SpaceMETA - Entrevista Revista Época
Post date: Aug 30, 2015 12:47:54 AM
A Lua está mais perto do Brasil, ao menos para o empresário potiguar Sergio Cabral Cavalcanti, de 45 anos. Ele projetou a primeira missão não tripulada brasileira com ambições de conquistar a superfície lunar. Seu projeto, alimentado por ideias ousadas e tecnologias ainda não testadas, é um dos participantes da maior corrida espacial privada do mundo, o Google Lunar X Prize. A X Prize é uma fundação que oferece incentivos financeiros para estimular o desenvolvimento de tecnologias inovadoras. Nos últimos anos, a entidade está apoiando empresas e centros de pesquisa capazes de criar viagens espaciais privadas. O primeiro X Prize espacial deu US$ 10 milhões para os projetistas da SpaceShipOne, a nave depois adotada por Richard Branson (da Virgin Galactic) para voos espaciais particulares. Agora, com o apoio do Google, a Lunar X Prize oferece prêmios somando US$ 30 milhões para os primeiros que fizerem um robô chegar à Lua, andar 500 metros, deixar algo lá e transmitir um vídeo para a Terra. Não é um grande feito para a humanidade, que já lançou robôs até os confins do Sistema Solar, mas é um grande passo para o setor privado, que até hoje nunca foi além de satélites em órbita da Terra. O projeto de Cavalcanti envolve passos ousados. Ele pretende lançar, em 2012, uma nave espacial usando um foguete que, no lugar do tradicional hidrogênio líquido, usaria combustível à base de etanol (leia o gráfico abaixo). O foguete pode partir de uma base de lançamento no Brasil ou de um balão atmosférico, o que economizaria 30% de combustível. Uma vez no espaço, a cápsula liberaria três esferas: os módulos lunares. “É um projeto não poluente”, afirma Cavalcanti, que diz ser possível desenvolver todo o equipamento no Brasil. “Pensamos em um modo de caminhar na Lua sem usar combustível ou baterias.” Um dos três módulos projetados pela equipe se movimentaria por meio da diferença de temperatura na Lua. Ele teria partes que se expandem ou contraem, dependendo da incidência de raios solares. E essa variação na forma, diz Cavalcanti, o ajudaria a se locomover. O outro módulo usaria molas com sensores nas pontas. As molas, depois de liberadas por um sinal da Terra, se esticariam lentamente, fazendo a esfera rolar e se movimentar. A empresa por trás dos planos audaciosos é a Idea Valley, uma incubadora de tecnologia sediada em Petrópolis, no Rio de Janeiro, e fundada também por Cavalcanti. Se o projeto para levar o Brasil à Lua parece inusitado, quase impossível, o mesmo acontece com a trajetória do empresário. Nascido em Natal, ele cresceu ouvindo o barulho dos foguetes. Seu pai era militar da Aeronáutica e trabalhou em Parnamirim, onde fica a Barreira do Inferno, primeira base de lançamento do país. “Todo mundo quis ser astronauta ou Beatles quando criança. Eu queria ser os dois”, diz. Cavalcanti cursava engenharia no Nordeste quando seu pai foi transferido para o Rio de Janeiro. Diz que, por uma confusão na Universidade Federal do Rio de Janeiro, acabou cursando, em sequência, matemática, física, química, informática e biomedicina. Tremenda confusão...“A formação diversificada me deu diferentes visões da ciência”, afirma.
‘‘Depois que a gente desenvolver esse projeto, ele será um modelo para futuras gerações’’
O projeto para chegar à Lua vai ter de superar muitos obstáculos técnicos – a começar pelo foguete movido a etanol, uma tecnologia ainda experimental do Instituto de Aeronáutica e Espaço, de São José dos Campos, em São Paulo. “Todo o conhecimento gerado será divulgado livremente na internet”, diz. Sua ousadia é bem recebida na disputa espacial. “Queremos novas ideias e inovação”, disse a ÉPOCA Nicky Jordan, responsável pela seleção de equipes do Lunar X Prize. O prêmio – que fique bem claro – não fez nenhuma triagem pela viabilidade técnica dos projetos. O limite é a capacidade de cada um financiar sua empreitada. Cavalcanti orça seu projeto em US$ 20 milhões. Disse que tem apoio de um grande grupo, mas não revela o nome. Afirma que, além do prêmio, pretende financiar a viagem com a venda das imagens transmitidas da Lua. Sustenta, sem muitas explicações, que seu minuto do vídeo lunar valeria 50 vezes uma inserção publicitária na final do campeonato de futebol americano, o Super Bowl (em que 30 segundos custam US$ 2,6 milhões). O otimismo e a animação ilimitados de Sergio Cavalcanti empolgaram o engenheiro químico Cardoso, diretor de tecnologia da Petrobras Distribuidora, que aceitou o convite para entrar no conselho da SpaceMeta. “O Sergio é de uma linhagem de empreendedores com coragem para inovar”, diz o DIretor da Petrobras. “Depois que a gente desenvolver esse projeto, ele será um modelo para as futuras gerações.” O conselho da empresa também conta com Jório Dauster, diretor da mineradora Ferrous e ex-presidente da Vale, além de Max Leite, diretor mundial da Intel para países emergentes. Cavalcanti tem também patrocínio pessoal. O ator Luigi Barricelli, amigo do empresário, doou US$ 1.000. Cavalcanti e seus robôs podem não levar os prêmios nem chegar à Lua, mas talvez seu atrevimento e destemor sejam capazes de inspirar outros talentos brasileiros a investir em tecnologias inovadoras.
AMIGO ATÉ NA LUA Cavalcanti (à dir.) e o ator Luigi Barricelli, amigos há mais de 20 anos. O ator foi o primeiro patrocinador do plano lunar
https://pablobrenner.files.wordpress.com/2011/03/epoca-spacemeta-2011.pdf