Da Vinci na Ciência/Medicina

Estudos sobre Leonardo da Vinci

Os intérpretes dos manuscritos de Leonardo da Vinci partilham dos mesmos sentimentos de espanto e de fascínio quando examinam sua contribuição para a ciência moderna. Podemos, contudo, perceber uma constante tentativa em prol de uma revisão histórica acerca do papel desempenhado por Leonardo. Declarou que a tarefa de reconstruir a história da evolução da ciência nem sempre é fácil. Os cientistas - ele afirma - não relatam seus passos; não fornecem esboços de seus avanços. O acesso à suas descobertas é dado quando elas se encontram concluídas. Ainda que haja aqueles que relatam seus percursos, nem sempre é prudente se fiar em suas confissões. Leonardo da Vinci lhe aparece como uma exceção, na medida em que teve conservados seus manuscritos. Como é sabido, esses manuscritos, exceto algumas gravuras e alguns fragmentos de textos, permaneceram desconhecidos por quase quatro séculos, período durante o qual seu autor foi conhecido apenas como um brilhante artista.

Foi somente a partir do final do século XIX, com a publicação das edições de Jean-Paul Richter e Charles Ravaisson-Mollien, entre outros, que sua obra se tornou objeto de estudos metódicos. "A impressão produzida por essas publicações foi considerável" e "[...] o personagem Leonardo adquiriu proporções sobre-humanas" (Koyré 1973). Como, à época, não se tinha conhecimento da ciência medieval e renascentista, Leonardo foi tomado como o precursor da ciência e da técnica modernas. Essa foi a imagem dominante na primeira metade do século XX, e Duhem, de certa forma, partilhou dessa visão. Ele afirma, citando Félix Ravaisson, que Leonardo "[...] bem mereceu ser chamado 'o grande iniciador do pensamento moderno'."(Duhem 1984). Sua posição, entretanto, foi muito distinta dos demais historiadores quanto ao estudo dos manuscritos leonardescos, que lhe propiciaram uma excelente ocasião para analisar como se deu a evolução do conhecimento científico, em um processo no qual a existência de contribuição científica medieval lhe pareceu inegável. Koyré 1973 fala na "dupla descoberta" de Duhem: a da ciência medieval e a de elementos medievais no pensamento de Leonardo. Como um grande estudioso da revolução científica, Koyré entendeu que a defesa da continuidade do desenvolvimento científico em Duhem implicava necessariamente a negação da ocorrência de uma ruptura entre a ciência medieval e a ciência moderna. Leonardo, a seu ver, passaria a ser visto por Duhem como "[...] um elo - o elo mais importante - entre a Idade Média e os tempos modernos" (Koiré 1973), deixando de ser apresentado como um "gênio único". É com referência à admiração pelos gênios da ciência que Pierre Duhem inicia sua extensa obra sobre Leonardo

Da Vinci na medicina

Houve uma época em que o homem teve que recorrer ao desenho para retratar sua viagem de descoberta rumo ao interior do corpo humano. Os portugueses nem haviam chegado ao Brasil quando Leonardo Da Vinci (1452-1519) começou um dos mais impressionantes levantamentos de anatomia para entender o funcionamento de órgãos, do esqueleto, dos músculos e tendões. Esta é a história pouco conhecida do artista-anatomista italiano – sim, além de pintor, escultor, músico, cientista, arquiteto, engenheiro e inventor, ele também atuou na medicina.

Ao longo de 15 anos (de 1498 a 1513), Leonardo desenhou órgãos e elementos dos sistemas anatomofuncionais do corpo humano em um estudo que começou pela leitura das obras de autores da medicina pré-renascentista, como Galeno de Pérgamo (129-200), Mondino dei Luzzi (1270-1326) e Avicena (980-1037). Ele também participou de dissecações do corpo humano e de diversos animais. Porém, jamais terminou e publicou a obra que, segundo pesquisadores, poderia ter revolucionado a medicina mais de 20 anos antes que o belga Andreas Vesalius, considerado o “Pai da Anatomia”, publicasse seu livro “De Humani Corporis Fabrica”, em 1543, obra que marca a fase inicial dos estudos modernos sobre anatomia.


Inovador


No Renascimento, artistas como Leonardo aproximaram-se de médicos-anatomistas para retratar melhor a forma humana em pinturas e esculturas. Eles foram chamados de “artistas-anatomistas”, segundo Charles O’Malley (Universidade de Stanford) e J.B. Saunders (Universidade da Califórnia), que organizaram e traduziram, do italiano para o inglês, os textos de anatomia de Leonardo da Vinci. “Embora fosse fundamentalmente um artista, [Leonardo] considerava a anatomia como sendo algo mais que simples coadjuvante da arte. Essa atitude o levou a prosseguir com seus estudos, de tal maneira que seus conhecimentos anatômicos ultrapassaram aqueles que seriam suficientes para desempenhar sua arte”, afirmam no livro.


De fato, os desenhos desse estudo de Leornardo são anotações, um roteiro de pontos que seriam ainda detalhados e esclarecidos para a publicação de um tratado de anatomia. Os detalhes, os cortes e os ângulos das figuras impressionam pelo realismo e respeito pela proporcionalidade que existe no corpo humano. A influência da engenharia e da matemática é visível: roldanas, formas geométricas e engrenagens estão presentes nas gravuras, ao lado de estruturas ósseas, de conjuntos de tendões e músculos, indícios de que ele recorreu a cálculos para interpretar os movimentos e a funcionalidade dos elementos anatômicos que observou.

Alunas: Miura Silgueiros e Thays Santana 3° Ano A