Sessão Poética

Com o mesmo alfabeto, escrevemos o "Olá" e o "Adeus", porque o mundo cabe em 26 letras.

Por: Rafaela Yumi

Conjuntos de símbolos que te fazem ver e sentir, rir e chorar, e que podem iniciar uma guerra ou uma história de amor. Talvez soe como magia, runas antigas que guardam um poder ancestral, e de certa maneira não deixam de ser. Linguagem é simplesmente mágica, porque um amontoado de letras qualquer como aadesdu não tem significado algum, mas quando as reorganizo e escrevo saudade, tal sequência torna-se um feitiço, o qual seu cérebro capta e entende, e quem sabe sabe te faz lembrar de um certa pessoa, de um certo lugar, de um certo momento.

Rafaela Yumi

Palavras são pequenos presentes imateriais, ínfimas partes da nossa história que contamos sem nos dar conta, memórias que carregamos para sempre.

Porque talvez um dia seus pais te ensinaram o significado da palavra amor, seus avós te explicaram o que era "café", seus professores esclareceram aqueles termos complicados e seus amigos te apresentaram a maioria das gírias que você conhece. E agora, sem você nem saber como, seu vocabulário é composto de mais de 30 mil palavras, presenteadas por centenas de momentos, centenas de lugares e centenas de pessoas, que por milhares de anos decidiram que é importante dar som e forma para o que vemos e o que sentimos, a fim de que a experiência humana fosse cada vez mais interconectada, e que não fosse esquecida.

Isso tudo acontece uma vez que, como seres humanos, o que temos tentado fazer é entender e, sobretudo, sermos entendidos. Encontramos inúmeras formas de extravasar o excesso de existência solitária dentro de nós, organizar nossa bagunça invisível e gritar a plenos pulmões: EU EXISTO E ESTE É MEU MUNDO.

É por essa e por outras razões que a linguagem é um poder, escrever é um poder, ler é um poder. É poder reafirmar sua existência e ter portas abertas para outros mundos, para que você não trombe nas paredes do seu próprio conhecimento. É poder ser você e é poder ser muitos, é se ilimitar.

É preciso abrir as janelas para o universo infinito que pode ser descrito e desvendado com diferentes combinações das mesmas 26 letras e tomar uma lufada de admiração por toda sua magnitude e poder, para perceber que tudo isso repousa docilmente dentro de você, e só espera para tecer uma narrativa inacreditável.

As letras podem captar não só toda a história factual e grandiosa do planeta, mas também a essência do que parece ser minúsculo, do que é efêmero, abstrato, quimérico. As primeiras letras trêmulas de quando você aprende a escrever, aprende o que é esse mundo maluco e mal sabe seu próprio nome; a cartinha no dia das mães em que você tenta representar pela primeira vez o que é amor; aquele dia das férias de verão que você detalhou no seu diário porque gostaria que nunca acabasse; o texto que você redigiu com tanta raiva que a caneta rasgou o papel; uma mensagem que você enviou para alguém sem saber que seria a última; aquela vez que você escreveu o que nem sabia que sentia, escreveu até suas mãos doerem e até hoje acredita que uma parte sua continua ali. As palavras têm essa beleza de congelar a vida em doses homeopáticas, de te permitir visitar e (res)sentir quantas vezes quiser a própria consciência ou quaisquer outras milhares que estejam eternizadas em livros, de tal modo que sua mente não seja o que te prende, mas sim o que te liberta.

Precisamos ter a coragem de ler o mundo, para que também possamos escrevê-lo.

Com amor e crença na infinitude do que é efêmero, Rafaela Yumi.

A distância


  A distância é dor,

  Causa afastamento, 

  Sem perder o amor;


  A falta do toque traz dor e sofrimento,

  Sem o calor do corpo,

  Fica tão frio aqui dentro...


   Vários quilômetros de distância, 

   Que nem muito luxo conseguiria complementar, 

   Sobrando somente a nostalgia,

   E a imensa vontade de se abraçar.


Por: Elloá Cristina Pires dos Santos (IFSP)

Haikai : Ser humano


O ser humano 

Mais racional dos animais

Ainda idolatra certos ideais.


Ana Okuda (IFSP)