Clara Felix - Mestranda pelo PPHG/UFRGS
Gabriela Anibale Ausani - Mestranda pelo PPHG/UFRGS
Manuel Detoni Flores - Mestrando pelo PPHG/UFRGS
Mariana Pereira Gama - Mestranda pelo PPGH/UFRGS
A proposta do presente simpósio é congregar trabalhos que reflitam sobre questões teórico-metodológicas ou aplicações empíricas de perspectivas que contemplem a análise do espaço fronteiriço e dos processos de territorialização da América Meridional durante a sua conquista e colonização pelas monarquias ibéricas (entre os séculos XVI e XIX), bem como as resistências e reinvenções dos povos originários deste espaço. Aqui, entende-se que a fronteira, além de uma demarcação geográfica, é também um espaço onde diversos atores constroem suas concepções de territorialidade, destacando-se as múltiplas identidades que ajudam a construir o espaço fronteiriço da América Meridional - espanhóis, portugueses, indígenas, entre outros grupos. Nesse sentido, busca-se debater a forma com que a fronteira interfere na formação identitária de diferentes povos, por meio da interação típica do espaço fronteiriço meridional; a atuação dos agentes que interagem nos limites imperiais, bem como suas redes e suas possibilidades de negociação. A partir desse ponto, é importante destacar os processos de produção, circulação de saberes locais e/ou técnico-científicos e o movimento de mercadorias e pessoas através da fronteira. Por fim, procura-se compreender as diferentes representações cartográficas produzidas no contexto de disputas territoriais e como elas estão relacionadas com os processos de expansão, disputa e institucionalização de zonas de fronteira.
ERBIG, Jeffrey. Imperial Lines, indigenous lands: transforming territorialities of the Río de la Plata, 1680-1800. Tese (Doutorado) – Department of History, University of North Carolina, Chapel Hill, 2015.
HERZOG, Tamar. Frontiers of possession: Spain and Portugal in Europe and the Americas. Harvard University Press, 2015.
KÜHN, Fábio; COMISSOLI, Adriano. Administração na América portuguesa: a expansão das fronteiras meridionais do Império (1680-1808). Revista de História, v. 0, n. 169, p. 58, 2013.
MAIER, Charles S. Once within borders: territories of power, wealth, and belonging since 1500. Cambridge, Massachusetts: The Belknap Press of Harvard University Press, 2016.
NEUMANN, Eduardo Santos. A Fronteira tripartida: a formação do continente do Rio Grande- Século XVIII. In: GUAZELLI, Cezar Augusto Barcellos; NEUMANN, Eduardo (org.). Capítulos de História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2004
Caio de Souza Tedesco - Doutorando pelo PPGH/UFRGS
Hariagi Borba Nunes - Doutoranda pelo PPGH/UFRGS
Os feminismos descolonizadores compõem um leque plural e não-fixo de perspectivas feministas contra hegemônicas, não-eurocêntricas, antirracistas, anticlassistas – entre outras – de Abya Yala/Améfrica. A vertente teórica-metodológica de ação política Feminista Decolonial (pensadoras da América Latina e Caribe) baseia-se, principalmente, em: 1) revisitar, problematizar e expandir as teorizações e as propostas políticas feministas hegemônicas, inseridas dentro do pressuposto universal branco, burguês, cisheterossexual, norte-global, a partir da emergência do legado intelectual de pensadoras negras, indígenas, chicanas e sul-mundistas; 2) historicizar os processos de colonialidade/modernidade (econômica, social, subjetiva, racial, de gênero, sexual) e o epistemicídio, imposto desde o norte, sobre os conhecimentos, saberes e práticas do sul global; 3) visibilizar e produzir outras linguagens, epistemologias e ontologias feministas sobre os sujeitos e suas práticas através de corporalidades sulificadas, evidenciando o projeto branco-cishetero-colonial. Assim, no que tange à escrita da história, é imprescindível evidenciar teorias e metodologias que (re)configurem conceitos, temporalidades e categorias das experiências do sul. A proposta deste simpósio é receber trabalhos voltados aos estudos feministas, de gênero e sexualidade, assim como questionadores da cisgeneridade colonial; vivências de corporalidades fronteiriças; migrantes e refugiadas. Pesquisas sobre intelectuais mulheres e dissidentes de gênero do Brasil, América Latina, Oriente Médio e África que mirem desde uma ótica decolonial, anti-colonial, pós-colonial, interseccional, diaspórica. Pesquisas que pensem as lutas, subjetividades e experiências de corpos femininos e feminilizados em diversos contextos históricos e temporalidades. Interessa-nos, também, questionar categorias, conceitos, nomenclaturas, e tensionar/problematizar quais fontes, formulações, perguntas têm sido utilizadas pelas/os historiadoras/es e professoras/es de história para descrever relações complexas de existência e resistências dessas corporalidades na lógica do colonialismo e da colonialidade. A importância da temática está na construção e visibilização de outras narrativas e epistemologias, possibilitando a democratização de conhecimentos nos espaços institucionais de saber, logo, para a historiografia.
BUTLER, Judith. Corpos que importam. Os limites discursivos do ‘sexo’. São Paulo: n-1 edições, 2019.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. 375p.
LUGONES, María. Colonialidad y Género. Tabula Rasa. Bogotá - Colombia, No.9: 73-101, julio-diciembre 2008.
QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. 2005. p. 117-142.
SIMAKAWA, Viviane Vergueiro. Por inflexões decoloniais de corpos e identidades de gênero inconformes: uma análise autoetnográfica da cisgeneridade como normatividade. Dissertação (Mestrado Multidisciplinar em Cultura e Sociedade) - Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos, Universidade Federal da Bahia, Salvador. 2015.
Guilherme Pedroso -Mestrando pelo PPGH/UFRGS
Vinícius Furini - Doutorando pelo PPGH/UFRGS
O Simpósio Temático (ST) pretende reunir trabalhos produzidos por pesquisadores e pesquisadoras sobre o pós-abolição brasileiro. Embora a historiografia tenha dado especial atenção para estudos sobre a escravidão, é recente a formação de um campo de estudos voltado para investigar o que está “além da escravidão”, isto é, a “arena de disputas” ao qual Estado e sociedade tiveram que se organizar após a abolição, em 1888. O estudo de sociedades pós-emancipação, conforme orientam Frederick Cooper, Thomas Holt e Rebecca Scott, não se trata apenas de uma questão temporal, mas também espacial e conceitual (COOPER; HOLT; SCOTT, 2005, p. 42-43). De acordo com Ana Maria Rios e Hebe Mattos, esse campo de estudos possibilita a investigação no caso brasileiro sobre as preocupações como o papel do Estado, dos ex-senhores, as condições sociais do trabalho escravizado às vésperas do término da escravidão. Além disso, permite também investigar a recontextualização dos conceitos de cidadania e liberdade e seus significados para diferentes sujeitos sociais (RIOS; MATTOS, 2004, p. 172). Assim, o presente ST pretende abrigar comunicações que trabalham com os seguintes temas: o pós-abolição como problema histórico e historiográfico; o estado da arte e as produções “clássicas” e recentes sobre o campo de estudos; as experiências negras de cidadania e liberdade, bem como seus múltiplos significados; o processo de racialização das relações sociais; as relações sociais e de trabalho – tanto o trabalho livre, quanto o escravizado – que envolviam estes sujeitos; biografias e trajetórias; as formas de associativismo e a imprensa negra; intelectuais negros (as); cultura e religiosidade; territórios negros urbanos; campesinato negro; atuação política e resistência negra na ditadura civil-militar; análise interseccional sobre o pós-abolição.
COOPER, Frederick; HOLT, Thomas C; SCOTT, Rebecca J. Além da escravidão: investigações sobre raça, trabalho e cidadania em sociedades pós-emancipação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
FRAGA, Walter. Encruzilhadas da Liberdade: histórias de escravos e libertos na Bahia (1870-1910). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2014.
GOMES, Flávio dos Santos; CUNHA, Olívia Maria Gomes da. Quase-cidadão: histórias e antropologias da pós-emancipação no Brasil. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2007.
RIOS, Ana Maria; MATTOS, Hebe Maria. “O pós-abolição como problema histórico: balanços e perspectivas”. Topoi, v. 5, n. 8, jan-jun, 2004.
RIOS, Ana Lugão; MATTOS, Hebe. Memórias do Cativeiro: família, trabalho e cidadania no pós-abolição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
Alícia Quinhones Medeiros- Mestranda pelo PPGH/UFRGS
Jacilene Aguiar Silva- Mestranda pelo PPGH/UFRGS
Este simpósio temático tem como objetivo promover um espaço de diálogo estabelecido entre os estudos do pós-Abolição e a História da Educação. A articulação entre esses campos tem como propósito compreender os processos de educação formal ou informal, políticas educacionais e docência, em diversas instituições, diferentes temporalidades e espaços como processos históricos tensionados pela racialização. Considerando o pós-Abolição como conceito, temporalidade e ainda como problema histórico, é fundamental refletir sobre como os processos de emancipação e as lutas individuais e coletivas em busca pela educação e efetiva cidadania são construídas entre desafios, perspectivas e conquistas. Convidamos pesquisadores e pesquisadoras, acadêmicos(as) e professores(as) para compor um espaço de reflexão e compartilhamento de suas experiências de pesquisa e de ensino no intuito de aprofundar sobre a temática. Pretendemos aprofundar o debate em torno das diversas metodologias e fontes, como o estudo sobre a Imprensa Negra, de trajetórias individuais e coletivas, os associativismos negros, fontes orais e legislações que versam sobre a educação e processos de escolarização de crianças, jovens, mulheres e homens negros ao longo da História brasileira. Palavras-chave: Educação. Pós-Abolição. Trajetória.
GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis: Vozes, 2017.
OLIVEIRA, Fernanda; PEREIRA, Priscila Nunes. Pensamentos de mulheres negras ao sul do sul: das lutas coletivas por cidadania à narrativa da existência por meio da educação. Currículo sem Fronteiras, v. 19, n. 2, p. 453-477, 2019.
RIOS, Ana Maria; MATTOS, Hebe Maria. O pós-abolição como problema histórico: balanços e perspectivas. Topoi (Rio de Janeiro), v. 5, p. 170-198, 2004.
Camila Melo Silveira da Silva - PPGH/UFRGS
Érico Teixeira de Loyola - PPGH/UFRGS
Sávio Queiroz Lima - PPGH/UFRGS
O fenômeno criminal desperta a curiosidade, engaja espectadores, e possui uma audiência voraz por histórias, às vezes, assombrosas. Sejam em suportes midiáticos, impressos ou não, sejam em fontes da justiça criminal, vozes e imagens emergem e passam a compor o que é popularmente compreendido como o “submundo” ou o “bas-fonds”, projetando estereótipos e leituras de mundo, bem como a criação e recriação de narrativas, heróis e vilões, como se em um jogo marcado pelo constante conflito entre realidade e ficção.
Extrapolam, desta maneira, os limites da narrativa jurídica, interna ao processo legal, afetando o debate sobre temas relacionados à segurança pública e promovendo o consumo pelo informativo, pelo pitoresco, pela curiosidade. Ainda, nos permitem refletir sobre os caminhos escolhidos por advogados, promotores e juízes na resolução de conflitos, mesmo que muitos deles não tenham tido vivências próximas às dos sujeitos marginalizados inseridos no sistema de justiça criminal.
Tendo esse quadro social em mente, marcado pela expansão dos meios de comunicação, pela proliferação de podcasts e séries sobre o crimes, e pelo constante apelo à violência como instrumento de “combate à criminalidade”, este simpósio busca reunir pesquisadoras e pesquisadores interessados na área da História do Crime, e que, mais especificamente, a partir ou por intermédio da imprensa ou outras mídias, sejam elas impressas ou digitais, objetivam compreender as múltiplas representações e narrativas em torno do delito, dos indivíduos envolvidos em tais práticas, e das interpretações a seu respeito.
BRETAS, Marcos Luiz. “Entre crimes e leis: Imaginação e a história brasileira do crime.” In: VENDRAME, Maíra Inês; MAUCH, Cláudia; MOREIRA, Paulo Roberto Staudt. (Org.). Crime e Justiça: reflexões, fontes e possibilidades de pesquisa. 1ed.São Leopoldo: Oikos/Unisinos, 2018, v. 1, p. 13-32.
CAIMARI, Lila. “Los historiadores y la ‘cuestión criminal’ em América Latina. Notas para un estado de la cuestión”. Revista de Historia de las Prisiones. Nº 2, p. 5-15, 2016.
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KALIFA, Dominique. Os bas-fonds. História de um imaginário. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2017.
LOVELACE JR., H. Timothy. Critical Race Theory and The Political Uses of Legal History. The Oxford Handbook of Legal History Edited by Markus D. Dubber and Christopher Tomlins, 2018.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Uma outra cidade: o mundo dos excluídos no final do século XIX. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001.
Elias da Silva Santana- Mestrando pelo PPGH/UFRGS
Mariana Soares Zuchetti - Mestranda pelo PPGH/UFRGS
Vander Gabriel Camargo - Mestrando pelo PPGH/UFRGS
Matheus Barros da Silva- - Doutorando pelo PPGH/UFRGS
Desde antes da instituição da História como disciplina, a antiguidade vem sendo explorada por numerosas pesquisadoras e pesquisadores que construíram diversas narrativas acerca das diferentes populações que viveram na bacia do Mediterrâneo durante esse recorte temporal e sobre as transformações que passaram. Por se tratar de uma área tradicional e consolidada, muitas críticas podem e devem ser dirigidas aos usos políticos desse passado que foram, por vezes, utilizados para legitimar noções de superioridade de uma cultura em detrimento de outra. Entretanto, a década de 1960 marcou sensíveis transformações na Historiografia, das quais a História Antiga não ficou alheia. De uma área que estava relacionada com a formação dos estados nacionais, tanto europeus quanto americanos, as pesquisas desse campo, atualmente, adquiriram perspectivas decoloniais através de novas abordagens, como os estudos de recepção, e do exame de outras fontes, como as da cultura material. Para além disso, em relação à Educação, em meio às polêmicas da necessidade ou não do ensino de Antiguidade, bem como as críticas ao seu suposto caráter eurocêntrico e as tentativas de exclusão dos currículos, evidencia-se a importância de levar o passado antigo para a sala de aula. Nesse sentido, se atesta a indispensabilidade da aproximação das pesquisas atuais com o Ensino Básico, nas quais, as novas abordagens manifestam-se de forma a demarcar o multiculturalismo e a recusa de um evolucionismo entre as sociedades do mundo antigo oriental e ocidental. Em suma, a presente proposta de Simpósio Temático toma de empréstimo parte do título de uma coleção coordenada e lançada por Jacques Le Goff e Pierre Nora, com o objetivo de oferecer um espaço de discussão sobre os novos problemas e novos objetos da História Antiga e do seu ensino, como, por exemplo, as pesquisas sobre Recepção da Antiguidade, os estudos sobre Gênero e sobre as relações Étnico-raciais.
GOFF, Jacques Le; NORA, Pierre. História: novos objetos . Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.
GOFF, Jacques Le; NORA, Pierre. História: novos problemas . 3. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
MARTINDALE, Charles. Redeeming the text: latin poetry and the hermeneutics of reception . Cambridge: L Cambridge University Press, 1993.
MENESES, Ulpiano T. B. A cultura material no estudo das sociedades antigas. In: I Simpósio Nacional de História Antiga , João Pessoa, 1983. João Pessoa: UFPB, 1983.
MOERBECK, Guilherme. Em defesa do ensino da história antiga nas escolas contemporâneas: base nacional curricular comum, usos do passado e pedagogia decolonial. In: Brathair, 21 (1), p. 50-91, 2021.
Fernando Gomes Garcia- PPGH/UFRGS
Filipe Canto - PPGH/UFRGS
Nas últimas décadas, a historiografia viu avançar o “memory boom” e tem se aproximado dos temas espinhosos da memória, assim como de outros campos que também se relacionam com o tema de traumas individuais e coletivos, como, sociologia, psicanálise e, em especial, a literatura. Um motivo para isso é a emergência de debates públicos acerca destas temáticas sensíveis, que mobilizam paixões, dividem e nos fazem pensar. O que propomos é uma reflexão com os pesquisadores e pesquisadoras que tratam destes campos do saber que têm em comum as relações entre memória, história, literatura, tendo como eixo as narrativas de traumas históricos. Sendo assim, convidamos trabalhos que versem sobre: memória coletiva e individual, história e psicanálise, sociologia do trauma, e romances históricos que tenham os eventos traumáticos como eixo. Assim sendo, trabalhos que versem sobre tempo presente, passados sensíveis, e construção da memória, além daqueles que analisem a literatura de ficção, serão bem vindos. Autores que se destacam na área, e que serão caros às discussões deste Simpósio são Paul Ricoeur, na filosofia; Dominick LaCapra, na história; Márcio Seligmann-Silva, na crítica literária; e W.G. Sebald na própria área do romance, para citar alguns poucos nomes. Todos eles abordam a questão do testemunho e do trauma em suas obras.
LACAPRA, Dominick. Writing History, Writing Trauma. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2013.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: UNICAMP, 2007.
SEBALD, Winfried Georg. Austerlitz. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
SELIGMANN-SILVA, Márcio, Org. História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Unicamp. 2003.
Jéssica Bitencourt Lopes - Doutoranda pelo PPGH/UFRGS
Ricardo Faria Corrêa e Scarpini- Mestrando pelo PPGH/UFRGS
É o poder, em suas diferentes formas, que organiza, classifica e hierarquiza os agentes no tecido social. Ele não é dado, inato e fixo, ele é construído historicamente a partir de diferentes estratégias e das relações entre os capitais, sejam eles econômicos, sociais, culturais ou simbólicos. Para compreendê-lo, historiadores têm se debruçado a historicizá-lo, analisando sua composição, suas formas de legitimação e investigando sua estruturação no interior de diferentes grupos e meios de comunicação. É por essa razão, pensando em diferentes conjunturas históricas e problemas de pesquisa, que o presente Simpósio Temático busca reunir trabalhos que discutam a constituição, ascensão e consolidação do poder especialmente contemplando a intersecção entre política e mídias. Dessa forma, entendendo que as mídias podem servir tanto como objeto, como fonte da história, serão bem vindas as investigações dedicadas ao estudo das elites, eleições, partidos, trajetórias e conflitos circunscritos, análises que observem o poder a partir de diversificadas metodologias e fontes, como periódicos da grande imprensa, da imprensa alternativa e institucional. Compreendendo a expansão do escopo da História Política nas últimas décadas, o Simpósio Temático também se coloca como um espaço para que se discuta o papel de novas mídias sociais e do digital na sociedade do século XXI e seu encontro com a política nos mais variados níveis.
BOURDIEU, Pierre. O campo político. Revista Brasileira de Ciência Política, nº 5. Brasília, jan-jun de 2011, p. 193-216.
CAPELATO, Maria Helena. Imprensa e história do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988
CARDOSO, Ciro Flamarion. História e poder: uma nova história política? CARDOSO, Ciro. VAINFAS, Ronaldo (Org). Novos domínios da História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, p. 37-54.
CHAMPAGNE, Patrick. Formar a opinião: o novo jogo político. Petrópolis: Vozes, 1998
RÉMOND, René. Por uma História Política. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, 2ª Ed.
Domingos Mula Cá Jr. - PPGH/UFRGS
Gabriel dos Santos Giacomazzi- Mestrando pelo PPGH/UFRGS
Saido Baldé- Mestrando pelo PPGH/UFRGS
Este Simpósio Temático propõe debater pesquisas que situem historicamente a experiência do Islã em África, considerando a sua diversidade cultural e geográfica, e suas transformações ao longo do tempo. O Islã, religião abraâmica difundida a partir da Arábia do século VII EC em diante, estabelece relações com os africanos desde seus primórdios - a tradição muçulmana reconhece o episódio da fuga dos Companheiros do Profeta Muḥammad a Axum em 615 EC, por exemplo. Adentrando o II Milênio, estas relações se constroem de maneira não-linear, para além da mera arabização e islamização, envolvendo a expansão desta fé pelas vias comercial e militar, ou ainda a resistência dos cultos tradicionais; mesmo nos casos da sua difusão, uma particularização de seus preceitos em função das tradições em cada contexto, contrariando a ortodoxia. Certa historiografia, em parte não-africana, invisibiliza o papel de ulemás, bexerins, marabutos e waganga, além das mulheres, no universo histórico-cultural islâmico em África. Porém, o Islã é “africanizado”, e a língua árabe e seu sistema de escrita exercem um papel fundamental nesse processo, integrando a África à tradição erudita islâmica e permitindo a seus intelectuais escreverem sua própria história, compondo a “biblioteca islâmica” (KANE, 2011; ROBINSON, 1985). Basta ver o exemplo das confrarias do misticismo islâmico sufi que encontram no continente africano um privilegiado espaço de difusão - a exemplo da Qadiriyyah e da Tijaniyyah, na área Ocidental, e da Ba’Alawiyyah e da Shadhiliyyah na costa Índico-africana; organizações que influenciaram diretamente na cosmovisão e nas práticas adotadas ao sul do Saara e na Costa Suaíli, cujas incorporações tradicionalistas dentro do Islã conferiram-lhes uma formulação única, próspera e não-homogênea. Em suma, serão bem-vindos neste ST trabalhos que visem restituir a “originalidade histórica” (DRAMANI-ISSIFOU, 2010) aos/à africanos/África, de modo a superar sua visão enquanto povos/terras conquistados, explorados e “civilizados” por agentes externos.
DRAMANI-ISSIFOU, Zakari. “O Islã como sistema social na África desde o século VII”. In: EL FASI, M.; HRBEK, I. (Orgs.). História Geral da África III: África do século VII ao XI, 2ª ed. Brasília: UNESCO, 2010, pp. 113-141.
KANE, Ousmane Oumar. África y la producción intelectual no eurófona: introducción al conocimiento islámico al sur del Sahara. Dakar/Barcelona: CODESRIA/Oozebap, 2011, pp. 17-37.
PINTO, Otávio Luiz Vieira. “A Crescente no Mar Eritreu: Reflexões sobre a expansão do Islã na Costa Oriental da África antes do II Milênio EC”. In: GIACOMAZZI, Gabriel; MACEDO, José Rivair; BALDÉ, Saido (Orgs.). Sociedades Africanas: Religiosidades, Identidades e Conexões Globais. No prelo.
ROBINSON, David. L’espace, les métaphores et l’intensité de l’islam ouest-africain. Annales. H.S.S., Ano 40, n. 6, pp. 1395-1405, 1985.
Anderson Romário Pereira Corrêa- Doutorando pelo PPGH/UFRGS
Caroline Duarte Matoso - Doutoranda pelo PPGH/UFRGS
Tatiane Bartmann- Doutoranda pelo PPGH/UFRGS
Vinícius Reis Furini- Doutorando pelo PPGH/UFRGS
Este Simpósio Temático pretende agregar discussões do campo de pesquisa conhecido por História Social do Trabalho (Mundos do Trabalho) em suas múltiplas abordagens, espacialidades, temporalidades e diversidade de fontes. A ampliação do campo temático, que vem acontecendo, permite: contemplar pesquisas sobre as diferentes formas de trabalho, sendo livre ou compulsório, urbano e rural, com destaque para perspectivas de gênero, sexualidade, raça e etnia; pensar as ações coletivas e o cotidiano dos trabalhadores e trabalhadoras, no ambiente de trabalho ou fora dele; abordar as dimensões estatais, legais e institucionais da regulação do trabalho em diferentes contextos e temporalidades; problematizar as múltiplas estratégias de organização política constituídas por trabalhadores e trabalhadoras; refletir acerca da própria categoria “trabalho”, atentando para os sujeitos e ocupações laborais para os quais tornava-se possível reivindicar o status de trabalhador/trabalho; perscrutar mecanismos de marginalização e criminalização de práticas definidas como incompatíveis com o trabalho; investigar as dinâmicas impostas pelo neoliberalismo e a precarização do trabalho, bem como as formas de contestação e resistência do precariado; discutir o declínio das indústrias no Brasil (processo de desindustrialização) e as disputas em torno da patrimonialização dos espaços de trabalho, refletindo sobre os lugares de memória, esquecimento e identidade da classe trabalhadora brasileira. Nesse sentido, o presente simpósio temático pretende possibilitar o diálogo entre pesquisadoras e pesquisadores do campo de pesquisa da História Social do Trabalho e as suas diferentes abordagens temáticas, teóricas e metodológicas.
FRACCARO, Glaucia Cristina Candian. Os direitos das mulheres: feminismo e trabalho no Brasil (1917-1937). São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 2018.
GREENE, Julie. Rethinking the boundaries of class: labor history and theories of class and capitalism. Labor: Studies in working class history, v. 18, n, 2, 2021.
JOSHI, Chitra. Espaços do trabalho e História Social na Índia. Revista Estudos Históricos, v. 22, n. 43, p. 5-30, 2009.
ROSA, Marcus Vinícius de Freitas. Além da invisibilidade: história social do racismo em Porto Alegre durante o pós-abolição. Porto Alegre: EST Edições, 2019.
SAVAGE, .Espaço, redes e formação de classe. Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 3, n. 5, p. 6–33, 2022.
Anne Alves - Doutoranda pelo PPGH/UFRGS
Geovane B. da Costa - Doutorando pelo PPGH/UFRGS
Entendemos que as resistências, assim como o poder, são móveis, não são idênticas, mas que tem em comum a adoção de formas de defesa e de ação contra o poder dominante. Compartilhamos também da ideia de Maria Kehl (2014: 342), de que uma atuação no campo da resistência teria como objetivo “mobilizar a sociedade (ou mobilizar grupos dentro dela), de maneira concertada, em torno de três pontos principais: a defesa e o exercício dos direitos; o enfrentamento da violência e do poder arbitrário; a retirada do consentimento ao governo ditatorial”. Assim, partindo dessas colocações, resolvemos criar este simpósio que, em sua primeira edição, teve como objetivo reunir trabalhos que abordassem formas de resistências na década de 70 no Brasil. Para este segundo ano do ST resolvemos alterar o período histórico para compreender também as resistências nas décadas de 60 e 80. Cientes do crescimento do revisionismo histórico baseado na negação e manipulação de evidências, acreditamos ser de grande importância para a compreensão da História Contemporânea, pesquisas que entrelacem manifestações culturais e políticas, sejam elas manifestações colaboracionistas, que reiteravam posturas políticas conservadoras, sejam elas manifestações engajadas, que expressavam ações de resistência, voltadas a conquistar direitos políticos ou a serem espaços de fala aos socialmente marginalizados. Neste sentido, convidamos a todos e todas que tenham objetos de pesquisa correlatos ao simpósio, a se juntar ao debate.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Tradução Roberto Machado. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1995.
_____. A ordem do discurso. Trad. Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
KEHL, Maria Rita. A resistência da sociedade civil às graves violações de direitos humanos. In: Brasil. Comissão Nacional da Verdade. Relatório: textos temáticos, v. 2. Brasília: CNV, 2014.
NAPOLITANO, Marcos. Coração Civil: Arte, Resistência e Lutas Culturais Durante o Regime Militar Brasileiro (1964-1980). Tese (Livre-docência) – Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. São Paulo, 2011.
RIDENTI, Marcelo. Artistas e Intelectuais no Brasil Pós-1960. Revista Tempo Social. Revista de Sociologia da USP. São Paulo, v. 17, nº 1, p. 81-110, 2005.
SCOTT, James C. A dominação e a arte da resistência: discursos ocultos. Tradução de Pedro Serras Pereira. Lisboa/Fortaleza: Livraria Letra Livre/Plebeu Gabinete de Leitura, 2013.
Bruno T. N. Resende - Doutorando pelo PPGH/UFRGS
Geovane B. da Costa - (Doutorando pelo PPGH/UFRGS
Mídias, ou meios de comunicação social, ou ainda mass media é o termo usado para fazer referência a todos os tipos de aparatos analógicos ou digitais utilizados para transmitir textos, imagens e áudios para uma massa heterogênea e indeterminada de pessoas. As mídias têm fins sociais e econômicos, se caracterizando entre outras questões por educarem, informarem e proporcionarem entretenimento. As mais conhecidas são os livros, jornais, revistas, rádio, cinema, televisão e internet. Além de garantir a propagação de informações e a comunicação entre indivíduos, acreditamos que as mídias podem influenciar fortemente as atitudes, crenças e expectativas do leitor, ouvinte ou do expectador. Portanto, acreditamos que as mídias têm um poder relevante na construção das identidades (coletivas e individuais), entendida por nós como um devir, como um processo inacabado que se constrói na trama de uma pluralidade social, como um resultado de produção e/ou construção de subjetividade numa relação entre o Eu e o Outro. Na última edição do EDHIST da UFRGS, realizado em novembro de 2021, tivemos discussões bastante instigantes e reunimos pesquisadores e pesquisadoras de diversas áreas das humanidades e por isso resolvemos lançar uma segunda edição desse simpósio que intenta novamente reunir pesquisadores e pesquisadoras de diversas áreas de formação que trabalhem com mass media e que reflitam historicamente como elas abordaram questões relacionadas aos imaginários, às representações e às identidades.
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 9ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
CHARTIER, Roger. A Beira da Falésia: a história entre incertezas e inquietudes. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2002.
_____. A História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
HALL, Stuart. A identidade cultural da pós-modernidade. São Paulo: DP&A, 2006.
____. Quem precisa de identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
LUCA, Tânia Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005, p. 111-154.
Fabrício Romani Gomes- Doutorando pelo PPGH/UFRGS
Jovani Scherer - Doutorando pelo PPGH/UFRGS
A promulgação da Lei 10.639 em 2003 provocou importantes reflexões na produção historiográfica brasileira e nas práticas de ensino na educação básica e universitária. A demanda por novas abordagens de conteúdos já incorporados nas práticas de ensino e aprendizagem nas escolas de ensino fundamental e médio, aliada a necessidade de incorporação de novos conteúdos históricos referentes às populações negras brasileiras nesses níveis, atendendo as determinações da Lei, sugerem a ampliação de pesquisas nos programas de pós-graduação e a transformação na formação e na prática de professores e professoras de História. Dessa forma, este Simpósio Temático busca a reflexão sobre a história da população negra no Brasil a partir da sua produção historiográfica aliada a discussão sobre diferentes práticas de ensino e aprendizagem que contribuem para a efetivação da Lei 10.639 no momento em que essa completa vinte anos. Sendo assim, buscamos: 1) promover o diálogo entre pesquisadoras e pesquisadores que se dedicam ao estudo da história de diferentes práticas associativas protagonizadas pela população negra que deram origem a irmandades, escolas de samba, clubes sociais, recreativos e/ou esportivos, entre outras possibilidades, assim como as pesquisas que se dedicam ao estudo da capoeira e capoeiristas em diferentes perspectivas, contemplando também temas relacionados às presenças e as práticas das diferentes manifestações das religiões afro-brasileiras; 2) refletir sobre diferentes experiências de ensino e aprendizagem históricas que abordam temáticas relacionadas ao associativismo, a capoeira e as religiões afro-brasileiras em suas ações pedagógicas.
Referências:
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. Tradução: Julia Romeu. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
hooks, bell. Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática. Tradução: Bhuvi Libanio. São Paulo: Elefante, 2020.
PEREIRA, Amilcar Araujo; MONTEIRO, Ana Maria (org.). Ensino de história e culturas afro-brasileiras e indígenas. Rio de Janeiro: Pallas, 2013.
TROUILLOT, Michel-Rolph. Silenciando o passado: poder e a produção da história. Tradução: Sebastião Nascimento. Curitiba: Huya, 2016.
Felipe Treviso Bresolin - Mestrando pelo PPGH/UFRGS
João Pedro Doria Rossi Barreira- Mestrando pelo PPGH/UFRGS
O marxismo, diferentemente de outras correntes e perspectivas no campo das ciências humanas, não pode ser compreendida somente a partir da metodologia e categorias de análises, mas também a partir da sua experiência política. A relação teoria-prática presente no marxismo faz com que a preocupação dos intelectuais vinculados a esta perspectiva seja, ao mesmo tempo, a compreensão da realidade que se está analisando e a busca por incidir e alterar essa realidade. No sul global, em particular, as experiências políticas como as revoluções e lutas sociais em solo africano, americano e asiático a partir da segunda metade do século XX, assim como a apreensão dos escritos marxianos/marxistas e a elaboração de intelectuais como Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra, Angela Davis, Franz Fanon, Ho Chi Min, José Carlos Mariategui, entre outros, indicam a força dessas perspectivas a nível político. Da mesma forma, a formulação e contribuição de autores mais vinculados ao campo da historiografia como Caio Prado Junior, Clóvis Moura, Ciro Flamarion, Gabriel Salazar, Theotônio dos Santos, C. L. R. James, Vijay Prashad, entre outros indicam a forte presença da perspectiva marxista na historiografia como também a heterogeneidade deste campo, tanto no sentido prático como teórico. Dessa forma, o intuito do presente Simpósio Temático é aglutinar discussões que partam deste método de análise para compreender temáticas variadas, a exemplo: Trabalhadores/as e experiências organizativas da classe trabalhadora do passado até o presente; Partidos, organizações e movimentos sociais urbanos e rurais; Mulheres, Raça e Classe; O Sul global na atualidade: ascensão da extrema-direita, resistência e luta de classes; Intelectuais e Política; Imperialismo, crise e conflitos sociais; e Debates teóricos e conceituais no âmbito das ciências humanas.
AMIN, Samir. Somente os povos fazem a sua própria história. São Paulo: Expressão Popular, 2020.
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo Editorial, 2016.
FONTES, Virgínia. O Brasil e o capital-imperialismo: teoria e história. Rio de Janeiro: Edufrj, 2010.
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985.
HARNECKER, Marta. Os conceitos elementares do materialismo histórico. São Paulo: Global, 1983.
Messias Araujo Cardozo- Doutorando pelo PPGH/UFRGS
Polliana Borba- Mestranda pelo PPGH/UFRGS
O simpósio temático tem por foco discutir o ensino de história em suas múltiplas formas de análise: abordando pesquisas bibliográficas e ou empíricas sobre o ensino de história, as práticas docentes, os sujeitos, as experiências e as reflexões em vários espaços. O negacionismo histórico no Brasil contemporâneo e as discussões sobre história pública, produziram maiores reflexões por parte dos historiadores e educadores sobre as formas de ensinar história. A ênfase na defesa dos valores democráticos e da diversidade humana, somado a perspectiva de criação de uma consciência história crítica nos alunos, ainda são dois eixos importantes para pensarmos o ensino da disciplina de história no Brasil. Nesse sentido, as reflexões em torno do ensino de história, das práticas docentes, dos sujeitos, experiências e reflexões teóricas sobre o tema são tão fundamentais.
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. “Capítulo 12. Por um ensino que deforme: o futuro da prática docente no campo da história” In: ____________________. O tecelão dos tempos: novos ensaios de teoria da História. ed. São Paulo: Intermeios, 2019. p. 233-243.
NADAI, Elza. O ensino de História no Brasil: trajetória e perspectivas. Revista brasileira de História, São Paulo, n. 13, v. 25/26, pp. 143-162, set.92/ago. 93.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Cultura Histórica e aprendizagem histórica. Revista NUPEM, Campo Mourão, v.6, n.10, p.31-50, jan./jun. 2014.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão de Rezende (Org.). Jörn Rüsen e o Ensino de História. Curitiba: Editora da UFPR, 2011.
Rafael Barbosa de Jesus Santana - Doutorando pelo PPGH/UFRGS
Renata Dariva Costa
O presente simpósio temático tem como objetivo abranger pesquisas que sejam relatos de caso do ensino de História da África em sala de aula a partir do cinema e da literatura e das artes no geral, assim como trabalhos que tenham como temática principal de pesquisa as relações do cinema, artes e/ou da literatura no continente africano. Thiong’o (2007) questionava se os cinemas e literaturas africanas eram pré-requisito para a descolonização da mente. Tanto o cinema como a literatura foram vistos como ferramentas para a descolonização da mente a partir das múltiplas independências e descolonizações no continente por escritores de “fronteira”. Com o objetivo de se criar um banco de imagens em narrativas (STAM; SHOHAT, 2006) que rompesse com as múltiplas esferas coloniais, surge em 1950/1960 diversas cinematografias e literaturas voltadas para se pensar os novos países. Como podemos trabalhar com as representações elaboradas nos cinemas, nas literaturas africanas e em outras artes em sala de aula? Os cinemas africanos e as literaturas africanas, assim como as artes em geral, ainda têm como objetivo a descolonização da mente? Como as artes e a literatura podem auxiliar para o ensino de História da África no Brasil levando em consideração as leis 10.639/2003, e a implementação dos artigos 26 A e 79 B e os movimentos afro-diaspóricos? Este simpósio temático acolherá trabalhos que problematizem aspectos relacionados às múltiplas possibilidades de pesquisa de História da África e movimentos diaspóricos considerando objetos de estudos vinculados às artes, à literatura e ao cinema, levando em consideração os múltiplos espaços e temporalidades do continente africano e da diáspora tanto numa perspectiva ainda do “banco de imagens” da “biblioteca colonial” (MUDIMBE, 2013) como nas pós-independências dos diferentes países africanos.
MUDIMBE, Valentin. A invenção da África: Gnose, filosofia e a ordem do conhecimento. Ramada: Edições Pedago, 2013.
STAM, Robert; SHOHAT, Ella. Crítica da imagem eurocêntrica, multiculturalismo e representação. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
THIONG’O, Ngugi Wa. A descolonização da mente é um pré-requisito para a prática criativa do cinema africano? In: MELEIRO, Alessandra. Cinema no mundo: Indústria, política e mercado. São paulo: Iniciativa Cultural, 2007.
Cristian Bianchini de Athayde - Mestrando pelo ppgh/UFRGS
Juliano Lima Schualtz - Mestrando pelo ppgh/UFRGS
O texto literário de ficção tem função desestabilizadora em relação ao horizonte hermenêutico e de semântica histórica sedimentado socialmente. Em relação à escrita da história, o que o texto ficcional tensiona é justamente a crença orientadora de pretensão à verdade e precisão objetivista na representação e recuperação do passado pela história-disciplina. Pelas suas correlações junto ao ficcional, a escrita da história pode ser compreendida como uma incessante abertura de horizontes compreensivos.
Quanto ao tópico da verdade e do sentido, a afirmação de Koselleck de que “cada história, em sua própria consumação, em si mesma, não tem sentido” e que “a verdade da história é sempre uma verdade ex post” não deveria nos espantar. Ao não essencializar o sentido das coisas, fenômenos e acontecimentos, reitera-os como necessários de sempre serem mobilizados individual e coletivamente: destaca-se sua faceta existencial e ético-política. Mas uma indagação permanece e Luiz Costa Lima arrisca: "como o sentido é alcançável [depois do fato]? Penso que pela coincidência aproximativa a que obedece a regularidade dos fenômenos e o que é admissível pelos códigos discursivos vigentes em uma sociedade” (COSTA LIMA, 2021, p. 242). Assim, justifica-se a reflexão teórica-análica sobre escrita da história e escrita literária de ficção, pois ambas têm a ver com a determinação de diferença entre articulação verbal e experiência pré-extraverbal. Nessa determinação de diferença, situam-se e pulsam temporalidades, historicidades e sentidos heterogêneos que são, narrativa e esteticamente, possíveis de serem figurados poética, simbólica e metaforicamente.
Com isso, estimulam-se contribuições que: abordem aberturas à reflexão teórica (tensionamentos e transitividades) entre escrita da história e ficção literária (considerando a multiplicidade de gêneros discursivos desta); examinem obras literárias visando explorar modos de fornecer sentidos às experiências em seu acontecer histórico-temporal; bem como investiguem problematizações possíveis à relação texto-contexto, linguagem-sociedade. Por fim, espera-se debater o tópico da representação historiadora por meio destas questões.
COSTA LIMA, L. História, Ficção, Literatura. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2006.
COSTA LIMA, Luiz. O Chão da Mente: a pergunta pela ficção. São Paulo, editora UNESP, 2021.
KOSELLECK, Reinhart. Uma latente filosofia do tempo. Organizado por Hans Ulrich Gumbrecht e Thamara de Oliveira Rodrigues. SP: Unesp, 2021.
RICŒUR, Paul. Tempo e narrativa. São Paulo: Martins Fontes, 2010/2011. 3 v.
WHITE, Hayden. Meta-história. A imaginação histórica no século XIX. São Paulo: Edusp, 1992.