Leituras de Ocidente e Oriente . Aprende com os colegas.
A glória dos Descobrimentos teve o seu preço, a sua desgraça. Camões, n' Os Lusíadas , pôs as mães e as esposas a chorar a perda dos filhos e dos maridos (IV, 90-91), o Velho do Restelo a avisar os navegadores das nefastas consequências da viagem (IV, 95-97), o Adamastor a profetizar naufrágios, narrando o mais famoso de todos: o naufrágio de Manuel de Sousa Sepúlveda.
Fernando Pessoa imortalizou a grandeza e a desgraça no poema "Mar Português" de Mensagem : «Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal. / Por te cruzarmos, quantas mães choraram, / Quantos filhos em vão rezaram! / Quantas noivas ficaram por casar / Para que fosses nosso, ó mar!»
Não faltaram, pois, narrativas das desventuras e dores que sempre acompanharam os que quiseram "passar além do Bojador", a principal das quais tem mesmo o título de História Trágico-Marítima , compilada por Bernardo Gomes de Brito (1688-?) e publicada em dois volumes, datando o primeiro de 1735 e o outro de 1736. Trata-se de um conjunto de doze relatos de naufrágios, baseados em episódios verídicos da gesta dos Descobrimentos.
São, de uma maneira geral, relatos apreciados pela qualidade da prosa e pelo seu extremo realismo. Um dos mais conhecidos fica a dever-se a Jerónimo Corte-Real (1530?-1590?), que narrou o Naufrágio e Lastimoso Sucesso da Perdição de Manuel de Sousa Sepúlveda (1594).
A História Trágico-Marítima é um conjunto de histórias de naufrágios ocorridos sobretudo na segunda metade do século XVI que Bernardo Gomes de Brito decidiu compilar e publicar em 2 volumes estes relatos que foram escritos pelos próprios sobreviventes e apresentam a face negra dos descobrimentos, a tragédia em vez da glória. Um desses relatos é o naufrágio por que passou Jorge de Albuquerque Coelho, narrado por Bento Teixeira Pinto, um sobrevivente da nau Santo António. Em 1565 a tripulação deu início à viagem entre o Brasil e Portugal, mas logo à saída encalhou e foi obrigada a regressar. Apesar do acidente ser considerado por muitos um mau presságio, depois de concertada a nau voltou a partir. Durante a viagem a tripulação foi atacada pelos franceses, mas Jorge de Albuquerque tentou defendê-la durante 3 dias, apesar da escassez de homens e armamento. Quando os franceses abordaram a nau mostraram uma dominação pela ousadia e bravura do fidalgo português. Enquanto este pensava num plano para recuperar embarcação, início de uma violenta tempestade que destruiu quase por completo afastando-a da nau francesa. Durante vários dias sobreviveram no mar praticamente sem alimentos, sem velas e sem leme, mas com muita fé em Cristo e na Virgem Maria. Quando toda a esperança já parecia ter desaparecido e alguns marinheiros queriam ceder à tentação diabólica de comer carne humana, foi avistada terra e uma barca veio socorrer os poucos sobreviventes.
Fonte - Escola Virtual
As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho
Os Lusíadas e a História Trágico-Marítima têm em comum os descobrimentos e a conquista dos mares pelos portugueses. A epopeia camoniana destaca a vertente mais heroica e gloriosa. N’Os Lusíadas é a viagem de ida a que mais interessa, o que motiva os navegadores é a busca de algo novo, da aventura, do oriente enquanto, símbolo da origem e do conhecimento. O herói português destaca-se por ter conseguido ultrapassar os limites de um mar revolto e traiçoeiro, alcançando desta forma o estatuto de figura mítica. A História Trágico-Marítima enfatiza a face mais sombria e trágica das conquistas marítimas e a narrativa centra-se principalmente nas viagens de regresso. São frequentes nestas histórias alusões à cobiça e à ganância, enquanto causa de muitos naufrágios, uma vez que as embarcações viajavam mal equipadas e com excesso de carga, mas também se faz referência à coragem e à determinação dos muitos portugueses que apesar da fragilidade conseguem sobreviver a grandes tragédias.
Resumindo, Os Lusíadas e a História Trágico-Marítima apresentam visões diferentes dos descobrimentos. A epopeia de Camões destaca o lado heroico e dá uma visão positiva da expansão marítima apresentando os feitos grandiosos dos portugueses. A História Trágico-Marítima enfatiza lado do trágico e foca o sofrimento causado pela ganância, pela cobiça, apresentando os portugueses como corajosos e determinados face às vicissitudes da natureza.
Fonte - Escola Virtual