Minicursos

ORGANIZAÇÃO GERAL E SALAS DE ACESSO

Minicurso 1- A bruxa: a primeira invenção estatal do inimigo

Janaína Fortes Ferreira (UESPI)

Jefferson Cícero de Mesquita Soares (UESP

Resumo

Nossa proposta é analisar criticamente, sob viés criminológico, a invenção da “bruxa” como inimiga interna do Estado na Idade Média, assim como a perpetuação da mulher demonizada nas nossas penitenciarias no momento-hoje. O processo racionalizador do poder no século XII, responsável pela re(criação) do aparato político-jurídico de punição, inaugura o processo inquisitório. A invenção do inimigo interno (invenção do medo) é peça-chave para o nascimento do Estado colonizador e para criação de novos discursos de verdade. A caça ao herege, ao homossexual, à bruxa tecem a moral social necessária ao Estado que ressurgia: a família patriarcal, obediente ao Estado e à Igreja não pode ser ameaçada pelos dissidentes. O Estado não sobrevive sem o poder punitivo; o poder punitivo só se justifica se houver um inimigo: e o inimigo precisa ser excluído (queimado ou encarcerado). Nada mais eficaz na coesão social e legitimação do Estado autoritário que a invenção de um inimigo. E quem eram as bruxas? Mulheres sem marido, curandeiras (com seus caldeirões e suas ervas malignas), sem ninguém a lhes reivindicar a vida. A hierarquização do poder autoritário necessita de um núcleo social verticalizador: a família patriarcal, hierarquizada e autoritária. Ocorre que o racismo e o machismo são provavelmente os pilares sociais do atual neoliberalismo; daí a atualidade, quiçá necessidade, do paradigma. E quem é a inimiga interna comum hoje? Mulher, negra, mãe, sozinha, de extrato social vulnerável: esta é a bruxa perseguida pelo Estado Penal em 2020. O Infopen (Departamento Penitenciário Nacional) aponta um crescimento de 700% (setecentos por cento) no encarceramento desta bruxa – mulher, e traficante: porque é preciso demonizar o inimigo. A história pode oferecer preciosas chaves para compreensão da mulher como inimiga do próprio Estado, o que pode esclarecer o fato da criminalização da violência doméstica (Lei Maria da Penha) não ter feito decrescer tal violência. A bruxa, velha (com verrugas), da floresta (longe da racionalidade da cidade) é morta brutalmente nos contos de ninar crianças, para que estas, quando cresçam, não se assustem com o número de mulheres (traficantes, demoníacas) mortas na guerra ao tráfico. Perguntemos: pode ser a bruxa o paradigma moderno do inimigo interno comum? e hoje? quem são as bruxas? quem lucra com sua carne assada?

Palavras-chave: bruxa, inimiga interna comum, mulher encarcerada.


Minicurso 2 - Literatura e educação: práticas docentes e reflexões sobre a produção literária de autoria negra no Brasil

Jéssica Catharine Barbosa de Carvalho (UFPI)

Risoleta Viana de Freitas (UEMA)

Alice Maria Araújo da Fonseca (UFPI)

Resumo

Na obra Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade (2017, p. 51), Bell Hooks afirma a necessidade de fazer do aprendizado escolar uma experiência de inclusão, respeitando os diversos grupos e formações sociais, bem como suas realidades. Para isso, ela disserta a respeito das práticas pedagógicas atuais, ainda ancoradas em um modelo de pensamento e experiência única, tida como universal, sobre a qual a maioria de nós foi formada e somos induzidos a reproduzir. A teórica desenvolve reflexões sobre a prática docente e o papel do professor na construção de modos múltiplos de transmissão e diálogo dos conteúdos e temas com os alunos, de forma que o ensino assuma uma perspectiva de transformação social. Nesse sentido, no presente minicurso, vinculado às atividades realizadas no Grupo de Pesquisa Teseu o labirinto e seu nome, vigente na Universidade Federal do Piauí (UFPI), propomos a discussão a respeito da relação entre a literatura negra brasileira e sua presença na Educação Básica, enfocando dois eixos principais: a) leis e diretrizes para a Educação das Relações Étnico-raciais; b) práticas docentes com leitura e reflexões sobre obras de literatura negra brasileira. A partir desses dois eixos, convidamos pesquisadores e professores da Educação Básica para o diálogo a respeito de metodologias que envolvem um ensino plural e questionador em torno de suas práticas educativas, buscando um ensino que leve os educandos a refletirem sobre a realidade social em que estão inseridos, inclusive questões raciais e de gênero. Para isso, a literatura negra brasileira contemporânea será o meio norteador das discussões, tendo em vista seu potencial de aproximação com os alunos, bem como o atual estado de campo das pesquisas em torno dessa literatura, fornecendo vasto material de acesso aos docentes da Educação Básica. Algumas das referências que auxiliam nas discussões são hooks (2017), Debus (2017), Moreira (2014), Oliveira, Carvalho e Alves (2018), entre outros.

Palavras-chave: Literatura e Educação. Literatura negra brasileira. Práticas de ensino em literatura.

Minicurso 3 - Interpretações periféricas: entre conceitos e aplicabilidades

Mary Angélica Costa Tourinho (UESPI)

Washington Tourinho Júnior (UFMA)

Resumo:

A interpretação do social, nas suas mais diversas matizes, encontra-se hoje inserida em um debate estrutural envolvendo, de um lado, o pensamento eurocentrista e suas concepções de identidade, sujeito, relações de poder, cultura, formação socioeconômica, geopolítica, etc; e, de outro, o nascente pensamento decolonial que, centrado em uma intelectualidade “periférica” tem posto em cheque as concepções dominantes (geradas por anos) do pensamento eurocentrista. Baseado nas leituras de autores como Homi Bhabha, Boaventura Santos, Achille Mbembe, Frantz Fannon, Paul Gilroy, Berenice Bento, Leomir Hilário e Inocência Mata, bibliografia que hoje habita o pensamento decolonial, propomos a apresentação de novos parâmetros para a discussão dos temas que hoje habitam o debate teórico nacional como: a intelectualidade do espólio, a crise sistêmica das democracias, as políticas de inimizades, a nova dimensão de sujeito e identidade cultural, a necropolítica e o governo privado indireto. Tais questões possuem como objetivo central demostrar a proximidade destas discussões com a realidade brasileira e a aplicação destes conceitos em um contexto de intensa radicalização, incorporação da violência como forma de construção da normalidade e fundamentalização teórica.

Minicurso 4 - Rosario Castellanos, mexicana e mulher: entre a colonização, a filosofia feminista e a arte da escrita

Viviane Bagiotto Botton (UNAM-México/UFRJ)

Resumo:

Um minicurso que pretende explorar a biografia e a trajetória das ideias da escritora mexicana Rosario Castellanos, enfatizando seu diálogo com o existencialismo francês, seu vanguardismo feminista na América Latina, seus questionamentos sobre o nacionalismo, a colonização e a exploração dos povos originários e as mulheres e também de sua recepção e releitura hoje, meio século após seu desaparecimento. A leitura indicada é o livro “El Eterno Femenino”, ainda sem tradução para o português, onde figuras femininas e um mexicanismo conservador se cruzam num cenário teatral e caricatural, servindo de alavanca para sua crítica e o lançamento de sementes de novas ideias.

Minicurso 5 - História da Saúde e das Doenças: abordagens sobre filantropia e saúde pública entre o final do séc. XIX e início do séc. XX

Aleisa de Sousa Carvalho Rocha (UFPI)

Ana Karoline de Freitas Nery (UFPI)

Resumo

A incorporação de técnicas médicas à vida cotidiana vem ocorrendo de forma intensa, desde as últimas décadas do século XIX, e a partir de meados do século XX. Dessa forma, o minicurso tem como objetivo analisar as relações entre saúde/doença e suas implicações sociais, culturais e econômicas na sociedade, as práticas institucionais em torno das doenças e o surgimento das políticas de saúde de iniciativa pública e privada direcionadas à saúde da população, no período que se estende entre o Império, ao período da Era Vargas, que compreende as primeiras políticas públicas assistencialistas de saúde direcionadas à população. Além disso, busca-se entender as relações entre caridade e filantropia no Brasil e promover um diálogo sobre o campo de estudo História, Saúde e Doenças. Com a abrangência desse campo, os trabalhos produzidos nos programas de graduação e pós–graduação do País sobre essa temática encontram-se em crescimento, evidenciando um processo de constituição, com objetos, abordagens, fontes, metodologias e relações ainda muito promissoras. Diante disso, identificaremos os novos olhares e possibilidades de pesquisa dentro deste campo e sua constituição no Piauí.

Palavras-chave: história, saúde, doença