Mecanismos de defesa como forma de sobrevivência do EGO
Mecanismos de defesa como forma de sobrevivência do EGO
Ao desenvolver a psicanálise, Freud elaborou a teoria da segunda tópica, dividindo a psique humana em três partes distintas: ID (formada por nossos instintos e desejos), SUPEREGO (formado consequentemente pelas normas e leis externas internalizadas) e o EGO (a estrutura psíquica consciente responsável pelo equilíbrio entre os desejos do ID e as idealizações do Superego). O EGO constantemente é desafiado por desejos do ID que insistem em tornar-se consciente causando assim um perigo a existência desta estrutura consciente. Como forma de se proteger, o EGO desenvolve técnicas que visam a sua sobrevivência e proteção na qual, denominamos de “mecanismos de defesa”. Esses mecanismos são estratégias mentais e inconscientes que o EGO utiliza para conseguir lidar com os conflitos internos pois, eles ajudam a reduzir o desconforto causado por esses desejos impostos pelo ID.
A Psicanálise possui diversos mecanismos de defesas em sua teoria, porém, abordaremos alguns apenas para exemplificar a sua funcionalidade.
Racionalização: este mecanismo tem como objetivo encontrar uma justificativa para aquilo que sentimos ou fazemos. Todas as nossas ações são motivadas por algo (seja consciente ou não) porém, no caso deste mecanismo buscamos uma justificativa para não precisarmos lidar com este sentimento. Peguemos como exemplo o jovem Fernando de quinze anos. Ele foi reprovado em matemática na escola e ao invés de reconhecer que não estudou o suficiente, ele racionaliza dizendo para si mesmo e para os outros que, a prova estava muito difícil e que o professor não explicou direito o conteúdo. A racionalização aparece como uma “desculpa” para que, o Fernando não precise lidar com o sentimento de culpa por não ter se dedicado mais.
Projeção: tem como objetivo projetar em um objeto externo aquilo que não conseguimos aceitar em nós mesmos. Usando o Fernando como exemplo podemos dizer que, o jovem acusa os seus amigos de estarem com medo ou nervosos quando, na verdade, ele não consegue lidar com esses sentimentos dentro de si e por isso, projeta no externo.
Introjeção: este mecanismo acontece quando internalizamos algo externo o intensificando-o de forma exagerada. Em uma de suas apresentações da escola Fernando recebeu criticas construtivas de um professor de pontuava possíveis melhoras em sua postura porém, o mesmo internalizou essas criticas de forma exagerada sentindo-se culpado e inferior, mesmo que as criticas não tenham sido sobre ele e sim sobre a postura apresentada naquele trabalho.
Sublimação: é quando redirecionamos a energia de nossas frustrações em atividades que podem trazer algum tipo de benefício. Como exemplo usemos o jovem Fernando que, focou as suas ansiedades e agressividade devido aos problemas em casa para as aulas de artes marciais, onde consegue expressar se forma positiva e construtiva, trabalhando assim, sua confiança e equilíbrio emocional.
Os mecanismos de defesa acima relatam a luta do EGO para lidar com emoções intensas e conflitos internos, buscando meios de preservar sua integridade diante dessas pressões emocionais.
Como mencionado anteriormente, o papel do EGO é buscar o equilíbrio entre os desejos do ID e as exigências do SUPEREGO, porém esta ação é ameaçada por ambas as partes buscando apenas a satisfação de suas próprias necessidades. Analisemos mais uma vez o caso do Fernando que cresceu com um pai extremamente crítico e perfeccionista que, só conseguia pontuar os defeitos do filho e uma mãe superprotetora que, para compensar a falta de coragem de confrontar o marido, eximia o filho de toda responsabilidade de seus atos. Podemos imaginar que nosso personagem cresceu com um sentimento de insuficiência causando-lhe insegurança em seus atos, mas incapaz de lidar com as consequências de suas ações. Imagine quantos sentimentos reprimidos estão acumulados no ID lutando ferozmente para sair sendo que, do outro lado, temos um SUPEREGO rigoroso que constantemente o lembra de sua insuficiência. Partindo deste cenário, imagina a situação do EGO desviando deste “tiroteio” de sentimentos que ameaça o seu equilibro e existência. Um EGO que não aprendeu a como lidar com as frustrações e simplesmente recalcou ela o mais fundo possível no terreno do inconsciente de forma a não ter mais acesso, porém que, constantemente é defrontado por estes sentimentos. Este mesmo EGO não conseguiu desenvolver um SUPEREGO que busca o equilíbrio e a compreensão das coisas sendo que, sua única ação é criticar tudo aquilo que seja menos do que perfeito. Este é o EGO que, buscará qualquer ferramenta que lhe permita não sentir todas essas sensações na qual, encontrou nos mecanismos de defesas formas de manter a sua estrutura preservada.
Olhando por um olhar psicanalítico podemos ver que, mesmo que os mecanismo de defesa pode ser visto como necessários para a sobrevivência do paciente em uma época que ele não saberia lidar com aqueles sentimentos, manter-se nesse ciclo é prejudicial pois, eles o impedem de ressignificar tais sentimentos e viver uma vida psíquica equilibrada. É função do psicanalista identificar este mecanismo e gradativamente encontrar os motivos que levaram a sua criação permitindo assim, lidar com o sentimento e trabalhá-lo de forma saudável.
Desta forma, podemos concluir que, por detrás de todo mecanismo de defesa encontramos uma fonte de energia psíquica mal elaborada que necessita ser ressignificada para encontrar o equilíbrio saudável. É através do processo terapêutico que o paciente encontrará os caminhos para entender, vivenciar e internalizar formas mais conscientes e saudáveis de suas frustrações passadas.