RESUMO:
Neste artigo do tipo original/reflexivo estabeleço como uma diferença entre o ser humano e a máquina a questão da neutralidade em relação a preferência existencial – ou seja, insinuo que uma máquina por si só é indiferente entre estar viva ou estar morta. O texto constitui em uma reflexão sobre felicidade, e como medir ou atribuir um valor a momentos felizes de forma intertemporal através do que chamo de racionalidade intertemporal de pensar em momentos felizes. A partir de tal reflexão categorizo três tipos de depressão – a depressão bipolar, pontual e suicida – a partir de sua origem relacionada com o valor individual percebido da felicidade e como este valor pode ser distorcido em função de problemas psicológicos e psiquiátricos – e relaciono tais momentos com a relação entre a produtividade efetiva e a produtividade potencial de cada indivíduo. Deduzo então genericamente três tipos de indivíduos: os indivíduos depressivos, os indivíduos felizes e os indivíduos com completa aversão a morte – neste último tipo, reflito sobre o indivíduo que tem medo de morrer, e o indivíduo que ama viver. Relaciono então a razão entre produtividade praticada e produtividade potencial com o nível de felicidade entre estes três tipos de indivíduos, bem como comparo a produtividade potencial de uma máquina em função de suas peças com a produção potencial de um ser humano em função de suas inteligências e capacidade cognitiva. Então concluo com uma hipótese geradora de maximização da felicidade e produtividade potenciais dos indivíduos e da sociedade como um todo.
Palavras-chave: inteligência humana, felicidade potencial, racionalidade intertemporal, taxa de desconto intertemporal, memória, lembranças e possibilidade de se vivenciar momentos felizes, novo presente, problemas psicológicos, condição humana, depressão bipolar, depressão pontual, depressão suicida, produtividade média, produtividade potencial, produtividade praticada, desigualdade social, altruísmo, indivíduo feliz, indivíduo depressivo, indivíduo averso a morte, subconsciente, preferência neutra.
PUBLICAÇÃO ORIGINAL em 12 de julho de 2017. ARQUIVO PDF LINCADO AQUI NESTA FRASE.
INTRODUÇÃO
Se estivermos na casa de um DJ eclético e pedirmos para ele colocar uma música para tocar, ele provavelmente irá te perguntar de que gênero você gostaria (ou ele pode já colocar uma música para tocar sem fazer pergunta alguma). Você informa ao seu amigo DJ o gênero que gostaria, e ele logo coloca uma música para tocar (de acordo com sua preferência). Diferentemente, se pedirmos para um COMPUTADOR reproduzir um som, este, implicitamente, irá te perguntar qual música exata que você quer que reproduza (via caixa diálogo, ou via você ter de escolher a música em seu diretório e clicar para abrir). Caso exista uma opção de pedir a um computador que reproduza “sua música preferida”, este irá reproduzir aleatoriamente, diferente, se pedirmos a um DJ humano.
Podemos então deduzir que uma diferença básica entre a ‘inteligência humana’ e a ‘inteligência de um computador’ consiste no fator PREFERÊNCIA, em que a segunda não tem.
Nós, seres humanos, como sendo seres biológicos, temos uma TENDÊNCIA NATURAL de nos MANTERMOS VIVOS, ou de tentarmos ao máximo preservar nossas vidas (preferência por viver). Porém, diante de problemas e agravos de uma vida particular e individual, pode-se dizer que algumas pessoas prefeririam ‘estarem mortas’ a ‘estarem vivas’ – o que é evidenciado pelos casos de suicídios. Este é um caso extremo de completa infelicidade (miséria) em que o indivíduo também não tem mais nenhuma expectativa de felicidade para o futuro, e que talvez, em um ato egoísta premeditado e ponderado, ele desiste e abre mão dos compromissos e responsabilidades com a vida. É claro que também podem existir casos atípicos de surtos que levem ao suicídio, mas não entrarei nestes casos.
VALOR DA FELICIDADE E FATOR DE DESCONTO INTERTEMPORAL
A FELICIDADE – ao longo da vida – está sujeita a flutuações, tanto por choques exógenos e adversos, quanto por questões psicológicas de caráter endógeno. Mesmo em tempos difíceis, ou de infelicidade, o efeito sobre a preferência vida/morte pode ser praticamente nulo – devido e dependendo da CAPACIDADE DE RACIONALIDADE do indivíduo de calcular (mesmo que subconscientemente) a FELICIDADE TOTAL DA VIDA como um todo, ou seja, de FORMA INTERTEMPORAL, tanto via memórias de momentos de felicidade passadas – e com um fator de desconto implícito – quanto pela felicidade potencial futura esperada – e também com um fator de desconto implícito, só que inverso ao primeiro.
A ideia do ‘fator de desconto’ vem da ‘taxa de desconto’ que aparece quando cientistas econômicos desejam calcular o valor presente de benefícios ou utilidades futuras, dentro de funções de utilidade – e é uma forma intimamente ligada e análoga às taxas de custo de capital, taxas de desconto e taxas de juros (em que estas são usadas para calcular valor presente de fluxos de caixa e de projetos, bem como de dívidas). A taxa de desconto é bem subjetiva, e varia entre 0 e 1. Tal intervalo é derivado da hipótese de que os agentes têm preferência ou obtém maiores utilidades quando estes benefícios são dados no presente do que no futuro (considerando-se que o futuro é dotado do princípio da incerteza). Imagine por exemplo que você esteja com desejo de comer um chocolate, e alguém te oferece um BIS agora ou dois BIS amanhã – você provavelmente irá optar por aceitar um BIS agora (já que você nem sabe se amanhã estará com vontade de comer chocolate, e gostaria de saciar sua vontade no momento presente). Analogamente, mas considerando agora a questão da felicidade, ou de MOMENTOS FELIZES, podemos adotar como hipótese que os indivíduos tendem a preferir pela FELICIDADE FUTURA (ou possibilidade de se vivenciar novos momentos felizes) do que pela FELICIDADE PASSADA (ou simplesmente a memória de momentos felizes já vivenciados), pois os momentos de felicidade passados já ocorreram, e não significa que vão ocorrer de novo; já o FUTURO é o que reserva nossas novas sensações, ou vulgarmente pelo que vamos passar, pelos momentos felizes de nosso ‘novo (e futuro) presente’. Diante desta reflexão é que suponho que a RACIONALIDADE sobre o vulgo valor presente da felicidade da vida como um todo, seja descontada por fatores inversamente proporcionais entre as ‘lembranças felizes’ e as ‘expectativas de momentos felizes no futuro’.
Se um indivíduo carece de forma total desta capacidade racional, eu diria que ele tem PROBLEMAS PSIQUIÁTRICOS; caso esta capacidade esteja somente abalada (uma questão momentânea ou temporária), eu diria que ele está com PROBLEMAS PSICOLÓGICOS.
Levando em conta o segundo caso, o indivíduo que está passando por problemas graves e sua capacidade de racionalidade esteja abalada por questões de cunho estritamente psicológicos – e mesmo num caso potencial absurdo em que de fato a miséria deste indivíduo seja grande o suficiente, e a felicidade esperada do futuro seja próxima de zero (em outras palavras pode ser dito o indivíduo que está em estado de miséria e que não tem nenhuma expectativa de melhora da vida) – eu diria que este indivíduo talvez pense que estaria mais feliz se estivesse morto do que estando vivo. Mesmo assim este indivíduo não cometerá suicídio – devido à condição biológica de ter o objetivo de se manter vivo, ou traduzido pela CONDIÇÃO HUMANA, pelas responsabilidades que este indivíduo tem com a vida, como por exemplo, nos casos em que ele tem filhos, dependentes, amizades, ou qualquer outra pessoa com quem ele se importa e se sinta necessário/importante.
VIVER com preferência pela morte (ou acreditando que estaria mais feliz – ou menos infeliz – se não estivesse vivo) defino então como DEPRESSÃO – que pode assumir diversos tipos em função da ORIGEM de tal preferência. Neste caso, o indivíduo-agente perde sua produtividade potencial, estando sujeito inclusive a perda total dela.
Irei agora derivar TIPOS DE DEPRESSÃO em relação às origens pela preferência por não estar vivo, dadas pela incapacidade racional (de calcular subconscientemente) de administrar a felicidade diante da vida como um todo – tanto diante de uma forma crônica ou psiquiátrica quanto pela forma temporária ou psicológica – e também quando o indivíduo não carece de tal incapacidade racional, mas o resultado de seu cálculo subconsciente é menor do que zero – o caso em que o indivíduo tem esperança de infelicidade ao longo da vida. Irei também relacionar estes tipos de depressão com os níveis de produtividade esperados caso a caso. Tais tipos de depressão irei chamar respectivamente de “DEPRESSÃO BIPOLAR”, “DEPRESSÃO PONTUAL” e “DEPRESSÃO SUICIDA”.
TIPOS DE DEPRESSÃO
O primeiro tipo consiste do indivíduo que indispõe por natureza da capacidade racional intertemporal de se pensar em felicidade – o indivíduo com problemas psiquiátricos. Neste caso o indivíduo estará MUITO SENSÍVEL em relação aos momentos presentes e momentos bem próximos do presente (tanto de uma lembrança de um passado bem recente quanto de uma expectativa do que vá se vivenciar em um futuro bem próximo). Se ele estiver em um momento feliz, provavelmente ele “apostará tudo” por este preciso momento, e logo que acabar possivelmente entrará em uma depressão no futuro próximo. Caso ele estiver em um momento infeliz, ele estará ‘desgostoso com a vida’. Caso não haja nenhum choque exógeno (ou algo que venha de fora que possa mudar este estado) esta depressão será retroalimentada. Provavelmente o nível de produtividade deste indivíduo-agente estará próximo do limite igual a zero quando este está depressivo. Diferentemente, no primeiro caso em que este indivíduo acabou de passar por um momento feliz (e que tem a esperança de sentir esta felicidade novamente logo no futuro próximo) provavelmente sua produtividade atinja o seu nível potencial por completo (mas que irá durar pouco, no caso de se passar por um choque negativo). Talvez este seja o caso de um bipolar que oscila em estados MANÍACOS e em estados DEPRESSIVOS; por isso chamarei este tipo de “preferência por não estar vivo” de DEPRESSÃO BIPOLAR. É claro que diante da ausência crônica de capacidade intertemporal em pensar na felicidade, o indivíduo bipolar também poderá atribuir um ‘fator de desconto intertemporal’ expressivamente grande em relação a uma lembrança de um momento passado bem distante, porém, não irei discutir sobre este caso particular.
O segundo tipo consiste do indivíduo que tem sua ‘capacidade racional intertemporal de avaliar a felicidade da vida’ abalada em certo momento – o indivíduo com problemas psicológicos. Neste momento, se o indivíduo pensa que estaria ‘menos infeliz’ se não estivesse vivo; ele está em um ESTADO DE DEPRESSÃO que chamarei de DEPRESSÃO PONTUAL. O seu nível de produtividade estará longe e abaixo do seu nível potencial, porém ficará próximo do ‘nível mínimo’ necessário para garantir sua subsistência e suas responsabilidades. Neste caso, tanto choques exógenos positivos, quanto endógenos (como uma autorreflexão) poderão ajudar tal indivíduo a recuperar esta específica capacidade racional – logo, ele poderá recuperar o seu nível médio de produtividade ou até mesmo chegar em sua produtividade potencial.
O terceiro tipo consiste do indivíduo que tem sua ‘capacidade racional intertemporal de calcular o valor presente da FELICIDADE’ perfeita ou intacta – e também possui um fator de desconto intertemporal perfeito. Consiste em um caso bem hipotético e muito provavelmente irreal, pois este indivíduo estaria imune de que qualquer choque exógeno possa gerar problemas psicológicos que interfiram nesta sua capacidade racional perfeita – seria um PARADOXO. Assim, este indivíduo somente estará se sentindo que “seria ‘menos infeliz’ caso estivesse morto” – que chamarei de DEPRESSÃO SUICIDA – caso não haja de forma absoluta nenhuma possibilidade dele viver novos momentos felizes (uma hipótese irreal), ou ainda mesmo que possa viver momentos felizes no futuro, tais momentos seriam curtos ou de pouca intensidade de forma que não valeria a pena viver. Existem casos extremos de miséria e falta de oportunidades, mas mesmo assim sempre haverá possibilidade de se vivenciar novos e valiosos momentos felizes no futuro. Para este indivíduo hipotético, no caso de depressão seu nível de produtividade iria a zero e provavelmente este irá se suicidar.
Este terceiro tipo de depressão, apesar de ser bem hipotético e irreal é o que mais considero valioso de se refletir e desenvolver, pois é o que mais podemos aproximar para a realidade e então refletirmos sobre indivíduos-agentes racionais, ou o chamado ‘homo economicus’. Talvez não seja tão irreal, como por exemplo pelo que a história mostra, os casos de suicídios durante a Grande Depressão de 1929 no pós-quebra das bolsas de Nova York, mas ainda assim, sua ideia principal é irreal por consistir num paradoxo.
Para aproximarmos para a realidade, irei considerar que o fator de desconto intertemporal para se medir felicidade é imperfeito e bem subjetivo (mesmo já considerando que varia de pessoa para pessoa). Para eliminarmos o paradoxo de que choques exógenos negativos não geram problemas psicológicos; irei dizer que afetam sim a capacidade racional do indivíduo de pensar na felicidade como um todo (como desenvolvido no segundo tipo de depressão), porém de uma forma mais branda ou suave. Desta forma crio o cenário mais próximo da realidade para analisarmos o valor da felicidade (em sentido amplo e intertemporal) e a produtividade dos agentes racionais em função dos níveis de preferência de se manterem vivos. Irei desenvolver duas ideias ou tipos de agentes racionais: o INDIVÍDUO DEPRESSIVO e o INDIVÍDUO FELIZ.
TIPOS DE INDIVÍDUO
O ‘indivíduo depressivo’ seria aquele que vive muitas vezes acreditando que estaria mais feliz se estivesse morto do que estando vivo, mas que tem preferência por viver diante das responsabilidades com a vida, e dos momentos felizes pontuais em que ele periodicamente se encontra, e de seus laços afetivos. Seu nível de PRODUTIVIDADE MÉDIA provavelmente estará longe do seu nível potencial, porém, a um NÍVEL MÍNIMO NECESSÁRIO para manter sua subsistência e garantir suas obrigações (análogo ao nível de produtividade momentânea do indivíduo exposto no segundo tipo de depressão).
Este nível de produtividade (mesmo que no caso seja igual ao nível potencial de um determinado indivíduo com certas deficiências, mas que mesmo assim ele o pratica porque a sociedade o exige) não é ideal para a sociedade como um todo nem muito menos para o próprio indivíduo (devido ao estado de espírito que o leva a praticar tal nível médio de produtividade – estado de espírito significando a preferência entre vida/morte). Porém no mundo ou Planeta Terra com uma escandalosa concentração de riqueza, conforme denunciado por LEONARDO BOFF, onde 1% da humanidade controla 80% de todos os fluxos financeiros, os “bilhões de famélicos e marginalizados” – nas palavras do mencionado autor – irão ao meu ver estarem neste estado de espírito, praticando tal nível de produtividade média. Não quero entrar em discussões mais aprofundadas, como por exemplo a de que a própria sociedade atual produz indivíduos depressivos, mas quero refletir um pouco de como poderíamos transformar indivíduos depressivos em indivíduos felizes.
O ‘indivíduo feliz’ conceituo como sendo aquele em que a maior parte do tempo atribui um valor positivo à vida, ou seja, aquele que nunca pensa na possibilidade de que estaria menos infeliz se estivesse morto. Para alguns, talvez esta definição possa parecer ser irreal (pois sempre pode haver momentos pontuais para surgir tal pensamento), para outros, tal definição poderá parecer ser um tanto óbvia e real para todos (pois se questionaria: quem poderia pensar em algum momento em morrer? Somente um maluco ou alguém em surto). O nível de PRODUTIVIDADE MÉDIA deste ‘indivíduo feliz’ provavelmente estará próximo do limite de seu nível de produtividade potencial (restringido apenas pelas faltas de oportunidades diante de seu próprio contexto social).
Este nível de produtividade é ideal para a sociedade como um todo, e principalmente para o indivíduo, pois este encontra-se em um estado de espírito feliz. A sociedade pode sim incentivar indivíduos a serem do tipo felizes através de políticas públicas de incentivo e subsídios que criem melhores condições e oportunidades. Devemos então pensar em quais políticas poderiam garantir que ninguém atribua um valor negativo implícito à vida. Imagine uma pessoa em extremo caso de pobreza e miséria, caso ela não tenha nenhuma garantia que no futuro terá algo para se alimentar, automaticamente ela já se torna um indivíduo depressivo. Uma política pública como no caso brasileiro da tão criticada “BOLSA FAMÍLIA” pode ter um impacto bem positivo neste aspecto.
Irei agora desenvolver um terceiro tipo de indivíduo que será derivado a partir do conceito ‘indivíduo feliz’. Este não necessariamente significa que a pessoa seja feliz, mas, dispensando o que anteriormente mencionei como responsabilidades com a vida e laços afetivos será o indivíduo que tem completa aversão (ou que é adverso) a morte – chamarei então este de ‘INDIVÍDUO AVERSO A MORTE’.
O ‘indivíduo averso a morte’ seria aquele que tende a ter uma preferência pela vida exageradamente alta. Um primeiro tipo de ‘indivíduo averso a morte’ seria aquele que PREFERE VIVER simplesmente por ter MEDO DE MORRER e irá variar de acordo com a crença pessoal de cada um – neste caso, o indivíduo pode ser depressivo, mas ter medo de morrer (ou acreditar ser moralmente errado se matar, e que isto vá trazer uma punição). Talvez esta seja uma forma bem explorada pela parte dominadora da sociedade com a intenção de manter viva as pessoas depressivas e fazer com que elas produzam – historicamente, a Idade Média talvez tenha sobrevivido através deste preceito com a Instituição da Igreja Católica Apostólica Romana. Neste caso este indivíduo tenderá a manter o nível de produtividade mínimo obrigatório.
Um segundo tipo seria aquele que AMA VIVER devido aos momentos de felicidade constantes pelo qual passa. Os mais ricos (ou a classe dominante da sociedade) seriam candidatos perfeitos para tenderem a ser deste tipo. Crianças e adolescentes de classe média também poderiam ser (pois via de regra, não precisam produzir, podem só ‘aproveitar a vida’). O nível médio de produtividade dos indivíduos deste tipo pode ser bem amplo, variando desde o ZERO até mesmo aos seus níveis potenciais. O nível ZERO médio de produtividade posso facilmente deduzir através da ideia que o indivíduo que já herdou as condições necessárias de viver, e como sendo um AMANTE NATURAL DA FELICIDADE irá procurar dedicar todo seu esforço à simples procura pela felicidade – mesmo que não a obtenha. Um exemplo seria um jovem de classe média que mora em IPANEMA ou COPACABANA e que não estuda nem trabalha, mas passa a ir à praia todos os dias. Um outro exemplo mais pobre, seria um adulto de classe média que vive de renda e que passa todos os dias em um bar bebendo. É claro que este nível de produtividade não é ideal para a sociedade. Já no caso extremo oposto em que o indivíduo deste tipo mantém sua produtividade média próxima de sua produtividade potencial seria o indivíduo que em sua racionalidade intertemporal atribui muito valor e acredita consistentemente em obter ‘momentos felizes’ no futuro através do seu ‘nível de produtividade presente’. Mesmo sendo este nível de produtividade ideal para a sociedade, o indivíduo deste tipo não é ideal para si próprio nem para a sociedade. Em relação a si próprio este indivíduo será prejudicado na medida em que não se vive feliz; e em relação a sociedade, este indivíduo estará muito sujeito a ter problemas psicológicos ou até mesmo desenvolver problemas psiquiátricos e potencialmente tornar-se um indivíduo socialmente inativo (mesmo que temporariamente).
O que importa neste terceiro tipo de indivíduo (o averso a morte) consiste que o seu NÍVEL REAL de produtividade e de felicidade não estará bem associado à sua capacidade racional de preferência pela vida ou pela morte.
PRODUTIVIDADE POTENCIAL E TIPOS DE INTELIGÊNCIA: MÁQUINA VS SER HUMANO
Uma MÁQUINA (um COMPUTADOR por exemplo) por mais ‘inteligente’ que seja será neutra à questão entre existir ou não existir. Seu nível de produtividade, como no caso de um computador, estará estritamente relacionado à capacidade de processamento de seu núcleo (CPU), de sua memória primária de ‘lembrar’ os dados que estão sendo processados (MEMÓRIA RAM e memória de CACHE da CPU) e também um pouco através de sua capacidade de armazenamento de dados em sua memória secundária (HD por exemplo).
Neste caso o que importa é que o nível de produtividade de uma máquina será sempre igual a sua produtividade potencial (e também importa que ela é neutra em relação a preferência entre ‘viver ou morrer’). Já o ser humano terá sua produtividade potencial relacionada tanto a fatores físicos quanto sociais (neste segundo caso entra-se a questão de oportunidades de se obter conhecimento).
Em relação aos fatores físicos irei citar de exemplo a altura de um jogador de basquete – o mais alto já tem uma produtividade potencial maior do que o mais baixo para jogar. Outros fatores físicos (que também podem ser chamados de fatores biológicos, químicos e psicológicos) consistem por exemplo na INTELIGÊNCIA EMOCIONAL e QUOCIENTE DE INTELIGÊNCIA, vulgo QI (como é estudado pela TEORIA DA ADMINISTRAÇÃO). O que importa é que existem diversos tipos de inteligência, como por exemplo a LÓGICO-MATEMÁTICA, a LINGUÍSTICA, a MUSICAL, a ESPACIAL, a CORPORAL-CINESTÁTICA (capacidade motora), a INTRAPESSOAL, a INTERPESSOAL, a NATURALISTA e a EXISTENCIAL, e que a produtividade potencial de um indivíduo não está estritamente ligada aos seus fatores físicos potenciais de inteligências particulares da mesma forma que uma MÁQUINA que é neutra a questão existencial. Um indivíduo de fato tem perdas potenciais reais relacionadas tanto a sua produtividade quanto a sua felicidade diante de suas preferências entre estar vivo ou estar morto conforme já discutido.
CONCLUSÃO
Minha proposta então consiste que para se MAXIMIZAR os potenciais níveis de FELICIDADE e PRODUTIVIDADE tanto individuais e particulares quanto para a sociedade como um todo seja de se encontrar um equilíbrio entre a completa aversão pela morte (ou preferência absoluta em se viver) e a completa preferência pela morte (ou a completa crença de uma pessoa que ela estaria menos infeliz se deixasse de viver). Isto significa uma PREFERÊNCIA NEUTRA em relação a estar vivo ou a estar morto e pode ser análogo à questão das máquinas.
Colocando de lado as responsabilidades que um indivíduo tem com a vida e com seus laços afetivos e também colocando fora suas crenças pessoais e retomando ao conceito inicial desenvolvido de RACIONALIDADE INTERTEMPORAL de (subconscientemente) calcular-se a felicidade da vida como um todo, eu diria que um valor positivo e constante próximo de zero em média e mediana melhoraria a qualidade de vida.
Esta neutralidade significa que em determinado presente momento (independentemente se é um momento feliz ou infeliz) o indivíduo torna-se imune a eventos bipolares – como uma depressão oriunda de choques negativos que afetam a racionalidade via meio psicológico, ou um evento maníaco – como uma expectativa exagerada de obter-se felicidade no futuro, caso dos ‘WORKHOLICS’.
Neste sentido, o indivíduo sente-se feliz pelo o que ele próprio está fazendo na medida em que, conforme também exposto por LEONARDO BOFF, “o altruísmo seja mais forte que o egoísmo, a capacidade de perdão predomine sobre a vontade de vingança” e assim “nesse equilíbrio a FAVOR DO BEM que se encontra a paz de espírito, a serenidade interior e, como efeito, a felicidade”. Este indivíduo tenderá a manter seu nível de produtividade próximo de sua produtividade potencial – não por estar querendo ‘enriquecer-se’ ou na esperança de obter felicidade no futuro, mas sim por estar feliz de estar contribuindo para com a sociedade. E claro também que não posso deixar de mencionar, se um indivíduo não tem medo da morte – automaticamente ele não terá medo ou preocupações exageradas de por exemplo, sair e levar um tiro. Isto faria o indivíduo ser infeliz.
Em outras palavras (de forma normativa) resumindo todas estas ideias digo: seja feliz fazendo o seu melhor possível hoje sem se preocupar com o que possa vir a faltar amanhã.
REFERÊNCIAS
BOFF, LEONARDO. Podemos ser felizes num mundo infeliz? Revista Caros Amigos on-line, São Paulo, 09 jun. 2017. [on-line]. Disponível em: <http://www.carosamigos.com.br/index.php/artigos-e-debates/10092-artigo-exclusivo-leonardo-boff-podemos-ser-felizes-num-mundo-infeliz>. Acesso em: 12 jul. 2017.
ALIEN: Covenant. Direção de Ridley Scott. EUA, Reino Unido: Twentieth Century Fox Film Corporation, 2017.