Arpejo

Em um arpejo, a nota fundamental deve ressoar um pouco. Portanto, sustentá-la um pouco ou mesmo vibrá-la não significa fugir de um bom estilo.

Sobretudo quando ligado, não devemos considerar um arpejo como uma escada onde cada degrau é empurrado um a um com força das mandibulações (fig. 1), mas sim como uma corrente (fig. 2) onde os elos seriam as notas entrelaçadas em um fluxo sonoro ininterrupto.

Quando um arpejo alcança um agudo, parece sempre que a última nota é a mais difícil de atingir; isso é puramente psicológico, porque essa mesma nota pode estar dentro de um arpejo em uma afinação mais alta; a nota parecerá, então, sair mais facilmente. 

Não devemos esquecer de duas coisas:

Quanto mais alta a nota, mais baixo é o centro de gravidade. Quando o arpejo se eleva, deve-se sentir como se estivesse sendo empurrado do chão. A força que se sente na cintura abdominal provém inclusive das pernas, assim como quando se levanta um objeto pesado. Se estivermos sentados, a parte inferior das costas também contribui como apoio. Esse apoio pode ser acompanhado por um ligeiro movimento dos lábios, mas a mandibulação torna-se desnecessária, ou até mesmo prejudicial para a concentração da sonoridade, pois ela fica exagerada em situações de estresse;

Os dedos, especialmente o "Diabinho nº. 1", nossa chave de oitava, têm uma importância crucial para um arpejo bem envolvente. É necessário antecipar o movimento dos dedos ao frasear com as mãos, para que sua ação não seja retardada. Nenhum golpe com força dos dedos substituirá essa antecipação. Além disso, golpear os dedos com força desloca ou movimenta a embocadura, o que é um problema adicional dentro de um arpejo.

É excelente praticar os arpejos ligados de três notas, de forma lenta e livre, fraseando com os dedos sem golpear as teclas e sem mandibular.

Trata-se de todos os acordes de três notas e suas inversões (o acorde de quinta aumentada possui as mesmas notas em suas inversões). Em um intervalo difícil, é a nota inferior que impulsiona (serve como um trampolim, literalmente sendo um elástico vertical), e não apenas um esforço em direção à próxima nota. Essa nota de alguma forma proporciona um alívio após o esforço realizado no penúltimo degrau, assim como o último passo ao chegar ao topo de uma montanha é a recompensa para o alpinista após uma longa escalada. 

EM POUCAS PALAVRAS

Envolva todo o seu corpo na ação, dos pés à cabeça. O som é o resultado de tudo. Não confundir uma correção oportuna dos lábios com uma mandibulação contínua.

Autor: Michel. Debost - DEBOST, Michel. Une simple flûte. Editions Van de Velde, Paris, 1996. (p. 30-2)

Tradução: STEFANO FRUGOLI PEIXOTO - Especiais agradecimento a Stefano por essa tradução.

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