Câncer de ovario
Epidemiologia
O câncer de ovário é o 8º em incidência na mulher, segundo dados do INCA, com aproximadamente 7310 casos/ano, representando 3% dos tumores, excluindo os tumores de pele não melanoma. Entretanto, é a 5ª causa de óbitos por câncer.
Os fatores de risco podem sem divididos em:
· Genéticos:
o Mutação BRCA 1 e 2
o Câncer colorretal hereditário não polipoide
o História familiar de câncer de mama e ovário
· Hormonais
o Paridade
o Amamentação
o Menarca precoce
o Menopausa tardia
o Terapia de reposição hormonal
· Endometriose
· Doença inflamatória pélvica
Subtipos histológicos
a. Derivados das células do epitélio
i. Carcinoma mucinoso
ii. Carcinoma endometrióide
iii. Carcinoma seroso de ovário
iv. Tumor de células clara
v. Tumor de Brenner
vi. Carcinoma indiferenciado
vii. Carcinossarcoma e tumor mixoide
b. Derivados de células germinativas
i. Teratoma
i. Maduro
1. Teratoma sólido do adulto
2. Cisto dermoide
3. Struma ovarii
ii. Imaturo
ii. Disgerminoma
iii. Carcinoma embrionário
iv. Tumor sinus endodérmico
v. Coriocarcinoma
vi. Gonadoblastoma
c. Derivado do tecido gonodal especializado
i. Tumor das células granulosas
ii. Tumor das células teca
iii. Tumor sertoli-leydig
iv. Ginandroblastoma
v. Tumor de células lipídicas
d. Tumor derivado de mesênquima não específico
i. Fibroma, hemangioma, leiomioma, lipoma
ii. Linfoma
iii. Sarcoma
e. Tumores metastáticos
i. Trato gastrointestinal (Krukemberg)
ii. Mama
iii. Endométrio
iv. Linfoma
Quadro clínico
a. Assintomático (inicial)
b. Aumento do volume abdominal
a. Dor pélvica
b. Sintomas urinários: urgência, polaciúria, incontinência
c. Dispareunia
d. Constipação intestinal
c. Complicações
a. Torções ou ruptura do ovário
b. Infarto da massa
c. Hemorragia intra-lesional ou abdominal
d. Tumores avançados
a. Sintomas constitucionais (anorexia, fadiga, saciedade precoce/hiporexia, caquexia, náuseas, vômitos)
b. Dor abdominal ou pélvica inespecífica
c. Ascite
d. Caput medusae
e. Adenomegalia (linfonodo Maria-Jose, linfonodo supraclavicular, linfonodos inguinais)
e. Ao exame ginecológico:
a. Avaliar tamanho, bordos, mobilidade e localização dos ovários
Diagnóstico
Realizado usualmente em estágios mais avançados da doença devido aos tumores não apresentarem exames de rastreamento e sintomas específicos. Nesse cenário, quando suspeita de tumor de ovário, os exames complementares são de fundamental importância. Entre eles, podemos citar:
a. Marcadores tumorais: CA 125, HE 4, e OVA1
b. Exames de imagem
i. US transvaginal
· Achados benignos
o Unilateral
o Paredes finas
o Sem elementos sólidos ou papilares
o Ausência de ascite
· Achados malignos
o Tamanho > 4 a 6 cm
o Volume ovariano > 10 cm³ na pós-menopausa e > 20 cm³ na pré-menopausa
o Septações espeças (> 3 mm)
o Multiloculares/complexos (sólido-cístico)
o Nódulo sólido com realce
o Projeções papilares
o Fluxo sanguíneo intramural
o Ascite
o Invasão uterina
o Espessamento peritoneal/carcinomatose
ii. RNM pelve
· Melhor avaliação dos componentes anexiais
o Septos
o Elementos sólidos
o Projeções papilares
o Densidade dos tecidos em T2
iii. TC
· Utilizada para complementar o estadiamento (TC tórax e abdome superior) e avaliar a ressecabilidade (critérios de Bristow)
o Espessamento peritoneal
o Implantes peritoneais > 2 cm
o Comprometimento do mesentério > 2 cm
o Extensão ao omento maior, baço, estômago, omento menor
o Extensão do tumor na parede pélvica, paramétrio
o Hidronefrose
o Ascite volumosa
o Adenomegalia supra e infra-renal
o Envolvimento do diafragma
o Doença do cana inguinal
o Doença hepática > 2 cm
o Doença da porta hepatis/vesícula biliar
iv. PET-CT
· Avaliação de doença retroperitoneal
Estadiamento
O estadiamento clínico do tumor de ovário, pode assim ser resumido:
Estadio I: limitado ao ovário
Ia: 1 ovário, cápsula intacta
Ib: 2 ovários, cápsula intacta
Ic: com comprometimento da cápsula ou superfície ovariana; ruptura ou citologia positiva (lavado/líquido peritoneal)
Ic1: rotura cirúrgica
Ic2: cápsula rota previamente a cirurgia ou comprometimento da superfície
Ic3: citologia positiva
Estadio II: extensão pélvica
IIa: útero e/ou trompas
IIb: outros tecidos pélvicos
IIc: ruptura ou citologia positiva (lavado/líquido peritoneal)
Estadio III:comprometimento além da pelve
IIIa: limitado a pélvis, mas com doença microscópica peritoneal, linfonodos negativos
IIIb: implante peritoneal < 2 cm, linfonodos negativos
IIIc: implante peritoneal > 2cm, linfonodos positivos (pélvicos e/ou retroperitoneais)
Estadio IV: metástase a distância
IVa: derrame pleural
IVb: doença parenquimatosa hepática/esplênica, doença extra-abdominal
Tratamento
Antes de começar a discutir sobre o tratamento, existem algumas definições importantes:
· Citorredução primária: Laparotomia inicial para estabelecimento do diagnóstico e tentativa de debulking máximo
· Citorredução de intervalo: citorredução após biópsia ou citorredução primária subótima seguida de Qt
· Citorredução secundária: Recorrência após 6 meses do término do tratamento.
O tratamento do câncer de ovário tem como objetivo a erradicação completa (citorredução) de todos os focos tumorais. Para avaliar a ressecabilidade, atualmente utilizamos o escore de Fagotti:
· Ometal cake/envolvimento do omento até o estômago – 2 pontos
· Carcinomatose peritoneal (padrão miliar) – 2 pontos
· Carcinomatose diafragmática (padrão disseminado ou confluente) – 2 pontos
· Retração mesentérica – 2 pontos
· Infiltração do estômago (parede) – 2 pontos
· Metástase hepática – 2 pontos
Interpretação:
Se escore < 8 pontos, a doença é ressecável e a citorredução primária deve ser a escolha de tratamento. Caso escore entre 8 e 12, deve ser avaliado para neoadjuvância. Maior do que 12, a doença é irressecável do ponto de vista cirúrgico.
Caso a paciente seja indicada para a citorredução, alguns princípios cirúrgicos devem ser seguidos:
· inspeção e palpação cuidadosa da cavidade peritoneal (diafragma, goteiras parieto-cólicas, bexiga e fundo de saco)
· lavado peritoneal (pelve e diafragma)
· Ressecção do ovário acometido
o Pacientes jovens e selecionadas (Ca ovário em estadio inicial ou TU boderline), pode ser considerado a preservação do ovário contralateral e útero
· Evitar a ruptura da massa ovariana
· Realizar omentectomia
· Linfadenectomia pélvica e paraaórtica, se tumores mais avançados, com carcinomatose por exemplo, só deve ser realizada a exérese dos linfonodos macroscomicamente comprometidos
· Apendicectomia, se suspeita de mucinoso
Quanto a neoadjuvância, ela é realizada com 3 ou 4 ciclos pré-operatórios, seguidos de mais 3 ou 4 ciclos adjuvantes, sendo indicada:
· carga tumoral extensiva
· ascite
· KPS baixo
· múltiplas comorbidades
· obesidade
· idosos
· Fagotti entre 8 e 12