Barcellos (2003), declara que o setor saúde no Brasil é detentor de um extenso banco de dados que abrange informações vitais de morbidade, gerenciais e contábeis, as quais subsidiam uma série de decisões e atividades no SUS (Sistema Único de Saúde). Em minha opinião, um dos importantes passos a serem dados para o uso dos dados brasileiro é coletar, armazenar e analisar a nível local, utilizando estes dados no planejamento e gerência de áreas adscritas.Minha posição frente à informatização das rotinas de saúde é que os técnicos devem receber uma capacitação mínima nesta área, tanto nas escolas formadoras quanto pelas gestões vigentes.
Acredito ainda que este assunto deve ser incorporado à educação continuada, expandindo a todas as outras áreas (medicina, nutrição, fisioterapia, odontologia, etc.), a fim de obter-se maior sucesso na informatização das rotinas, devido à realidade da interdisciplinaridade e da intersetorialidade na atenção primária.
O corpo de enfermagem, no entanto, precisa de uma atenção especial, pois, juntamente com os auxiliares administrativos, será responsável por gerar a maior parte dos dados e alimentar as mais variadas planilhas, bancos de dados e programas de saúde. Constatei em minha prática a realidade da afirmação de França (2001), referente à centralização dos dados, quanto à sua coleta e análise. Explana que, quando os dados retornam às unidades e são utilizados nas reuniões de equipe de forma sistemática, havendo um acompanhamento por uma coordenação de atenção básica bem articulada e onde é realizada a supervisão de resultados das ações planejadas, ocorre uma qualificação geral dos serviços.
Observei em minha experiência como consultor em saúde da família que dentre os obstáculos encontrados à automação das rotinas em atenção básica, um dos maiores e mais freqüente é a falta de motivação, conhecimentos e habilidades da equipe. Supervisão e educação continuada para as ESF sanariam estes problemas, uma vez que seja montada a infra-estrutura mínima necessária, da mesma forma que aconteceu em outras áreas já trabalhadas com sucesso, em todos os níveis hierárquicos, como com os bem-sucedidos Programa de Prevenção e Controle das DST/ HIV/ AIDS e a Rede de Frio Nacional, que foram problemas sérios no passado e hoje se apresentam, em minha opinião, como um ponto de força do Sistema de Saúde Brasileiro.
Uma vez que a proposta de mudança ao modelo de saúde visada com a Estratégia de Saúde da Família almeja a reorganização da Atenção Primária, visualiza-se a informática como um dos meios para viabilizar o idealizado modelo de atenção, capaz de combinar recursos tecnológicos e humanos, adequados às reais necessidades da população.Desde 2002, venho exercendo atividades ligadas ao PSF, onde observei, ao realizar a prática de supervisão, dificuldades para colher dados, organizá-los, analisá-los e acessá-los posteriormente. Também ouvi vários depoimentos de outros supervisores/ instrutores, coordenadores de atenção básica, médicos, odontólogos, etc., onde afirmam se defrontar com as mesmas dificuldades, direta ou indiretamente.Observam-se dificuldades na realidade de alguns Agentes de Saúde (ACS) em preencher ou entender corretamente os instrumentos do SIAB padronizados para coleta.
Evidencia-se desmotivação em diversos ACS em relação à realizar a discussão dos dados levantados e constata-se deficiência na compreensão da necessidade e importância do Processo de Consolidação Mensal. São comuns no trabalho de consolidação dos supervisores/ instrutores, erros inconscientes de cálculos, rasuras no preenchimento/ transcrição de dados e um gasto excessivo e desgastante de tempo durante o processo. Esta consolidação manual também prejudica a comunicação entre a equipe e dificulta o traçamento de metas para o mês seguinte. Levando estes fatos em consideração em vários debates, consideramos necessários, através de deliberação do conselho da equipe interdisciplinar, informatizar o processo de supervisão no PSF - São José, do município de Farroupilha – RS. Não poderia deixar de mencionar os benefícios que obtivemos ao utilizarmo-nos desta poderosa ferramenta.
Desejo também com este relato alertar os profissionais de saúde sobre os benefícios obtidos com a digitalização de dados referente à praticidade, objetividade e dinamização na coleta e análise das informações. Através do programa epidemiológico Epiinfo, foram desenvolvidos bancos de dados para acompanhar diversos dados específicos para viabilizar a Estratégia de Saúde da Família sobre os pacientes, produtividade. Foi possível criar uma versão ampliada do antigo instrumento SSA2, no formato de planilha eletrônica do Excel. A diferença entre fazer isso e simplesmente usar os programas Hiperdia e Sis-Prénatal, é que podemos desenvolver bancos de dados personalizados às nossas necessidades para colher, organizar, consolidar e melhor utilizar os dados. Pôde-se acompanhar de forma automatizada, os casos de tabagismo, alcoolismo, HPV, deficiência mental, seqüela de AVC, saúde da mulher (exame clínico de mamas, citopatológico, etc), dados que não são contemplados pelo SIAB. Acompanhamos o qualitativo e quantitativo dos procedimentos dos ACS, entre vários outros dados que também não são contemplados em nenhum outro programa disponível.
Baseando-se nos benefícios obtidos com esta prática, torna-se necessário reafirmar as vantagens da informática no meio profissional da saúde familiar, relatando a experiência após a adaptação e automação da Ficha D e SSA2, na supervisão mensal do trabalho. Relato esta experiência a fim de sensibilizar os gestores a investirem recursos na utilização da informática, como um instrumento gerencial, lembrando que o investimento na atenção básica resolutiva e nas ações preventivas evita o adoecimento ou o agravamento das doenças. Vou procurar resumi-los em tópicos:
Economia: diversas vezes tivemos a oportunidade de presenciar ou realizar o procedimento de”passar a limpo”, devido às rasuras cometidas com o preenchimento manual da SSA2 e da Ficha D, por exemplo. Isso gera um desperdício de impressos, lápis, caneta, corretivos, borracha e tempo, além do tradicional desgaste decorrente dos erros, tanto do que se pune por haver errado, quanto dos que chamam a atenção do autor dos erros. Dentro das vantagens apontadas, salienta-se a questão da redução dos custos.
Conforme artigo de Moraes (1994) “um estudo recente mostrou que o gasto anual na área da saúde nos Estados Unidos poderia ser reduzido em mais de US$ 36 bilhões se algumas tecnologias de informação fossem adotadas em rede nacional”. Acrescenta o artigo que "aparentemente, o sistema de saúde é o único serviço do país que ainda conserva seus arquivos em papel. Por esta razão, médicos e enfermeiras passam mais de 50% do seu tempo envolvidos em atividades burocráticas e apenas 35% atendendo pacientes".
Comunicação: A letra de alguns profissionais em muito se assemelha à “hieróglifos antigos” e a dificuldade de interpretação dos dados, neste caso, muitas vezes ocasiona em alterações bem significativas no resultado final da produtividade e busca de indicadores. Nota-se que a digitalização gera uma atitude mais profissional e até natural em relação a prestação de contas do acompanhamento prestado, tanto nos agentes de saúde, quanto nos supervisores/ instrutores.
Fidedignidade: Quando profissionais prestam conta semanalmente de dados relacionados ao acompanhamento, se torna mais difícil equivocar-se com a realidade dos fatos. Quando a revisão da supervisão acontece mais freqüente e de forma mais clara por meio da informática, sua intervenção é mais precoce, facilitando a correção de possíveis desvios na busca de resultados pré-pactuados.Agilidade na coleta e análise dos dados: Através de uma simples planilha do Excel, conseguimos superar as longas horas colhendo, corrigindo e consolidando manualmente os dados relativos ao trabalho mensal dos ACS. Basicamente, um ACS por vez sentava-se ao meu lado e ditava sua produtividade enquanto eu os digitava, questionava e discutia simultaneamente. Ao concluir a coleta e análise, consolidava com um comando do mouse e imprimia com outro. Qualquer liderança de interesse pode acessar, questionar e utilizar este dados com grande facilidade.
Credibilidade: com a grande variedade de dados fidedignos, facilmente acessáveis pode-se montar gráficos para salas de situação, divulgação pela mídia em geral. Podem ser usadas para trabalhos científicos ou para embasar reivindicações as diversas autoridades competentes. Percebo a necessidade de integrar e direcionar as ações de supervisão em saúde básica, oferecendo um acolhimento adequado e agendamento organizado. O computador pode vir a se tornar mais um membro a atuar no trabalho interdisciplinar em equipe, ajudando a alcançar este objetivo. As atividades de grupo, as visitas domiciliares e outras peculiaridades, enquanto monitoradas através de recursos de informática, ajudam a tornar as famílias informadas e responsáveis pela própria saúde. A promoção à saúde, torna-se uma realidade proporcionada através de buscas ativas elaboradas a partir de uma análise epidemiológicas, intensas e amplas, aliadas ao planejamento e metas sistemáticas. A qualidade de vida melhora com a população acompanhada mais de perto, levando a uma conseqüente melhora nos indicadores de saúde. A população em geral, especialmente a mais carente ou residente em locais mais distantes das Unidades Básicas, pode ter aumentado sua acessibilidade, recebendo um atendimento mais resolutivo e humanizado, quando informações adequadas sobre suas famílias ficam armazenadas nos computadores da rede.
Presenciamos rotineiramente usuários que esquecem ou perdem seus cartões de hipertensos, gestantes, vacinas e outros documentos importantes, por isso afirmo as vantagens de um prontuário eletrônico. Medicamentos básicos de uso contínuo, enquanto corretamente distribuídos e controlados podem resolver grandes parte dos problemas de saúde, dentro do seu nível de competência, mais um ponto em que se pode contar com o computador para cadastro, controle de estoque, dispensação e emissão de relatórios. Reduzem-se assim os gastos com procedimentos de média e alta complexidade.
A informática dinamiza o acompanhamento da resolutividade.Os profissionais integrantes das equipes de Saúde da Família ficarão então melhor preparados para dar solução aos principais problemas de saúde da comunidade, aumentando o vínculo com a população adscrita, conhecendo-as mais detalhadamente, tornando as famílias mais assistidas. Tornar-se-á mais natural e simples organizar suas atividades através do planejamento de ações, prestando abordagem integral à família completa.