Tenente Seixas da GF o " Schindler" da raia terrestre

 

TENENTE SEIXAS

"Al Teniente Seixas y al Pueblo de Barrancos

O MEU PAI JUSTIFICOU-SE PERANTE O SEU SUPERIOR. ALEGOU QUE TAMBÉM ELE TINHA FILHOS... QUE NÃO GOSTARIA, NEM PODERIA ADMITIR QUE LHOS MALTRATASSEM. LHE PARECIA SER DEVER DELE, TENDO À SUA GUARDA FILHOS DE ESPANHA, ESTIMÁ-LOS COMO ERA DEVIDO, POIS SÓ ASSIM PODERIA HONRAR O OIRO DOS SEUS GALÕES.

E QUE SOUBESSEM OS SEUS CAMARADAS QUE, LÁ PORQUE SE CHAMAVA SEIXAS, ELE NÃO TINHA UM SEIXO NO LUGAR DO CORAÇÃO.

Gentil Valadares (filho)"

Inscrição que consta no monumento erigido em Oliva de la Frontera, Espanha

O TENENTE SEIXAS, DA GUARDA FISCAL, SALVOU  CENTENAS DE VIDAS DE REFUGIADOS ESPANHÓIS

no concelho de Barrancos, durante a Guerra de Espanha (1936)

Republicano, democrata, oficial da Guarda Fiscal, industrial, presidente da Câmara de Sines

António Augusto de Seixas Araújo nasceu em 1891, em Montalegre, e faleceu em 1958. Cedo adere às ideias republicanas. Organiza a defesa e combate a incursão monárquica de Sidónio Pais, às ordens do seu amigo general Ribeiro de Carvalho. É ferido no combate de S.Neutel, em Chaves.

Tomou parte no círculo político de Nicolau Mesquita, chefe democrata de Trás-os-Montes.

Faz carreira na Guarda Fiscal, em vários locais do País, do Minho ao Alentejo. Era perito em contencioso aduaneiro. Foi louvado diversas vezes: pela energia, zelo e dedicação na repressão do contrabando, acção material nos postos, impecáveis, com o mínimo de dispêndio para o Estado, e pela actuação moral que desenvolveu junto dos seus subordinados. Em 1935, torna-se cavaleiro da Ordem de Avis.

Nos anos conturbados de 1936 a 1939 da história de Espanha, quando o regime eleito democraticamente é derrubado por militares golpistas, com apoio dos partidos de direita, durante uma sangrenta guerra civil, e à medida que as tropas espanholas revoltosas da chamada Coluna da Morte de Yagüe progrediam de sul para norte ao longo da fronteira portuguesa, as populações das localidades ocupadas procuravam refúgio em Portugal, pondo-se a salvo de sevícias e execuções.

Perseguições de toda a ordem desenrolavam-se na zona fronteiriça. Muitos eram mortos antes de passar a fronteira, outros eram detidos pelas autoridades portugueses e deportados para os seus adversários, devido à colaboração do governo de Salazar com os insurrectos fascistas.

Neste contexto, a acção do Tenente Seixas foi ter evitado, em 1936, o massacre de grupos de refugiados espanhóis pelas mãos dos seus perseguidores, ou destes em conluio com alguns militares portugueses, e de ter organizado, mantido e ocultado um campo de refugiados com centenas de pessoas no lugar da Choça do Sardinheiro, concelho de Barrancos, evitando também que vários elementos constantes de “listas negras”, políticos e intelectuais republicanos espanhóis, fossem encaminhados para Badajoz, onde seriam fuzilados.

O Tenente Seixas da Guarda Fiscal era comandante daquela região de fronteira e as suas decisões de tolerância e humanidade para com os refugiados desagradavam aos comandos militares destacados para a zona e à polícia política PVDE/PIDE.

Mas a situação de um campo de refugiados clandestino só viria a ser descoberta, por discrepância em números, quando das operações de transferência para Tarragona de cerca de 1500 refugiados embarcados no navio Nyassa. Então, o Tenente Seixas, qual Schindler português, foi preso e demitido das suas funções.

Mais tarde, tornou-se industrial em Sines e viria a ser administrador deste concelho.

in http://tenenteseixas.no.sapo.pt/

 

Obra sobre o assunto: Simões, Maria, 2007, Barrancos na encruzilhada da Guerra Civil de Espanha - Memórias e testemunhos, 1936, Lisboa, Edições Colibri e CM Barrancos.