Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica
A realidade se mostra ou se constitui de forma integral, como única e ao mesmo tempo complexa e multifacetada, não havendo compartimentos isolados e específicos para cada setor ou ramo da sociedade, se constituindo de diferentes interações e possibilidades, envolvendo inúmeros conceitos e profissionalidades. Entender esta realidade no processo educativo obriga o sujeito, enquanto ser educador, a quebrar o paradigma de “encaixotar” estes diferentes aspectos e conhecimentos em disciplinas que não façam a transposição do específico para o global, bem como da sala de aula para a realidade.
Para Ceccim (2018, p.1740), embora interprofissionalidade sugira a integração e a ação coletiva de diferentes saberes e, em muitos casos, possa ser facilmente confundida com interdisciplinaridade, ambos são conceitos distintos, visto que “disciplina é domínio de conhecimento, profissão é habilitação de exercício ocupacional”.
"Nos saberes interdisciplinares, estão os conhecimentos provenientes de várias ciências, os conhecimentos populares e os conhecimentos tácitos. Nas competências interprofissionais, as habilidades sistematizadas em profissões, os fazeres organizados em aptidões profissionais. Quanto mais se trabalha em equipe, mais se pode compartilhar dos saberes uns dos outros, ampliando-se o arsenal de competências e a capacidade de resposta. Quanto mais se trabalha isoladamente, mais se precisa saber individualmente dos saberes dos outros e maior o risco de erro ou prática insegura"
CECCIM, 2018, p.1741
De acordo com o PDI 2019-2026, os termos interdisciplinaridade e interprofissionalidade, embora com concepções distintas, são elencadas em conjunto, dando origem a um único princípio dentro dos objetivos e diretrizes da extensão do IFFar, conforme segue:
"Este princípio busca combinar a especialização, característica dos processos de formação profissional, com a consideração de que a vivência e as questões abordadas em comunidades e outros grupos sociais são complexas, assim como os 60 objetivos e objetos das ações de Extensão desenvolvidas em função destes setores da sociedade. Esta complexidade exige uma visão holista na integração de especialidades para a realização de ações extensionistas, o que pode ser materializado pela interação de conceitos e modelos provenientes de várias disciplinas e áreas do conhecimento em busca de uma consistência, tanto teórica como operacional, de que a efetividade destas ações depende."
IFFar, 2019, p.63
Em Cambraia e Zanon 2019, os autores destacam três categorias para que ocorra uma formação integrada: Interdisciplinaridade, Projeto integrador com abordagem temática e o currículo integrado e asseveram que a concretização da formação integrada exige espaços de planejamento colaborativo para que o currículo integrado saia do papel e constitua um pensar/fazer docente.
Na grande maioria dos projetos analisados é possível verificar a escolha de temas que permitem inúmeras aproximações e combinações de diferentes conceitos desenvolvidos em diferentes disciplinas e a possibilidade de discussão de diferentes técnicas das mais variadas áreas profissionais.
Tal como nos alerta Gadotti (2017, p.10), há que se considerar a polissemia da extensão, de caráter interprofissional e interdisciplinar, a fim de “incorporar nos currículos a lógica da extensão que possibilita o diálogo entre os saberes e conhecimentos disciplinares dos cursos universitários e as questões mais amplas que permeiam a sociedade”.
A partir das entrevistas, pode-se verificar traços importantes de relacionamentos entre diversas áreas do saber e diversas profissionalidades, e a importância destas ações extensionistas serem planejadas de forma integral e não fragmentada, pensadas a partir dos documentos e das práticas da instituição. Fazenda (2008, p.97) nos reafirma sobre a importância de que ao falar de interdisciplinaridade requer falar sobre o todo e que “falar de interdisciplinaridade escolar, curricular, pedagógica ou didática requer uma profunda imersão nos conceitos de escola, currículo ou didática”.
Outro aspecto que parece fundamental para efetivação destas relações é o entendimento de que ações extensionistas propõe a necessidade de ações coletivas entre estas diferentes áreas e sujeitos, e da troca de experiência, relações essas que decorrem, conforme Frigotto (2008, p.43), “da própria forma do homem produzir-se enquanto ser social e enquanto sujeito e objeto do conhecimento social” e na “busca incessante de de satisfazer suas múltiplas e sempre históricas necessidades de natureza biológica, intelectual, cultural, afetiva e estética”.
Ainda, vale ressaltar a participação de diferentes profissionais em uma perspectiva de criar um elo de ligação entre os diferentes públicos, dando ao caráter interprofissional uma maior importância, estabelecendo um elo de interação dialógica entre quem propõe as ações extensionistas e a comunidade.
As diferentes e inúmeras possibilidades de interações e diálogos entre as mais variadas disciplinas e profissionalidades não só permitem a transversalidade de temas, como ampliam a possibilidade de um processo contínuo e real de indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão.
...buscamos dialogar neste texto sobre os conceitos de interdisciplinaridade e interprofissionalidade e a importância da conjectura desta miscelânea de diferentes saberes e profissões para compreender o mundo, problematizá-lo, inserir-se e iniciar transformações.
Como a articulação das diferentes áreas de conhecimento e das diferentes profissionalidades podem contribuir para a visão do mundo concreto e integral?
CAMBRAIA, A. C. ; ZANON, L. B. Formação docente: recriação da prática curricular no ensino superior. Curitiba; Appris, 2019.
GADOTTI, Moacir. Extensão universitária: para quê?. Instituto Paulo Freire, São Paulo - SP, 15 fev. 2017. Disponível em: <http://www.paulofreire.org/noticias/557-extensao-universitaria-para-que>. Acesso em: 13 ago 2020.
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA - IFFAR. Plano de Desenvolvimento Institucional do Instituto Federal Farroupilha 2019-2026. Santa Maria - RS, 2019. Disponível em <https://www.iffarroupilha.edu.br/documentos-do-pdi/item/13876-pdi-2019-2026> Acesso em: 17 nov 2019.
SANTOS, B. S. Introdução a uma ciência pós-moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
SCHOR, I.; FREIRE, P. Medo e Ousadia - o cotidiano do professor. Traduzido por: Adriana Lopez. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
SERRANO, R. M. S. M. Conceitos de extensão universitária: um diálogo com Paulo Freire. Grupo de Pesquisa em Extensão Popular, v. 13, n. 8, 2013.