Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica
Impactar e transformar a realidade social é um dos grandes objetivos da expressiva expansão e interiorização ocorrida pela criação dos Institutos Federais e pela consolidação da rede federal de educação profissional e tecnológica. O IFFar tem no impacto e transformação social como um dos princípios norteadores dentro dos objetivos e diretrizes da extensão, ao considerar junto ao PDI 2019-2026 da instituição que:
"Este princípio firma a Extensão como o mecanismo por meio do qual se estabelece a inter-relação com os outros setores da sociedade, com vista a uma atuação transformadora, voltada para os interesses e necessidades da maioria da população e mediadora do desenvolvimento social, econômico e cultural."
IFFar, 2019, p.63
Há aqui, na avaliação dos projetos, uma inversão de valores com relação as categorias anteriores, pois são poucos projetos que deixam explícitas preocupações de alta relação com o impacto na transformação social, deixando evidenciado uma prática de ações extensionistas de retribuição à sociedade através da prestação de serviços.
Pacheco (2015) afirma que a criação dos IFs na forma que foram concebidos e construídos tornam-se como instituições únicas, pois possibilitam, entre outras características próprias, a da verticalização de diferentes níveis e a formação integral do aluno, como sujeito crítico e emancipado capaz de compreender a realidade de que é nativo, aprender e produzir novos conhecimentos relacionados a esta realidade, a fim de transformá-la.
Através das entrevistas se ratifica a dificuldade de evidenciar a preocupação no impacto e transformação da realidade no sentido de quebra de paradigmas hegemônicos, com discursos mais voltados para o sentido de “consciência pesada”, como nos afirma Dagnino, em que pesa uma responsabilidade da instituição em retribuir à sociedade o valor investido por ela na forma de auxílios técnicos e instrumentais, num movimento de responder às demandas levantadas pela sociedade na busca de resolver problemas pré-estabelecidos e não no intuito de problematizar essa realidade.
Indiretamente, essa postura pode ser verificada quando a/o coordenadora/coordenador propõe a postura de dialogicidade, mas coloca-se em uma ação antidialógica ao se posicionar como agente de mudança, no movimento de objetificar o sujeito e não desenvolver com e sim para ele essa mudança.
"No momento em que um assistente social, por exemplo, se reconhece como “o agente da mudança”, dificilmente perceberá esta obviedade: que, se seu empenho é realmente educativo-libertador, os homens com quem trabalha não podem ser objetos de sua ação. São, ao contrário, tão agentes da mudança quanto ele. A não ser assim, ao vivenciar o sentido da frase, não fará outra coisa senão conduzir, manipular, domesticar. E, se reconhece os demais como agentes da mudança, tanto quanto ele próprio, já não é o agente desta e a frase perde seu sentido."
FREIRE, 2013, p.34
De forma mais direta, ainda, pode-se verificar esta postura de verticalidade de resposta à sociedade quando uma/um das/dos coordenadoras/coordenadores falam em da extensão como dever da instituição pública e da posição de levar para esta comunidade, na forma de auxílio, seus conhecimentos, no sentido de quem faz algo por obrigação, por consciência pesada apontada por Dagnino (2010), e que, nas palavras de Freire (2013), se coloca em uma postura de quem sabe, de quem estende seus conhecimentos e técnicas, de maneira mecanicista, a quem não sabe e que recebe pacientemente o conhecimento levado e transferido pelo outro.
Esta ação ofertista pode ser verificada, ainda, quando uma/um coordenadora/coordenador se posiciona no sentido de quem leva o conhecimento científico, visto como essencial, para fora da instituição no movimento de contribuir com aqueles que mais precisam deste conhecimento, ou nas palavras de Freire (2013, p.13), “a necessidade que sentem aqueles que a fazem de ir até a “outra parte do mundo”, considerada inferior, para, à sua maneira, normalizá-la”.
Pacheco (2015, p.19) afirma que o desenvolvimento local e regional constitui uma das finalidades dos Institutos Federais de Educação e que “Esse caminho passa necessariamente por uma educação que possibilite ao indivíduo o desenvolvimento de sua capacidade de gerar conhecimentos a partir de uma prática interativa com a realidade”, indo ao encontro do que Freire (2013, p.46) cita “Não são as técnicas, mas sim a conjugação de homens e instrumentos o que transforma uma sociedade.”, colocando o sujeito aluno como sujeito ativo neste processo, tornando real e necessário uma efetiva participação e envolvimento em todas as etapas e dimensões.
...buscamos dialogar neste texto sobre as contribuições da extensão na formação de sujeitos críticos e autônomos capazes de problematizar e promover políticas de inclusão e transformação social e não apenas de prestação de serviços e resolução de problemas pré-concebidos na busca pela acomodação desta realidade.
Qual o papel do ensino, da pesquisa e da extensão em um processo de inclusão e transformação social?
CAMBRAIA, A. C. ; ZANON, L. B. Formação docente: recriação da prática curricular no ensino superior. Curitiba; Appris, 2019.
GADOTTI, Moacir. Extensão universitária: para quê?. Instituto Paulo Freire, São Paulo - SP, 15 fev. 2017. Disponível em: <http://www.paulofreire.org/noticias/557-extensao-universitaria-para-que>. Acesso em: 13 ago 2020.
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA - IFFAR. Plano de Desenvolvimento Institucional do Instituto Federal Farroupilha 2019-2026. Santa Maria - RS, 2019. Disponível em <https://www.iffarroupilha.edu.br/documentos-do-pdi/item/13876-pdi-2019-2026> Acesso em: 17 nov 2019.
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SCHOR, I.; FREIRE, P. Medo e Ousadia - o cotidiano do professor. Traduzido por: Adriana Lopez. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
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