DESPEGADOS, MEU GENERAL

 


Andámos, então, a ler-vos.

 

Nós vínhamos pois daqui

deste raminho da beira-mar

tão despegado

e ouvíamos em eco nomes

estrangeiros eiros eiros

Eça eça eça

Hugo Baudelaire Maupassant

coisas e loisas de outros mundos

dos inícios do meio e do fim.

 

Fomos assim. Éramos assim mesmo

despegados ai quão despegados meu general

assim mesmo quão despegados

do mais imaterial cheiro material.

 

Foi então que vieram os tais hunos.

Traziam muitas facas muitos garfos

e milhares milhares de computadores

traziam muitas facas muitos garfos

perversos costumes ridículas dores.

 

Não ficámos por aqui e por ali.

Demos luta, estranha labuta.

Sabíamos que era tudo para perder.

Mas demos luta, ó estranha labuta.

E perdemos quase tudo

quase tudo por tuta e meia.

 

Cá ficámos, cá estamos.

Sem medo nem respeito

pelos hunos grandes vencedores.

Restam as nossas insuportáveis dores.

Essas, sim, agora e sempre, nossas.








 

 

EN PUNTO (1)

 

Os reformados

estão a apanhar sol

na Morais Soares.

 

Claro

que

é quase

Primavera.

 

Claro

que eles sabem

que vão morrer.

 

Mas hoje

ainda

apanham

sol

na Morais Soares.

 

A las

cinco

en punto

de la melancolía. 




EN PUNTO (2)

 

Às quatro

da manhã

o silêncio.

 

O silêncio.

A escuridão.

 

É o fim dos tempos.

O princípio de nada.

 

O silêncio

às quatro

da manhã.

 

O grande silêncio

da pequena depressão.

 

A las cuatro

en punto

de la tragedia. 

 

 


EN PUNTO (3)

 

Um gin tónico

ao fim do dia.

 

Lembrar a alvorada

esquecer a madrugada

beber o primeiro copo.

 

A las dieciocho

en punto

de la congoja.