“Quando eu era mais jovem, sempre me perguntava: Quem sou eu? O que quero? Mas essas perguntas realmente não tinham ressonância no contexto no qual me encontrava... Até que cheguei a este colégio. Aqui me desafiaram a enfrentá-las e aprofundar-me nelas. [...] A maior provocação é a realidade da pobreza e da injustiça. Eu gostaria de fazer algo para mudá-la. [...] Ainda não tenho respostas e não posso garantir que algum dia as tenha; mas trato de escutar muito, e o que posso dizer com certeza é: ‘Sou uma vocação, sou uma missão"5.
Nos dias de hoje, muitos jovens e adultos se fazem as mesmas perguntas e não podem encontrar os espaços para examiná-las e aprofundar-se nelas. As perguntas provêm do seu ser mais profundo, como movimentos internos que muitas vezes não sabem interpretar ou até reconhecer. O sofrimento, a pobreza e as circunstâncias que ameaçam a vida suscitam a necessidade de escutar: de escutar a si mesmos, a Deus e aos demais. Todos e cada qual necessitam de um acompanhamento que lhes ofereça as ferramentas para passar desses movimentos internos à confiança duma vocação cheia de fé. Acreditamos firmemente que uma reflexão sobre a “cultura vocacional” pode responder a essa necessidade, e também nos ajudará a nos deslocar pessoal e institucionalmente ao “quarto terreno” mencionado no capítulo anterior.
Entendemos a “cultura vocacional” como um meio social, um “húmus”, um ambiente criado pelos membros de uma comunidade e/ou uma obra educativa que promove a concepção da vida humana como vocação6. É um ambiente que permite a cada indivíduo, seja uma pessoa de fé ou não crente, a entrar num processo onde um sentido de significado lhes permite descobrir sua paixão e objetivos na vida. Assumir uma cultura assim exige uma verdadeira conversão, uma mudança de atitude, tanto na mentalidade como na prática. Não é suficiente continuar fazendo o que estivemos fazendo e agora chamamos de “cultura vocacional”. Esse será nosso foco para este capítulo.
5 Um jovem em discernimento.
6 SIERRA, J. Vinde e vede. Ideias chaves para promover uma “Cultura Vocacional”. Madri: Instituto de Teologia da Vida Religiosa. Universidade de Salamanca, 2015, p. 8.