Ícaro Pintor
DESENHOS e VIDEOINSTALAÇÃO
Palestra - 30 de maio - 14h15 - Auditório
DESENHOS e VIDEOINSTALAÇÃO
Palestra - 30 de maio - 14h15 - Auditório
EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL
DE 26 a 30 DE MAIO DE 2025
Galeria Isolino Vaz - Espaço Expositivo I
correspondências
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Na interseção entre o corpo e o espírito, onde a matéria se faz expressão do imaterial, nasce a arte que aqui se apresenta. "A Nova Caverna" não é apenas uma exposição de desenhos a carvão; é um convite para refletirmos sobre o lugar do homem na contemporaneidade, sobre o impacto da mudança paradigmática que o avanço tecnológico tem sobre a humanidade, e sobre a luz que emerge da sombra da experiência humana.
Os desenhos, cujos traços são densos e imersivos, revelam não só a potência do carvão, mas o próprio movimento do corpo. Aqui, o corpo não é um mero recipiente, mas o verdadeiro agente da transformação. Ele move-se e aprende, adapta-se, exprime-se. O carvão, como matéria prima e símbolo da transição, é o meio pelo qual o corpo imprime sua urgência, a sua força, e seu desejo de se revelar. O espírito, ao encontrar-se com o carvão, não busca a perfeição. Busca a expressão sem filtros, o gesto puro e instintivo, que não se submete à lógica da correção, mas manifesta-se na crueza do seu impulso.
O processo de criação nesta exposição é uma reflexão sobre o pensamento encarnado, sobre como ele se faz visível na matéria, como o espírito habita o corpo e o move para se comunicar com o mundo. Não é apenas uma representação do que é visto, mas uma tradução do que é vivido — do que está implícito na experiência de cada um, mas que ainda precisa manifestar-se.
Ao utilizar o carvão, esse material profundamente ligado à transformação, a exposição aproxima-se de artistas como William Kentridge, que, nas suas obras, utiliza o carvão como meio para questionar as dinâmicas políticas e sociais da contemporaneidade. Como Kentridge, as sombras e a luz em "A Nova Caverna" entrelaçam-se, questionando a condição humana diante de forças maiores, implacáveis e transformadoras. Não se trata apenas de traçar formas, mas de imergir nas densidades do presente, onde a sombra da nossa existência se mistura com os impulsos mais urgentes de nossa realidade digital e tecnológica.
Em paralelo, o conceito da alegoria da caverna de Platão é central para a compreensão da exposição. Se, na obra de Platão, os prisioneiros da caverna estão confinados à ilusão de sombras, hoje vemo-nos igualmente aprisionados nasnossas "cavernas digitais", criadas pela onipresença das tecnologias que moldam nossa percepção da realidade. A exposição, ao concentrar-se nas formas gráficas não corrigidas e na urgência do instinto, propõe um caminho de fuga, uma busca pela luz que emerge da escuridão do digital, da virtualidade e da alienação.
Referências como as de Toyin Ojih Odutola, que questiona as estruturas de poder e identidade através de desenhos que exploram o corpo humano nas suas múltiplas facetas, também reverberam neste espaço. Como a artista, busco, através do gesto gráfico, uma forma de resistência, uma afirmação da individualidade e do pensamento crítico em tempos de vigilância e controle.
A reflexão aprofunda-se quando nos deparamos com a questão da tecnologia e da violência digital, discutida por artistas como Robert Longo, que aborda a relação entre o corpo e a tecnologia nos seus desenhos de grande escala. "A Nova Caverna" também questiona o papel da máquina e dos mídia na nossa percepção do mundo, trazendo à tona a transformação radical do pensamento humano diante de uma realidade amplificada e, muitas vezes, manipulada pelas forças invisíveis da era digital.
Em cada traço, em cada forma sombria e penetrante, "A Nova Caverna" propõe uma experiência visceral de imersão na própria existência humana. Cada linha, embora repleta de urgência e instinto, carrega a busca por uma luz — uma luz que, aqui, não é apenas uma revelação, mas também uma transformação: o gesto de questionar, resistir e, finalmente, libertar-se das correntes da passividade, do controle e da sombra.
Esta exposição não é uma simples reflexão sobre a arte gráfica. É uma interrogação profunda sobre o que significa ser humano num mundo saturado de tecnologia, uma convocação para que olhemos não apenas para as sombras, mas também para a luz que está sempre presente, aguardando para ser descoberta.
Ícaro Pintor
Porto, 15/05/2025
Ícaro Pintor (aliás Vitor Pires)
Nasceu no Porto a 16 de Julho, de 1960.
Iniciou os seus estudos na escola superior de belas artes do Porto. Concluindo os estudos artísticos na Escola Nacional Superior de Belas Artes de Toulouse, obtendo aqui o DNSEP (Diplome National Supérieur d’Expression Plastique). Desde 1982 expõe o seu trabalho de pintura com regularidade, quer no país quer no estrangeiro ao mesmo tempo que desenvolve atividades noutras áreas artísticas. Alargou a sua atividade ao design de comunicação, ilustração, e cinema de animação tendo realizado o filme “Cicatriz” que recebeu o prémio Onda Curta RTP. Foi docente das cadeiras de desenho básico e desenho de representação na escola superior artística do Porto. Foi também professor de Expressão Gráfica do Curso de Cinema de Animação 2D3D (Escola Artística e Profissional Árvore). Tem também desenvolvido ações de formação na área do cinema de animação com Tânia Duarte e com Abi Feijó. Foi corealizador e formador no projeto de âmbito nacional “MIX REPÚBLICA”, para a MONSTRA ( festival internacional de cinema de animação de Lisboa) integrado nas comemorações do centenário da implantação da república , do qual resultaram 25 filmes animados. Colabora á vários anos com a Casa da Animação e com a associação cultural de Abrantes -Espalha fitas -(ANIMAIO), como realizador/formador de cinema de animação, junto da comunidade escolar. Tem visto o seu trabalho selecionado e premiado em festivais nacionais e internacionais, dos quais se destacam os filmes: “A Picada da Albertina” (Prémio Jovem Cineasta), “O Lagarteiro”(menção honrosa)“, e “Amigo do Peito”, também selecionado no Festival Caminhos do Cinema Português 2011), Animamundi 2012, Festival de Hamburgo 2012 e Festival TINDIRINDIS 2012, na Lituânia. Em 2013 ao longo do ano lectivo corealiza com Tânia Duarte e Vitor Hugo Rocha o filme “O’lhó Respeitinho”, nas totalidade escolas do primeiro ciclo do concelho de Espinho. Tendo este filmetambém sido selecionado pelo júri do Cinanima. Recentemente orientou e co-realizou com crianças/jovens, a curta de animação “ORCHIS MIRABILIS”, em Abrantes (Filme seleccionado para a competição do Prémio Jovem Cineasta Português (menor de18 anos),ao qual foi atribuido uma Menção Honrosa no CINANIMA 2014. Nos últimos anos tem desenvolvido o projecto performativo IFTING SPLIT.
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