Antepassados Goelzer e Morsch
Da Alemanha para o Rio Grande
Da Alemanha para o Rio Grande
Lucio Morsch Goelzer
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1 Os protagonistas
Meus tataravós Johann Jacob Gölzer, bisavós Johann Jacob Gölzer e Guilherme Morsch, avós Fernando Goelzer e Ernesto Morsch e pai Mario Goelzer e as respectivas esposas. No passado o foco era muito centrado nas conquistas dos homens mas ao lado de cada um tinha a dedicação e o apoio de sua esposa.
Um aspecto que aproxima meus bisavós é terem partido na mesma época, com idades próximas, da mesma região de origem, com o mesmo destino, acabando na mesma cidade e unindo as duas famílias no casamento de Otilia Morsch e Mario Goelzer.
Uma diferença é que Guilherme Morsch viajou sozinho enquanto Johann Jacob Gölzer viajou com seu pai que tem o mesmo nome (Johann Jacob Gölzer). Para distinguir os dois Jacob nesta história, vamos chamar meu tataravô de "Jacob pai" e meu bisavô de "Jacob filho".
Os Goelzer partiram de Lötzbeuren e os Morsch de Birkenfeld. As duas localidades se encontram na região do Palatinado Renano (no Estado da Renânia-Palatinado). A distância de Lötzbeuren à Birkenfeld é de 40km.
2. Johann Jacob Gölzer
Devo um agradecimento especial ao parente Gilberto Ceratti, conhecido de todos da família Goelzer, pelas contribuições para esta parte do texto. Toda a família Goelzer aprecia o esfôrço contínuo de Gilberto no desenvolvimento da nossa genealogia.
Este item da história era para se concentrar em meu bisavô Johann Jacob Gölzer (Jacob filho), mas é difícil separar sua história da história de seu pai e do irmão gêmeo de seu pai.
O livro de Peter Schössler - "Familienbuch Lötzbeuren (Hunsrück) 1650-1850" mostra no item 188 o seguinte (abaixo à direita):
O livro pode ser comprado na Alemanha:
https://www.wgff-shop.de/monografien/orts-familienbuecher/41/familienbuch-loetzbeuren
O Brasil estava procurando colonos para uma região do Rio Grande do Sul com características geográficas comparáveis às de Hunsrück. O governo da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul contratou Peter Kleudgen para trazer 2000 alemães para a colônia de Santa Cruz. Muitos que queriam vir não tinham condições para pagar as passagens. O governo oferecia lotes de terra, ferramentas, sementes e dinheiro que deveriam começar a ser reembolsados após cinco anos. A situação econômica não estava muito boa na Alemanha e muitos estavam migrando, principalmente para os Estados Unidos.
Na segunda metade de 1852 Peter Kleudgen organizou três viagens de Hamburgo a Rio Grande. Os dois irmãos gêmeos, Johann Jacob Gölzer (Jacob pai) e Johann Peter Gölzer, vieram para o Brasil em duas destas viagens, pois, com a devida precaução, decidiram viajar em navios diferentes.
Como Johann Peter partiu primeiro vamos começar com sua viagem.
No dia 24 de junho de 1852 Johann Peter partiu do porto de Hamburgo na escuna FORTUNA, acompanhado da esposa Maria Elisabetha Brach e quatro filhos de 3 a 14 anos.
Navio: FORTUNA (Hamburg) - "Escuna"
Capitão: Fred Pieper
Data do embarque: 24 de junho de 1852
Data da Chegada: desconhecida (talvez chegou um pouco antes da data de partida do irmão gêmeo)
A lista de passageiros pode ser interessante para consultas pelos descendentes dos outros passageiros.
Os filhos de Johann Peter Göelzer e Maria Elisabetha Brach, que viajaram junto, são:
Susanna Elisabetha Gölzer Pohl nasceu em 08/02/1838 e faleceu em 10/12/1892
Wilhelm (Guilherme) Gölzer nasceu em 04/10/1840 e faleceu em 04/12/1911
Peter (mais um Peter !) Gölzer nasceu em 23/10/1845
Jacob Gölzer (mais um Jacob !) nasceu em 21/04/1848 e faleceu em 20/07/1922
Fechado este parentesis com a viagem de Johann Peter, mencionado por ser irmão gêmeo de Jacob pai, vamos voltar a falar dos Jacob pai e filho que são os antepassados em linha direta.
O livro de Peter Schössler mostra no item 193 a relação de filhos de Jacob pai e Susanna Katharina Tatsch:
Os tataravós (Jacob pai) tiveram 11 filhos, 3 faleceram ainda pequenos. Dos 8 sobreviventes, a número 2 Susanna Katharina e a número 4 Anna Maria que já eram adultas em 1852 e permaneceram na Alemanha. O bisavô (Jacob filho) é o número 3.
Em 10 de setembro de 1852, partiu de Hambourg o navio "Hermine" que, entre outros, trouxe Johann Jacob Goelzer (Jacob pai), sua esposa e seis filhos. Quem organizou a viagem foi Peter Kleudgen. Em poder de um membro da família Goelzer foi encontrada a seguinte carta do próprio Kleudgen:
"Hamburgo, 5 de agosto de 1852.
Somente hoje chegou-me às mãos a sua carta de 30 de julho.
Dou assim em meu poder os 190 escudos (Rheinische Thaler) como fiança para 19 pessoas.
As passagens seguem inclusas para: 1.° Jacob Goelzer, com 6 pessoas adultas e 3 crianças; 2.° Jacob Brust com 4 adultos e 1 criança; 3.° Elisabeth Faller, com 2 adultos e 1 criança; 4.° Anna Hoffmann e 1 adulto; 5.° Nicolaus Just, com 1 adulto; 6.° Michael Haar, com 1 adulto; 7.° Philip Ihmig e 1 adulto. Total: 15 adultos e 4 menores. Se tivesse conseguido desembaraçar-se 8 dias antes, a estas horas já estaria com o navio "Mariana" em alto mar. Retive a viagem do navio até 28 de julho; maior delonga não foi possível. Antes, pois, de 27 ou 28 de agosto não conseguirá outra expedição, por mais que lhe deseje ser agradável, pois sei de própria experiência que, quando as malas estão prontas, existe o desejo impaciente de seguir o quanto antes, etc. Aconselhando ainda não carregar peso demais, entre outras considerações sem importância para o caso presente, termo assinando
— Peter Kleudgen".
Navio: HERMINE (Oldenburg)
Capitão: Cornelius
Data do embarque: 10 de setembro de 1852
Data da Chegada: 12 de dezembro de 1852 (estimativa pois dias depois, em 19 de dezembro, chegam a Porto Alegre); viagem de 3 meses !
O navio Louise und Emilie, da viagem seguinte de Hamburgo a Rio Grande, organizada pelo mesmo Peter Kleudgen, e que partiu dois meses depois, naufragou no Canal da Mancha em 27/11/1852, perecendo 36 dos 72 passageiros; os sobreviventes seguiram para o Brasil a bordo do barco Bremen SAUSER.
Esse naufrágio mostra que foi acertada a decisão dos gêmeos Johann Peter e Johann Jacob de viajarem em navios diferentes.
O barco HERMINE, uma escuna do tipo "galliot" (barcos com proa e popa arredondados, com fundos relativamente planos, dois mastros com um principal) foi construído em Elsfleth em 1851. Era um barco novo quando da travessia até o porto de Rio Grande. Em fevereiro de 1856, Cornelius (comandante da travessia que trouxe Jacob e sua família) vendeu o barco que foi rebatizado com o nome JULIUS. Dimensões: 24,3m x 5,6m x 3m (comprimento x largura x calado). Difícil imaginar 53 passageiros mais a tripulação viajando tanto tempo num barco tão pequeno.
O jornal "Der Kolonist" (jornal em alemão que durou pouco tempo em Porto Alegre) descreve a chegada em Porto Alegre dos colonos que fizeram a travessia no navio Hermine até o porto de Rio Grande.
"Na noite de 19 de dezembro, aqui ancorou o vapor "Comércio", vindo da cidade do Rio Grande, trazendo 52 colonos chegados há poucos dias naquela cidade. Encaminhados por Peter Kleudgen, zarparam de Hamburgo em setembro com o navio "Hermine", comandado pelo Capitão Cornelius. A viagem decorreu acidentada, com vendavais e tempestades, atrasando grandemente o curso do navio. Entretanto, todos os passageiros encontravam-se bem dispostos e com boa saúde, para o que contribuiu a excelente cozinha e o tratamento em geral.
Os recém chegados procedem em sua maioria de Renânia e do Mosela, tendo seguido já pelo vapor a Rio Pardo, com baldeação para a Colônia de Santa Cruz. Acreditamos que tenham sido tomadas as medidas para que, de acordo com as condições vigentes, possam receber os lotes coloniais a eles destinados, sem maiores delongas. Que não se repita o caso da última leva, da qual alguns se viram forçados a pernoitar na mata virgem e ali mesmo armar barracas e agasalhos, por falta de medição ou qualquer providência para o alojamento, contrariamente ao que havíamos lido no relatório do diretor da colônia, sr. Buff, relatório esse feito ao governo provincial, no qual se afirmava o contrário (picadas abertas, colônias loteadas e demarcadas, etc.) Não compreendemos como possam ter surgido tais disparates. Agora, com a presença do engenheiro civil, o sr. Normann, cremos que tudo seja resolvido."
Existe uma ampla literatura cobrindo a imigração de europeus para o Brasil no Século XIX. Um resumo interessante é apresentado no artigo http://mluther.org.br/imigracao/imigracao_ii.htm de Egídio Weissheimer.
Outro trabalho interessante e muito detalhado é do francês Jean Roche: La colonisation allemande et le Rio grande do Sul - Éditions de l’IHEAL (openedition.org) O acesso ao livro é aberto.
O artigo de Weissheimer descreve as condições difíceis durante as viagens de emigração e ilustra o que ocorreu com a imigração suíça:
“Os suíços que haviam chegado ao Brasil em 1819, oriundos de Freiburg e que aqui se instalaram em Nova Friburgo, tiveram uma viagem desastrosa. Por falta de organização aguardaram por 2 meses o embarque no porto da Holanda. Mal instalados ali mesmo enterraram 43 emigrantes. Os 2.018 montanheses arrebanhados por campos e aldeias atravessaram o Atlântico espremidos em 7 barcos. Um dos barcos, o Urânia, em que embarcaram 437 passageiros, devido a uma epidemia, marcou sua rota marítima com um rastro de 107 corpos. Mais de 1 cadáver por dia. Um quarto dos passageiros foram lançados do tombadilho. No Rio de Janeiro houve outra mortandade em decorrência de febres tropicais. Ao todo, de uma Friburgo à outra, a velha na Suíça e a nova no Rio, somaram-se 389 baixas. Dos 2.018 colonos que saíram chegaram apenas 1.631, índice de mortandade parecido com o dos navios negreiros!”
Um artigo em português descreve com muito detalhe a epopéia dramática desta emigração: "4 de julho de 1819, adeus pátria" https://www.swissinfo.ch/por/4-de-julho-de-1819--adeus-p%C3%A1tria/875204
Partida precedida de Missa solene, rufar de tambores, 6 mil espectadores, o bispo abençoando essa cruzada de camponeses que compara aos heróis do êxodo, o coro dos emigrantes cantando o " magnificat ", os tiros de fuzis, o ribombar dos canhões e depois uma grande tragédia.
Voltando a falar dos Jacobs, os seis filhos que acompanharam Jacob pai e sua esposa Susanna Katharina Tatsch são:
Meu bisavô Johann Jacob Göelzer ("Jacob filho") nasceu em 25/12/1831 em Lötzbeuren. Ele é o filho de 20 anos mencionado na lista de passageiros do Hermine.
Peter Gölzer (outro Peter !) nasceu em 06/01/1836 e faleceu em 12/02/1916; casou com Ana Elisa Brust
Christian Gölzer nasceu em 17/12/1838 e faleceu em 08/04/1927 com 88 anos; casou com Wilhelmina Christmann
Wilhelm Gölzer nasceu em 08/02/1841, faleceu em 04/12/1911 em Livramento, RS
Karl Gölzer nasceu em 12/01/1847 e faleceu em 11/01/1916
Susanna Elisabetha Gölzer nasceu em 31/03/1849 (é a filha de 3 anos mencionada na lista)
Jacob pai, que chegou em Porto Alegre em 19/12/1852, recebeu a Colônia Número 24 na Linha Rio Pardinho. Mais tarde ele comprou mais duas colônias na linha Travessa (de números 24 e 25) de Peter Kleudgen (este senhor organizou a viagem de vários navios e agora negocia colônias !). No total as terras de Jacob pai totalizavam em torno de 150 hectares.
A ZeroHora publicou uma reportagem "Um passeio pela imigração na Rota Germânica Rio Pardinho". Eu recomendo esta reportagem pois é muito interessante com muitos detalhes. Tem fotos de muitas casas no estilo germânico e de pratos típicos como o Eisbein (joelho de porco).
Exemplo de casas retratadas na reportagem:
Jacob pai (meu tataravô) faleceu no dia 07/11/1865. Inspecionava, a cavalo, a lavoura da colônia 24. Num declive o cavalo caiu e, ao cair, o cavalo esperneou e acertou um coice na cabeça de Jacob. Foi sepultado no mesmo local do acidente, dando origem ao cemitério dos Goelzer no alto da colina desta colônia.
Agradecimento a Edmund Goelzer, Evilasio Goelzer, Jorge Goelzer e Gilberto Ceratti por história, tradução e foto.
Voltamos ao Jacob filho. Ele casou com Maria Elisabetha Weirich Gölzer em 1857 em Rio Pardinho, Santa Cruz do Sul. Maria Elisabetha nasceu em 17/08/1825 em Hirschfeld, Alemanha. Ela faleceu em 17/12/1902 na Sesmaria do Pinhal, Candelária.
O casal teve quatro filhos:
Christian Goelzer nasceu em 17/06/1858 em Rio Pardinho, Santa Cruz do Sul. Ele faleceu em 27/12/1942 na Sesmaria do Pinhal, Candelária. Christian casou com Caroline Herber.
Fernando (Carl Ferdinand) Goelzer nasceu em 07/10/1859 (meu avô)
Elize nasceu em 26 abril 1863 em Rio Pardinho, Santa Cruz do Sul. Elize casou com Ludwig Eckel.
Carlos (Karl) Goelzer Sobrinho nasceu em 27/04/1865 em Rio Pardinho. Carlos casou com Fausta de Araújo de Ortiz.
Jacob filho ficou uns tempos em Rio Pardinho. Depois ele se mudou para a Sesmaria de Botucaraí (ou Sesmaria do Cerro) e começou a trabalhar na agricultura. Descendentes trabalham lá com casas de comércio. A Sesmaria de Botucaraí fica perto do Cerro do Botucaraí. Este cerro, localizado em Candelária, tem 569,63m de altura e é um dos mais altos morros isolados do estado. Um artigo bem interessante: "Fotos e vídeos: uma aventura turística pelo Morro do Botucaraí". https://www.gaz.com.br/fotos-e-video-uma-aventura-turistica-pelo-morro-do-botucarai/
As terras do Jacob pai ficaram com o filho Peter, o segundo em idade dos 6 filhos. Peter continuou na agricultura e também abriu uma cervejaria e um bar, fechando ambos mais tarde.
Christian, o terceiro filho de Jacob pai, abriu um grande curtume em Candelária e seus filhos se tornaram homens de negócios em Porto Alegre e São Paulo. Casou com Louise Gräff. Christian foi um dos pioneiros fundadores de Candelária. Foi também fundador da Maçonaria em Candelária.
Christian foi participante ativo na construção da PARÓQUIA DA VILA GERMÂNIA. Para detalhes ver:
https://celc-candelaria.blogspot.com/p/nossa-histori.html
Christian faleceu em 1927 com 88 anos.
Wilhelm, o quarto filho, mudou para Livramento e morreu cedo.
Carl, o quinto filho, mudou para Candelária onde moram os filhos que tem uma fábrica de bebidas.
Susanna Elisabetha, sexta, casou com Peter Schmidt.
Quando a esposa Maria Elisabetha Weirich Gölzer faleceu em 17/12/1902, o marido Jacob publicou a seguinte nota de falecimento:
Nota de Falecimento e Agradecimento
No dia 17 de dezembro, às 8 horas da noite, após longo e pesado sofrimento, contudo suportado com paciência, faleceu nossa inesquecível esposa, mãe e avó Maria Elisabeth Gölzer, nascida Weirich, na avançada idade de mais de 77 anos, razão por que todos nós, amigos e parentes, nos sentimos profundamente consternados.
Ela era natural de Hirschfeld, na Prússia Renana, vindo em 1852 para Rio Pardinho, em 1867 aqui para Costa da Serra e esteve acamada, em virtude de uma paralisia, durante 6 anos, 7 meses e 29 dias. Ela deixa 1 filho de seu primeiro casamento (com Matthias Felber), e de seu segundo casamento, 3 filhos e 1 filha, assim como, ao todo, 31 netos.
Pelas muitas demonstrações de solidariedade durante sua prolongada doença e pela considerável presença em seu enterro, particularmente pela linda cantoria sob a direção do senhor professor Hausknecht, expressamos nosso sentido agradecimento.
Sesmaria do Pinhal do Botucarahy, 20 de dezembro de 1902
Em nome dos enlutados: o marido enlutado
Jacob Gölzer
[Nota LG: Agradeço o amigo e colega na Engenharia - Arno Blass - pela tradução da Nota de Falecimento.]
Jacob Goelzer ("Jacob filho") faleceu em 18/7/1918 na Sesmaria do Pinhal, Candelária, RS, com 86 anos.
Abaixo o registro de óbito no Livro de Óbitos da Igreja Evangélica Luterana de Candelária, RS.