"Eu vou falar de nós ganhando. Porque pra falar de nós perdendo eles já falam."
Nêgo Bispo¹
Lançar nossos olhares para o ancestral, aprender com os fundamentos, os apagamentos históricos e
o contexto social presente, para semear práticas e frutificar memórias.
Para dar continuidade ao trabalho iniciado em 2024 pelo projeto institucional "Redescobrindo acervos", o Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami promoveu a roda de conversa “Letramento racial: o que a linguagem tem a ver com o racismo?”, uma ação formativa inserida na programação da 9ª Semana Nacional de Arquivos [SNA] e desenvolvida em parceria com o Núcleo Qualificar a Educação para as Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal da Educação [QuERER/SMED] e o Conselho Municipal da Comunidade Negra de Caxias do Sul [COMUNE]. A atividade foi especialmente construída pelas professoras Elenice Bairros, Fernanda Bertoldo e Joelma Couto Rosa, assessoras pedagógicas do Núcleo, e Michele dos Santos Xavier, advogada especialista em Direito Antidiscriminatório e de Gênero e atual Presidente do Conselho.
Inseridos no território de Caxias do Sul e em seus cotidianos pessoal e profissional, painelistas e equipe de servidores debateram sobre assuntos relacionados a superação de desigualdades raciais e combate à discriminação e intolerância, bem como foram expostos a exemplos de conscientização e valorização da contribuição de grupos minoritários no que tange à construção da identidade cultural de Caxias do Sul.
Na oportunidade, foi proposta a realização de uma ação afirmativa pela equipe de servidores: eles deveriam identificar quais os olhares e narrativas foram capturados durante o processo de revisitação dos arquivos preservados e mapear as conexões existentes entre os aspectos presentes nas narrativas construídas durante a roda de conversa e as relações profissionais produzidas com os documentos recatalogados no processo de redescobrimento.
"Raça, arquivos e resistência" foi desenvolvida com o intuito de debater com os visitantes sobre a importância de acervos e arquivos que evidenciem as memórias da população negra, a produção de narrativas e imaginários livres dos estigmas racistas historicamente construídos. A mostra propõe o compartilhamento de documentos recatalogados que partem da preservação e pesquisa de memórias negras e avançam para práticas de educação, difusão e produção artística, na luta por um futuro antirracista.
Organizada no lastro da construção do guia do acervo homônimo ao projeto em desenvolvimento, mantém como eixos orientadores [e transversais] em sua curadoria a valorização do protagonismo negro, o reconhecimento de práticas de revisão e de difusão de acervos negros, o respeito pelos conhecimentos ancestrais e a relevância da educação como agente antirracista.
Catiuscia Xavier
Diretora do AHMJSA [2021 - atual]