A adolescência é caracterizada por um aumento da plasticidade cerebral, o que permite a ocorrência de períodos de adaptação e crescimento, mas também uma potencial reorganização atípica que poderá interferir com o funcionamento adaptativo. Desta forma, é essencial investigar os períodos de vulnerabilidade e oportunidade na transição da infância para a idade adulta.
Neste simpósio, discutiremos as importantes alterações neurais, percetivas e cognitivas que ocorrem na adolescência, bem como os desafios e oportunidades que lhes estão associados. Também discutiremos os resultados preliminares do Projeto Restart - “My voice or yours? Developing self-other voice perception in adolescence”, financiado pela FCT (referencência 2023.00041.RESTART).
Convidámos todos os investigadores, adolescentes e as suas famílias, professores, profissionais de saúde e todos os interessados na adolescência a juntarem-se a nós no dia 12 de Junho na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.
Keynote Lecture
Leah Somerville é Professora de Psicologia na Universidade de Harvard, Professora no Harvard College (Endowed 2021-2026) e parte da equipa do Center for Brain Science.
A sua investigação centra-se no cérebro do adolescente, especificamente compreender as suas características e as consequências do desenvolvimento do cérebro no funcionamento psicológico e no bem-estar. O seu trabalho integra abordagens comportamentais, computacionais e de neuroimagem, incluindo a participação no Human Connectome Project in Development, um estudo focado no desenvolvimento da conectividade cerebral e financiado por instituições de saúde governamentais. Além do seu trabalho enquanto diretora do Affective Neuroscience and Development Lab e de lecionar em cursos de graduação e pós-graduação, Leah é ainda Diretora de Estudos de Pós-Graduação do Departamento de Psicologia.
Ao longo do seu percurso profissional, Leah recebeu vários prémios incluindo o FJ McGuigan Early Career Research Prize for Understanding the Human Mind, o APS Janet Taylor Spence Award for Transformative Early Career Contributions e o Everett Mendelsohn Excellence in Mentoring Award.
Quer saber mais sobre o nosso projeto? Encontra aqui um breve resumo:
As vozes são omnipresentes: como é que distinguimos a nossa voz das outras vozes na vida quotidiana? Como é que essa distinção é afetada por alterações maturacionais do trato vocal?
A adolescência é a altura em que ocorrem as alterações mais dramáticas nos mecanismos sensórios-motores que apoiam a monitorização da voz do próprio devido ao crescimento da laringe, o que se reflete nas propriedades acústicas da voz do próprio. É também nesta altura que há uma maior exposição a novas vozes, uma vez que as relações com os pares se tornam cada vez mais importantes. Os desafios de desenvolvimento trazidos pela adolescência implicam mudanças críticas nos sistemas de produção e perceção da voz que podem ter impacto na distinção eu-outro.
Surpreendentemente, a perceção da voz do próprio tem sido menos investigada do que a face e os estudos existentes têm-se centrado em amostras de adultos, fora de um período sensível para a monitorização da voz do próprio. Falta assim especificar como se desenvolvem as representações da voz do próprio na adolescência, como diferem das representações de vozes familiares e não familiares e como se prevê e perceciona o feedback da voz do próprio. É essencial compreender como se distingue a voz do outro, uma vez que a distinção alterada entre o eu e o outro está no cerne de fenómenos como as alucinações verbais auditivas, que são experimentadas ao longo de um espetro de propensão para a alucinação na população em geral e são notoriamente mais prevalentes na adolescência.
Com base no nosso trabalho anterior, o presente projeto visa colmatar as lacunas acima indicadas. Irá (1) constituir a primeira investigação específica da dinâmica temporal do cérebro e dos circuitos neurais subjacentes à monitorização da voz do próprio na adolescência; (2) investigar as representações percetivas do eu e das vozes familiares, e a forma como a sua perceção difere das identidades vocais desconhecidas, como processos que têm impacto na perceção da pessoa. Para tal, recorre a uma combinação inovadora e de última geração de métodos psicofísicos (morfologia da voz), neurofisiológicos (EEG) e computacionais (modelação causal dinâmica). Como objetivo exploratório, será testada a relação entre os índices neurais de monitorização da voz do próprio e a predisposição para experienciar alucinações. Ao abordar estes objetivos através de métodos combinados, este projeto responderá a questões fundamentais sobre a perceção do eu e dos outros na adolescência.
Faculdade de Psicologia
Alameda da Universidade