O Espírito da Floresta
Em uma manhã de céu limpo, com o sol crescendo à leste, um jovem macaco sauá de nome Nico, já bem ativo aquela hora, pulava de galho em galho na busca de frutinhos maduros pelas árvores da floresta e não imaginava a aventura que estava por vir mais tarde. O pequeno, mas astuto sauá, enquanto saltitava de uma árvore a outra ia observando a mata que conhecia desde criança. Sorria e cumprimentava todos os animais que encontrava. - Olá paca Peralta!, logo a frente, bom dia senhor Ramus, o velho lobo guará. Adiante, perto de um riacho, duas grandes pedras encostadas formavam uma pequena caverna, e em sua abertura, brincavam Sussú, a mãe e seus filhotes Garrinha e Dentão, - Olá dona onça! Como vão os filhotes? Sussú era a onça parda mais bela e forte que conhecia. Em busca de alimento Nico avistou um Ingazeiro repleto de frutinhos, aproximou-se e enquanto pegava alguns ingás outros eram derrubados sem querer, o que era bom, pois assim, outros ingazeiros poderiam germinar no futuro. Enquanto se saciava daqueles apetitosos frutos ouviu um barulho estranho, eram estalos que vinham da borda da mata; sentiu cheiro de fumaça e se dirigiu aquele local. Chegando até a borda da mata, do alto de um cedro, avistou um homem se afastando enquanto o fogo se alastrava pelo capim seco, indo em sua direção. Desesperado Nico saiu em disparada para dentro da mata e começou a gritar por ajuda na tentativa de avisar os outros animais. O fogo é um dos maiores inimigos da floresta porque pode queimar toda fonte de alimento e abrigo de seus moradores. Atendendo o pedido de socorro do pequeno sauá, vários animais o seguiram até o local. O velho lobo, sábio como era, bradou: - removam o capim seco do chão! Raspem o chão antes das árvores para que o fogo não as alcance! E todos o ouviram e começaram a agir, estavam dispostos a salvar sua preciosa floresta. Com as patas, as onças e Ramus raspavam o chão, removendo as touceiras ao longo da borda da mata ameaçada. Peralta e alguns tatus cavavam tuneis abaixo da superfície e arrancavam os capins pelas raízes, até Nico com muita coragem desceu das árvores e os puxava, ajudando como podia. Dentão e Garrinha apesar de pequenos ajudavam como podiam na árdua tarefa, contudo perceberam que o fogo avançava e que não estavam conseguindo controlá-lo. Lágrimas de irritação pela fumaça misturadas à lágrimas de tristeza começavam a cair dos olhos das pequenas onças que já pensavam que não iam conseguir vencer. Ramus, em alto tom de voz, disse nesse momento: - parem e venham até mim! Todos responderam: - não podemos desistir! O lobo retrucou: - Não vamos desistir, mas se aproximem! - Repitam comigo com fé! Em oração conjunta o velho lobo dizia as palavras e os demais o repetiam: "Ó Grande Espírito da floresta, pedimos ajuda nesse momento de temor! Abençoe-nos com sua força e poder! Três vezes repetiram os dizeres quando um forte estrondo foi escutado no céu, as nuvens se aglomeraram e escureceu; uma miraculosa chuva começou a cair e pôs a dissipar as chamas que já estavam a escalar as árvores. Todo fogo desapareceu! Exaustos, mas aliviados, os animais se entreolharam e juntos agradeceram o grande espírito da floresta! Mais tarde já quase com o sol se retirando, os animais festejaram o grande feito cantarolando, em homenagem ao Grande Espírito...
Moral da história: Em momentos de grandes desafios e problemas que parecem insolúveis, precisamos da força que nos une, a força do Grande Espírito que está em todos nós!
Autor: André Ceruks.
Em homenagem a uma das espécies de Callicebus sp., Macaco Sauá, que habita as matas da região.