Perfil Sociolinguístico da Fala Bracarense

Enquadramento


Nos últimos 50 anos, a pesquisa linguística tem destacado a necessidade de constituição de amostras estratificadas do uso linguístico que incluam simultaneamente os eixos geográfico e social da variação. No que se refere ao português europeu, foram despendidos esforços no sentido de observar a língua no seu uso real, através da organização de amostras de fala de indivíduos originários de diferentes regiões e de características sociais diferenciadas (Bacelar 2001, 2003; Rodrigues 2003; Saramago 2003; Carrilho, Magro e Pereira 2004; Mota et al. 2006). 


No entanto, não sendo constituídas de forma estratificada, as bases de dados disponíveis atualmente ostentam um desequilíbrio na constituição de células que envolvem cruzamentos das variáveis como idade, sexo e nível de escolarização, comprometendo a sua representatividade e, evidentemente, as conclusões que se podem extrair com base na sua análise. 


Rodrigues (2003) constituiu uma base de dados estratificada com dados de Lisboa e de Braga. Porém, esses materiais não podem ser usados para disponibilização on-line porque não se encontram transcritos integralmente e porque não foram recolhidos com esse propósito. Por outro lado, a amostra não cumpre os requisitos de distribuição geográfica e administrativa, o que faz com que não seja coincidente nos objetivos com o atual projeto. 


Um outro ponto a salientar é que a maioria das amostras já disponibilizadas à data de início do presente projeto carecem de extensão suficiente para identificar os pontos de continuidade/descontinuidade entre diferentes variedades de português contemporâneo.