Antes do Atlântico

Por: Rubem Kerber

INTRODUÇÃO

A partir de 1992, vim a ter estreitos laços profissionais e de amizade com muitas pessoas na Alemanha.

Não obstante meu “plattdeutsch” (dialeto) arrastado e completamente miscigenado com nossa língua pátria, nada me impediu de atravessar o Atlântico para fazer cursos profissionais, ao mesmo tempo em que servi de tradutor para colegas que me acompanhavam.

Até 1998 eu já havia participado de três cursos em terras de nossos antepassados, cada um com um tempo médio de quatro meses, bem como participado de seminários e outros cursos de extensão aqui no Brasil, sempre envolvendo professores, palestrantes e seminaristas alemães.

Essa freqüência me levou a um domínio relativamente satisfatório do “hochdeutsch”, ou seja, o idioma oficial em todo território alemão.

Já nas minhas primeiras andanças por lá comecei a questionar sobre o nome Kerber, fazendo perguntas aos mais conhecidos, consultando catálogos telefônicos, aproveitando a boa vontade de alguns amigos alemães, que se mostravam mais compadecidos e sensibilizados com tamanho interesse. Digo isso porque me encontrava justamente numa região, mais ao centro da Alemanha, onde as pessoas são muito “fechadas”.

Numa das empreitadas nesse sentido, finalmente obtive êxito e mantive contato com uma família Kerber, residente na cidade de Lemgo, no Estado de Nordrheinwestfalen (NRW), os quais me hospedaram durante dois dias. Eram imigrantes russos da região do Rio Volga, cujos antepassados deixaram ​​a Alemanha durante as incursões napoleônicas. Não tinham maiores dados de seus antepassados.

Alegrei-me ao observar que esses “parentes”, mesmo depois de cerca de dois séculos, mantinham os nossos traços, comidas e até mesmo as características do dialeto que ainda hoje é falado por meus pais e outros parentes.

Mais ou menos nessa época tive a oportunidade de fazer contato com nosso parente João Carlos Kerber Neto, de Porto Alegre (aquele da cervejaria “Whitehead” e descendente de Michael (Miguel) e (Pedro), o qual me colocou a par do site da família, que ele e seus colaboradores montaram com brilhantismo e abnegação.

Ao tomar conhecimento do teor do site da família Kerber, comecei a planejar uma forma de participar ativamente dessas buscas, convencido do valor que uma família representa na vida de qualquer um.

Agora em 2011, finalmente, resolvi fazer uma viagem de recreação a Alemanha, ocasião em que incluí no planejamento uma busca localizada por novidades na região de onde saíram nossos antepassados, mais especificamente no Estado de Saarland, sudoeste da Alemanha, fronteira com a França.

Sou Policial Federal há 32 anos, especializado em investigações contra o crime organizado, um dos fatores que inegavelmente muito me ajudou nas buscas, também facilitadas pelos bons contatos que tenho naquele país.

Também não posso negar que todas as minhas investidas em direção às buscas eram coroadas de muita sorte; na maioria das vezes parecia que “algum” Kerber dava uma ajudinha lá de cima.

Em seguida, pretendo fazer uma narrativa de cada passo durante os dias em que estive naquela região. Reservei-me o direito pessoal de ser detalhista, por vezes, nestas narrativas, resultado da emoção em voltar para aquele local de onde “nosso” Peter Kerber saiu com sua família para o Brasil há 182 anos.

A BUSCA

No dia 22 de junho de 2011, depois de algumas outras incursões pela Alemanha, iniciei viagem de trem em direção a cidade de Merzig, onde cheguei por volta das 17:30 horas.

A escolha dessa cidade como o destino da minha primeira viagem se deu através de consulta na Internet, pois a mesma me parecia ser um pouco maior do que as outras, já que aquela região é bem mais despovoada do que as demais na Alemanha.

Hospedei-me no Hotel Roemer, cerca de 150 metros da estação central de trem. Ali mesmo já comecei a consultar o “telefonbuch” (catálogo telefônico) que abrangia toda a região, aí incluídos uns 15 povoados.

De pronto me surpreendi com a grande quantidade de famílias Kerber, num total de mais de noventa nomes. Tomei coragem e escolhi o primeiro nome para contatar: Norbert Kerber (P1030803), residente no primeiro vilarejo do outro lado do rio Saar (Merzig é do lado de cá), chamado Hilbringen.

A escolha não foi tão aleatória assim, afinal de contas meu pai também se chama Norberto Kerber. Ainda bem que meus amigos lá de Düsseldorf tinham providenciado um celular alemão pra mim.

Ao ser atendido, expliquei para Norbert que eu me chamava Rubem Kerber, procedente do Brasil, em qual hotel estava hospedado e que andava naquele local em busca de informações de meus antepassados, que se mudaram para o Brasil no início dos anos de 1800 .

A reação era mais do que esperada: alguns segundos sem resposta, depois algumas perguntas aleatórias, gaguejadas, para finalmente dar a resposta que eu queria: “aguarde aí na recepção do hotel, que eu vou ao seu encontro em cinco minutos”.

Como convém a todo alemão, realmente antes mesmo do prazo combinado lá estava o tal Norbert Kerber. Nem eu e nem ele perguntamos quem era quem; estava na cara, sabíamos que um e outro eram Kerber.

Aí tive a oportunidade de quebrar o gelo, tirar suas dúvidas e desconfianças, perfeitamente compreensíveis. Mostrei meu passaporte atual, bem como os anteriores, um deles com Vistos do governo alemão me convidando para cursos lá realizados. O mais recente, diplomático, quando trabalhei por dois anos na Embaixada do Brasil em Montevidéu, onde fui Adido Policial Federal. Além disso, para corroborar o fato de que não era nenhum brasileiro louco e mal intencionado que andava por lá, também mostrei minha carteira funcional.

Estavam abertas as portas para o início de minha odisseia em Saarland. De pronto, Norbert me levou em seu carro para um reconhecimento da região onde os Kerber moravam, vale dizer os vilarejos de Mondorf, Gerlafangen, Fürweiler e Schwerdorf, este último em território francês.

Durante o percurso, eu ia relatando alguns dados que li no site da família. Aos poucos, Norbert ia refazendo seus itinerários para se adequar às narrativas que eu fiz. Assim, em pouco tempo de idas e vindas eu já conhecia quase toda região.

Observei que nenhuma grande rodovia passava entre os vilarejos percorridos e que as estradas, embora estreitas e visivelmente antigas, eram todas asfaltadas ou de concreto. Estrada de chão batido é coisa rara mesmo. Agradou-me o fato de que esses povoados são todos muito próximos, em média numa distância de 2,0 km um do outro.

Trata-se de uma região essencialmente agrícola, com predominância das culturas de trigo, cevada, beterraba, cebola, batata inglesa e uma espécie de nabo que gera uma grande quantidade de sementes, das quais se extrai principalmente óleo e também é usado para ração animal e silagem. A beterraba é largamente aproveitada para fazer açúcar e ração animal (IMGA0125).

De volta ao hotel, embora cansado, ainda fiz anotações na lista de nomes e respectivos telefones, para continuar os contatos no dia seguinte.

Descobri, por exemplo, que em toda Alemanha existem (mês de junho de 2011) 1.742 Kerber registrado na lista telefônica e um total de 4.645 pessoas com este sobrenome. A predominância de prenomes é, pela ordem, Andreas, Wolfgang, Manfred, Michael, Helmut, Peter, Stefan, Horst e Jürgen. As regiões onde mais figuram são: Saarlouis (que engloba os vilarejos alvos de minha busca), Berlim, Merzig-Wadern, Aschaffenburg, Hannover, Rhein-Neckar-Kreis, entre outros.

Ao amanhecer contei minha história para o dono/recepcionista do hotel, Sr. Koster, que sugeriu uma bicicleta para percorrer a região em comento. Achei uma boa ideia, embora preocupado com dois “porém”: primeiro, onde e como adquirir e, segundo, como eu iria me arranjar depois de anos sem pilotar uma dessas. Acertamos uma diária de cinco euros e a condução foi fornecida pelo próprio hotel.

Um pequeno contratempo, entretanto, forçou-me a me mudar para um hotel de Hilbringen, o mesmo vilarejo onde mora Norbert: esqueci de avisar que ficaria mais alguns dias e por isso perdi a reserva. Aliás, conforme eu já escrevi, já começava a aparecer a tal sorte ou a “ajudinha”. O imprevisto me levou ao mesmo povoado do meu primeiro contato, num hotelzinho mais barato e bem mais próximo dos locais onde faria as investigações planejadas (P1030772).

No segundo dia, depois de instalado na nova hospedagem, levantei cedo, tomei meu “frühstück” (café da manhã) com pão integral, salame, queijo, fatias de abacaxi e rabanete, com manteiga e “schmier” (geléia de frutas); dispensei o café com leite, pois estava muito bem acompanhado do meu chimarrão (P1030773). A propósito: este culto à tradição muito me ajudou a quebrar o gelo e iniciar conversações que, inevitavelmente, sempre terminavam assuntando sobre a família Kerber.

Depois de algumas dicas da Sra. Claudia, proprietária do novo hotel, peguei minha “fahrrad” (bicicleta) e rumei em direção a Mondorf, distante cerca de 6 km dali (P1030730).

Este começo era um convite a desistência: subida e mais subida; mais empurrei do que andei com minha condução. Ao chegar em Mondorf constatei aquilo que pude ver nos outros dias em todos os vilarejos que andei: não existem pessoas nas ruas, parece tudo abandonado.

No primeiro dia, por exemplo, nos três primeiros povoados que passei tentei comprar alguma coisa para comer e/ou beber, mas simplesmente não existe um bar, restaurante, “boteco” ou coisa que valha. Acabei saciando minha fome e sede comendo uma espécie de cereja, bem pequeninha, conhecida por “kirsche”, mais parecida com uma ameixinha, encontrada com muita frequência a beira das estradas (P1030675) (P1030673). A partir de então aprendi a lição e sempre levava um pequeno lanche e uma garrafinha de água na mochila.

No povoado de Mondorf foi possível localizar uma antiga residência (coordenadas N 49 24 980/EO 06 35 750) onde morou o ultimo casal Kerber (IMGA0119), os quais faleceram a cerca de 3 ou 4 anos atrás e a filha revendeu a casa para outros moradores, desta forma praticamente apagando a existência de descendentes da família naquela cidadezinha.

Neste dia apurei somente estes dados em Mondorf e segui minha viagem em direção a Gerlfangen.

Para que fique o registro dos fatos apurados posteriormente sobre Mondorf é preciso que se comente o contato que fiz dias depois com o Sr. Hermann Schmitz, profundo conhecedor da história e da população local.

Ele esclareceu que exatamente atrás da casa mencionada nas coordenadas é que se formou o povoado de Mondorf, estrategicamente em torno de um moinho de cereais, movido com roda d’água, uma vez que ali existe um pequeno riacho. Mais tarde, porém, a cidade subiu um pouco mais, arquitetando-se ao redor da igrejinha ali construída.

Consta que muitos moradores de Gerlfangen deslocavam-se diariamente para Mondorf, onde iam trabalhar na construção de estradas, na extração e queima de calcário e na agricultura. O caminho, percorrido a pé ou transportes da época, era feito pela mesma estradinha que eu pude percorrer ainda hoje, naturalmente agora asfaltada (P1030747).

Juntamente com o Sr. Hermann visitei o local de extração e beneficiamento de calcário, agora desativado, mas que nos tempos áureos chegou a empregar muita gente.

Os arquivos demonstram que os Kerber eram originariamente da região entre Biringen, Fitten e Mondorf. O próprio Peter Kerber e seu filho Phillip Kerber, antecessores do “nosso” Peter, nasceram por ali e se mudaram para Gerlfangen, entre os anos de 1761 e 1765. Os outros sete irmãos e três irmãs de Phillip também nasceram no mesmo local, entre os anos de 1734 e 1761.

Um fato que talvez explique porque os filhos de Peter (o primeiro, pai de Philipp) constavam em seu registro como nascidos em Mondorf é que esta vila era maior do que as demais que a cercam, especialmente Biringen e Fitten. As pesquisas, entretanto, conduzem a uma indicação de que a família morava em algum lugar perto de Biringen e Fitten, enquanto registrados em Mondorf (IMGA0135).

A partir de então podemos afirmar com clareza que a “nossa” geração (a partir do “nosso” Peter Kerber e até mesmo seu pai Philipp, por certo tempo) nasceram e se criaram nos povoados de Gerlfangen e Fürweiler.

Também aproveitei estas primeiras incursões para fazer um levantamento de coordenadas e quilometragens entre os mais diversos pontos.

Entre Mondorf e Gerlfangen a distância é de exatos 4,4 km; dali para Fürweiler são mais 1,6 km e desta vila até Schwerdorf (França) mais outros 1,1 km. Entre elas existem somente alguns “bauerhof” (residência e demais estruturas coloniais). Os colonos mais fortes são aqueles que chegam a ter cerca de 50 hectares de terras.

Poucos são os registros de familiares Kerber morando em Schwerdorf, entretanto, este vilarejo que agora está definitivamente do lado francês, assumia crucial importância na vida das pessoas residentes naquela região, na medida em que era a sede eclesiástica a que pertenciam as comunidades de Mondorf, Gerlfangen, Fürweiler, Oberesch, Hemersdorf, Mechern, Fremersdorf, Biringen e Fitten, entre outros (IMGA0171).

Naquela época a vida cotidiana girava em torno da Igreja, que concentrava os povoados, ajudava administrar as famílias através dos diversos atos litúrgicos como batismo, casamento e sepultamento, bem como servia de poder mediador entre o povo e os governos. Entre outros resultados positivos deste sistema, muitos dos registros canônicos daquela época é que nos permitem hoje conhecer os fatos de então.

O poder da Igreja, também conhecido como “quarto poder”, era quase paralelo ao dos governos locais. Um exemplo disso ainda pode ser visto claramente nos dias de hoje, observando-se a linha divisória entre Alemanha e França, nessa região, demarcada naquela época; uma linha tão tortuosa que é difícil saber de que lado estamos. Ela foi delimitada de acordo com o alcance da circunscrição do bispo responsável.

Por outro lado, a constante mudança de titularidade dos governos sobre os povoados também resultava na troca de seus nomes. No caso específico de Gerlfangen, esta se chamava Gyrilfangen em 1320, Gerlfangen em 1340, Gerolfangen em 1560, Guerlfangen em 1772 e, finalmente, Gerlfangen a partir do ano 2000.

Neste momento também é interessante fazer um aparte esclarecedor sobre o porquê das características peculiares daquela região, um pouco distintas da maioria na Alemanha, ou seja, bastante isolada, totalmente voltada para a atividade agrícola, poucas ou quase nenhuma cidade grande, bem como uma precária ocupação humana durante os mais diversos períodos (IMGA0121) (IMGA0122).

Os constantes conflitos, como a Guerra dos Trinta Anos, entre 1618 e 1648 (primeira metade), depois prolongadas ainda no mesmo século, além das constantes pestes, instabilidade climática, entre outros, fez com que essa região ficasse completamente desabitada e isolada por quase um século.

Somente no início dos anos de 1700 é que um monarca resolveu trazer famílias procedentes do Tirol e outros pontos alpinos para colonizar a região, que passou a ser atrativa e pujante; existem registros de que antes disso apenas quatro famílias permaneciam por ali.

Um registro descritivo dos moradores de Gerlfangen do ano de 1708 já aponta um total de 10 famílias ali residentes: 03 colonos, 02 arrendatários (ou caseiros), 01 diarista e 04 artesãos.

Esta razoável tranqüilidade para os moradores durou até o ano de 1799, quando iniciaram as incursões bélicas de Napoleão, que transitava justamente por esta região na busca por suas conquistas em direção a Polônia e Rússia; importante ressaltar que essas terras pertenceram ao Reino da França entre 1766 até 1815, quando também finalizou de vez a era napoleônica. Daí em diante, até 1871, passou para o Reino da Prússia.

Em 1824 o Congresso de Viena delimitou os novos territórios pós-guerra, cabendo a região de nossos antepassados ao Reino da Prússia. Isso desagradou toda a população local, que já havia experimentado uma vida mais liberal dada ao povo francês, depois da queda de Napoleão.

A proximidade dos moradores com a fronteira em questão fez com que muitas vezes as pessoas fossem consideradas cidadãos de uma ou da outra pátria. Ainda hoje, com tudo firmemente demarcado, os povoados são muito cercanos. De Fürweiler, por exemplo, consegue-se avistar com toda clareza as residências de Schwerdorf, pois a divisa fica a 100 metros de distância da vila alemã (IMGA0127).

Muitos de nossos familiares devem perguntar a razão de Peter e seus familiares terem deixado sua pátria e se aventurar para uma nova vida, tão distante e desconhecida, especialmente para os padrões da época.

Não podemos garantir que houve uma razão em especial, mas certamente vários fatores contribuíram para isso, senão vejamos.

Depois da queda do Império Napoleônico, vários países como a Inglaterra, a Itália e a própria Alemanha conclamavam seus cidadãos a aceitar as ofertas de governos estrangeiros como os Estados Unidos e alguns da América do Sul, entre eles o Brasil, no sentido de emigrarem para lá, onde receberiam terras próprias e outras benesses.

Justamente nesta época voltavam da guerra os soldados que participaram dos exércitos de Napoleão ou contra ele, trazendo consigo epidemias mortais como o tifo, cólera e sarampo. A maioria deles nem conseguiu voltar.

Conforme já mencionado, as constantes passagens de Napoleão e seu exército de cerca de 200 mil homens foi outro fator contribuinte para a debandada dos moradores da região e se deve ao fato de que um contingente humano desta ordem tinha que se alimentar, locomover, descansar, entre outras necessidades, as quais eram supridas com saques e pilhagens. Os militares levavam dos colonos os alimentos, cavalos, reses e a silagem guardada para o rigoroso inverno anual.

Assim sendo, os agricultores locais repentinamente se viram sozinhos e pobres, pois seus filhos voltaram da guerra enfermos (ou não voltaram), não tinham mais estoque de comida para si e para os animais e, na maioria das vezes, nem mesmo cavalos para tração e montaria, bem como vacas para leite e/ou carne.

Sabemos que nessa região as pessoas só têm um período de 140 dias anuais para o plantio, a colheita e a silagem/estocagem de alimentos.

Como se pode ver, muitos argumentos para tentar uma nova vida longe da pátria, que também era muito instável.

Durante minhas viagens diárias pelos povoados aproveitei para visitar todos os cemitérios, identificar e fotografar os túmulos em que jaziam familiares Kerber e Bauer, certificando-me do grande número dessas famílias que ali residiam (IMGA0149) (IMGA0197).

Constatei, por exemplo, que nos povoados de Gerlfangen, Fürweiler e Schwerdorf, mas principalmente nos dois primeiros, eram numerosos os nomes Kerber, seguidos de Magar, Müller e Divo (ou Diwo). A família Bauer era mais numerosa em Kerprichhemmersdorf, Oberesch e Mondorf.

Certo dia, enquanto circulava entre os túmulos do cemitério de Fürweiler, encontrei duas senhoras que faziam a manutenção num dos jazigos (IMGA0159), ocasião em que me apresentei e relatei sobre minha tarefa naquele rincão. Elas me orientaram a fazer contato com um dos antigos moradores da vila, Sr. Hermann Schellenbach (também de família numerosa por lá), que poderia ter novidades sobre nossos antepassados.

Depois de tentar por duas vezes encontrar alguém em casa, quando já deixava o local, encontrei uma senhora no pátio ao lado; ao perguntar-lhe sobre o vizinho ausente ela me disse que era filha dele e me levou até lá. Mais uma vez me apresentei e contei minha saga, ocasião em que ela disse que conhecia várias famílias Kerber e de pronto fez contato telefônico com uma delas.

Enquanto eu aproveitava os conhecimentos do Sr. Hermann, uma pessoa da família contatada veio até a casa para me buscar; era o Sr. Helmut Schwartz, que me levou em sua camioneta Mitsubishi, enquanto que eu deixava minha bicicleta na casa dos Schellenbach.

Helmut Schwartz é casado com Anne Marie Kerber, que me receberam em sua casa, por sinal muito grande e bem feito, produto do ofício de Helmut, que é construtor de imóveis; ele possui uma empresa do ramo numa vilinha próxima dali, mas do lado francês. Nas horas de folga costuma se envolver com seu passatempo preferido: fazer vinhos e sucos de frutas da região, principalmente maçãs, uvas e ameixas. Tive a oportunidade de provar um deles, quando da visita que realizamos em sua empresa.

Falando sobre frutas, observei que ao longo de todas as estradinhas e também no entorno das lavouras existe uma grande abundância de macieiras e ameixeiras. Segundo os moradores, a maior parte das frutas apodrece ali mesmo, uma vez que poucas pessoas as aproveitam para fazer vinhos, sucos ou geleias, como era antigamente (IMGA0133).

Juntamente com Helmut e Anne Marie comecei a trocar conhecimentos sobre nossos antepassados. Ela me trouxe fotos antigas de familiares seus; uma delas, uma espécie de Certificado de Reservista de seu genitor, cuja fotografia me impressionou pela semelhança com meu pai aos tempos em que este serviu no Exército Brasileiro (P1030757) (P1030853).

Enquanto nos deliciamos com um bolo, ela chamou seu irmão Roman Kerber, morador ali próximo, trabalhador agrícola, um dos antigos ofícios de seu bisavô.

Mais uma vez fiz a constatação de duas características sempre muito presentes nos residentes em Saarland, especialmente nesta região em que eu andava: o mesmo “plattdeutsch” que falam meus familiares aqui no Brasil, bem como uma marcante amabilidade com aqueles que chegam. Todas as pessoas são realmente muito gentis, solícitas e sempre empenhadas em ajudar.

Anne Marie e Roman (P1030758) são filhos de Peter Kerber, nascido em 17 de março de 1916.

Depois disso Roman me levou para conhecer sua casa, a mesma construída por volta do ano 1800 pelos seus antepassados, reformada outras duas vezes, sempre por descendentes da família Kerber. Dada à ausência de outras casas antigas onde residiram famílias Kerber em Fürweiler, a proximidade dessa com a igrejinha, a continuidade dos Kerber morando nela, bem como a posição de frente para a estrada que sai para Schwerdorf, é certo afirmar que foi ali que Peter Kerber viveu e criou seus filhos, primeiro com Margaretha Isler e depois Anna Bauer (P1030791) (P1030792). Roman confirmou esta versão.

Como já mencionado, a casa de Roman fica próxima da igrejinha, construída em 1768 e reconstruída em 1861, em cujas redondezas se aglutinou a vila de Fürweiler. Da frente dela (coordenadas N 49 22 500/EO 06 35 492 – altitude de 80 metros) se pode ver a estradinha para Schwerdorf (IMGA0127), além da própria vila, bem ali próxima (N 49 22 063/EO 06 34 638 – elevação 95 metros).

Para chegar até Schwerdorf só passando por esta mesma e antiga estradinha que foi utilizada por Peter e Anna Bauer Kerber e seus filhos (IMGA0130) (IMGA0131). Entre as duas vilas tem um pequeno riacho (Eltzelbach) que divide Alemanha e França e sobre o qual passa uma pontezinha chamada de “Brücke der Freundschaft” (ponte da amizade) (IMGA0123), que antigamente era de pedra e agora reconstruída em concreto, depois que foi dinamitada durante a Segunda Guerra Mundial (IMGA0128).

Já era noite quando Helmut me levou de volta para meu hotel em Hilbringen. Só deu tempo de tomar um banho, comer um “bratwurst” (pãozinho com salsicha e molho de mostarda, típica da Alemanha) e cair na cama (P1030801).

A faina não podia parar. Todos os dias era a mesma coisa: levantava cedo, comia meu “frühstück” e montava na minha bicicleta rumo aos vilarejos.

Quando mencionei que a sorte também me ajudou, o melhor evento ainda estava por vir.

Certo dia, enquanto “bicicletava” pela imensidão solitária entre Mondorf e Gerlfangen (P1030796), encontrei-me com um casal que vinha a pé, em sentido contrário. Como sempre, parei os dois, me apresentei e novamente relatei tudo o que fazia e pretendia na região.

Ela se chamava Lucía (ou Luzia) e ele Dieter (P1030777). Ela demonstrou bastante interesse em ajudar e fez o seguinte esclarecimento: “nós acabamos de passar em Gerlfangen, onde visitamos um museu particular e lá estavam muitas pessoas; quem sabe eles podem te ajudar”.

Logo em seguida começou a me explicar onde estava localizado o museu. Eu já tinha andado tanto pela vila que sabia exatamente onde era: na Marienstrasse, uns 100 metros da via principal.

Fui diretamente para o local e lá fiz contato com o proprietário, Sr. Peter Weber, que me acolheu e escutou com muita paciência minha história. Ato contínuo pegou o telefone e fez contato com uma pessoa, relatando a situação. Ao final me mandou esperar um pouco, pois em alguns minutos chegaria ali alguém que poderia me auxiliar, com certeza.

Não demorou muito e me foi apresentado o senhor Reinhold Kerber (P1030783), morador em Gerlfangen (N 49 23 236/EO 06 36 737), ativamente envolvido com diversas atividades administrativas do povoado. Reinhold pediu que eu deixasse a bicicleta no museu e fossemos até sua residência (P1030778), onde poderia me mostrar livros, fotografias e documentos diversos sobre as pesquisas que ele e outros residentes de Gerlfangen fizeram sobre antigos moradores dali e suas histórias.

De pronto pude constatar que éramos primos em sexto grau, pois enquanto ele descendia de Jacob Kerber, nascido em Mondorf em 06.05.1742, eu descendia de Phillip Kerber, também nascido em Mondorf em 25.05.1752, ambos os filhos do primeiro Peter Kerber, nascido em 1711.

Comentamos sobre os desdobramentos da família aqui no Brasil e os fatos que arquivamos a partir da chegada deles em nossa terra. De repente Reinhold me mostra uma foto muita antiga, onde aparecem quatro pessoas e um bebê, cujo titulo acima exposto diz “Suttersch Ecken”. Imediatamente fiz um aparte e disse: “era isso o que eu procurava” (P1030846).

A senhora mais velha (a esquerda na foto acima referida) era Barbara Kerber, agora casada com um Biwer; a criancinha se chamava Olga Biwer.

A essas alturas eu já sabia que Phillip Kerber saiu de Mondorf e se casou com Anna Sutor e foi morar em Gerlfangen. Para quem não sabe, “Ecken” quer dizer beco ou canto e “Suttersch Ecken” quer dizer exatamente o beco ou o canto dos Sutor (da família Sutor).

Igualmente, registros medievais sobre famílias de Gerlfangen dizem que “Suttersch” também é o antigo nome dos “Sutor”.

As descrições abaixo da foto eram ainda mais esclarecedoras. No ano de 1727 foi erigido um santuário da família, o qual pode ser visto ainda hoje naquele local, com as inscrições “1727-Johannes Sutor-Ana Rosn Henrich”. Ali moravam familiares Sutor e Kerber e uma das casas foi reconstruída em 1798, pois a pedra fundamental da mesma foi cuidadosamente recolocada na parede na reforma da atual, que manteve a estrutura original (P1030787) (P1030788) (P1030789).

Mais contundente, entretanto, é uma antiga planta de demarcação das casas dos moradores de Gerlfangen, baseada na lista dos contribuintes ao fisco do ano de 1831, do Condado de Lothringer, ao qual pertenciam (P1030849). Ali fica bem claro que Phillip Kerber morou com sua esposa Anna Sutor, onde também nasceu “nosso” Peter, já que os registros dizem que o mesmo nasceu em Gerlfangen e naquela época todas as crianças nasciam na casa dos pais (N 49 23 105 / EO 06 37 005).

O beco ( Suttersch Ecken ) tinha apenas quatro casas desse tipo, localizado quase em frente da igrejinha, tradicional ponto de emergência das antigas vilas. Nos dias de hoje ainda existem algumas dessas casas na região, todas remodeladas, mas aproveitando as antigas paredes, muito consistentes e grandes.

Na primeira casa morava a família de Maria Dittlinger, na segunda morava Phillip Kerber e sua família, na terceira Mathias Sutor, casado com Anna Kerber e, na última, um pouco mais ao fundo, Johann Kerber (pedreiro) (P1030785) (P1030848).

A mesma planta do fisco do Condado de Lothringer (Lorena) ainda registra a residência de outros Kerber, como Johann, de profissão pastor, na rua principal, depois do beco, bem próximo dali e de mais outro Johann (pedreiro), morador na subida da rua principal da vila, em direção a Mondorf.

Eu e Reinhold fomos no carro dele até o local em comento e lá pude confirmar minhas deduções. Tratava-se de casas no modelo “Lothringerhaus”, agora remodeladas, mas com as mesmas características arquitetônicas desse estilo de moradia antiga.

É fácil imaginar a emoção que senti ao constatar que estava diante da casa onde morou Phillip Kerber e seu filho Peter Kerber, depois de 182 anos da vinda desse último e seus familiares para o Brasil, onde deu origem a grande geração atual dos Kerber em nosso país (P1030786).

Para que se entenda o que significa o nome desse tipo de construção (“Lothringerhaus”) voltamos aos tempos pós Idade Média, em que as casas eram edificadas com uma área para moradia dos familiares, um espaço para carroças, grãos e ferramentas em geral e outra área conjunta para estrebarias e alojamentos dos diversos animais, tudo sob um mesmo teto, abaixo do qual ainda era feito o jirau para silagem e depósito de outros alimentos.

O nome deriva da região de Lothringer (Lorena), hoje somente território francês, onde começaram a construir este modelo de edificações.

A finalidade desse feitio de construção era unificar o calor das pessoas, animais e silagem, bem como manter a proximidade de tudo durante os longos períodos de inverno, em que toda atividade dos familiares tinha que girar embaixo de um mesmo teto.

Outra pergunta que muitos devem fazer é “porque Peter Kerber, sua esposa e familiares saíram de Schwerdorf em direção ao porto da Antuérpia, para dali emigrar para o Brasil”, conforme descrevem os familiares alemães?

Existem várias razões e uma delas já foi mencionada nos comentários acima: todas as famílias residentes naquela micro-região pertenciam à comunidade eclesiástica de Schwerdorf, vale dizer, frequentavam aquela mesma igreja, participavam de outros atos litúrgicos, como batizado e casamento, assim como prováveis festejos santos, ou seja, formas de congregação e aproximação das pessoas.

Não devemos acreditar que somente a família Kerber resolveu se mudar para o Brasil, mas que provavelmente se reuniu com outras famílias para efetivar tão radical empreitada.

Mas foi falando com diversas outras pessoas durante minhas incursões diárias e, principalmente, com um carpinteiro na saída de Schwerdorf para Fürweiler e também o Sr. Helmut Schwartz, que obtive a principal resposta para este “por que sair dali”.

É sabido que naquela época os mercadores costumavam levar seus produtos até outros mercados consumidores mais distantes através de caravanas de carroças e carruagens. Estes mesmos comboios numerosos e fortalecidos também serviram de logística para as numerosas famílias que começaram a emigrar para outros continentes.

Também apurei que uma dessas caravanas sistematicamente viajava para o porto da Antuérpia passando pela cidade de Siersdorf, localizada próxima dali (onde existe ainda hoje uma grande fortaleza: Siersburg), situada entre os rios Saar e Nied, rumando em direção noroeste, através dos vilarejos de Gerlfangen e Fürweiler (P1030800), por Oberesch e chegando a Fortaleza de Bourg Esch (N 49 23 047/EO 06 33 948), esta atualmente em território francês, bem próxima da fronteira (P1030798) (IMGA0213).

Seguindo viagem, as caravanas faziam suas paradas logísticas em Waldwisse, Mandaren (fortaleza de Malbranck), Sierck-Les-Bains (todas atualmente em território francês) e partir daí entrando em Luxemburgo e logo a seguir na Bélgica, país onde se encontra o porto da Antuérpia.

A razão mais lógica do por que da saída dos Kerber por Schwerdorf é justamente o fato de que esta Fortaleza de Bourg Esch está localizada a apenas 1,2 km do centro da vila de Schwerdorf.

Sabemos que naquela época os meios de transporte eram vagarosos, assim como havia bandos de sacadores e pilhagens por toda parte e que um chefe de família não poderia simplesmente pegar sua mulher e filhos para empreender uma viagem desta natureza, sem um suporte razoável e seguro.

As caravanas viajavam de fortaleza a fortaleza, com um grande número de pessoas, animais e carroças, suporte de segurança e conhecimento do trajeto.

Utilizavam as fortalezas para pernoitar, alimentar as pessoas e animais, adquirir e repor alimentos, material de transporte e animais de tração e, principalmente, prover o grupo de segurança.

Estes fatores sugerem que a família Kerber e/ou outras aproveitaram essa logística para iniciar sua jornada junto dessas caravanas, que adequadamente se dirigia ao porto da Antuérpia porque é o mais próximo, distante cerca de 360 km dali, enquanto que o porto de Hamburgo fica a cerca de 800 km.

Além do mais, embora a caravana passasse entre Fürweiler e Gerlfangen, a primeira parada dela era na Fortaleza de Bourg Esch, onde obrigatoriamente a família deveria se incorporar, já que durante o trajeto isto não era possível e nem mesmo seguro fazer. Além disso, sair de Fürweiler e passar por Schwerdorf para se incorporar a caravana na Fortaleza de Bourg Esch é muito mais perto e de fácil acesso.

Devemos lembrar, entretanto, que todos esses fatores logísticos e favoráveis para a rota de saída da Alemanha para o Brasil, asseverada pelos familiares Kerber até os dias de hoje, carecem de uma busca de assentamentos que confirmem os fatos. Como já frisei, são histórias familiares repassadas através dos tempos.

Alguns familiares Schallenberger comentaram que a saída se deu via fluvial, ou seja, inicialmente o Rio Saar (ali bem próximo), daí o Rio Mosel, depois o Rio Reno e finalmente o Mar do Norte.

Depois de realizar todos esses levantamentos e, tendo marcado meu voo de retorno para o dia 30 de junho de 2011, a partir de Frankfurt, resolvi que voltaria para Düsseldorf na terça-feira, dia 28.06.2011.

Na segunda-feira, dia 27.06.2011, por volta das 18:00 horas, ainda recebi uma ligação do Sr. Norbert Wagner (P1030802), correspondente do Saarbrücker Zeitung, um jornal da capital de Saarland, perguntando sobre a possibilidade de conseguir uma entrevista comigo, a respeito de minha investigação em torno dos antepassados da família Kerber.

Ainda no final da tarde nos encontramos numa cervejaria junto a rio Saar, onde concedi uma entrevista falando sobre tudo que foi buscado e apurado, bem como dados sobre os descendentes de Peter e Anna Bauer Kerber no Brasil. O repórter também tirou algumas fotografias minhas. A matéria (com algumas distorções) foi publicada no dia 01.07.2011 em Merzig e dia 04.07.2011 na região de Rehlingen, locais de circulação do jornal e teve grande repercussão entre os familiares e conhecidos de lá (REPORTAGEM.pdf) (TRADUÇAO.doc).


GENEALOGIA ANTES DE PETER E ANNA BAUER

PETER KERBER

Filho de Wilhelm Kerber e Anna Geyer, nascido no ano de 1711 em Mondorf, casou em 1733 com Maria Katharina Biehl, com quem teve 11 filhos:

1 – Peter, nascido em 08.01.1734 em Mondorf; casou com Susanne Kniespeck no dia 25.02.1772 em Gerlfangen e com ela teve 08 filhos; faleceu em 28.01.1786 em Gerlfangen;

2 – Johann Peter, nascido em 27.02.1736 em Mondorf;

3 – Johann, nascido em 19.11.1737 em Mondorf, casou com Margarethe Divo (em alguns registros este nome aparece como Diwo) no dia 19.02.1770 em Gerlfangen e com ela teve 08 filhos; faleceu em 05.04.1810 em Gerlfangen. Morava na última casa do “Suttersch Ecken”;

4 – Anna Margarethe, nascida em 27.04.1740 em Mondorf;

5 – Jacob, nascido em 06.05.1742 em Mondorf, casou com Anna Margarethe Sutor no dia 04.02.1772 e com ela teve 10 filhos; faleceu no dia 14.04.1810 em Gerlfangen;

6 – Matthias, nascido em 04.10.1744 em Mondorf, casou com Maria Kiefer no dia 01.02.1785 em Schwerdorf;

7 – Nikolaus, nascido em 07.10.1747 em Mondorf e faleceu no dia 07.01.1831 em Groshemmersdorf;

8 – Anna, nascida em 03.12.1749 em Mondorf, casou com Matthias Sutor no dia 17.02.1778 em Gerlfangen, onde também faleceu em 18.01.1825. A família morava numa das casas do “Suttersch Ecken”;

9 – Philipp, nascido em 25.05.1752 em Mondorf, casou com Anna Sutor no dia 14.03.1779 em Gerlfangen e com ela teve 09 filhos; faleceu no dia 26.01.1833 em Gerlfangen; também moravam no “Suttersch Ecken”; eram os pais do Peter Kerber que veio para o Brasil;

10 – Heinrich, nascido em 14.09.1759 em Mondorf, casou com Maria Scholtes no dia 01.02.1785 em Schwerdorf e com ela teve 02 filhos;

11 – Maria, nasceu no ano de 1761 e casou com Nikolaus Pignon no dia 18.01.1785 em Gerlfangen.

Peter Kerber (o avô do Peter que veio ao Brasil) faleceu no dia 15.09.1783 em Gerlfangen.

Anna Sutor nasceu no ano de 1752 em Gerlfangen e era filha de Johann Sutor e Johanna Jung.

PHILIPP KERBER

Filho de Peter Kerber e Maria Katharina Biehl, de profissão sapateiro, jornaleiro e arrendatário (ou diarista), nascido em 25.05.1752 em Mondorf; casou com Anna Sutor no dia 14.03.1779 em Gerlfangen e teve como padrinhos Mathias Hellendorf e Mathias Sutor, ambos de Gerlfangen. Com Anna teve 09 filhos:

1 – Maria, nascida e batizada em 10.06.1779 em Gerlfangen, casou com Peter Hoen em 30.04.1810 em Waldwisse. Faleceu em 04.09.1853 em Gerlafangen;

2 – Katharina, nascida em 22.08.1781 em Gerlfangen e faleceu na mesma vila em 07.04.1784;

3 – PETER, nascido e batizado em 14.12.1783 em Gerlfangen e teve como padrinhos Peter Dittlinger e Anna Sutor, ambos de Gerlfangen. De profissão pedreiro, casou a primeira vez no dia 18.10.1808 em Fürweiler, com Margaretha Isler, filha de Klaudius Isler e Anna Margaretha Kircher, com a qual teve 08 filhos, sendo que neste último faleceram mãe e filho no parto no dia 28.12.1824.

Peter casou uma segunda vez, desta feita com Anna Bauer, nascida em 11.12.1792 em Freundenburg, filha de Peter Bauer e Johanna Hoen (ou Hein), com ela teve mais dois filhos na Alemanha: Anna, nascida em 02.03.1827 em Fürweiler e Johannes (João), nascido em Fürweiler no ano de 1828.

Sabemos que a partir daí Peter e Anna Bauer ainda tiveram mais filhos, uma vez que para os registros consultados na Alemanha eles aparecem como “nach Brasilien” (para o Brasil), ou seja, perderam o contato e as informações.

4 – Johann, nascido e batizado em 12.06.1786 em Gerlfangen. Casou três vezes: em 1810 com Elisabeth Hilt, com quem teve 06 filhos; em 1814 com Elisabeth Isler, com quem teve 05 filhos e, em 1819, casou com Anna Reimringer e não tiveram filhos. Faleceu em 10.02.1849 em Gerlfangen;

5 – Jacob, nascido em 06.01.1789 em Gerlfangen, casou em 02.06.1813 em Schwerdorf com Maria Magadalena Kohl. Faleceu em 16.04.1872 em Schwerdorf;

6 – Nikolaus, nascido em 08.11.1791 em Gerlfangen;

7 – Katharina, nascida em 14.10.1794 em Gerlfangen; casou no ano de 1825 com Johann Matz e com ele teve 05 filhos. Faleceu em 15.01.1879 em Gerlfangen;

8 - Anna, nascida em 18.03.1797 em Gerlfangen; casou no dia 02.02.1823 com Johann Lucas em Gerlfangen e com ele teve 03 filhos. Faleceu no dia 16.06.1868 em Gerlfangen;

9 – Anna Maria, nascida e batizada em 16.07.1801 em Gerlfangen; casou em 04.01.1834 com Peter Zenner e com ele teve 04 filhos. Faleceu no dia 26.12.1878 em Gerlfangen.

PETER KERBER (“nosso Peter”)

Nascido e batizado em 14.12.1783 em Gerlfangen e teve como padrinhos Peter Dittlinger e Anna Sutor, ambos de Gerlfangen. De profissão pedreiro, casou a primeira vez no dia 18.10.1808 em Fürweiler, com Margaretha Isler, filha de Klaudius Isler e Anna Margaretha Kircher, com a qual teve 08 filhos:

1 – Philipp, nascido em 20.07.1809 em Fürweiler;

2 - Johanna, nascida em 05.09.1811 em Fürweiler. Faleceu dia 02.11.1811 na mesma vila;

3 – Mathias, nascido em 30.04.1813 em Fürweiler;

4 – Nikolaus, nascido em 20.02.1815 em Fürweiler;

5 – Katharina, nascida em 24.11.1816 em Fürweiler;

6 – Michael, nascido em 03.03.1819 em Fürweiler;

7 – Maria, nascida em 12.02.1822 em Fürweiler;

8 – Jacob, nasceu e faleceu no parto, dia 28.12.1824.

Margaretha faleceu dois dias depois, em decorrência de complicações desse parto. Então Peter casou com Anna Bauer, com quem ainda teve mais uma filha na Alemanha, chamada Anna.

Durante a viagem para o Brasil, depois de descer do navio Olbers e aguardar na quarentena no Rio de Janeiro, nasceu Johann, dia 24 de dezembro de 1828.

Aqui no Brasil o casal ainda teve mais três filhos:

1 - Pedro, nascido aos 21.06.1833 em Dois Irmãos/RS, falecido aos 08.02.1907, em Maratá/RS. Casou em São Leopoldo, aos 09.04.1853, com Barbara Schossler; casou pela segunda vez com Anna Maria Becker, aos 05.06.1882, em Montenegro/RS e, pela terceira vez, com Thereza Fischer, aos o1.07.1885, em Maratá/RS;

2 - Maria Anna, nascida aos 28.09.1834, em Dois Irmãos/RS; casou com Jacob Streit, aos 20.08.1852 em São Leopoldo/RS;

3 - Margarida Kerber.

OUTROS DADOS:

· Apesar dos poucos registros em torno de Wilhelm Kerber, bisavô do “nosso” Peter Kerber, consta que o mesmo nasceu no ano de 1661 em Biringen e casou com Anna Geyer, que também era de Biringen. Wilhelm faleceu em 27.11.1751 e Anna em 20.03.1770, ambos em Biringen;

· Atualmente (junho 2011) Fürweiler tem cerca de 450 habitantes;

· Todos os vilarejos da região que visitei (denominada Saargau) têm em conjunto um total de 16.000 habitantes;

· Gerlfangen atualmente (junho 2011) tem 540 habitantes;

· A grande maioria dos habitantes dessa região professa a religião católica e são muito fervorosos (P1030733);

· O Rio Saar, que corta esta região e que dá nome ao Estado de Saarland, deságua no Rio Mosel e este, por sua vez, no Rio Reno; todos eles são navegáveis (P1030741);

· A fortaleza de Bourg Esch é de propriedade particular, adquirida por uma família da região e, por vezes, aberta a visitação pública;

· Os habitantes de Schwerdorf/França falam os idiomas alemão e francês; muitas famílias alemãs moram lá porque as casas são mais baratas;

· O vilarejo de Mondorf conta hoje com um total de 780 habitantes;

· Também localizei e fotografei os túmulos das famílias Bauer, naquela região, uma vez que a matriarca de nossa geração era Anna Bauer, casada com Peter Kerber;

· A antiga rota das caravanas começava no norte da Itália e aqui na região passava por Wallerfangen, Itzbach, Büren, Siersdorf (fortaleza de Siersburg) e daí por diante Oberesch, Bourg Esch, Waldwisse em direção a Luxemburgo e daí para o Condado de Flandres/Bélgica, onde está localizado o porto da Antuérpia e era utilizada por mercadores e transeuntes em geral;

· Essa rota antigamente era conhecida por “Rota do Sal”, pois os mercadores utilizavam a estrada para abastecer a região com sal, trazido das regiões litorâneas e depositado num grande entreposto localizado mais ou menos onde hoje existe o vilarejo de Biringen;

· Durante as viagens por essas estradas as pessoas tinham que pagar vários pedágios, entre eles a travessia do Rio Nied, perto de Siersdorf;

· Por volta do ano 1800 a base da alimentação das famílias composta de milho-doce, cevada, aveia, centeio, trigo, repolho, beterraba, cenoura, ervilha, feijão, alface, cebola, maçãs, peras e algumas outras frutas silvestres, como cereja e ameixa. Somente a partir de 1850 foi incorporada a batata, leite e pão;

· Poucas vezes se comia carne fresca nas refeições; esta quase sempre vinha salgada (como charque) ou defumada; a sopa era comum no café da manhã e antes do almoço; o Jantar acompanhado de queijo;

· Pelo menos dois filhos de Peter Kerber e Margaretha Isler foram batizados na igreja de Schwerdorf: Mathias e Nikolaus, em 1813 e 1815, respectivamente;

· Embora os habitantes dessa região que pesquisei tenham trocado constantemente de pátria, de franceses para alemães (prussianos) e vice-versa, o que se pode afirmar é que os Kerber são originários dela, denominada Lorraine (Frances) - Lothringer (alemão) - Lorena (português);

· Nem só de trabalho e correria eu me ocupei em Saarland: sábado de tarde estive com Norbert e seus amigos e familiares a beira do Rio Saar, onde as prefeituras de Merzig e Hilbringen patrocinaram um evento de festividades para os cidadãos, entre elas shows musicais , brincadeiras para as crianças, desfile de trajes típicos (entre eles vikings) e, como atração principal, uma regata de barcos grandes, onde também competiu a equipe de Norbert. Toda essa movimentação regada a muita cerveja e comilança, como sempre (IMGA0175) (IMGA0178) (P1030765);

· Norbert Kerber também faz parte da direção de um clube de futebol da terceira divisão e que neste ano sagrou-se campeão, conseqüentemente subindo para a segunda divisão; por isso, sexta-feira de noite ainda fui para convidado para participar das comemorações, que aconteceram nas dependências da sede do clube, ali mesmo em Hilbringen; lá também tive a oportunidade de conhecer o irmão de Anne Marie Kerber Schwartz, Hermann Kerber e sua esposa, que também moram no mesmo vilarejo de Norbert. Ele também faz parte da direção daquele clube (Hermann Kerber).

Para finalizar, quero deixar minha impressão sobre a importância da família, razão que me levou a empreender a presente busca: “Nenhuma política pública, por mais rica e complexa que seja, supera a força da união e do amor de uma família bem estruturada. Ela será sempre o melhor alicerce para a formação do verdadeiro homem ”.