Na lição anterior, estudamos como aplicar um design-padrão para oferecer uma boa experiência ao usuário. Agora, avançamos mais um passo e focamos no conteúdo que será inserido no seu aplicativo. Isso mesmo: chegou o momento de falar sobre arquitetura da informação.
Nosso objetivo, nesta lição, é explorar os princípios da arquitetura da informação no contexto do desenvolvimento de aplicativos Android com Kotlin. Destacamos a importância de se organizar conteúdos e funcionalidades de forma clara, lógica e acessível. Você entenderá como a estrutura das informações impacta diretamente a experiência do usuário, especialmente, no que diz respeito à navegação entre telas, à hierarquia de conteúdos e à facilidade de uso.
Ao final desta lição, você, futuro técnico em desenvolvimento de sistemas, será capaz de planejar e aplicar uma arquitetura da informação bem estruturada em seus projetos. Isso inclui organizar o conteúdo com coerência, estabelecer hierarquias claras e desenhar fluxos de navegação que orientem o usuário de maneira intuitiva. Assim, será possível criar aplicativos mais funcionais, acessíveis e alinhados às expectativas do seu público-alvo.
No desenvolvimento de aplicativos móveis, uma das dificuldades mais recorrentes enfrentadas pelos usuários é a desorganização das informações e a complexidade na navegação. É comum que, diante de uma interface sem estrutura clara, o usuário se sinta perdido ao tentar realizar ações simples, como encontrar uma funcionalidade específica, entender o fluxo de uso ou localizar informações importantes. Essa confusão impacta diretamente a experiência de uso, causando frustração, desmotivação e até mesmo o abandono do aplicativo. Quando um sistema exige esforço excessivo para ser compreendido, ele deixa de ser eficiente e se torna uma barreira — mesmo que sua proposta inicial seja útil ou inovadora.
A arquitetura da informação surge como solução estratégica para essa problematização, pois seu objetivo é organizar, estruturar e apresentar os conteúdos e as funcionalidades de forma lógica, coerente e acessível. Ao aplicar seus princípios, os desenvolvedores conseguem definir uma hierarquia clara entre as informações, criando uma ordem intuitiva que guia o usuário durante sua jornada no aplicativo. Isso inclui desde o posicionamento de menus e botões até a categorização dos conteúdos e a definição de caminhos de navegação consistentes. Com uma boa arquitetura da informação, o aplicativo se torna mais fácil de entender, de usar e de explorar, aumentando a satisfação do usuário, otimizando seu tempo e fortalecendo o vínculo com o produto.
Vamos entender isso melhor?
Vamos entender, agora, como a arquitetura da informação funciona na prática. Conheça a empresa fictícia AppSolution, especializada em soluções para o setor educacional, que enfrentava críticas constantes a respeito de seu aplicativo de gestão acadêmica, considerado confuso e difícil de usar. Apesar de possuir diversas funcionalidades, os usuários tinham dificuldade em localizar informações básicas, o que levava ao abandono do uso do aplicativo no dia a dia.
Diante desse cenário, a equipe de design e desenvolvimento da empresa reestruturou o aplicativo com base nos princípios da arquitetura da informação. Após realizar pesquisas com usuários, reorganizaram os conteúdos, criaram uma hierarquia visual clara e redesenharam a navegação, tornando o acesso às funções mais simples e intuitivo.
Após a reformulação, a nova versão do aplicativo foi disponibilizada para um grupo de testes e, em seguida, lançada oficialmente. O resultado foi positivo: os usuários passaram a elogiar a facilidade de uso, a clareza na disposição das informações e a agilidade na realização de tarefas. A taxa de uso do aplicativo aumentou significativamente, principalmente, entre os estudantes, e o índice de satisfação geral subiu mais de 40%.
Observe que, com esse exemplo, observamos, na prática, como a aplicação da arquitetura da informação é capaz de transformar um aplicativo funcional, porém desorganizado, em uma solução realmente eficiente, intuitiva e centrada nas necessidades do usuário.
A arquitetura da informação pode ser definida como o processo de organização, estruturação e apresentação das informações de forma clara e lógica dentro de um sistema digital. Camargo e Vidotti (2011) a definem como a elaboração de uma estrutura que visa à organização das informações para que os usuários possam acessá-las mais facilmente e encontrar seus caminhos para a construção do conhecimento. No contexto do desenvolvimento de aplicativos móveis, ela é essencial para garantir que o usuário consiga encontrar e acessar facilmente os conteúdos e as funcionalidades oferecidos, sem confusão ou esforço excessivo. Sua principal função é tornar a interação mais fluida, coerente e intuitiva, evitando sobrecarga de informações ou caminhos de navegação desorganizados.
A relação da arquitetura da informação com a usabilidade e a experiência do usuário é direta: quando bem aplicada, ela melhora significativamente a eficiência do aplicativo, reduz a frustração dos usuários e contribui para uma navegação mais agradável. Uma interface bem estruturada, com informações hierarquizadas de maneira lógica e menus intuitivos, promove um ambiente digital acessível e funcional, refletindo positivamente a satisfação e a retenção do usuário.
A organização e a estrutura da informação em um aplicativo são responsáveis por garantir que os conteúdos e as funcionalidades estejam distribuídos de forma lógica, facilitando a navegação e a compreensão por parte do usuário. Classificar e agrupar informações significa identificar quais dados ou recursos pertencem a uma mesma categoria ou função, organizando-os de forma coesa. Já a hierarquização envolve definir níveis de importância e relacionamento entre esses elementos, destacando o que é mais relevante e facilitando o acesso às informações principais.
São utilizados, para tanto, princípios de categorização lógica, que consideram tanto a perspectiva do usuário quanto os objetivos do aplicativo. A apresentação clara dos dados na interface depende dessa estrutura bem definida, que deve evitar sobrecarga visual e confusão, oferecendo caminhos de navegação objetivos e consistentes. Um bom exemplo da aplicação desses princípios é a separação de um aplicativo educacional em áreas como: Aulas, Tarefas, Notas e Mensagens, cada uma com seu conteúdo organizado de forma previsível e acessível, respeitando a lógica do uso cotidiano do usuário. Quando bem aplicada, essa estrutura contribui diretamente para uma experiência mais fluida, eficiente e satisfatória.
A hierarquia visual e funcional é um dos pilares da arquitetura da informação, pois permite destacar os elementos mais relevantes da interface e orientar a atenção do usuário durante a navegação. Moraes Junior (2024) a define como um método de sistematização das informações em grupos, sendo uma das formas mais eficazes de iniciar um projeto de arquitetura da informação. Em aplicativos móveis, nos quais o espaço de tela é limitado, estabelecer uma hierarquia clara é essencial para que o usuário compreenda rapidamente o que pode ou deve ser feito em cada tela. Essa hierarquia determina o que será visto primeiro, o que deve se destacar e quais ações têm prioridade, contribuindo diretamente para uma experiência mais intuitiva e eficiente.
Para construir essa estrutura, são utilizados recursos visuais, como o tamanho dos elementos, o contraste de cores, a tipografia e a disposição dos componentes na tela. Títulos maiores e destacados, botões coloridos para ações principais e o posicionamento estratégico de informações relevantes ajudam o usuário a identificar rapidamente os caminhos e funcionalidades disponíveis. Além do aspecto visual, a hierarquia funcional organiza as ações conforme seus níveis de prioridade, facilitando a execução de tarefas com poucos toques. Quando bem planejada, essa hierarquia melhora significativamente a usabilidade, reduz erros e reforça a sensação de controle do usuário sobre o aplicativo.
O fluxo de navegação se refere ao percurso realizado pelo usuário dentro de um aplicativo, desde o acesso à tela inicial até a conclusão de uma tarefa ou a saída do sistema. Esse fluxo representa os caminhos disponíveis entre telas, menus, botões e funcionalidades, e deve ser cuidadosamente planejado para garantir uma experiência fluida, lógica e livre de interrupções desnecessárias. Uma boa estrutura de navegação assegura que o usuário saiba em que etapa está, como retornar e quais opções estão disponíveis em cada estágio do uso.
Existem diferentes tipos de navegação que podem ser adotados conforme os objetivos do aplicativo e o perfil do público-alvo. A navegação linear conduz o usuário por um caminho sequencial, sendo comum em processos de cadastro ou tutoriais. A navegação hierárquica organiza o conteúdo por níveis de importância, como em menus com submenus. Já a navegação em rede permite um acesso mais livre entre diferentes áreas do aplicativo, sendo ideal para aplicativos com múltiplas funcionalidades interligadas.
No desenvolvimento com Kotlin utilizando Jetpack Compose, essas estruturas podem ser implementadas por meio de ferramentas, como o Navigation Component, que permite criar rotas entre telas e controlar o comportamento da navegação com segurança e flexibilidade. O uso de NavHost e NavController facilita a gestão dos caminhos possíveis dentro do aplicativo, respeitando a arquitetura planejada e proporcionando uma experiência coerente e bem estruturada para o usuário. Observe um exemplo de implementação desses componentes na Figura 1 a seguir:
Os padrões de navegação no Android são conjuntos de boas práticas e componentes visuais padronizados que facilitam a interação do usuário com o aplicativo. Eles contribuem para a consistência da experiência entre diferentes aplicativos, promovendo familiaridade e reduzindo o tempo de aprendizado. No desenvolvimento com Kotlin e Jetpack Compose, esses padrões podem ser aplicados de forma prática por meio de componentes nativos da própria plataforma.
Entre os padrões mais utilizados, destaca-se o Bottom Navigation, uma barra fixa na parte inferior da tela com ícones que representam as seções principais do aplicativo – ideal para até cinco destinos. O Drawer Navigation, também conhecido como menu lateral, é recomendado para aplicações com diversas seções e opções de navegação mais extensas; costuma ser acessado por um ícone de menu (hambúrguer) localizado na parte superior da interface. Já as abas (tabs) são indicadas quando o conteúdo pode ser organizado em categorias relacionadas e acessado rapidamente por toques simples, como em galerias ou listas filtradas. A barra de ferramentas (TopAppBar) permite a inclusão de botões de ação, título da tela e ícones de navegação, reforçando a orientação do usuário em cada etapa do uso.
Ao adotar esses padrões, o desenvolvedor contribui para a criação de interfaces mais intuitivas e alinhadas às expectativas dos usuários do sistema Android, promovendo uma experiência mais fluida, eficiente e visualmente coerente.
A integração da arquitetura da informação com Kotlin e Jetpack Compose permite transformar o planejamento da estrutura de navegação e a hierarquia de um aplicativo em uma implementação funcional e organizada no código. Para tanto, é essencial utilizar os recursos nativos do Jetpack Compose em conjunto com o Navigation Component, que possibilita a criação de rotas claras entre telas, garantindo uma navegação coerente e previsível.
Com o uso do NavHost e do NavController, é possível estruturar o fluxo de telas conforme a lógica definida na arquitetura da informação, criando caminhos diretos ou hierárquicos entre funcionalidades. Cada tela pode ser tratada como um destino, associado a uma rota específica, o que facilita tanto a manutenção do código quanto a compreensão da estrutura geral do aplicativo.
Essa integração entre estrutura informacional e desenvolvimento com Kotlin assegura que a experiência do usuário seja planejada desde a concepção até a implementação, garantindo consistência visual, lógica funcional e facilidade de uso. Ao aplicar esses conceitos no código, o desenvolvedor garante que cada parte da interface esteja corretamente posicionada, acessível no momento adequado e organizada de forma que o usuário possa navegar com clareza e confiança.
Compreender e aplicar os princípios da arquitetura da informação é fundamental para você, futuro técnico em desenvolvimento de sistemas, pois é isso que transforma um aplicativo tecnicamente funcional em uma solução verdadeiramente eficaz e centrada no usuário. Ao estruturar conteúdos e funcionalidades de forma clara, lógica e acessível, o profissional contribui diretamente para uma experiência de uso mais fluida e intuitiva.
Esse conhecimento é essencial para planejar fluxos de navegação coerentes, organizar visualmente os elementos com eficiência e construir interfaces que orientem o usuário de maneira natural. Dessa forma, reduz-se a ocorrência de erros, dúvidas e frustrações durante o uso do aplicativo, promovendo interações mais agradáveis, produtivas e confiáveis.
Chegou a sua vez! Para tanto, siga os passos:
Abra o Android Studio e crie um novo projeto com Empty Activity.
Implemente o código da Figura 2, a seguir, no arquivo MainActivity.
Implementamos os principais sistemas de navegação e hierarquia da informação estudados ao longo da lição. Agora, é a sua vez de desafiar colegas e professores: que tal melhorar esse código, extraindo os componentes para arquivos separados, tornando sua leitura mais clara e organizada? Você também pode incorporar novos componentes e funcionalidades conforme as necessidades do seu desafio, expandindo o potencial do projeto.
CAMARGO, L. S. de A. de; VIDOTTI, S. A. B. G. Arquitetura da informação: uma abordagem prática para o tratamento de conteúdo e interface em ambientes informações digitais. Rio de Janeiro: LTC, 2011.
MORAES JUNIOR, J. K. S. Arquitetura da informação. São Paulo: Editora Senac, 2024. (Série universitária).