Applausi é uma videoinstalação que tomou uma peça do espólio do Museu Nacional do Teatro (e da Dança desde 2015) com vista a criar um diálogo entre arte contemporânea e memória teatral. Como tal, estabeleceu um novo processo de significação para uma antiga fila de cadeiras em madeira usada durante muitos anos pelo público (do Teatro Sá da Bandeira, no Porto) e que atualmente pertence ao acervo museológico.


O título do trabalho surgiu da ordem de "Applausi" vinda do vídeo exibido nos monitores. A ordem é dada pelo famoso realizador Federico Fellini e ocorreu num ensaio de atores a fazerem de público no filme Ginger & Fred, o qual retrata um certo sentimento nostálgico em torno de um mundo do espectáculo desaparecido.


Procurou-se adicionar sentidos a esse ato performativo de aplaudir pela sua exibição em novo contexto — um contexto expositivo, onde simultaneamente vários monitores reproduziam os aplausos dos atores-espectadores. Os funcionários do museu, à chegada ou partida de um visitante, acionavam o vídeo, dando início ou fim aos aplausos, num misto de cumplicidade e provocação aos próprios visitantes do Museu Nacional do Teatro. "Applausi" assumia assim um subtil papel de dinamizador de relações vivas entre visitantes e assistentes do museu.

Eu próprio trabalhei no museu e, mais uma vez, criei um trabalho artístico em local e horário de uma atividade laboral não-artística. Desta forma encontro espaços de liberdade, numa espécie de intromissão reflectora e reflexiva dos planos pragmáticos que vão sendo ocupados pela arte.


Federico Fellini torna os atores em público no seu filme. Nesta videoinstalação torna-se o público do museu em actores. Actores que são público de um público que são atores. Atores que por via deste trabalho artístico são aplaudidos na sua entrada e saída do museu como se de uma entrada e saída em palco se tratasse. Atores que pela sua visita e pelo seu olhar dão vida ao cenário museológico. Atores que fazem do museu do teatro, um teatro.