Pattápio Silva

"PATTÁPIO SILVA, flautista, virtuose, pioneiro da Bèlle Epoque brasileira" (1880 - 1907)

por Carmen Silva

O flautista Pattápio Silva nasceu na Vila de Itaocara, estado do Rio de Janeiro, no dia 22 de outubro de 1880. Menino mulato, filho do barbeiro Bruno José da Silva e Amélia Medina da Silva. O local exato de seu nascimento não foi comprovado. Pode ter ocorrido na fazenda Água Limpa, zona rural de Itaocara, dentro do município, à atual rua Patápio Silva, ou ainda na rua Presidente Sodré. Sua mãe tinha apenas treze anos quando Pattápio nasceu, e deste casamento, além de Pattápio, nasceram mais dois irmãos: Paladina e Peridiano..."

O casamento de Bruno José e Amélia Medina durou provavelmente até 1886. Pattápio a partir de então passou a morar em Cataguases, junto com seu pai e sua irmã Paladina

Sua mãe permaneceu em Itaocara, vindo a se casar novamente por volta de 1895. Deste segundo casamento nasceram os irmãos Cícero e Lafaiete, violinistas, João Batista, flautista e ganhador da medalha de ouro do Instituto Nacional de Música, e um dos fundadores da Orquestra Sinfônica Brasileira, além de Odilon, Urtinê, Antonieta e Maria da Conceição.

Todos tiveram instrução musical, e sua mãe era chamada de “ventre musical”. Os netos de Dona Amélia também foram músicos, destacando-se entre eles Ubirajara, flautista que tocou na Banda da Escola Militar (RJ), Arumã e Adna, cantoras.

Pattápio passou a infância em Cataguases, onde aprendeu a profissão do pai, barbeiro, residindo no mesmo prédio da barbearia localizada na Rua Cel. João Duarte.

Ainda menino, quando rareavam os fregueses da barbearia, ele tocava em uma flauta de folha de flandres (material metálico geralmente usado na construção civil para fazer calhas), que ele adquiriu de negociantes turcos moradores de Cataguases.

Mesmo com aquele instrumento simples, sem recursos, Pattápio conseguia chamar a atenção dos transeuntes que paravam para ouvi-lo. Essas flautinhas de brinquedo eram muito comuns no final do século XIX e início do XX

."De um modo geral, sabe-se que a barbearia, no final do século XIX, tinha um importante papel social, pois era um dos locais de encontro de intelectuais e políticos, onde os artistas trocavam idéias e divulgavam suas criações...”

Aos 12 anos, Pattápio, já com uma flauta de madeira de oito buracos.

Aos 14 anos, Pattápio desentende-se com seu pai, pois não queria ser barbeiro e passa a residir na Rua dos Passos, em uma república.

Nesta época Pattápio tocava com uma flauta em mi bemol (sem a parte inferior do instrumento).. Dava aulas para se manter, e foi com a flauta de um aluno chamado Jovelino Santos que tocou pela primeira vez numa flauta de treze chaves, já com o então moderno sistema de Theobald Boehm. Foi através de um mecenas chamado José Badaró que Pattápio consegue uma flauta de madeira com tal sistema.

Flauta em mib

Com 15 anos incompletos, Pattápio deixa Cataguases e percorre várias cidades,

atuando em bandas

Sua primeira participação foi na Banda Aurora Cataguasense do maestro

Leopoldo.

A foto de 1894 da Banda Aurora Cataguasense na qual Pattápio aparenta ter cerca de quinze anos e atualmente pertencente ao “Arquivo Almirante”, está no Museu da Imagem e do Som na cidade do Rio de Janeiro. É a primeira foto conhecida de Pattápio Silva.

Nesta banda com dez músicos, podemos identificar o instrumental como sendo de seis

metais, duas madeiras (uma flauta e uma clarineta), e uma percussão.

Pattápio segura uma flauta de madeira, o segundo da direita para a esquerda.

Pattápio tornou-se muito conhecido por atuar em bandas da região nas cidades de São Fidelis, Miracema, Campos e Pádua. Estas cidades não por acaso estão no percurso da Estrada de Ferro Leopoldina, amplamente utilizado por ele.

Em 1896, foi morar em Cataguases o maestro de banda Francisco Lucas Duchesne e Pattápio passou a seguir seus passos pelo interior mineiro e fluminense. Todos os depoimentos a respeito de Lucas Duchesne são unânimes quanto à grande influência que este exerceu sobre Pattápio.

As bandas musicais foram celeiro de inúmeros artistas que saíram para a profissionalização Apenas como exemplo, A Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro foi fundada em 15 de novembro de 1896 e, assim como Pattápio Silva, foi a primeira de sua categoria a gravar pela Casa Edison em 1902.

Regida por Anacleto deMedeiros, dela participaram importantes músicos como o flautista Irineu de Almeida, professor de Pixinguinha.

Em 1899, durante os festejos da Semana Santa, Pattápio foi convidado por seu antigo mestre João Batista de Assis a tocar em uma festa na cidade de Palma (MG). Interpretou partituras sacras do Padre José Maurício Nunes Garcia. O grande esempenho de Pattápio neste evento faz com que um senhor (não há registros do nome dessa pessoa), vindo do Rio de Janeiro, entusiasmado pelo espetáculo que acabara de assistir, insista em levá-lo para a capital carioca. Para chegar ao Rio de Janeiro um chefe de trem seu conhecido permitiu que ele viajasse no vagão de bagagens, pois não tinha dinheiro nem para a viagem. Chegando lá, foi tipógrafo na Imprensa Nacional, estudou francês, pois naquele contexto da belle époque carioca era chique, também canto e harmonia. Depois de algum tempo trabalhou como impressor na Casa da Moeda, além de ter exercido o ofício herdado do pai, barbeiro, na rua Machado Coelho. Foi nesta época que teve contato com o professor do Instituto Nacional de Música, Paulo Augusto Duque Estrada Meyer. O encontro entre Duque Estrada e Pattápio foi descrito por seu irmão Cícero Menezes:

O professor recebeu-o bem e convidou-o a tocar. Ao desembrulhar as folhas de jornais que serviam de caixa para a flauta de madeira, o grande mestre não deixou de rir-se a valer, pelo impagável instrumento que Pattápio trazia. Uma flauta de madeira de fabricação antiga e grosseira. Antes de Patápio começar a tocar naquela flauta sem recursos, o mestre fez-lhe várias perguntas, rindo-se bastante da situação que se lhe

apresentava interessantíssima.

Patápio executou naquele pobre instrumento sem

recursos, além das músicas que trazia, outras que o professor lhe apresentou.

Assombrado com o que presenciava e mudando de fisionomia, passou da situação de brincadeira que a mesma lhe proporcionava antes, para abraçá-lo com carinho e afeto.

Pattápio foi convidado para ir a sua casa diariamente tomar lições, antes mesmo de ser matriculado no Instituto Nacional de Música. Duque Estrada conseguiu para ele uma boa flauta e em poucos dias já estava totalmente adaptado ao novo instrumento.

Nesta época ele morava na Rua Morais e Vale, no bairro da Lapa. Em 15 dias reparou-se para executar os estudos do terceiro ano e fez o exame de admissão.

início do século XX, jovens oriundos de famílias abastadas do Rio de Janeiro disputavam cada vaga do Instituto Nacional de Música. Dominar um instrumento era uma habilidade valorizada pela sociedade da época e Pattápio Silva revelou-se uma surpresa ao se apresentar na requintada escola, pois era um mulato mal vestido de apenas 19 anos. No entanto, pouco tempo depois, as expressões passariam a ser de espanto diante do seu desempenho na flauta. Matrícula n° 510, em 15 de março de 1901, para o terceiro ano: a matrícula foi paga pelo porteiro do Instituto Nacional de Música que ficou penalizado com a situação financeira de Pattápio, de acordo com depoimento de Luiz Amábile, seu amigo. Cursou de início solfejo e canto coral com Frederico Nascimento; aliás Pattápio era barítono, e flauta com Duque Estrada Meyer. No ano de 1902, além destas disciplinas estuda também teclado e harmonia. São deste período as gravações da Casa Edison e o recital no Instituto Nacional de Música.

Não foi fácil para ele conviver com seus colegas, que se viam ameaçados e enciumados: “...no máximo substituía os colegas, que só lhe davam trabalho quando não havia meios de arranjar outro flautista.

Ele cumpriu o programa de seis anos em apenas três, formando-se em dezembro de 1903. Seu irmão relata: “aprovado com distinção, com louvor. Primeiro prêmio, medalha de ouro, por unanimidade de votos, grau 15, em 13 de janeiro de 1904. Tinha portanto o primeiro dos primeiros prêmios”.

Logo depois, houve um concurso para flautistas cujo primeiro prêmio era uma flauta de prata da marca francesa Louis Lot, doada em 1891 pela senhora Samico, esposa de um conceituado médico. Dos colegas de Pattápio, apenas Pedro de Assis teve a coragem de concorrer com ele. Pattápio venceu a prova. O desfecho desta história é digno de relato. O caso é que no dia da entrega do prêmio para Pattápio na presença de várias autoridades como o ministro da justiça, Henrique Oswald, então diretor do Instituto Nacional de Música, ao abrir o cofre, constata que a flauta desaparecera. Houve instalação de inquérito pelo Ministério do Interior, além de grande movimentação na imprensa quanto ao fato do ganhador ser mulato, pobre, e não ser figura da elite carioca. A própria competência do Instituto Nacional de Música passou a ser questionada por conta do escândalo. No dia 4 de julho de 1904, a flauta foi encontrada enrolada em jornais num armário da secretaria que já havia sido revirado várias vezes. O enigma permaneceu e deu muita promoção para Pattápio.

Nesta época, veio ao Rio de Janeiro uma companhia de ópera muito boa, que precisava de uma segunda flauta. Pattápio disse que faria o serviço, desde que ganhasse tanto quanto a primeira flauta e queria receber também pelo ensaio. O maestro da companhia achou sua atitude de grande arrogância, e quando chegou o momento da récita de Lucia di Lammermoor de Gaetano Donizetti, ópera bastante conhecida pela cadência que a flauta realiza junto com a cantora principal, Pattápio soube que deveria fazer a parte de primeira flauta, e sem ensaio. Não se abalou, e ao final da récita foi ovacionado. Esclareceu depois ao maestro da companhia que na verdade sua atitude não era de arrogância, mas sim que não queria fazer parte da orquestra. Quando foi chamado para o serviço já havia comprado ingresso para assistir à ópera, e o preço do ingresso era mais caro que a paga pelo serviço. Sabendo disso, o empresário da companhia fez questão de ressarcir o prejuízo de Pattápio.

Outro episódio interessante aconteceu quando Pattápio foi convidado para fazer parte de uma orquestra do Clube dos Diários em Petrópolis. Combinou com seu amigo Carmo Marsicano que durante a cadência para flauta que a música possuía, ele deveria colocar um relógio na estante e por três minutos Pattápio a desenvolveria da forma mais mirabolante possível, até o desfecho para a entrada da orquestra. Assim foi, e como não podia deixar de ser, foi aclamado novamente. O poderoso Barão do Rio Branco levantou se de sua poltrona e veio cumprimentar o grande desempenho do flautista, dizendo:

“Eu queria dar-lhe uma lembrança por este grande acontecimento, porém gostava de saber o que é que gosta mais de ter”.

Pattápio respondeu: “Gostava de possuir um Chapéu Chile mais ou menos igual ao que V. Excia. tem“. No dia seguinte Pattápio ostentava um belo chapéu Chile, no valor de 500$000, presente do grande brasileiro.

Neste mesmo ano de 1904, Pattápio resolve viajar com a intenção de tornar-se conhecido em outras cidades e capitais.

Sempre que entrava em um salão, a reação era a mesma: “Como podia, um mulato!”. Mesmo assim, ele sempre entrava confiante. Minutos depois do início da apresentação, tornava-se o centro das atenções e as desconfianças desapareciam.

Parte para São Paulo como integrante de uma companhia de operetas levando uma carta de recomendação, provavelmente de seu professor Duque Estrada Meyer, para um professor influente da capital paulistana, que não lhe deu a devida atenção. Pattápio não se abateu, insistiu muito e finalmente conseguiu seu primeiro recital em São Paulo, sucesso de público e crítica. O tal professor vendo o desempenho maravilhoso de Pattápio, quis programar uma segunda récita, agora sob sua orientação, mas desta vez Pattápio agradeceu e dispensou sua ajuda.

No dia 11 de junho de 1905, Pattápio apresenta-se em São Paulo no Salão Steinway, às oito e meia da noite. As críticas referentes a esse concerto foram publicadas no Correio Paulistano, na sessão Platéas e Salões do dia 12 de junho de 1905.

"Esteve muito concorrido o segundo concerto do festejado flautista Pattápio Silva, hontem no Salão Steinway. O auditório aplaudiu sem reservas todos os números do programa....Pattápio teve ainda uma vez ocasião de verificar, pelo elevado número de diletantes que viu no seu concerto e pelos vibrantes e prolongados aplausos que lhe dispensaram, quanto é devidamente reconhecido nesta capital o seu subido mérito como flautista exímio que é."

No programa constava a sonata de Terschak op. 168 para flauta e piano; de A. Fr. Doppler, a Fantasia Pastorale Hongroise op.26; de Ferd. Büchner, o Noturne op.20; de

Francisco Braga, Air de Balle, e de Camile Sait-Saëns, a obra Le Deluge op. 45.

É possível que todo sucesso alcançado na capital paulistana tenham influenciado para que Pattápio resolvesse fixar residência em São Paulo, no início de 1906.

Passa a lecionar na Casa Bevilacqua localizada na Rua São Bento, de acordo com publicação do Correio Paulistano, de 9 de fevereiro de 1906.

Apesar de ser reconhecido como o excelente músico que era, Pattápio, além das aulas particulares, tocava em operetas para sobreviver. Quando Pattápio faleceu, foi encontrada entre seus pertences uma carta que descrevia a reação das pessoas ao se depararem com aquele jovem mulato e simples. O autor desta carta é desconhecido,

"É meia noite ; venho do Steinway, onde o Pattápio acaba de receber uma sagração .

Escrevo-lhe para não perder no sono a agradabilíssima impressão do concerto. É um monstro! Não causa só admiração, causa assombro....a “Paulista branca”, descendente do bandeirante que lhe herdou a destruição do índio o ódio e a raça de Patrocínio

....esqueceu a magna questão da cor, e aplaudiu delirantemente, freneticamente o Pattápio... Grande coisa é a arte...chega a arrancar pela raiz preconceito secular! Não tenho maior objeto para admirar."

O "Salão Steinway" foi uma sala de concertos nas dependências do Joachim’s Hotel, localizado na Avenida São João, nº 61. Era uma das melhores salas de concertos do fim do século XIX e início do século XX em São Paulo.

Este salão de concertos do Joaquim’s Hotel gozou de tamanho prestígio na época que, em 1909, por contar com este já tradicional local de concertos, foi vendido para abrigar o Conservatório Dramático Musical de São Paulo. O público para entrar no salão tinha que passar pelo saguão e pelo restaurante do hotel.

Esse salão era muito procurado por artistas nacionais e estrangeiros de passagem por nossa capital, pois contava com um piano de cauda Steinway, razão pela qual os recitais eram realizados neste local e que deu nome ao salão. Após a venda, ao Cosrvatorio Dramático e Musical, passou a ter uma entrada à direta, e cumpriu a função de sala e concertos até 1975.

Continua a exercer essa função agora como Auditório da Praça das Artes.

Em visita ao Rio de Janeiro, Pattápio é convidado em novembro de 1906 pelo presidente da República, Dr. Afonso Pena, para uma audição no Palácio do Catete,sendo acompanhado ao piano por uma de suas filhas. Os jornais aclamaram Pattápio no dia seguinte. Pattápio decide finalmente excursionar pelo interior de São Paulo e Sul do país para conseguir dinheiro e finalmente realizar o sonho de ir à Europa. No dia 14 de março de 1907, inicia sua derradeira excursão pela região sul do país, com a intenção de levantar fundos para viajar à Europa. Partindo de São Paulo, realizou concertos na cidade de Guaratinguetá e rumou para Curitiba, chegando lá no dia 18 de março.

O primeiro realizou-se no Teatro Guaíra no dia 22 de março de 1907, com toda pompa. Houve até a presença da Banda de Música Militar tocando nos intervalos da récita.

O segundo concerto realizou-se no Teatro Hauer, no dia 24 de março de 1907, com menos requinte que o anterior, mas sem perder o esplendor. Ao tomar conhecimento da grande colônia de alemães residentes em Curitiba, resolveu atender a esse público, realizando um concerto extra no dia 30 do mesmo mês e ano, novamente no Teatro Guairá.

Pattápio chegou em Florianópolis no dia 12 de abril de 1907. Hospedou-se no Hotel do Comércio, hoje Mário Hotel. Lá Pattápio chegou a ensaiar com o maestro Álvaro Souza.

O concerto deveria se realizar no dia 18 do mesmo mês, no Clube Doze de Agosto, fato amplamente noticiado pelos jornais, e contaria com a presença de músicos da cidade, como era habitual. O programa de Florianópolis:

Primeira parte:

Donizetti – Lucia de Lammermour – piano a quatro mãos

Popp – Fantasia – Pattápio Silva

A. Mello – Solo de Estudo – violino pelo autor

Leonard – Fantasie suédoise – Pattápio Silva

Almagro – Non ti destare – canto Senhorita Maria Couto

Pattápio Silva – Variações sobre o célebre Carnaval de Veneza – Pattápio Silva

Segunda parte:

Nessler – O garito – piano senhorita Leonice Lapagesse

Rubinstein – Melodie – Pattápio Silva

Puccini – Visse D’Arte – Tosca – canto senhorita Maria Couto

A . Mello –Berceuse – violino solo pelo autor

Carlos Gomes – Il. Guarany – Pattápio Silva

No próprio dia 18, quando deveria acontecer o concerto, os jornais noticiam seu adiamento, pois Pattápio apresentava febre alta. No dia seguinte, apresenta melhoras, mas os médicos resolvem adiar o concerto para o dia 21, dia este em que ocorre um agravamento substancial do estado de saúde de Pattápio. A imprensa notifica que o recital deverá ser remarcado, não havendo previsões de data. No dia 24 de abril de 1907, às 2 horas da madrugada, Pattápio sucumbe à misteriosa doença, que até aquele momento não havia sido diagnosticada convenientemente. Na certidão de óbito firmada pelo Dr. Bulcão Viana, Pattápio faleceu em conseqüência de “gripe adinâmica”.

(Pelos sintomas, hoje julga se tratar de difteria)

Foi enterrado no mesmo dia no Cemitério do Morro do Estreito, próximo à ponte Hercílio Luz, na ilha. Sepultura nº 22.964, do livro 28, do arquivo da administração do cemitério São Francisco de Assis. O Hotel do Comércio onde estava hospedado ofereceu seu salão para o velório. Estiveram presentes nomes ligados à música e à sociedade de Florianópolis. A Banda do Corpo de Segurança tocou marchas fúnebres.

Várias versões sobre a morte de Pattápio surgiram, inclusive algumas bem românticas, envolvendo políticos poderosos, amores impossíveis, ciúmes, vingança, envenenamento, todas sem comprovação.

Um dado curioso que poderia alimentar o imaginário a respeito de sua morte até mesmo nos dias de hoje concerne a uma das coroas de flores entregues durante seu enterro com os dizeres “Lembranças de uma atriz”.

Esta linda atriz paraguaia teria encantado também a Pattápio que, já febril, teria pulado a sacada do seu quarto com a finalidade de alcançar o balcão do quarto onde estava hospedada a moça. Atingiu-o um forte vento Sul, tão conhecido dos moradores da ilha, sendo esse o motivo do agravamento fatal de sua enfermidade.

Pattápio foi muito querido em todos os lugares em que atuou, deixando saudades em todo o Brasil. Sua morte foi amplamente noticiada, e segundo vários depoimentos da época, deixou um grande vazio. Seus pertences foram entregues a José Leite de Macedo, proprietário do Hotel do Comércio, para quitar as despesas de hospedagem e atendimento médico.

Sua flauta foi parar nas mãos de um flautista chamado Neves, parente do general Andrade Neves.

A sobrinha de Pattapio IedaMenezes,afirma que a flauta acabou voltando para a família e esteve em poder de seu pai até a década de 1950. Em agosto de 1915 sua família pede a exumação e remoção do corpo para o Rio de Janeiro.

Neste momento, o coveiro Nestor Machado encontra uma medalha de ouro no bolso do paletó de Pattápio. Nela as 34 inscrições: Recordação de Batatais 22.06.1906 – Homenagem – Flautista Patápio Silva.

Foi então sepultado no cemitério São Francisco Xavier, na cidade do Rio de Janeiro, junto aos grandes mestres da flauta Joaquim da Silva Callado, Viriato Figueira da Silva e Mathieu André Reichert.

Pattápio foi um dos melhores exemplos do ensino musical das bandas musicais do século XIX. Apesar de ter sido um adolescente rebelde e sem recursos, conseguiu um desempenho fabuloso com o apoio de seus mestres e colegas de banda. Confirmamos assim o ambiente quase familiar destas instituições no século XIX.

Os negros representaram esta classe quase que exclusivamente até a vinda da Família Real em 1808. Somente a partir daí, é que os estrangeiros passaram a exercer maior influência e atuação no universo cultural do Brasil. Pattápio quase um século depois, foi um descendente destes negros e mulatos. Neste período, a belle époque já havia modificado o panorama das manifestações culturais e as classes menos favorecidas já não tinham acesso à cultura, que era detida pela elite. Ele suplantou esta barreira imposta.

Seu pai em momento algum apoiou Pattápio para que seguisse a carreira de músico. Sua mãe teve muitos filhos, e todos os seus meio-irmãos tiveram instrução musical, mas, seu pai ao contrário, tentou convencê-lo a deixar a flauta para seguir a profissão de barbeiro, levando Pattápio a sair de casa ainda muito jovem para seguir sua aptidão.

Pattápio rejeitou a profissão do pai, mas, por outro lado, se não foi influenciado diretamente pelos barbeiros músicos, com certeza o foi pelos seus descendentes musicais, os chorões e as bandas musicais que estavam presentes em todas as comemorações. Este lado do músico que tocava nas ruas e o conseqüente repertório de características populares, inegavelmente influenciou em grande parte sua obra, principalmente no início de sua carreira. Porém, não podemos afirmar que tenha sido um chorão, pois não há comprovação que tenha exercido este tipo de atividade. Se porventura afirmássemos que dos músicos barbeiros tivesse surgido um “Pattápio Silva”, com certeza seria o único virtuose barbeiro da história do Brasil, o que configuraria mais um pioneirismo sem precedentes.

Salão Steinway nos remeteu aos primórdios da elite cultural da cidade de São Paulo e seu universo de atuação. Já foi freqüentado por vultos importantes como Villa Lobos, quando participou das reuniões para organizar a Semana Moderna de 22, ou Mário de Andrade que foi professor de estética musical do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.

Constatamos que Pattápio com certeza muito se beneficiou com as melhorias mecânicas da flauta, principalmente quando analisamos seu conjunto de obras e gravações. Sem tal sistema talvez fosse impossível tal performance. Porém, não podemos deixar de reconhecer que foi nas flautas que dispunha, que seu talento aflorou e foi reconhecido já na sua mocidade. Após realizarmos estudos sobre os primórdios da Casa Edison, identificamos a importância de suas gravações, e nossas expectativas foram ampliadas quando checamos uma possível cronologia.

Como não existem provas documentais, não podemos considerar este estudo uma descoberta com fundamento científico, mas há fortes indícios que Concert Fantasie op. 384 de Wilhelm Popp pode ter sido a primeira peça erudita gravada no Brasil. Esta possibilidade aumentou o grau de importância, que já era enorme, destas gravações.

Das edições de Pattápio, verificamos o quanto sua obra ficou esquecida desde 1906, data da primeira edição, até 1998 quando começaram a surgir interesse de renovar estas publicações. Com exceção de alguns poucos flautistas que possuíam as edições originais, o grande contingente de flautistas que surgiu durante este período não teve acesso a este conjunto de obras, que consideramos de valor histórico inestimável. Graças à iniciativa de Tadeu Coelho que editou no exterior sua obra completa e Maria José Carrasqueira e seu irmão Antonio Carlos Carrasqueira que também as editou no Brasil pela Vitale, os flautista passam a dispor deste material impresso.

As músicas de salão de Pattápio como Primeiro Amor, Zinha e Margarida são suas obras mais conhecidas, graças aos chorões que delas se utilizaram por anos, em centenas de gravações, arranjos e formações instrumentais. São difíceis tecnicamente, mas, sem desmerecer de forma alguma a beleza destas composições e de outras que possuam o mesmo caráter, consideramos que suas composições eruditas têm um nível de exigência muito superior quanto ao aspecto interpretativo.

Este acervo praticamente desconhecido, merece um lugar de destaque no repertório de todos os flautistas que desejem conhecer a música erudita brasileira, pois é de uma beleza e complexidade que só pode ser admirado.

Não posso deixar de registrar meu respeito por este personagem da história da música brasileira, que me transformou em uma admiradora incondicional de seu trabalho e personalidade. Pattápio terá em mim uma divulgadora incansável de sua obra.

Fonte: Artigo de Carmen Silva da Edição 3 - Setembro de 2019

por Carmen Silva

https://sites.google.com/site/estudantesflautastransversal/Home/partituras-2/partituras-de-choros

Segue neste seção as partituras de Choros em PDF para Flauta Transversal. Clique aqui

<<<Voltar

https://sites.google.com/site/estudantesflautastransversal/

Mascolo Flute Center de São Paulo

Bocal Mascolo - Serviços - Métodos - Partituras - Flautas - Revista - Artigos - Videoaulas - Gravações - Aula - Área Vip - Blog - Eventos - Mídias - Contato

Luthieria, Loja e Escola de Flauta

Na direção de Nilson Mascolo Filho e Cinthia Mascolo, a Mascolo Flute Center oferece todo suporte necessário aos flautistas com serviços de reparação e consertos de flauta transversal, sapatilhamentos, vendas de bocais, venda de flautas, videoaulas e métodos. Na Mascolo Flute Center você tem tudo que precisa com qualidade, segurança e melhor custo-benefício. Nilson Mascolo Filho, engenheiro, flautista, professor de flauta, luthier de flauta, fabricante de bocais artesanais para Flauta e autor do site Estudantes de flauta, um dos maiores sites do mundo sobre Flauta, trabalha junto à sua esposa Cinthia Mascolo, pedagoga, flautista, professora e Luthier de flauta.

https://sites.google.com/site/estudantesflautastransversal/Home/conserto-ajuste-de-flauta

Nilson Mascolo Filho e Cinthia Mascolo

Rua Abadiânia, 673 - 900 metro do Metro Guilhermina/Esperança-

Vila Guilhermina - São Paulo, SP - CEP 03541-000

Falar com Nilson Mascolo Filho - nilsonmascolo@gmail.com

Whatsapp: (11) 99366-0470 - Fone: (11) 99366-0470

Temos clientes por todo Brasil e no exterior também. Atendemos, recebemos e enviamos para o Brasil todo.

Serviço especializado em Flauta é na Mascolo Flute Center.

Mais detalhes do serviços de luthieria, reparação e sapatilhamento em flauta

https://wa.me/5511993660470

Clique aqui para enviar uma mensagem no WhatsApp

para Nilson Mascolo Filho da Mascolo Flute Center

Bocal Mascolo handmade de prata maciça

Conheça o bocal Mascolo artesanal(handmade) de prata maciça que produz um som aveludado, equilibrado em todas as oitavas, fácil de tocar, com muitas variedades de cores e grande flexibilidade, projeção e dinâmica. Oferecemos opções com banho de ouro e ouro maciço. Qualidade de super bocais mas com preço acessível.

Clique aqui para mais detalhes dos bocais handmade Mascolo

https://sites.google.com/site/estudantesflautastransversal/bocal-handmade-mascolo
https://sites.google.com/site/estudantesdeflautasite2/venda-de-flauta
https://sites.google.com/site/estudantesdeflautasite2/venda-de-flauta

Segue aqui classificados de flautas. Todas as flautas anunciadas aqui são selecionadas.

Só as melhores e aprovadas Flauta são anunciadas aqui.

Método de iniciação em Flauta Transversal

Teoria e pratica passo a passo

Edição ampliada e com instruções e comentários

Volume único

https://sites.google.com/site/estudantesflautastransversal/Home/metodo-de-iniciacao-em-flauta---edicao-ampliada-e-comentada

O Método de iniciação em Flauta Transversal é um edição aprimorada, ampliada e com instruções e comentários do Método de Inicialização em Flauta Transversal - Volume 1, que é um grande sucesso. Este método tem por objetivo ensinar desde o início como tocar Flauta Transversal, por isso o chamamos de Iniciação em Flauta Transversal, ele o levará, passo a passo, nota por nota, ao aprendizado deste maravilhoso Instrumento. Desenvolvemos cada lição de forma progressiva analisando as dificuldades intrínsecas do instrumento. Siga passo a passo, todas as instruções teóricas e os estudos diariamente, e assim terá um excelente aprendizado. O método foi desenvolvido para pessoas que nunca tiverem contato com instrumento e desejam, mesmo com dificuldade, serem bons flautistas. Esse método é melhor e mais completo para quem deseja ser uma grande flautista desde os primeiros passos. Para maiores informações ou baixar, Clique aqui.

Método de Flauta Transversal Intermediário e Avançado

Baseado em 81 peças clássicas

por Prof. Nilson Mascolo e Cinthia Mascolo.

https://sites.google.com/site/estudantesflautastransversal/Home/metodos/metodo-de-flauta-transversal-intermediario-e-avancado---baseado-em-81-pecas-classicas---mascolo

No Método de Flauta Transversal Intermediário e Avançado baseado em 81 peças clássicas, cada peça foi selecionada para desenvolver diversos pontos na técnica da flauta, mas também para desenvolver a musicalidade e bom gosto da música. Este método é divido em três partes para estudo simultâneo. Estudo de musicas, estudo de sonoridade e estudo de técnica em forma de escala. Desejamos um bom e prazeroso estudo.

Para maiores informações ou baixar, Clique aqui.

Conheça a Área Vip Estudantes de Flauta

Um verdadeiro universo do conhecimento da flauta

https://sites.google.com/site/estudantesflautastransversal/Home/Foto%20Area%20Vip%202018.jpg

Área Vip do Site Estudantes de Flauta é a área para assinante do site Estudantes de Flauta. Temos aqui um verdadeiro universo do conhecimento da flauta para você se tornar um grande flautista, tudo o que você precisa em um clique. Temos uma grande Biblioteca com Estudos para flauta e Partituras de músicas, Videoaulas para iniciante nível zero e também videoaula com ensino de pontos importantes com grandes flautistas, muitas gravações dos grandes Mestres de flauta em mp3, Artigos exclusivos, Teoria musical, Planos de estudos para orientá-lo quais matérias deva estudar em sua sequencia, de iniciante ao nível avançado e uma seção dedica para auxilio dos professores de flauta, com dicas, planos de aula e os melhores materiais.

Assine agora mesmo

Nosso Canal no Youtube

https://www.youtube.com/user/nilsonmascolo

Nobres Flautistas se inscrevam em meu novo canal no Youtube Estudantes de Flauta por Nilson Mascolo Filho. Neste canal postaremos conteúdos do universo flautistíco... vídeo aulas, entrevistas, reviews, métodos e afins. Acesse, deixe seu like e se inscreva no canal.