ÁREAS DEDICADAS À PRESERVAÇÃO DA VEGETAÇÃO NATIVA
PELO MUNDO RURAL NO BRASIL EM 2021
Materiais
Para esta pesquisa foi estruturado um Sistema de Inteligência Territorial Estratégica (SITE), a partir da integração de softwares, ferramentas e técnicas de geoprocessamento, com os acervos de dados numéricos e cartográficos do CAR de 2021 e do Censo Agropecuário de 2017, organizados em sistemas de informações geográficas na Embrapa Territorial.
Dados públicos, abertos e oficiais de órgãos dos Ministérios do Meio Ambiente, Justiça, Economia, Agricultura e Ciência e Tecnologia também foram utilizados de forma complementar, em temas específicos. Essas fontes estão citadas e vinculadas (links) ao longo do trabalho e no item “Referências”.
DADOS DOS IMÓVEIS RURAIS REGISTRADOS NO CAR
O CAR foi instituído pelo Código Florestal, conforme a Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012 (BRASIL, 2012) como um registro eletrônico obrigatório, de fato, para todos os imóveis rurais (ou seja, cada “unidade”, produtiva ou não) e não para os estabelecimentos agropecuários. A cada Certificado de Cadastro de Imóvel Rural – CCIR (INCRA, 2020), por exemplo, deve corresponder um número de CAR, mesmo se forem dezenas de CCIRs vinculadas a uma única fazenda ou de apenas um estabelecimento agropecuário.
Milhões de produtores rurais, graças aos avanços da informatização no campo, cadastraram seus imóveis rurais, com base em imagens de satélite de alta resolução, com 5 metros de detalhe, segundo as exigências estabelecidas pela legislação.
Exemplo de delimitação de imóvel rural e das categorias de vegetação previstas no CAR.
Cada agricultor marcou o perímetro de seu imóvel rural em imagens de satélite com 5 metros de detalhe e delimitou: vegetação nativa, nascentes, rios etc., num total mapeado de 18 categorias previstas no Cadastro Ambiental Rural, além de outros dados. No início de 2021, os dados geocodificados de cerca de 6 milhões de imóveis rurais e 4,6 milhões de quilômetros quadrados estavam mapeados no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SICAR) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Os produtores seguem registrando cartograficamente toda alteração na vegetação nativa ou transação fundiária em seus imóveis rurais. Alinhado com o liberalismo econômico, qualquer venda parcial ou total de um imóvel rural implica na geração de um novo CAR. Esse registro é associado a um nome e seus dados pessoais, como o CPF ou o CNPJ, por exemplo. Identifica um imóvel rural com precisão geográfica e associa esta localização a um responsável. Por essa razão, milhares de imóveis rurais entram e saem mensalmente da base de dados do CAR (MIRANDA et al., 2018), principalmente nas regiões rurais mais desenvolvidas do Brasil, como reflexo da dinâmica do mercado de terras.
O registro numérico e cartográfico dos imóveis rurais no CAR é realizado sob a responsabilidade de cada um dos estados da Federação. Os dados são unificados nacionalmente no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SICAR) pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB).
São Paulo: exemplo da repartição territorial dos imóveis rurais cadastrados no CAR em 2021.
Os registros no CAR iniciaram-se há alguns anos. No segundo semestre de 2020 ocorreu um aumento significativo nos cadastros do SICAR. Isso deveu-se ao fato do Código Florestal Brasileiro prever vários bônus, nos Programas de Regularização Ambiental, para os produtores rurais cadastrados até 31 de dezembro de 2020. Após esta data, o cadastramento no CAR é, e continuará, sendo possível, contudo o produtor rural deixa de beneficiar-se de algumas vantagens no âmbito dos Programas de Regularização Ambiental. Diante dessa evolução e da magnitude do cadastramento já efetivado, é pouco provável um novo aumento de imóveis rurais no curto prazo.
O Sistema do Cadastro Ambiental Rural - SICAR é um banco de dados geocodificados muito dinâmico. Mensalmente, milhares de imóveis rurais entram, saem e/ou sofrem alterações em seus dados no SICAR. São diversas as razões na origem dessa dinâmica constante: venda parcial ou integral de propriedades rurais; processos de regularização fundiária (emissão de títulos de propriedade); ajustes e correções nos arquivos de georreferenciamento de cada imóvel rural; divisão ou destinação a novos proprietários em função de processos de herança e partilha; retirada parcial de áreas para atender atividades de interesse público (servidões, instalação de estações de tratamento de água ou esgoto, edificações públicas...); registro de novos imóveis rurais até então ainda não cadastrados no CAR; correções nos dados cadastrados por parte da equipe gestora do SICAR; ajustes nos limites das áreas dedicadas à vegetação nativa nos imóveis rurais, em atendimento a exigências dos órgãos ambientais e/ou da participação nos Programas de Regularização Ambiental (PRA) e diversas outras razões. Em conclusão, o registro dos imóveis rurais brasileiros no Cadastro Ambiental Rural nunca estará concluído e sempre será uma realidade dinâmica, sofrendo alterações em função do mercado de terras, dos processos sucessórios, do atendimento a exigência ambientais etc.
Os limites de cada um dos 5.953.139 imóveis rurais cadastrados validamente no CAR até fevereiro de 2021 e de mais de 100 milhões de polígonos das áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa, em formato shapefile, foram obtidos por download do website do Sistema Florestal Brasileiro (SFB, 2021) e objeto de diversos ajustes e correções pela equipe da Embrapa Territorial. Dados sobre a dimensão territorial, econômica, social e ambiental das áreas preservadas pelo mundo rural têm sido publicadas em artigos, livros e no site da Embrapa Territorial.
DADOS DOS ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS DO IBGE NÃO REGISTRADOS NO CAR
Uma das grandes inovações do Censo Agropecuário do IBGE em 2017 decorreu do uso de tecnologias de informação e localização por satélite (GPS) pelos recenseadores. Para cada estabelecimento agropecuário levantado foi gerada uma coordenada geográfica de localização, bem como existem dados georreferenciados dos trajetos realizados por cada recenseador. Assim, o Censo Agropecuário de 2017, em um banco de dados situado fora do SIDRA (IBGE, 2018), ofereceu uma informação circunstanciada da localização territorial de cada um dos estabelecimentos agropecuários recenseados, passíveis de geoprocessamento (CNEFE, 2020).
As coordenadas geográficas de cada um 5.063.771 estabelecimentos agropecuários, em formato de planilhas, foram obtidas por download do website do Censo Agropecuário 2017 do IBGE (IBGE, 2019).
LIMITES ADMINISTRATIVOS OFICIAIS
Os limites de municípios, estados, regiões e país foram obtidos das divisões territoriais do IBGE em arquivo digital shapefile (IBGE, 2016) com ajustes no sistema de referência SIRGAS 2000 e com a projeção adotada pelo IBGE (IBGE, 2014).
Os limites das unidades de conservação foram obtidos no website do Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2019) e os limites das terras indígenas foram obtidos no website da Fundação Nacional do Índio (FUNAI, 2019).
O limite do bioma foi obtido no website do IBGE (2014). Para o cruzamento do recorte de biomas com os dados em base municipal do CAR e do IBGE, foi realizado um ajuste entre os limites físicos dos biomas e os limites administrativos dos municípios, com os métodos propostos por Garagorry & Penteado Filho (2008).
EQUIPAMENTOS (HARDWARE)
Os sistemas computacionais utilizados apoiaram-se em equipamentos de informática com grande capacidade de armazenamento e de desempenho: Workstation Precision 5820 Dell Intel Xeon W-2155 3.3GHz Turbo, placa de Vídeo Dual NVIDIA Quadro P2000 5 GB, 64 GB de memória RAM, Unidades de estado sólido (SSD) DE 512 GB, Disco Rígido de 2 TB; 5 Estações HP Intel Core i7 de 3.4GHz com 16GB de RAM, HD SSD de 500 GB e HD de 2 TB; 1 Servidor Blade SY480Gen10 com processadores Intel Xeon Silver de 10 núcleos, 192 GB de Memória RAM e 2 HDs de 600GB e um sistema de armazenamento de dados de grande capacidade Storage HP MSA-2050 com capacidade de 192TB.
LOGICIAIS (SOFTWARE)
O principal programa utilizado na construção do SITE foi o ESRI ArcGIS 10.7, em função de sua capacidade de lidar com grandes bases de dados espaciais e de seus módulos específicos de análise espacial (ESRI, 2020). Foram utilizadas planilhas em formato Microsoft Excel nos cálculos numéricos, correlações e na formatação de tabelas.
Métodos
1 - Dimensão territorial das áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais do CAR
Feito o download de todos os imóveis rurais do CAR de fevereiro de 2021, os dados geocodificados foram organizados em um banco de dados (ESRI, 2020) passível de operações espaciais de recortes geográficos, além da geração de tabelas sumariadas com os totais de imóveis rurais. Dentre as operações espaciais inicialmente realizadas, a mais relevante foi a eliminação das áreas parciais ou totais de imóveis rurais cadastrados no CAR sobrepostas a unidades de conservação integral e terras indígenas. Com a aplicação desse critério, todo o universo cartográfico e numérico gerado sobre as áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa pelo mundo rural excluíram totalmente os territórios das áreas protegidas.
Imóveis rurais cadastrados no CAR na região de Machadinho d'Oeste em Rondônia
Desde o início desta pesquisa, para esse desafio de quantificar a dimensão territorial (numérica e cartográfica) das áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais do CAR, não existiam soluções metodológicas de prateleira, nem consagradas empiricamente. A equipe da Embrapa Territorial, em particular o seu grupo de analistas de geoprocessamento e de tecnologia da informação, construiu, testou e validou progressivamente métodos e procedimentos para obtenção dos resultados desejados. Eles foram testados inicialmente em alguns estados da Federação, depois validado em duas regiões, para finalmente - sempre incorporando novas rotinas que ampliavam sua performance e traziam ganhos de precisão - ser aplicados de forma homogênea a todos municípios, microrregiões, estados e regiões do país, reunidos no CAR.
Os procedimentos metodológicos apresentados a seguir, principalmente no mapeamento homogêneo e unificado das áreas dedicadas à preservação da vegetação nos imóveis rurais, constituem um dos principais produtos inovadores entregues por essa pesquisa realizada pela Embrapa Territorial. Esta constituiu a etapa metodológica mais central e decisiva realizada com o banco de dados do SICAR. Ela permitiu detectar, identificar, qualificar, quantificar e cartografar as áreas dedicadas à preservação da vegetação nos imóveis rurais cadastrados no CAR, em bases homogêneas e unificadas.
O aperfeiçoamento desses métodos desenvolvidos continua em função da avaliação e da crítica dos resultados numéricos e cartográficos obtidos, submetidos ao exame de pares e parceiros nessa pesquisa e de novas formas de disponibilização dos dados pela equipe do Serviço Florestal Brasileiro, responsável pelo SICAR.
Os métodos, procedimentos e rotinas utilizados no processamento dos dados do CAR, visando detectar, identificar, qualificar, quantificar e cartografar as áreas dedicadas à preservação da vegetação nos imóveis rurais cadastrados, são apresentados a seguir.
2 - Dimensão territorial das áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa nos estabelecimentos agropecuários do Censo Agropecuário do IBGE sem registro no CAR
2.1. Quantificação dos estabelecimentos agropecuários do Censo Agropecuário do IBGE sem registro no CAR
Nesta segunda etapa metodológica foram utilizadas as coordenadas geográficas dos estabelecimentos agropecuários do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE). A partir do CNEFE, a Embrapa Territorial realizou o download (IBGE, 2019), por estado da Federação, das planilhas com as coordenadas dos estabelecimentos agropecuários. Com técnicas de geoprocessamento, as coordenadas geográficas dessas planilhas foram convertidas para geolocalizações nesse mesmo banco de dados espacial (ESRI, 2020), resultando num total de mais de 5 milhões de estabelecimentos agropecuários cadastrados no Brasil.
Para padronizar e facilitar a quantificação das geolocalizações dos estabelecimentos agropecuários, utilizou-se a função de geoprocessamento junção espacial (spatial join) (ESRI, 2020) para associar cada estabelecimento agropecuário do Censo de 2017 aos polígonos de divisões cartográficas em municípios, estados e regiões do Brasil (IBGE, 2016). Essa operação é a mais adequada para relacionar planos de informação pontuais com perímetros.
A figura a seguir ilustra um exemplo da repartição territorial das coordenadas geográficas dos estabelecimentos agropecuários recenseados pelo IBGE em 2017 (pontos verdes) no município de Machadinho d’Oeste, em Rondônia.
A próxima figura ilustra, a título de exemplo, as relações territoriais entre os pontos de localização dos estabelecimentos agropecuários recenseados pelo IBGE e os polígonos dos imóveis rurais registrados no CAR, sobre um fundo de imagem de satélite de alta resolução.
Para os limites dos imóveis rurais foi utilizada uma função de geoprocessamento denominada join (ESRI, 2020), para associá-los com os limites das divisões cartográficas. Nos imóveis rurais existe uma informação do código do município de forma padronizada pelo IBGE (geocódigo) (IBGE, 2016). Essa função associa os dois planos de informação (divisão territorial e imóveis rurais) sem necessidade de cruzamento espacial. É a operação mais adequada em situações de dois planos de informação com perímetros. Dessa etapa metodológica resultaram duas subpopulações de estabelecimentos agropecuários: a dos repertoriados no CAR e dos não registrados no CAR, identificados um a um por procedimentos de geoprocessamento.
2.2. Quantificação da vegetação nativa declarada nos estabelecimentos agropecuários sem registro no CAR
A partir do Censo Agropecuário de 2017 foi totalizado o quanto foi declarado de área de matas, florestas, pastagens nativas, sistemas palustres e lacustres e outros pelo total dos estabelecimentos agropecuários recenseados. Este total de áreas destinadas e/ou ocupadas por vegetação nativa foi dividido pelo total de estabelecimentos agropecuários de forma a determinar o tamanho médio de vegetação nativa por estabelecimento agropecuário.
Numa nova etapa, as coordenadas geográficas da subpopulação de estabelecimentos agropecuários não registrados no CAR foram cruzadas com os limites geográficos das unidades de conservação integral e das terras indígenas do Brasil. Dessa operação por geoprocessamento resultou uma nova subpopulação de estabelecimentos agropecuários não registrados no CAR da qual foram retirados aqueles cuja localização, legítima ou não, estaria em áreas protegidas. Dada a variabilidade das escalas cartográficas das delimitações das áreas protegidas e as diferenças de acurácia com as coordenadas geográficas dos estabelecimentos agropecuários recenseados pelo IBGE, aplicou-se também um limite (buffer) de menos quinhentos metros para avaliar possíveis casos situados em condições limítrofes.
A partir do total de estabelecimentos agropecuários - não coincidentes geograficamente com o Cadastro Ambiental Rural e não localizados em unidades de conservação integral e/ou terras indígenas - determinou-se o total adicional de áreas de vegetação nativa existentes no mundo rural nessas unidades não repertoriadas no CAR, multiplicando o seu efetivo pelo valor médio de vegetação nativa declarada pelo conjunto dos estabelecimentos agropecuários levantados pelo IBGE.
2.3. Total de áreas dedicadas e/ou ocupadas com vegetação nativa no mundo rural do Brasil em 2021
A quantificação do total das áreas dedicadas e/ou ocupadas com vegetação nativa no mundo rural do Brasil resultou da soma das áreas mapeadas em 5.953.139 imóveis rurais válidos registrados no CAR 2021 e da estimativa das áreas declaradas nos estabelecimentos agropecuários do Censo do IBGE 2017, sem registro no SICAR, segundo os procedimentos metodológicos anteriormente descritos.
3 - A atualização dos dados sobre atribuição, ocupação e uso das terras no Brasil
A dimensão territorial da atribuição, ocupação e uso das terras no Brasil pode ser dimensionada em três grandes grupos:
áreas destinadas a proteção, preservação e conservação da vegetação nativa;
áreas utilizadas diretamente pela agropecuária (pastagens, lavouras e florestas plantadas);
áreas ocupadas por complexos industriais-urbanos, sistemas energético-mineradores, de infraestrutura viária e outros.
Mais do que o detalhamento dos métodos utilizados, apresentados em outro locais deste website e em várias publicações, indicam-se a seguir os principais procedimentos adotados na atualização das informações relativa a atribuição, ocupação e uso das terras no Brasil pela Embrapa Territorial.
3.1. Procedimentos relativos à atualização dos dados sobre vegetação nativa no Brasil
Áreas protegidas. Elas estão devidamente mapeadas e até formalmente decretadas: foram atribuídas a unidades de conservação integral federais, estaduais e até municipais, bem como demarcadas e homologadas como terras indígenas. Esse tipo de atribuição das terras, com vedação de atividades econômicas e produtivas, cresceu muito a partir da Constituição Federal de 1988. A Embrapa Territorial atualiza constantemente esses dados geocodificados sobre as áreas protegidas do Brasil, com base em informações do Ministério do Meio Ambiente, da Justiça e da Ciência e Tecnologia e as compatibiliza com os dados existentes na Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais - INDE. A atualização da base de dados da Embrapa Territorial sobre a atribuição de terras para áreas protegidas no Brasil não apresentou alterações significativas nos últimos anos.
Áreas preservadas. As áreas dedicadas à preservação no mundo rural, em sua maioria, estão localizadas em terras privadas. Elas correspondem a cerca de um terço do território do Brasil. Sua dimensão foi calculada, estimada e explicitada nos capítulos anteriores. Ela resultou do mapeamento das áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais válidos cadastrados no CAR até fevereiro de 2021 e de uma área adicional estimada a partir dos dados do IBGE sobre estabelecimentos agropecuários, ainda sem registro no CAR e não localizados em áreas protegidas. Esses procedimentos metodológicos para avaliar a vegetação nativa existente e/ou destinada à preservação no mundo rural já foram apresentados neste trabalho e são sempre aperfeiçoados. A Embrapa Territorial recalcula e atualiza os valores das áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa pelo mundo rural desde 2016. Dada a evolução constante dos métodos e dos dados, os números mudam e crescem anualmente em valores e precisão. A atualização desse bigdata envolvendo milhões de polígonos é realizada a cada ano pela equipe da Embrapa. Ao contrário das áreas protegidas, a atualização desses números sobre as áreas dedicadas à preservação ocorreu recentemente, graças aos dados obtidos nessa pesquisa.
Áreas devolutas e/ou não atribuídas. A soma das áreas protegidas (terras públicas) e das dedicadas à preservação pelo mundo rural (terras privadas) ainda é inferior ao total de vegetação nativa existente no Brasil. Esse conjunto não abrange a dimensão territorial da vegetação nativa existente nas terras devolutas ou não atribuídas e nas áreas militares. Para quantificar essas realidades, a Embrapa Territorial realizou tratamentos com dados complementares, disponíveis nos projetos TerraClass, PRODES-INPE, IBGE e Programa de Monitoramento de Biomas do Governo Federal, além de uso de imagens de satélite de diversos sistemas orbitais em alguns casos.
3.2. Procedimentos relativos à atualização dos dados sobre as áreas de pastagens, lavouras e florestas plantadas
Essas estimativas das áreas de pastagem, lavouras e florestas plantadas têm sido realizadas para cada um dos biomas brasileiros. Aqui é apresentada uma síntese nacional. A natureza das pastagens da Caatinga é muito diferente da natureza das pastagens no Bioma Pampa, Pantanal ou Cerrado. Algo parecido ocorre também com os níveis de intensificação e com a extensão das lavouras anuais e permanentes: grande agricultura mecanizada nos cerrados da Região Centro-Oeste; agricultura familiar tecnificada e integrada nos estados do Paraná e de Santa Catarina; agricultura familiar pouco tecnificada no bioma Caatinga etc.
3.2.1. Pastagens
Estimar a área de pastagens em todo o país é complexo. O tema envolve pastagens naturais, nativas, manejadas, plantadas, irrigadas, temporárias, permanentes e outras. A natureza das pastagens varia por bioma e por fisionomia vegetal. A existência de um campo, de altitude ou de uma vegetação herbácea pampeana ou pantaneira não significa obrigatoriamente pastagens. Sem a presença e o manejo de ruminantes domésticos, são apenas tipos de vegetação. Considerar esses e outros tipos de vegetação como pastagens implica em conhecimentos sobre a dinâmica temporal do uso das terras, sobre o pastejo e a existência de rebanhos naquela área. As estimativas das áreas de pastagem resultam de sínteses realizadas pela equipe da Embrapa Territorial, a partir das séries históricas dos Censos Agropecuários do IBGE e dos dados da CONAB, confrontadas aos dados do Rally da Pecuária e complementadas com os números sobre pastagens do Projeto TerraClass nos biomas Amazônia e Cerrado e com as informações de associações nacionais de criadores, como a Associação Brasileira de Criadores (ABC), Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Associação Brasileira do Criadores de Caprinos (ABCC), Associação Brasileira de Criadores de Búfalo (ABCB). Pontualmente, foram usados dados de associações estaduais (ACRIMAT, ACRIPARA...) e da Associação Brasileira de Frigoríficos e da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne.
Dados sobre áreas de pastagens no Brasil dificilmente são precisos, mas podem e devem ser significativos. Mais do que a área de pastagem, é necessário saber a superfície efetivamente pastejada anualmente no Brasil. A extensão territorial das pastagens é definida pela presença e pelo pastejo animal, e não apenas pelo tipo de vegetação. Ela varia sazonalmente, e até em escala mensal, com a evolução e a intensificação dos sistemas de produção animal. Um vetor dessa variabilidade intra-anual das áreas de pastagem decorre do crescimento dos sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP). No mesmo ano, a mesma área, durante alguns meses será ocupada por lavouras (primavera-verão) e em outros (outono-inverno) será transformada em pastagem plantada. O ILP elimina a oposição entre lavouras e pastagens e gera sinergia: dois usos possíveis numa mesma área ao longo de um ano. A área total com ILP aproxima-se de 20 milhões de hectares, com previsão de chegar a 35 milhões em 2030. No verão, são milhões de hectares de lavouras e no inverno uma área equivalente de pastagens. Em qual das duas categorias, creditar essas áreas?
3.2.2. Lavouras
As estimativas das áreas de lavoura resultam de sínteses realizadas pela equipe da Embrapa Territorial, a partir das séries históricas dos Censos Agropecuários do IBGE e da CONAB, confrontadas aos dados do Rally da Safra, complementados com os números sobre áreas agrícolas do Projeto TerraClass nos biomas Amazônia e Cerrado. Também foi utilizada a base de dados Agrotec da Embrapa, sobretudo para ajustar as variações anuais dessas informações.
Essas informações foram complementadas e parcialmente validadas com os dados disponíveis em associações de cadeias produtivas (APROSOJA, ABIOVE, ABRAMILHO, ABRAPA, CECAFE, Conselho Nacional do Café - CNC, Associação Nacional dos Exportadores de Cereais - ANEC, Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha Natural - ABRAPOR...). Para a cana-de-açúcar foram utilizados os dados geocodificados do projeto CanaSat e informações da UNICA. Estatísticas sobre superfícies cultivadas de Secretarias Estaduais ou de órgãos a elas vinculados (IEA, SEADE, IMEA-MT...), quando existentes, também foram utilizados.
A soma das áreas de lavouras e pastagens de um município ou microrregião, por exemplo, deveria ser convergente com a das áreas destinadas ao uso agrícola nos imóveis rurais cadastrados no CAR. Procedimentos estatísticos e matemáticos permitiram avaliar e analisar convergências e divergências desses valores e confronta-las aos dados do Censo Agropecuário, da Conab e de outras fontes de informação.
3.2.3. Florestas plantadas
Ao contrário das dinâmicas características das áreas ocupadas por lavouras e pastagens, os dados sobre florestas plantadas apresentam menor variação temporal e uma relativa concentração territorial (grandes reflorestamentos). As estimativas realizadas tiveram como base os dados do Censo Agropecuário do IBGE de 2017, complementados por informações e relatórios anuais de associações e empresas do setor (IBA, INFLOR, Associações de Papel e Celulose etc.), florestas energéticas (lenha e carvão). Alguns dados pontuais foram obtidos junto a instituições públicas como a Embrapa Florestas e o IPEF da Esalq. A Embrapa Territorial também realizou um mapeamento das áreas plantadas com eucalipto no bioma Cerrado, informação integrada neste trabalho. Eventuais divergências entre instituições públicas e privadas nas estimativas das áreas de florestas plantadas provém frequentemente de questões conceituais. A definição de floresta plantada varia entre essas instituições em função de seus objetivos. Nesta pesquisa, o conceito incluiu, não apenas as áreas monoespecíficas ocupadas por eucaliptos e pinus, mas também a sua presença junto com espécies arbóreas nativas (sistemas mistos) em diversos sistemas integrados de produção (agroflorestas, integração lavoura-pecuária-floresta, recuperação parcial de áreas de conservação etc.).
3.3. Procedimentos relativos à atualização dos dados sobre das áreas urbanas, de infra estruturas e outras
Esta última categoria de uso e ocupação das terras, apesar de sua dimensão territorial pouco expressiva, da ordem de três por cento, é composta por um grande número de situações muito diversificadas, associadas essencialmente às malhas urbanas, logísticas e de infraestrutura do Brasil. A Embrapa Territorial mantém um acervo de dados dessa natureza, sempre atualizados a partir de diversas fontes oficiais do Governo Federal e dos Estados. Dentre esse universo, destaca-se: áreas urbanas, fornecidas pelo IBGE e pelo mapeamento das áreas urbanizadas no Brasil; infraestruturas, GeoPAC das obras de infraestrutura, malha viária do Open Street View, malhas viárias disponibilizadas pelo DNIT e alguns órgãos estaduais (SP); linhas de transmissão e hidrelétricas disponibilizadas pela ANEEL; polos petroquímicos pela ANP; grandes superfícies hídricas não inseridas em áreas protegidas, sobretudo na Amazônia (ANA, 2021) e outros.