O CARNAVAL É UM PALCO, A ILHA UMA FESTA


2012 - 2013

(filme | HD vídeo, ecrã dividido, 16:9, cor, som, 1 h 32 min 35 s)

Este filme — a minha primeira longa-metragem — cruza a videoarte com um processo antropológico de cunho documental. Foca-se num fenómeno cultural único e quase desconhecido: as Danças de Carnaval da ilha Terceira.




Essas Danças de Carnaval são um momento de comunhão da comunidade local em que muita gente se torna artista — lavradores viram atores, pescadores travestem-se e até padres cantam — pois o Carnaval celebra-se anualmente em torno de centenas de espetáculos de teatro, dança e música criados pela própria população, segundo antigas tradições permanentemente atualizadas e reinventadas segundo um folclore contemporâneo. Em 2012, numa população em torno dos 57 000 habitantes, havia na Terceira cerca de 60 grupos de teatro de Carnaval, cada um fazendo dezenas de apresentações à volta da ilha.


Tanto os espetáculos de "bailinhos" (comédias musicais), como os "autos de espada" (tragédias) acontecem em salões rurais de teatro, com mesas abundantes de comida e muito convívio. Dança-se rock, pop ou kuduro, mas tocado com cavaquinhos, acordeões e pandeiretas. Termaticamente domina a sátira e visualmente destacam-se os exuberantes figurinos. Entre as muitas curiosidades está o facto de o dramaturgo mais conceituado da ilha ser um taxista. Ao longo de todo o processo, no palco ou fora dele, gera-se uma enorme festa popular na ilha. A qual inclusivamente é transmitida em live stream via internet, especialmente para os emigrantes nos EUA.


O filme documenta tanto o que pode desaparecer porque é frágil, efémero, imaterial, como o que é emergentemente criativo, novo, dinâmico. A sua edição visa dar uma múltipla percepção de um fenómeno que é também ele múltiplo na sua estrutura cultural, artística, histórica, económica, social, política, etnográfica e, no fundo, identitária.


É feita uma apresentação em sistema duplo de imagens (split screen), de acordo com uma praxis que tem sido recorrente no meu trabalho. Por meio desse constante dispositivo de pretendeu-se obter combinações de sentidos além da simples soma das imagens individuais (em que não seja apenas: imagem A + imagem B = sentido AB; mas sim: imagem A + imagem B = sentido ABC).


O Carnaval é um palco, a ilha uma festa estreou-se na Cinemateca Portuguesa e foi apresentado no Festival Internacional de Cinema QueerLisboa, onde foi nomeado para Melhor Documentário.