A arte de Jean-Pierre Rampal

A Arte de Jean-Pierre Rampal por Denis Verroust

Traduzido por Josy Campos

Jean-Pierre Rampal figura, sem contestação, um artista que deixou a marca de sua vida musical impressa na segunda metade do século XX: por seu talento fora do comum, como também por ter se dedicado à flauta e ao seu lugar de solista do mais alto nível. O maior flautista de nossos tempos nos deixou em 20 de maio de 2000 aos 78 anos. Participou de milhares de concertos, pouco a pouco se tornou um  sucesso fenomenal. Sempre com o mesmo entusiasmo,  teve uma vida musical extraordinária  que se tornou conhecida, presenteando-nos com  Jean-Pierre Rampal.  É  simples compreender seu prodigioso trajeto, basta olhar em volta e analisar racionalmente todos os elementos que o compuseram, e que estão intimamente linkados, tanto a ligação entre o artista e o instrumento quanto o repertório e a interpretação. 

Acima de seu talento na flauta, que é relativamente inimaginável, a princípio a arte de Jean-Pierre Rampal  foi  o modo como ele realizou uma tarefa verdadeiramente colossal e que muito não pode ser compreendida atualmente, dotada de vontade, de inteligência e sobretudo de paixão. Colocou a flauta em cena e deu-lhe amplitude tanto no sentido literal quanto no sentido figurado, tanto que a integrou a vida musical sendo-lhe dada o titulo de um dos instrumentos reais, tais como o piano ou o violino, sendo que esse titulo só poderia ser atribuído a um homem que fosse fora do comum. Há sempre uma personalidade excepcional no amanhecer de um renascimento: pense em Pablo Casals, Andre Segovia...

Jean-Pierre estava ciente sobre todos os caminhos que teria de abrir. Ele sabia a necessidade de trazer à luz todo um repertório. O trabalho que ele efetuou sobre a música barroca desde o fim dos anos 40 fora tanto que a redescoberta dessa literatura e a sua carreira, em si mesmo, foram rapidamente dois elementos indispensáveis. Então, ele havia compreendido que deveria redescobrir a interpretação. Foi um dos pioneiros a olhar para um simples texto e redescobrir nele o sentido da música  deixando fruir livremente a sua imaginação. Isso causou uma revolução na leitura da música ao mesmo tempo que  instaurava uma arte instrumental nova. Agora tudo era mais moderno, mais articulado, e em uma palavra, mais vivo. Dessa forma conquistou o público sendo lhe aberta todas as portas. Suas explorações se davam sempre entre o clássico e o romântico, dotando-se de um repertório para flauta de um seguimento indispensável na elaboração de milhares de programas tanto para concertos quanto para CD’s. Sua virtuosidade impressionava a todos que o ouviam: desde os anos 50, ele suscitou numerosas criações  endereçadas a ele por muitos compositores. Nos anos 70, ele mesmo elegeu seu repertório nos domínios mais populares: Claude Bolling, Ravi Shankar, musique folklorique... a flauta triunfa em tudo...

Ele sabia também, desde o início, que seria importante tocar em diversas formações  a fim de fazer sua música conhecida o mais largamente possível. Isso pode ser constatado, prontamente, pois seu nome não era citado somente por profissionais, mas ainda por simples apreciadores: assim, o nome de Rampal ficou rapidamente popular juntamente com outros parceiros  da “sequencia” Rampal – Veyron – Lacroix nada mais, nada menos. Essa tal associação após a guerra, seria uma total novidade. Esta sinergia de esforços seria ainda algo que marcaria a chegada do “novo” Ensemble Baroque de Paris e Le Quintette à Vent Français, estas formações vieram a ter um grande sucesso. No entanto, ele também tinha predileção em escolher alguns companheiros como: seu dueto de flauta e harpa com Lily Laskine ou Marielle Nordmann, outra possibilidade era a o dueto de flauta e guitarra com Alexandre Lagoya, ou ainda seu trio para flauta, violino e violoncelo com Isaac Stern e Mstislav Rostropovitch trio que alcançou uma fantástica popularidade. Enfim, seus próprios alunos, frequentemente, tinham o privilégio de dividir o palco com ele: nenhum outro flautista teve tanta paridade.  O futuro da flauta e seu público já estavam assegurados.

Todas as etapas de tal empreitada são importantes, Com um repertório tão vasto e até então inexplorado, a inteligente escolha musical de Jean-Pierre Rampal é uma das mais famosas facetas de sua arte. Sua energia em afirmar a difusão não é menos impressionante. Seus concertos, entre 150-200 por ano, representava uma verdadeira enciclopédia musical. Liderou muitas das coleções editadas na Europa e nos Estados Unidos, sua carreira decolou imediatamente após a guerra beneficiando o crescimento da indústria fonográfica com, aproximadamente, 400 discos originais, ele é hoje um dos músicos mais Célebres e mais gravado do mundo.

Ele sabia, certamente, que tudo isso reunido iria servir de modelo a milhares de jovens artistas. Todos estes elementos davam a Jean-Pierre Rampal, em meados dos anos 60, um status e uma imagem acima dos padrões: Um homem belo e uum dos primeiros virtuosos da modernidade. O pioneiro no gênero a ter construído sua carreira, inteiramente, não somente sobre bases novas, mas ainda com diligência inovadora, imaginativa, perseverante e audaciosa. Em 15 anos de trabalho percorreu um caminho incrível. 

 

Na véspera de sua primeira turnê na Austrália, em 1966, um grande jornal local disse: “Ele é para Flauta o que Rubinstein é para o piano e Oistrakh para o violino.

Como todas as belas coisas, não se pode analisar uma obra sem primeiro olhar o que a despertou. Tudo o que estamos falando aqui, são coisas que eram necessidade para Jean-Pierre Rampal e que antes dele não eram abordadas. Tudo o que fez foi a serviço da música e só da música, a fim de tocar com seu único instinto e de deixar exprimir uma personalidade generosa e refinada. Não procurava perfeição “Pior inimiga da música.” Mas, o ideal é ser sempre o mais natural possível, “tocar como se respira.”  Entenda-se, frequência. Isto é verdade. E que sopro! Igualmente, que inspiração! A música dele cativa, transporta a cada momento, a cada nota sem nunca parecer algo “fabricado” Seu toque instrumental é simples – mas magnífico – um modo de fazer música como se fala, utilizando, raramente, dos extremos. E tudo o que fez, fez com esta sobriedade e ao tocar possuia um enorme poder de sugestão.

O resultado foi prodigioso. Os maiores intérpretes são aqueles cuja humanidade é tal que chegam a conseguir o maior nome. Jea-Pierre Rampal foi um deles. A vida de suas interpretações é tal que não é preciso, jamais, que ele argumente sobre ele mesmo para convencer alguém: sua veracidade é evidente e se impõe de maneira suntuosa. Não é necessário dizer mais nada. Por que o público não perceberia sua arte? Uma interioridade que sabia a maravilha de modular, de aprofundar ou a simples sutileza, uma sublimidade e uma leveza de atrair multidões, mas sobretudo um senso de fraseado legendário que marcou e marcará os espíritos durante muito tempo. A propósito, não se pode deixar de mencionar seu enorme amor por Mozart, emblema de sua sensibilidade e de sua riqueza humana engendrando nele uma mágica e, sem dúvida, sua geniosidade. É impossível não dizer nada mais sobre sua sonoridade. Os Superlativos faltam para dizer a seu respeito, pela simples razão de que ele possuía todas as qualidades: pureza, “rondeur”, densidade brilhante... Tudo isso ainda é pouco pois só falam, realmente, da sua identidade musical, sua troca emocional e suas cores expressivas refletem vida e maturidade. A sonoridade de Jean-Pierre Rampal evoluiu com o tempo: em um primeiro momento fina, clara e nobre, veio ao seu apogeu mais profunda e substancial, uma alquimia impecável de timbre, de sensualidade e de transparência. Mais tarde, no fim de sua carreira, ela permitiu gerar nele, assim como ele entendia, a definição pessoal de todo artista: Chegar a encontrar o equilíbrio entre a argumentação e a maturidade que vêm com a idade e a perda da virtuosidade, que ao mesmo tempo, surpreendia. Então, um dos mais bonitos segredos deste imenso artista era de sempre adentrar à “ Alma do Som.

Escute Jean-Pierre Rampal em Bach, Vivaldi, Mozart, Schubert, Debussy, Prokoviev, Khachaurian ou Jolivet: o som, ele mesmo muda de expressão em uma adequação ideal de estilo. Descubra-o em Molter, Stamiz, Devienne, Clementi ou Moscheles: o brilho ou a ternura transcendem as páginas dos compositores. Recorde dele em uma cena, na Champs–Elysées do « Orphée » de Gluck

Sua flauta ressoa pela eternidade. Não deixar de sublinhar que esta página ocupa um lugar muito particular na história da flauta. Sua emoção muda, pela primeira vez,  o destino do instrumento. Todos flautistas tocam algumas linhas, que os remetem a uma lembrança magnífica... por esse motivo Adolphe Hennebains, professor no Conservatório de Paris de Joseph Rampal: “Eu jamais fiquei interamente satisfeito com a minha execução a Cena do Champs-Elysées d’Orphée. Sempre me senti sob o som de estranha beleza, tinha a impressão de que ele jamais nos deixou completamente...”Jean-Pierre Rampal, ele mesmo estava lá, sem dúvida nenhuma, e mesmo daqui há 200 anos, também teria imprimido à flauta um caminho decisivo.

Os públicos do mundo inteiro não poderiam jamais esquecer o reconhecimento que se deve à ele: Jean-Pierre Rampal é aquele que faz amar a flauta.

Denis Verroust

Vincennes, le 18 février 2002

Traduzido por Josy Campos

(texte originalement écrit pour le Festival International de Colmar 2002 en hommage à Jean-Pierre Rampal - http://www.jprampal.com/art_jpr.html)

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