QUANDO LEMBRO HÁ ALI OUTRA COISA

QUANDO ME CALO


2007

(vídeo | mini-dv transferido para ficheiro digital, cor, som, 13 min 13 s)

Em todas as escolas há palavras / expressões usadas pelas crianças que não constam nos dicionários. São palavras inventadas, derivadas de outras já existentes ou apropriadas para novos sentidos (por exemplo para jogos, brincadeiras, lengalengas ou agressões). A maioria destas palavras / expressões deixam de ser usadas, pois têm existência efémera (podem simplesmente ser uma moda, existir num ano lectivo e desaparecer no seguinte ou cair em desuso com o crescimento dos seus falantes).


Estas palavras ou expressões são usadas numa determinada comunidade, mas enquanto algumas chegam ou provêm da televisão ou da internet, outras há que apenas se usam numa única escola, turma ou grupo. Muito raramente há palavras e expressões que acompanham a passagem da infância para a adolescência e seguem gerações inteiras na vida adulta, acabando por chegar a entrar no léxico da língua portuguesa.


Este vídeo parte de uma pesquisa que desenvolvi nesse campo enquanto trabalhei como professor de actividades extra-curriculares numa escola primária. Após as aulas terminarem e alunos, professores e funcionários auxiliares abandonarem a escola, recolhi uma série de imagens (do edifício exterior da escola, de salas de aula, de corredores, janelas, escadas, pátios de recreio e campos de jogos). Os planos apresentam-se vazios de pessoas, embora sejam bastante contemplativos e se possa perceber a presença ou o tipo de actividade daqueles que quotidianamente vivem e ocupam esse espaço.


No vídeo há um cruzamento de vivências do meu passado distante como criança com vivências do meu passado mais recente com crianças com quem trabalhei. A partir de um espaço reconhecível por todos e de experiências linguísticas comuns nesse contexto, chega-se a uma memória que é simultaneamente pessoal e colectiva. Estabelecem-se relações entre uma língua, a memória, a infância, a arquitectura, a própria experiência pessoal do artista e um determinado contexto social, histórico e cultural.


O título parte exactamente dessas questões e surgiu da leitura e desconstrução de um poema de Herberto Hélder.