THIS VOICE IS NOT MY VOICE


2017

(HD vídeo, ecrã dividido, 16:9, cor, som, 9 min 27 s)

Este vídeo recebeu o Prémio Margot Dias e Benjamin Pereira da APA - Associação Portuguesa de Antropologia, para melhor Ensaio Audiovisual.


Foca um questionamento pessoal sobre o sentido da construção cultural a que chamamos arte e o sentido de, como artista, ser agente participante num sistema de legitimação baseado numa tríade muito problemática de fatores: institucionalização, mercado e discurso.


Nesse contexto, o vídeo apresenta um processo de reconstrução identitária como artista após as experiências artivistas anteriormente desenvolvidas. Resulta de uma busca de formas sensíveis de interpretação do mundo com potencial transformador que reaproximem a estética da ética, o eu do outro, a arte da sociedade. Nesse sentido, desenvolvi uma estética que usa a videoarte como meio, a antropologia visual como processo e a dimensão performativa de certas práticas artísticas como objeto de análise.


Pela performance e pelo vídeo procurei numa linguagem simultaneamente poética, antropológica e política estabelecer um profundo diálogo corpo-imagem, ritual-arte e passado-transformação. Na busca de alternativas na performatividade ritual do corpo e na sua ligação com a imagem em movimento procurei expressar possibilidades de identificação, perceção e reconhecimento.


Ao longo do vídeo recorri constantemente a imagens de arquivo, quer pessoais, quer da internet. Recorri ao meu arquivo pessoal de vídeos como um olhar caleidoscópico ao meu trabalho passado, incluindo a documentação das performances artivistas realizadas em 2014 em colaboração com mais de 100 pessoas. Recorri também a imagens da internet, retirando imagens oficiais da FIAC - feira de arte contemporânea de Paris e das filmagens online de João Mário Grilo sobre a exposição de Rui Chafes no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.


As imagens de rituais indígenas que surgem no vídeo estavam também disponíveis na rede, no youtube, e são dos filmes
Kuarup Kamaiurá de Toni Lotar (feito em colaboração com indígenas) e O Amendoim da Cutia de Komoi Panará e Paturi Panará (realizado por indígenas no âmbito do projeto Vídeo nas Aldeias).


A opção por imagens de arquivo encontra-se em consonância com o arquivo de filmes do projecionista que aparece ao longo do vídeo numa cabine de cinema (documentam o seu trabalho na Cinemateca Portuguesa, quando eu próprio também me encontrava a trabalhar na sala de cinema do Palácio Foz).


Ao nível do áudio misturam-se uma série de sons captados ao longo de anos por mim e uma voz de locução a ler um texto que escrevi para este vídeo. Usei também sonoridades de rituais indígenas retirados da banda sonora dos filmes anteriormente referidos, misturados com a música eletrónica de Nicolas Jaar.


A composição da edição de vídeo fez-se mais uma vez em jogos duplos de imagens lado a lado, como binómios visuais. Desse modo pretendeu-se obter combinações de sentidos além da simples soma das imagens isoladas (em que não seja apenas: imagem A + imagem B = sentido AB; mas sim: imagem A + imagem B = sentido ABC).


O tom geral é de balanço e de procura de um caminho na arte, para a arte, pela arte. Em busca de ir ao encontro do Outro, encontrando-me nessa experiência a mim mesmo.