LUÍS E ANTÓNIO


2008

(vídeo | mini-dv transferido para ficheiro digital, cor, som, 10 min 44 s)

O vídeo Luís e António foi concebido com a generosa colaboração de dois jardineiros do Palácio Nacional de Queluz – Luís e António são os seus nomes reais – que permitiram que fossem gravados momentos quotidianos do seu trabalho (podar, cortar e limpar sebes, arrancar ramos mortos e ervas daninhas).


Procura-se criar um diálogo com o conceito de jardim e jardinagem, para se reflectir sobre a necessidade humana de construir quer oposições, quer ligações entre civilização e natureza, razão e emoção, o eu e o outro.


É também no Palácio Nacional de Queluz que trabalhei a recibos verdes. Mais uma vez concebi uma criação artística a partir de um trabalho de ocasião por onde fui passando. Essas criações caracterizaram-se por ser feitas não só no local, como também no horário laboral. Subvertendo o campo de necessidade material, utilidade e funcionalidade para criar um trabalho artístico, fui criando uma alternativa utópica de conquista de um espaço de liberdade.


Este trabalho tem uma dupla dimensão temática. Há uma dimensão social e política mais imediata, que reflecte sobre o mercado laboral resultante das actuais práticas económicas neo-liberais e cria uma espécie de narrativa a partir de uma relação profissional entre duas pessoas. Há depois uma perspectiva afectiva, onde a partir do real se constrói uma narrativa entre esse real e uma ficção criada a partir de um outro real pessoal. Não se sabe o que é o real documental e o que é a ficção a partir de um real autobiográfico.


Desta forma cruzam-se experiências, questões e memórias simultaneamente pessoais e colectivas, com alusões metafóricas a outras possíveis leituras, nomeadamente ao nível de identidades e minorias sexuais.