MANIFESTO

REVISTA

LETRAS COM(N) VIDA

M A N I F E S T O

1.

Letras Com(n)Vida constitui-se como um convite à reflexão, um espaço de diálogo estético, uma desejável ponte entre duas margens aparentemente opostas – a Universidade, clássico lugar do saber, com os seus protocolos analíticos, elevando o conhecimento a um nível objectivo e universal, e o espaço público da Literatura, da Arte, da História, numa palavra, da Cultura. Interpenetráveis e, até, fundidos, não raro indistinguíveis, conhecimento e criação encontrarão nesta revista um cais de abrigo que, como cais, tanto privilegiará o saber e a criação consolidados, quanto o ponto de vista imaginoso, errante e nómada; científica, Letras Com(n)Vida alimentar-se-á igualmente de uma dinâmica esteticamente criativa; artística, complementar-se-á por um horizonte científico.

2.

Letras Com(n)Vida nasce de uma necessidade institucional, mas também de uma pulsão de desejo estético que a fará munir-se de suficientes portas e janelas por onde corra o ar fresco da criação nova, tentando gerar novas perspectivas literárias, artísticas e históricas.

3.

Letras Com(n)Vida ambiciona ser um espaço estético tanto contra a cultura como efeito de propaganda, quanto contra a cultura como forma de imbecilização de massas. Pela primeira, subordina-se a cultura a algo que lhe é exterior (a política, a religião, uma ideologia, um ponto de vista estético cristalizado); pela segunda, rebaixa-se a cultura ao gosto sensível de multidões acéfalas e interesseiras.

4.

Letras Com(n)Vida persegue três objectivos individuais, seja para o autor nela participante, seja para o leitor dela cúmplice: 1º. – alegrar-se com o conhecimento transmitido nos seus artigos; 2º. – pacificar-se com as reflexões nelas lidas, mesmo quando – e sobretudo se – polémicas; 3º. – exaltar-se com as novidades aqui veiculadas. Evitar-se-á a aporia, mas celebrar-se-á o paradoxo em detrimento do ortodoxo, a contradição em desfavor da uniformidade, a multiplicidade em desabono da unidade. Quanto mais intensa for a polémica, o debate, a réplica e a tréplica – segundo um ditame de pacificidade, nunca de maniqueísmo –, mais vigorosa e enérgica será Letras Com(n)Vida.

5.

Letras Com(n)Vida, fazendo jus ao seu nome, fugirá de perspectivas culturais mecânicas, abstractas, descarnadas, presas a cadáveres teoréticos, ausentes dos nervos e do sangue da vida, isto é, das emoções e afectos humanos que, na sua diversidade, compõem o coração da Cultura e da História. Neste sentido, Letras Com(n)Vida aspira a promover o diálogo, não a tagarelice; o debate, não a cristalização dos argumentos numa fortaleza ideológica; a controvérsia sem quezília nem altercação – a polémica areja o espírito, fazendo entrar o Outro no nosso ponto de vista; a unanimidade polui-o.

6.

Letras Com(n)Vida não privilegiará nos seus artigos o argumento repetido, a teoria mil vezes explicada ou mil vezes aplicada, a terminologia mil vezes repisada – cada artigo deverá privilegiar a originalidade, a novidade e a singularidade.

7.

Letras Com(n)Vida desmascarará a cultura “descartável”, confeccionada para ser vendida, consumida e deitada fora como um par de sapatos velhos, a cultura de massas que não possua ideias a alimentá-la, ideias originais, fortes, sólidas, que possam iluminar a realidade e perturbem a vida do leitor – um artigo, como um romance, um poema, um ensaio, deve ambicionar mudar a vida (ou parte da vida) do leitor, abrindo-lhe um outro plano no horizonte da sua vida.

8.

Letras Com(n)Vida alhear-se-á da política, mas não do Poder, e, através de iniciativas culturais, reclamará uma exigência de rigor ético, cujo horizonte último reside na maior amplidão da lucidez humana, isto é, da capacidade crítica da razão.

9.

Letras Com(n)Vida desejará tornar-se um espaço de transgressão estética, de desmando cultural, de provocação analítica como para o rejuvenescimento da herança humanista recebida. Apreciaríamos ser em todos os números tão lúcidos quanto desobedientes às teorias, perspectivas e culturas dominantes.

10.

Finalmente, Letras Com(n)Vida não atingirá os nove desideratos anteriores se não estiver aberta a todas as participações e iniciativas individuais com uma única exigência – a do rigor da fundamentação teórica e analítica de cada texto, mesmo do mais inconveniente.

Autoria:

Miguel Real

Subscrevem:

Annabela Rita, Beata Cieszynska, Cristiana Lucas, Fernando Cristóvão, José Eduardo Franco.

Lisboa, 1 de Novembro de 2009