O autor
Quem foi Manuel António Pina?
TAREFA INDIVIDUAL (leitura em sala de aula, execução como TPC, 2 semanas):
Ainda te lembras de como se escreve uma Biografia?
1. Consulta as hiperligações que selecionamos;
2. Redige uma biografia do Autor que não tenha mais do que 200 palavras;
3. Apresenta essa Biografia através de um pequeno filme criativo, utilizando a aplicação Animoto. (visitar | Tutorial)
Recursos sobre Manuel António Pina:
TAREFA A PAR (audição e produção em sala de aula):
Escuta a entrevista:
Clica na seta à direita e lê a sua transcrição:
[Excertos de Pessoal… e Transmissível, 12-05-2011, TSF] – 4:45 min
Carlos Vaz Marques – Manuel António Pina, 62 anos, poeta. Há alguma palavra que não caiba na sua poesia, Manuel António Pina?
Manuel António Pina – Perguntado assim, acho que não. Todas as palavras têm o seu lugar. Algumas, curiosamente, aparecem inesperadamente. Lembro-me de… até sou capaz de me lembrar da data. Em 1981, escrevi, pela primeira vez, num poema, fiz uma festa, na altura, a palavra “pétala”.
Incluí a palavra “pétala” e dei conta disso, porque era uma palavra… Portanto, às vezes aparece uma palavra que provoca um certo sobressalto,
porque tem um aspeto de novidade. A palavra “pétala” é uma palavra difícil, é muito difícil, problemática, porque tem um conjunto de conotações e
de referências em relação a um certo tipo de poesia que, provavelmente, não tem nenhuma familiaridade com a minha.
CVM – Cai facilmente no kitsch?
MAP – Exatamente. Talvez até por isso… porque, por vezes, é muito próxima. Anda lá… está associada.
CVM – E fez uma festa?
MAP – Não. É uma maneira de dizer. A certa altura ela caiu num poema, caiu com propriedade, digamos assim, sem escândalo. E eu falei disso muitas vezes a vários amigos. Olha, meti pela primeira vez a palavra “pétala”… Ainda me lembro disso. Era num poema que se chamava, portanto, o
poema é do livro chamado Nenhum sítio e o poema chama-se “No Rosto da Morte”. A palavra “pétala” aparece no último verso…
CVM – Sombra de uma sombra…
MAP – Coração, sombra de uma sombra, na pétala mais funda da noite.
CVM – Esta é uma palavra que nunca tinha usado?
MAP – Nem nunca voltei a usar. Outras provavelmente…
CVM – Há alguma que tem consciência de nunca ter usado? De ter recusado sempre?
MAP – Não, não. É provável que haja alguma que… Provavelmente eu não daria conta que nunca tinha usado esta palavra, “pétala”…
CVM – Mas daria conta de alguma que tivesse recusado?
MAP – Sim… Mas… assim, especificamente uma palavra, não tenho memória dela.
CVM – Pergunto-lhe isto porque dizia aqui há tempos que tem afetos com algumas palavras.
MAP – Sim, tenho com algumas.
CVM – Não tem desafetos com outras?
MAP – Não. Gosto de algumas, particularmente. Gosto da palavra “todavia”. Gosto muito, não sei porquê. Sempre gostei muito da palavra “todavia”. Acho que…
CVM – Diz que gosta muito de advérbios de modo?
MAP – Advérbios de modo. Uso muito advérbios de modo. Tenho… Até tenho receio de… Precipito-me frequentemente, lá estou, frequentemente, em advérbios de modo. Sobretudo advérbios de dúvida: “provavelmente”, o “talvez”… Uso muitos advérbios. Muitos de dúvida e muitos terminados em -mente.
CVM – Para exprimir a dúvida, justamente?
MAP – Justamente.
CVM – De que é que mais gosta, normalmente, nas palavras de que mais gosta?
MAP – Eu gosto, fundamentalmente… O problema da nossa relação com as palavras é um pouco como as pessoas. Porque é que se gosta de uma pessoa ou não gosta. Há uma espécie de empatia?
CVM – Há o som e o sentido?
MAP – O som e o sentido e qualquer coisa que está entre os dois. E, por exemplo…
CVM – E o que é que está entre os dois?
MAP – Aliás, o Paul Valéry define justamente a poesia como a hesitação permanente entre o som e o sentido.
CVM – Aquele indefinível peso da palavra…
MAP – Essa hesitação que existe entre as duas coisas e que o que existe é aquela parte do som que faz sentido e a parte do sentido que se perde no som.
CVM – Acontece-lhe frequentemente pensar nas palavras assim isoladas, assim nuas?
MAP – Sim, sim. Até porque tenho alguns poemas que partem de palavras. Acontece-me às vezes um poema partir duma palavra ou dum verso…
CVM – Escreve mais com palavras do que com ideias?
MAP – Eu acho que é assim que se escreve.
[…]
CVM – A sua atividade de muitos anos, como jornalista, valorizou ou desvalorizou essa relação com as palavras?
MAP – A minha… Sabe… Nós somos, nós não somos, vamos sendo, não é… E o facto de eu ter sido jornalista, naturalmente não é… Fui durante 30 anos e ainda continuo a ser, continuo a trabalhar em jornais, não é indiferente à minha poesia. Porque nós fazemos a poesia com tudo aquilo que somos. E também com o jornalismo. Mas, a relação do jornalismo com a poesia, para mim, teve sempre um aspeto dúplice. Por um lado, o jornalista aprendeu com o poeta, digamos assim, o respeito pelas palavras, fundamentalmente. E a poesia… A lição fundamental que acho que a minha poesia trouxe do jornalismo foi a da humildade. Porque o jornalismo é uma atividade de humildade. É uma atividade naturalmente humilde. Diziam os velhos tipógrafos que o jornal do dia seguinte é para embrulhar peixe, não é. E, no fim de contas, o poema no dia seguinte é para embrulhar peixe… Porque…
CVM – Não escreve para a eternidade.
MAP – Não há eternidade. O que é a eternidade? Visto a uma certa distância um dia não é menos do que um ano, do que dez anos ou do que cem anos ou do que um século. Tudo tende para o esquecimento.
4. Selecionem dois factos mencionados na entrevista e apresentem-nos num pequeno comentário. Por que razão vos pareceram importantes?