Projeto 1: A forma da água
Rodrigo Coelho e Paulo Teixeira
As películas de sabão entre as bolhas de uma espuma, ou as gotas de água num tubo capilar, são exemplos de pontes líquidas: colunas de líquido que unem duas superfícies sólidas. Neste projecto pretende-se estudar o movimento de pontes líquidas em canais usando simulação de fluidos. Em particular, quer-se determinar a força de atrito exercida pela superfície do canal sobre a ponte líquida, a qual dependerá, naturalmente, da molhabilidade do canal pelo líquido que constitui a ponte. Esta força constitui uma medida da dificuldade em fazer uma espuma (constituída por muitas pontes líquidas) atravessar um material poroso (constituído por muitos canais). Os resultados são potencialmente relevantres para processos como a recuperação de petróleo presente em rochas, ou a purificação de solos, por injecção de espuma, ou ainda o alívio dos sintomas da asma, que se pensa ter origem na formação de pontes líquidas nos brônquios.
Projeto 2: Não passarão! Ou passam?
Rodrigo Coelho e Nuno Araújo
O escoamento de gotículas transportadas por um fluido ocorre em diversas situações, como na extração aprimorada de petróleo, filtração de água e em análises clínicas. Experimentos de microfluídica recentes sugerem que partículas deformáveis cooperam entre si por meio de interações hidrodinâmicas para passar por um meio poroso, para o qual, nas mesmas condições, uma única partícula fica presa. Para uma mistura com partículas de flexibilidades diferentes, observou-se que as partículas mais flexíveis se movem mais rapidamente do que as menos flexíveis, o que pode ser usado para separar células de diferentes tipos por exemplo. Neste projeto, vamos simular gotas imiscíveis passando por obstáculos usando o método lattice-Boltzmann e estudaremos a interação entre elas. Em particular, queremos desenvolver um método para identificar a trajetória das gotas e perceber se existem mecanismos de rajadas na passagem das gotas pelo meio.
Projeto 3: Interfaces vivas
Cristóvão Dias e Margarida Telo da Gama
A matéria ativa é uma nova classe de matéria mole fora do equilíbrio, caracterizada por captar energia do meio ambiente e convertê-la em trabalho. Exemplos incluem bactérias, células ou colóides ativos. Embora a dinâmica destas partículas ativas se assemelhe à de um sistema passivo, a presença de flutuações gigantes leva a comportamentos coletivos surpreendentes, tanto em todo seu volume como nas interfaces cujas propriedades têm tido pouca atenção.
Um dos modelos mais simples, para estudar matéria ativa, consiste em considerar partículas brownianas com auto-propulsão. Neste projeto de estágio vamos realizar simulações de partículas ativas numa rede usando métodos de Monte Carlo cinético. Vamos estudar qual a influência que uma interação de alinhamento pode ter nas propriedades da interface ativa.
Projeto 4: Solitões passeiam no ecrã
Cristóvão Dias
Experiências recentes [Nat. Commun. 10, 4744 (2019)], mostram uma dinâmica complexa de milhões de Skyrmions de cristais líquidos ativos. Essa dinâmica deve-se a um mecanismo de não recíproco da resposta do cristal líquido a um campo elétrico que é ligado e desligado com uma determinada frequência. Neste projeto propomos um modelo simples para reproduzir as experiências, onde a propulsão e interação entre skyrmions varia da mesma forma não recíproca com o campo aplicado. Com este modelo iremos estudar a competição entre a interação dipolar devido ao campo aplicado, uma interação isotrópica quando o campo está desligado, e a própria velocidade do skyrmion dependendo do mesmo campo.
Projeto 5: Grão a grão, enche o rei a sua terra
André Matias e Danilo Silva
Se quiserem criar um país só para vocês o melhor é irem até à Liberlândia, um território que surgiu de uma disputa da fronteira entre a Croácia e a Sérvia. Esse território atualmente não é reclamado por nenhum país devido às alterações ao rio Danúbio, que define a fronteira. A evolução do rio deve-se ao transporte de sedimentos pelo que o fenómeno físico pode ter consequências internacionais, literalmente. Porém, há também perguntas relevantes na física que ainda são incompreendidas. Por exemplo, como a distribuição de tamanhos das partículas num meio compacto (como no solo) e o seu rearranjo influenciam o escoamento de um fluido por ele? Neste projeto, vamos usar o método lattice-Boltzmann para simular a dinâmica do fluido e o transporte de partículas.
Projeto 6: Agitar como a Shakira tornará a E. Coli mais rápida?
Danne van Roon
Devido a interacções hidrodinâmicas, algumas bactérias seguem trajectórias circulares quando nadam perto de superfícies. Tais bactérias são também conhecidas como 'bactérias quirais', um exemplo bem conhecido é a E. Coli. Trabalhos recentes com objetivo de compreender o movimento da E. Coli num ambiente natural heterogéneo, contendo poros (solos) ou obstáculos (imperfeições nas superfícies), mostram que a propagação da E. Coli, através do espaço (difusão) pode ser melhorada pela inclusão de obstáculos fixos nas superfícies. Neste projeto, vamos alargar este estudo, investigando o efeito de obstáculos com movimentos periódicos e as consequências sobre a propagação de E. Coli. Durante o projecto irão ser usados métodos numéricos e teóricos.
Projeto 7: Modelagem computacional de cicatrização de feridas: do contínuo ao discreto.
Genilson Carvalho
A pele é a principal barreira de proteção do corpo. Perante a abertura de uma ferida, quanto mais rápido o tecido epitelial se recuperar melhor. A cicatrização é um processo de regeneração do tecido que implica migração celular e formação de um cabo contrátil que conecta as células da borda da ferida levando ao seu fechamento. Esse é um processo essencial à vida. É por isso necessário entender os mecanismos fundamentais envolvidos no processo de cicatrização para melhorar a eficiência e a escala de tempo do processo de cura. Para estudar o processo, nós desenvolvemos um modelo contínuo baseado em modelos de Kelvin-Voigt, onde o tecido é descrito como um material muito fino, contínuo, isotrópico, homogéneo e incompressível. Em paralelo, desenvolvemos um modelo discreto onde o tecido é descrito como um conjunto de partículas conectadas por elementos elásticos. Neste projeto iremos fazer um estudo comparativo entre estes dois modelos, aprendendo sobre as vantagens e desvantagens de cada uma das metodologias.
Projeto 8: De que forma a matéria escura congelou no início do Universo?
Rui Santos e Rodrigo Capucha
Existem várias formas de chegar à quantidade de matéria escura que observamos hoje. Dois dos mecanismos mais populares são os de "freeze-out" e de "freeze-in". Apesar de ambos estarem na região de massa dos chamados WIMPS (Weekly Interacting Massive Particles), a região para os valores do acoplamento de portal entre a matéria escura e a matéria visível está afastada por muitas ordens de grandeza. Este projeto tem como objetivo partir de um dos modelos mais simples que admite a existência de matéria escura, a extensão do Modelo Padrão por um singleto, e comparar as regiões onde cada um dos mecanismos é o dominante.
Projeto 9: Será que há mais um Higgs, só que mais leve?
Rui Santos, Pedro Ferreira, e Pedro Gabriel
As extensões mais simples do Modelo Padrão, que tentam resolver o problema da assimetria entre matéria e anti-matéria no universo, dão origem a novas partículas de spin zero. Uma vez encontrado o Higgs, podemos perguntar se por acaso não haverá uma partícula mais leve que tenha escapado à detecção até ao momento. Partindo de um modelo simples com violação da simetria CP, e que prevê a existência de novos bosões, este projecto consiste em estudar a possibilidade de nos ter escapado um Higgs muito leve nas buscas no LHC. Se sim, quais serão as melhores estratégias para procurá-lo. Para esse fim, é necessário utilizar técnicas avançadas de análise de dados e de simulação de eventos para uma correcta previsão em experiências de física de partículas, como o Large Hadron Collider no CERN. Serão utilizados softwares de física de altas energias (Picture: courtesy of M.M. Mühlleitner).
Projeto 10: Porque é o Modelo Padrão incompatível com a geração de ondas gravitacionais provenientes do universo primordial?
Rui Santos e João Viana
É possível que o universo como o que conhecemos hoje tenha tido origem numa transição de fase de primeira ordem, que se suficientemente forte, pode ter gerado ondas gravitacionais que podem ser detetadas em experiências futuras, com a experiência LISA. Neste projeto vamos começar por explorar as razões que levam a que o Modelo Padrão seja incompatível com uma transição de primeira ordem, e a sua relação com a descoberta do Higgs no LHC. Seguidamente farermos uma extensão do modelo onde esta transição já pode ocorrer, com a adição de apenas um campo. As transições de fase serão analisadas com o programa CosmoTransitions e veremos em que condições podem ser detetadas ondas gravitacionais.
Projeto 11: Estabilidade do Universo em Modelos com Mais que um Bosão de Higgs
Pedro Ferreira e Cristóvão Dias
O Modelo Padrão prevê a existência do bosão de Higgs, mas deixa muitas questões em aberto, como a explicação da assimetria entre matéria e antimatéria, ou a existência de matéria escura. Para resolver esses (e outros) problemas, consideram-se modelos que preveêm outras partículas escalares para lá do bosão de Higgs. Esses modelos dependem de vários parâmetros, cujos valores devem obedecer a certos constrangimentos básicos, tais como permitirem a existência de um estado de energia mínima - o estado de vácuo do Universo - estável. Vamos estudar as condições de estabilidade de vários modelos que generalizam o Modelo Padrão e desenvolver programas python que permitam "varrer" o espaço de parâmetros desses modelos e descobrir quais as regiões proibidas por preverem um Universo instável.