Quando chegue o momento de distinguir cada terreno e ajudar a prepará-lo para receber a semente, será necessário considerar como esses jovens se situam frente à dimensão religiosa, especificamente em relação ao cristianismo católico. E, assim, a categorização que segue pode nos ajudar:
- Jovens que vivem e têm saudades do tradicional.
- Jovens indiferentes ou sem atração para o religioso.
- Jovens em busca do espiritual.
JOVENS QUE VIVEM E TÊM SAUDADES DO TRADICIONAL
1. Jovens com um histórico religioso sociológico por influência e não por escolha pessoal; isso é mais presente em sociedades onde o catolicismo impregna toda a cultura.
2. Valorizam e necessitam de aspectos externos que lhes dão segurança: hierarquia, patriarcado, clareza doutrinal, pureza na liturgia. Estão mais preocupados pelas formas externas do que pelo conteúdo ou pela mensagem.
3. São uma minoria nas sociedades mais secularizadas. Se não evoluem, podem fazer de sua religiosidade um refúgio que, na melhor das hipóteses, logo lhes ficará pequeno e do qual terão que sair.
4. Educados em famílias mais tradicionais, gostam das formas externas da vida religiosa do Irmão: o hábito, o protagonismo do religioso frente ao leigo, a presença em postos de direção.
5. Pouca sensibilidade à dimensão social da fé; motivados mais pela salvação pessoal.
6. Está presente a tentação de cair no fundamentalismo ou no tradicionalismo.
O acompanhamento nesse contexto supõe acolher o jovem e convidá-lo a um processo de desenvolvimento pessoal da fé, conectando-o com a essência do Evangelho, ajudando-o a descobrir o valor da justiça e da solidariedade na prática religiosa e a necessidade de inculturar a fé além das formas históricas.
JOVENS INDIFERENTES OU SEM ATRAÇÃO PARA O RELIGIOSO
1. São jovens indiferentes. Não sentem a necessidade do espiritual nem falam sobre religião.
2. Podem ter antecedentes religiosos, mas não praticam e vivem sem pontos de referência religiosos.
3. Alguns são batizados, mas sua fé não evoluiu nem amadureceu. Outros nunca receberam uma mensagem coerente ou não participaram num processo pastoral de acompanhamento.
4. Esses são a maioria dos jovens nas sociedades pós-industriais. Encontram-se cada vez mais nas sociedades em desenvolvimento.
5. Alguns desses jovens se tornam mais avessos, inflexíveis e agressivos para qualquer coisa que cheire à religião e podem chegar a rejeitá-la publicamente. E o fazem sem terem critérios razoáveis, motivo pelo qual é difícil estabelecer um diálogo com eles.
6. Alguns viveram experiências pessoais ou sociais negativas, que influem em sua rejeição ao religioso.
7. Outros são indiferentes porque não tiveram experiências profundas nas quais pudessem encontrar-se com Deus. Existe um grande potencial neles.
8. Em geral, consideram a vida religiosa como uma relíquia, os restos dum tempo antigo e obsoleto. Podem identificar-se com a missão do Irmão, mas questionam a finalidade da consagração.
O acompanhamento a esse tipo de jovens significa ajudá-los a curar as feridas do passado, desconstruir as ideias irracionais ou pouco discutidas com as quais se aproximam do religioso, e priorizar o envolvimento na missão antes de abordar a formação religiosa. Em todos os casos, aproximá-los a experiências significativas de espiritualidade, fraternidade e serviço.
JOVENS EM BUSCA DO ESPIRITUAL
1. São jovens que estão mais abertos ao “espiritual” que ao “religioso”, e estão mais inclinados ao “místico” que ao “litúrgico”.
2. A busca de significado, não de refúgio, os abre ao Evangelho.
3. Questionam a perspectiva materialista e pragmática do modelo de desenvolvimento das sociedades.
4. São uma minoria. Mas a tendência aponta para um despertar religioso.
5. Podem sentir-se atraídos e pegos por seitas ou movimentos gnósticos.
6. Colaboram e participam com a Igreja local sempre que se lhes ofereça espaço e atenção. Buscam uma Igreja que seja “menos institucional e mais relacional”.
7. Estão abertos a questionar sua vocação, inclusive quando a vida religiosa não é a primeira opção.
8. É possível que seu itinerário já os tenha aproximado do carisma lassalista e lhes tenha proporcionado experiências significativas de comunidade e missão. São capazes de identificar-se com o carisma lassalista.
O acompanhamento desses jovens supõe oferecer-lhes experiências de pertença a comunidades de fé adultas, formação para evitar a tentação de uma “religião como uma lista de cardápio” e oportunidades profundas na missão com os mais necessitados que lhes permitam crescer com um sentido de realismo espiritual.
Este primeiro capítulo nos convidou a analisar de forma crítica a realidade vocacional com o objetivo de descobrir e interpretar os sinais dos tempos. Não podemos viver do passado, e sim, nas palavras do Papa Francisco, devemos “frequentar o futuro”. Nos capítulos seguintes, ofereceremos uma visão animadora, enfoques cheios de esperança e caminhos vocacionais concretos que nutrirão a entrega de si mesmo.