis, leves, resistentes, confortáveis e ter uma boa aderência em todos os pisos. Em terreno molhado e/ou com neve devem usar-se botas de alpinismo.
Equipamento obrigatório
Botas: ligeiras, de preferência impermeáveis (em gortex, simpatex, nobuck ou pele ensebada), de cano alto para proteger os tornozelos. O tamanho deverá ser ligeiramente maior do que o usado normalmente, pois os pés vão inchando ao longo do percurso;
Meias: grossas de trekking («padded hiking socks») ou, na sua falta, dois pares de meias normais: as de fora mais grossas e as de dentro mais fininhas; devem ser sempre de algodão ou lã (nunca de fibras);
Calças: mesmo em épocas de calor, são aconselháveis calças desportivas ou fato de treino devido à densa vegetação que ladeia os percursos. Se quiser, pode levar uns calções por baixo das calças e tirá-las se tiver calor e a vegetação o permitir;
T-shirt: o melhor é usar um tecido que absorva a transpiração (capilene ou polypropylene). Se preferir usar t-shirts de algodão, leve uma extra, visto que têm tendência para ficar molhadas;
Casaco leve ou camisola;
Óculos de sol;
Chapéu ou gorro que cubra as orelhas;
Equipamento adicional de frio e/ou chuva:
Casaco impermeável ou blusão de forro polar ou Polar-Teck;
Guarda-chuva prático;
Luvas de lã, de preferência impermeáveis;
Também não será de dispensar o uso de um impermeável completo (calça e casaco) caso vá andar continuamente à chuva.
Recomenda-se o uso de várias camadas de roupa para aumentar o conforto nos passeios aonde se precisa de calor.Normalmente, utilizam-se três camadas de roupa: A de dentro, fina e leve para absorver a transpiração (por ex., uma t-shirt); A do meio, com insolação para calor (camisolas feitas de «polarfleece» ou lã); E a de fora como protecção do vento e chuva («gortex» ou similar é recomendado).
Equipamento opcional:
Repelente de insectos;
Pomada para as bolhas;
Um pau comprido para ajudar a caminhar;
Equipamento de emergência para comunicação (ex.: telemóvel ou rádio equipado com telefone).
A mochila deve conter:
Máquina fotográfica, rolos e pilhas;
Binóculos;
Cantil ou garrafa com água;
Alimentação;
Sacos para o lixo;
Protector solar;
Batom protector;
Lanterna;
Kit de primeiros socorros;
Bússola;
Mapas e roteiros.
A mochila deverá ser leve e pequena, de 30 a 50 litros de capacidade.
Equipamento suplementar:
Botas de caminhada ou sapatos ténis de sola rugosa – os que não estiverem a ser usados;
Uma muda de roupa;
Roupas quentes (casacos e camisolas);
Uma t-shirt;
Meias.
Leve um par de sandálias ou sapatos confortáveis (para poder tirar as botas) e uma muda de roupa, que pode deixar no carro para utilizar no final da caminhada. Aconselha-se que leve uma t-shirt extra consigo para mudar durante o almoço.
O kit de primeiros socorros deve conter:
Uma ligadura elástica;
Uma ligadura de gaze;
Adesivo;
Toalhetes;
Loção antisséptica;
Uma pinça (para carraças);
Tesoura de unhas;
Uma lâmina.
Equipamento desaconselhável:
Fios e pulseiras ornamentais (podem prender-se na vegetação);
Rádios ou equipamentos que perturbem a serenidade do passeio.
Um pouco de preparação física vai fazer com que tenha ainda mais prazer nestes passeios.
Pressupõem-se para o efeito, que os indivíduos são saudáveis, de ambos os sexos, com actividade física regular e idade compreendida entre os 18 e 50 anos.
Dois dias antes e depois da caminhada é aconselhável:
Aumentar a ingestão de líquidos. Por exemplo, beber cerca de dois litros de água por dia, para além de sumos naturais e fruta fresca;
Tomar um multivitamínico com reforço de antioxidantes (ex: Everfit);
Dormir, se possível, mais 30 min. a 1 h nas duas noites anteriores;
Ingerir hidratos de carbono complexos (arroz, batatas, massas) em pelo menos duas refeições por dia.
Aumentar o consumo de produtos lácteos sob a forma de iogurtes ou queijo, fresco ou curado.
No próprio dia: Tome um bom pequeno almoço (por exemplo, leite, pão, manteiga, queijo e fruta fresca) cerca de 1 h antes.
Deve levar:
Pelo menos 1,5 l de água por pessoa;
Sumos não gaseificados, chás (ice-tea) ou café;
Pelo menos duas barras energéticas de chocolate (especialmente importante para indivíduos entre os 20 e 35 anos);
Fruta fresca previamente lavada: a quantidade e variedade depende do gosto de cada um;
Sanduíches, preferencialmente em pão de mistura de centeio, com variadas fontes de proteínas (frango, atum, queijo, fiambre, ovo cozido) e uma fonte de minerais e vitaminas (tomate e alface);
Marmelada, mel, doces ou compotas;
Queijo, leite ou iogurte liquido;
Bolachas;
Conservas (atum, sardinhas, salsichas).
Fumar ou beber álcool não é recomendado de forma alguma. Durante o percurso é conveniente fazer algumas pausas para comer algo sólido e também para beber, mesmo que não tenha sede, a fim de evitar a desidratação. É aconselhável beber cerca de 1 a 2 litros de água durante o dia.
Não se esqueça de um saco para o lixo.
Cães Caminheiros
Se pretende levar o seu cão consigo, aqui ficam algumas dicas para que o passeio se revele divertido, tanto para ele, como para si. Antes de mais, informe-se se são permitidos cães no sítio para onde pretende ir. Em algumas zonas do PNPG é preciso tomar precauções extra devido aos caçadores, que podem tomar o cão por caça. Assim, é melhor passeá-lo com trela. Quer vá caminhar por um dia, quer planeie uma excursão mais longa, o cão tem que estar vacinado e desparasitado. Esta é uma precaução básica. É importante preparar as necessidades do cão. O mais importante é a água. Os cães ficam desidratados mais depressa que o homem pois eles expendem muita mais energia em pouco tempo. Quanto maior for a altitude, mais eles ficam desidratados. Quando planear a caminhada, verifique se há rios e lagos onde os cães podem beber. O material do kit de primeiros socorros pode ser adaptado para o cão. As feridas mais comuns são cortes nas patas e mordidas. Há quem leve «bear spray» ou um apito especial, que pode ser usado para proteger o cão de outros animais (de outros cães, por exemplo). É importante que primeiro veja se é permitido levar cães na caminhada que está a planear. Há muitos parques que proíbem cães por causa dos animais selvagens.
Lista de equipamento para o cão:
Antes de mais, o cão deve estar desparasitado, vacinado e ter identificação;
Trela;
Água e um recipiente para beber;
Comida;
Kit de primeiros socorros.
Há mochilas próprias para cães, nas quais eles podem levar o seu próprio equipamento.
Regras de Ouro Seguem-se algumas regras básicas para quem se quer iniciar nesta actividade:
Em percursos de maior grau de dificuldade deve-se economizar forças evitando falar.
Quando se está a subir, a caminhada inicia-se num passo lento a fim de despender o menor esforço possível. Este aquecimento permite aumentar a passada até se atingir um ritmo óptimo, tanto da passada como da respiração.
Deve-se manter um ritmo de caminhada regular e evitar paragens frequentes e/ou demoradas. Para se evitar eventuais mudanças da cadência da marcha, devido, nomeadamente às diferentes inclinações do terreno, aumenta-se ou diminui-se a amplitude do passo.
Sobre caminhos de pé-posto deve progredir-se de forma cadenciada, amortecendo, a cada passo, o peso do corpo, dobrando levemente os joelhos. Deve evitar a progressão usando a ponta dos pés, a fim de economizar energias.
Uma caminhada normal deve ser moderada de modo a poder ser sustentada durante 6 a 9 horas, durante vários dias. Uma cadência razoável corresponderá a uma velocidade média de 4 Km/h em terreno plano, de 3,5 Km/h nas subidas e de 4,5 Km/h nas descidas.
O ritmo de caminhada deverá ser adaptado ao nível do grupo, sendo o esforço doseado ao longo de cada etapa com diversas paragens para repouso e para contemplar o meio envolvente.
Ética e Conduta Quem participar em actividades ao ar livre deve gostar da natureza e preservá-la. Deve ter em atenção as seguintes normas de conduta:
Seguir sempre os trilhos existentes, evitando o corta-mato, pois este incrementa a erosão;
Ao atravessar povoações e áreas cultivadas, não danificar as culturas e respeitar os costumes, tradições e bens das populações.
As cancelas ou portões deverão ficar como os encontrou.
Não abandonar vidros, plásticos, latas ou outros resíduos.
Não fazer fogo na floresta, matos ou junto a fenos e searas.
Não fazer campismo selvagem.
Respeitar a vida selvagem e o sossego dos locais, evitando gritar ou falar em voz alta.
Cuidado com o gado. Embora seja manso, não gosta da aproximação de estranhos às suas crias.
Não caçar.
Observar a fauna à distância, preferencialmente com binóculos.
Não danificar nem colher plantas.
Respeitar a propriedade privada.
Não colher amostras de plantas ou rochas.
Ser afável com os habitantes locais, esclarecendo quanto à actividade em curso e às marcas do percurso.
Agradecimentos a Anabela Costa