1- Da Estudantina ao Sonho de Nicolau Tigre
Três anos antes de nascer a Sociedade Musical Ordem e Progresso (SMOP), alguns jovens, moradores nas imediações da Rua do Conde, organizaram um grupo musical que foi baptizado com o nome de "Estudantina 24 de Abril de 1895". Tocar, representar e dançar era o seu objectivo.
Na sua sede inicial - um primeiro andar da Travessa de S. João de Deus - conviveu com a juventude de então, em bailes, recitais e concertos, onde imperaram a alegria e a fraternidade. Por várias casas terá andado esta divertida "Estudantina".
que tinha quinze sócios, até chegar à Rua do Olival, n.° 14, última sede da curta aventura associativa e musical que terminaria por falta de verba para liquidar contribuições em dívida, cerca de 24 meses depois de ter sido constituída.
Instrumentos e mobiliário ficaram, contudo, à guarda de pessoa solidária...
Na Rua do Conde, porém, um outro grupo - formado pelo maquinista naval Júlio Neves, Nicolau Tigre (jovem republicano, muito dinâmico), Luís de Figueiredo e, ainda, Luís Tigre, José Casimiro Gouveia, Joaquim de Almeida e Pedro de
Sá - sonhava fundar uma associação de recreio. Por essa época, o rei D. Carlos inaugurou o Aquário Vasco da Gama, e um grande arraial popular dava o tom das comemorações da viagem de 1498, incluindo, além de uma iluminação desconcertante, quermesses, tômbolas, petiscos e caramanchões de vinho.
Encontraram-se os dois grupos, vibrando com o ideal associativo: os da Rua do Conde podiam participar com dinheiro e entusiasmo; os da Rua do Olival partilharam este segundo sonho, recuperando móveis e instrumentos, mais a experiência da "Estudantina".
Nicolau Tigre desejou então que a bandeira da instituição em formação pudesse adoptar a divisa e as cores (verde e amarelo) da bandeira do Brasil, independente desde 1822, republicano há uma década. Denominou-se com o lema "Ordem e
Progresso" o novo grupo cuja fundação se efectuou em 1 de Junho de 1898.
O maestro Fernandes Fão ficou para sempre ligado à história da colectividade por ter composto o hino, no qual incluiu propositadamente, alguns acordes e compassos do hino da República dos Estados Unidos do Brasil. Nesses primeiros anos, contribuiu para a glória da SMOP um agrupamento musical, sem instrumentos de corda, conhecido por tuna.
Em 1914, quando eclodiu a l Grande Guerra, nove dos mais destacados membros da Ordem e Progresso foram mobilizados para a África e para a Flandres. João Guerreiro, morto em La Lys, a 9 de Abril de 1910, era um deles. Por Isso, como refere Mário dos Santos,
«em 9 de Abril de 1919, às 21 horas, numa imponente romagem cívica que ficou memorável, 400 dos seus sócios (…) colocaram na … do monumento a Camões uma enorme grinalda de flores naturais».
Um ano antes, em 12 de Agosto de 1918, fora aprovada em sessão extraordinária a Lei Estatutária da SMOP, sendo presidente da Assembleia-Geral Júlio Neves. No art.° 2.°, são definidos os objectivos da colectividade:
«Proporcionar o recreio aos seus associados por meio de concertos musicais, recetais, danças, bailes campestres, leituras e jogos autorizados por lei, bem como tudo, que, em harmonia com estes estatutos, possa servir de recreio para os sócios e prosperidade da Sociedade. As mulheres, juntamente com os estrangeiros e os menores podiam ser propostos sócios auxiliares.» (art.° 4.°, parágrafo único) ».
Entretanto, e consultando a imprensa desportiva portuguesa de 1929, deparámos com uma notícia acerca do torneio de fox-ball, ganho pela equipa da SMOP, assinado por Mário Costa, da qual retiramos este saboroso extracto:
«Antes do começo do encontro a equipe da "Ordem e Progresso", pela mão de uma gentil componente, ofereceu ao seu adversário um lindo ramo de flores naturais, tendo-se antes trocado entre os "capitães" das respectivas equipes palavras de saudação e garantia de uma correcta conduta e lealdade no jogo que iriam iniciar.»
De salientar que a taça ganha em 1929 (Gustavo Padinha) foi um dos cerca de 100 tesouros expostos no Pavilhão Carlos Lopes durante a 1.° Festa das Colectividades de Lisboa, em Outubro de 1996.
2- A Música e o Teatro
Olhando para o programa dos festejos do 31.° aniversário, comemorado neste mesmo ano de 1929, apercebemo-nos da importância das troupes, todas elas de bandolinistas (Os Pompeus, "Os Dandis*, *Os Patilhas", "Os Celtas).
Henrique dos Santos, associado número 14, tentou, aos oitenta e um anos, ajudar-nos a conhecer "Os Pompeus:
«Eram um conjunto musical que a gente dizia "os coça-na-barriga". Era constituído por banjos, bandolins. Eram daqui perto. Parece que havia um que morava na Rua do Olival. E então, é claro, eram conjuntos musicais que tinham vocalistas que cantavam bem, juntavam-se e faziam conjuntos musicais.»
Nas festas do 31° aniversário, esta "aplaudida troupe de bandjolinistas” participou, logo a abrir, no sábado, 1 de Junho de 1929. "com o seu vasto repertório de concertos e tangos", como se pode ler no velho programa que chegou, miraculosamente intacto, até aos nossos dias…
Durante a citada sessão, Inês de Almeida, "mascote" da troupe d"Os Pompeus", cantou alguns números dedicados aos veteranos. Foi escutado o hino da Sociedade e, depois, assistiu-se à execução de jazz e harmónio por esta troupe, que era
"sócia benemérita".
No domingo, 6 de Julho de 1930, há um piquenique na Senhora da Rocha, com provas desportivas para senhoras e cavalheiros e desafio de fox-ball abrilhantado por um distinto grupo musical, "Os Águias d'Ouro". Nesse dia, a SMOP reservou eléctricos até Algés, conforme relata um documento sobrevivente, que a traça e a incúria não conseguiram calar...
No ano seguinte, a 23 de Maio de 1931, uma comissão de senhoras "Pró-Estandarte" organizou uma "encantadora festa" que contou com a participação de uma amadora de sete anos (a Fernandinha), de Clarisse, que entoou melodias brasileira, e das "cantáctrizes" Cecilia de Almeida e lrene dos Santos, intérpretes de fado, seguindo o programa com mais canções pelas artistas Cristina Mendes, Elisa de Guisette e Maria Amélia. Filomena Casado, Alda de Sousa, Maria Cristina e
Maria Laura, a troupe jazz “Os Indianos" e o bailarino chileno e cantador de tangos Rubens de Lorena completaram o elenco da sessão. A comissão era constituída por Palmira do Lago, Esperança Martins, Eulália d'Oliveira, Ana Correia
Justina Correia, Emília Santos, Aurora d'Almeida e Clarisse da Costa.
Em 1932, no inquérito enviado à Federação das Sociedades de Educação e Recreio (FSER), afirmaram ter cento e cinquenta sócios efetivos, dois honorários e dez protectores. No ano seguinte, foi constituída a secção desportiva, presidida por Severino de Paiva Machado, sendo primeiro secretário o professor Pierre Charles. A primeira festa desta secção ocorreu em 5 de Maio de 1934, com a apresentação de uma classe infantil de ginástica.
O salão de festas foi inaugurado a 12 de Fevereiro de 1933, às 14 horas, com uma sessão solene presidida pelo Governador Civil. Seguiu-se, pelas 17 horas, um concerto musical pela Banda da Sociedade Filarmónica Esperança e Harmonia (um das três "mães" da actual Academia de Santo Amaro...). No programa havia uma zarzuela, marchas, a abertura de ”O Barbeiro de Sevilha", bailados da "Coppelia" e a fantasia "Marcha aux flambeaux". A troupe jazz "Os Capicuas" abrilhatou a sessão solene e, às 21 horas, o Grupo Dramático da SMOP levou à cena Com o Amor não se Brinca, de João da Costa Pio, que interpretou um dos papéis.
Durante os anos trinta, os bailes foram animados pelas orquestras jazz "Os Lusos". "Os Fininhos". "Os Sirba*. *União e Alegria", "York", etc.
Em Março de 1934 realizou-se, sob a égide de uma comissão de senhoras frequentadoras da coletividade, a "deslumbrante Festa de Micarême". Aliciantes: eleição da rainha e damas de honor e bailes com a orquestra jazz "Flor de Liz e a troupe jozz ”Os Teimosos" No sábado, 17, fez-se a "Serração da Velha". Mas " não há bela sem senão" e, em 16 de Abril de 1937, uma carta anônima denunciou, junto do Governo Civil, que um diretor agredira um legionário. A 28 de Abril, o adjunto do Comando da PSP, capitão Hipólito, abordou assim a situação:
“A Sociedade realizou um baile na sua sede (..) no dia 11 do corrente. Cerca da 1 hora da madrugada, um dos membros da direcção de nome José Fernandes (..) depois de uma troca de palavras, agrediu com uma bofetada o legionário n. 2458 José Monteiro.»
A 3 de Maio, o mesmo oficial emitiu a certidão de encerramento, por ordem superior:
«Certifico que anteontem, pelas 17 h, foi encerrada a sede da Sociedade Musical Ordem e Progresso (...) e na presença de José Joaquim Sanfôna sócio daquela colectividade foi colocado na parte exterior de duas portas que comunicam com a escada, sobre nastro e lacre encarnado, o selo desta Polícia. A respectiva chave ficou nesta Secção.»
A intervenção da Federação aconteceu três dias depois:
«Esta Federação, escreveu o Presidente M. Vaz Ferreira, procedendo a inquérito, veio a saber que o motivo do encerramento determinado por V. Ex.° se baseava no facto de ter havido naquela colectividade um conflito entre o tesoureiro respectivo e um indivíduo estranho aos seus associados, conflito originado pelo estado anormal em que ambos os indivíduos se encontravam (...) Trata-se de uma colectividade com mais de 40 anos de existência, que pela primeira vez sofre uma penalidade desse Governo Civil, por má orientação e procedimento incorrecto de um director (...) A sua produção associativa é constituída por gente digna e ordeira. A sua actividade nesta já longa vida é digna dos nossos maiores encômios.»
A reabertura efectuou-se a 10 de Maio de 1937, pelas 21 horas, não havendo, no processo que consultámos no Governo Civil de Lisboa, mais nenhum incidente documentado.
Em Abril de 1942, a orquestra "Dimmi" participou numa matinée dançante dedicada às empregadas e empregados dos Armazéns do Chiado. No mesmo ano, a escultural Lucy Sazrac interpretou sambas e rumbas. Os "Fatalistas Jazz" são referidos em vários anúncios ao longo da década de 40. Dois anos depois, em Junho, M. Vaz Ferreira adiantou:
«Dado o nome dessa prestante instituição, que abrange a divisa dos Estados Unidos do Brazil, na sessão solene recentemente realizada na vossa sede, comemorativa do aniversário da SMOP, foi pelo jornalista Simões Coelho alvitrada a iniciativa de se realizar nas vossas salas uma festa, de carácter popular, ao sr. Embaixador e colónia, daquela República irmã, onde a língua portuguesa é oficial.»
A Federação das Sociedades de Educação e Recreio (FSER) decidiu patrocinar e colaborar na festa realizada em nome de todas as federadas na sede da SMOP, na noite de 1944.
Em 16 de Junho de 1946, pelas 17 horas, teve lugar a distribuição de um bodo a quarenta e oito pobres da Freguesia de Santos. Em 1948, repetiu-se o donativo a cinquenta pobres, no dia 6 de Junho.
Em 5 de Abril de 1951, O Século referiu uma homenagem ao conjunto "Os Fatalistas", onde participaram José Viana, Humberto Madeira, os clowns José e Ermilita e os conjuntos "Loucos do Ritmo", "Diabos do Céu" e o quinteto "Vanks Stars".
Em 14 de Outubro de 1952, o mesmo jornal anunciou uma conferência com Almeida Oliveira: "O recreio e o desporto como elementos no progresso e desenvolvimento do indivíduo.”
Em 27 de Novembro de 1954, escrevia-se no Diário de Notícias: "A Sociedade Musical Ordem e Progresso tem mantido com um magnífico entusiasmo e admiráveis resultados uma secção de ginástica.
No final dos anos cinquenta, durante o 61.° aniversário, apareceram bailarinas espanholas. Há a notícia de uma excursão ao Luso e Buçaco, por 150$00, incluindo a passagem, o jantar e a dormida em Coimbra, refeições em Tomar, Leiria e
Caldas da Rainha.
No que concerne ao teatro, em Outubro de 1934, numa homenagem à distinta actriz Júlia Alves, participaram Ercília Costa, Dina Teresa e Nascimento Fernandes, entre outros. Hermengarda de Morais, João da Costa Pio e Melo Barreto foram alguns dos actores que durante vários anos animaram o Grupo Cénico. A Voz do Sangue, Ao Cair das Folhas e O Diabo Atrás da Porta são alguns dos títulos que tiveram êxito. Anahory e Humberto Madeira participaram, em 1941, numa festa de consagração de Jaime Correia. Em Dezembro de 1942, Emílio Correia, Lucinda Trindade e Júlio
Martins cooperaram com rábulas e quadros de revistas num "formidável" espectáculo de music-hall. Também por essa época, a congénere "Os Combatentes representou no palco da SMOP a revista Arco da Velha. Mirita Casimiro, Vasco Santana e Maria Clara integraram as Variedades de 7 de Outubro de 1944. Maria Lalande, Irene Isidro, Hermínia Silva, Lucília Simões, João Villaret, Assis Pacheco, Hortense Luz, António Silva, Costinha, Santos Carvalho e Vasco Santana completaram o elenco que, em 22 de Dezembro de 1945, homenageou Luiza Satanela. Durante um grande sarau luso-brasileiro, ocorrido no âmbito da celebração das bodas de ouro, em 2 de Junho de 1948, a companhia teatral brasileira de Eva Todor também foi alvo de homenagem. Alguns destes factos estão imortalizados em placas que foram colocadas nas paredes laterais do palco. Na sessão de reconhecimento póstuma a João Pio, em 26 de Novembro de 1949, atuaram Vasco Santana e Irene Velez, que reproduziram, de Aníbal Nazaré e Nelson de Barros, um episódio de Lélé e o Zéquinha. A apresentação foi de Igrejas Caeiro.
O Pinto Calçudo, de André Brun e Ernesto Rodrigues, exibiu-se nos anos sessenta, bem como Cama, Mesa e Roupa Lavada. José Viana e Leónia Mendes subiram ao palco da Ordem no início dessa década. Badaró e Camilo de Oliveira surgiram em 1961, numa grandiosa noite da Madeira, com Max. No aniversário de 1961, foi inaugurada uma biblioteca. O associado n.° 9, que desempenhou as funções de bibliotecário, contou:
«Aquilo era um mimo. Era uma coisa linda, frequentada por senhoras (..) tínhamos lá o aviso "Silêncio por favor" porque aquilo era uma casa de leitura. Pagava-se cinco tostões para levar um livro para casa e, depois de passar esse período, havia uma multa de 1 tostão por cada dia que passava. Houve um associado que pagou o livro e a multa: duzentos e tal escudos....»
E, acerca dos bailes, este associado octogenário recordou: "No baile da chita, a afluência era tanta que a gente tinha medo do balcão.." António Jorge Bispo também se lembra: "A primeira vez que se fez o baile do dia da mãe, era tanta gente na rua, e a porta fechada, porque havia gente a mais...:”
«Há um período muito engraçado - acrescentou o sr. Henrique - em que aparecia tanta "rapaziada" que naquela noite o Videira lembrou-se de cozer batatas com cabeças de pargo... e então estava lá um artista que fomos buscar ao teatro que se saiu com esta: "Tenho visto muita coisa, agora um pargo com duas cabeças, nunca vi!"» Entrevista concedida em 09/03/2001
Quanto aos cançonetistas, apareceram sobretudo nos anos 60. Maria Marize, Mariete Pessanha, António Calvário, Gina Maria, Max, Fernanda Baptista, Simone de Oliveira e Joaquim Cordeiro actuaram em 2 de Junho de 1962.
3- Organização da Marcha da Lapa
As colectividades têm sempre como surpreender! À medida que se desencantam novos documentos em espólios esquecidos pelo tempo e pelas pessoas, são também novas as histórias que surgem, num nunca-mais-acabar de episódios pitorescos, verdadeiros retratos de uma época. Foi neste contexto que surgiu, em estado de conservação razoável, o programa oficial das "Marchas dos Bairros de Lisboa" de 1940.
Nesse precioso testemunho, sabemos que em 24 de Junho, entre as 22 e as 23.30 horas, desfilaram doze marchas, num percurso que se iniciou no Arco da Rua Augusta e terminou no Parque Eduardo VII.
A SMOP organizou a marcha da Lapa, de cujos versos, da autoria de Francisco dos Santos, se destacam estes excertos:
«Sobre as ondas revoltas do alto mar alegres, sorridentes, frente erguida na pesada tarefa de pescas, vamos angariando o pão da vida. (..)
Connosco vai a Fé para todo o lado, sofremos amarguras, mas deixá-lo; O pão dos nossos filhos é sagrado, e é preciso lutar para alcançá-lo.»
Do mesmo autor, a marcha - que evocava o mar e a colónia ovarina - cantou uma "Desgarrada da Lapa", da qual também se apresentam excertos:
«Fica sabendo, Gracinda, que o nosso amor sente efeito, tu és a barca mais linda que navega no meu peito.
Ó Manel, não digas mais, pois dou-te a informação; Só tu serás o arrais, desta tua embarcação.
Unidos os nossos destinos a nenhum de nós escapa de mandar tocar os sinos da Capelinha da Lapa.»
4- O desporto e a juventude
Em termos de cultura física, no ano de 1933, o professor Piere Charles orientando classes de ginástica, iniciou o percurso desportivo da Ordem. Duas décadas depois, tornou-se normal, comforme provam os recortes da imprensa de então (p.ex, O Século de 16 de Novembro de 1951 e de 21 de Junho de 1952),a realização, com pompas e circunstância, de saraus de ginástica na coletividade.
Nos anos sessenta, os irmãos Rodrigues, que viviam no segundo andar do prédio da SMOP, ambos atletas do Ginásio Clube Portugués, imprimiram uma forte dinâmica desportiva, contribuindo para a popularidade da luta greco-romana.
Nessa altura, uma equipa de gabarito alcançou vários galardões nacionais e individuais. Em 8 de Junho de 1960, o Diário Popular constatou que a SMOP “tem desenvolvido grande ação no campo da educação física". No 65° aniversário o
Século escreveu:
«A Sociedade Ordem e Progresso, prestimosa coletividade das Janelas Verdes, que dedica toda a sua actividade à educação física, mantendo várias secções, mercê do denodado esforço dos seus dedicados dirigentes.»
Segundo Galvão Correia, presidente da Direcção durante treze anos, a época áurea do desporto na Ordem e Progresso verificou-se em 1967-68, com duzentos e cinquenta atletas. "Era um cheiro a suor naquele salão!", comentou, com um sorriso de orgulho e nostalgia...
O futebol de onze, a pesca desportiva e o ténis de mesa foram outras modalidades que proporcionaram o sucesso da prática desportiva na Sociedade. Em meados dos anos setenta, no papel timbrado da SMOP podemos ler que esta prática ginástica, luta greco-romana, halterofilismo, cultura física, andebol, basquetebol, para além das modalidades atrás referidas.
Numa altura em que por razões políticas se viu impedido de prosseguir a sua carreira no teatro, no cinema e na rádio Igrejas Caeiro foi encarregue pelo então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Enq° Fernando Santos e Castro (1970/72), de proceder a um levantamento exaustivo das necessidades das colectividades de Lisboa. Essa incumbência levou-o a visitar uma série delas, sobre as quais produziu relatórios que foram entregues ao Presidente da autarquia que, em função destes, tomou as necessárias providências.
Num desses relatórios sobre a SMOP, pode ler-se que num momento menos feliz da vida da colectividade:
«.. vizinho implicativo que ”arranjou há seis anos um atestado médico declarando que sua mulher sofre de doença mental tornando-lhe insuportável qualquer ruído”, o que impediu a realização de quaisquer actos recreativos na sua sede. "Os monitores de ginástica", prossegue aquele conhecido artista, "foram dispensados e a vida da agremiação foi diminuindo de ritmo até à quase total paralisia". "Hoje - conclui o representante da CML iunto das coletividades de cultura e recreio - só a teimosia duma dezena de sócios a suportarem do seu bolso as despesas mensais faz com que ainda não tenha desaparecido a 'Ordem e Progresso' de grande historial e tradicão."»
Para gáudio daqueles que auguraram boas perspectivas para a associação, os jovens atletas da colectividade trouxeram a esperança de, como escreveu um deles estudante de Direito, no jornal SMOP 2000: "A Ordem e Progresso” deve e assumir um novo discurso (…) sem miserabilismos e obrigatoriamente arrojado.”
Alvaro Neves foi o presidente do Centenária. Como seria de esperar, a efeméride foi condignamente comemorada.Para o engrandecimento desses festejos, contribuiu o seu antecessor, Carlos Martins, o qual, referindo-se à juventude arrimou um dia:
«É importante estarmos virados para o futuro e contarmos sobretudo com os jovens, que aprendam, com nós, aprendemos, a solidariedade, o respeito e o amor, nestas grandes escolas de democracia que são as Sociedades de Cultura e Recreio, para que amanhã nos orgulhemos deles, como espero que os mais velhos se orgulhem de nós.»
A provar que as expectativas foram honradas um jovem conduziu a colectividade na viragem do milénio. Rodeado de rapazes e raparigas, estimulando várias actividades do teatro a dança, da poesia ao desporto, assumiu a tarefa de atravessar dois séculos ao leme da Sociedade Musical Ordem e Progresso.
A sucessão fez-se sem dramas. Contudo, no n° 3 do boletim Ordem e Progresso 2001, relatando as inúmeras asvidades desenvolvidas ao longo de cerca de cinquenta dias de festejos dos 103 anos, o coordenador da Direcção seguinte
salientou.
«Tudo isto só se consegue com muita entrega em torno do ideal de dedicação aos outros, porque sem os outros não existe o colectivo que dá substância à colectividade.»
No mesmo jornal, o director cultural, Gonçalo Freitas, assegurou que "jovialidade rima com responsabilidade e que ambas as palavras rimam com qualidade!”.
Em suma, quando os mais novos são estimulados, o associativismo, não obstante todas as contrariedades, tem futuro.
Comovido pelo facto de haver "muita gente que não tem casa de banho", Carlos Melo" encontrou uma solução para, "pelo menos aos sábados, virem aqui tomar banho”, Tal como no seu início, há colectividades que cumprem um papel social insubstituível pela proximidade à comunidade. Merecem o nosso reconhecimento.
Entretanto, nos anos de 2002 e 2003, Francisco Nascimento assegurou a gestão da sociedade. Fez-se desporto, entraram novos associados - uma média de 20/30 por ano -, o jornal continuou a ser elaborado e o palco foi refeito, pois os barrotes de sustentação não garantiam segurança. As direcções de 2004-2006, presididas por Carlos Melo, que repetiu a experiência de 1999 e 2000, reinventaram a tradição dos bailes. Casais de idosos e de meia-idade passaram a confraternizar todas as quintas-feiras, sábados e domingos, em matinées dançantes asseguradas por Emídio Carlos. Há também aulas de dança de salão e guitarra portuguesa. Actualmente, a coletividade tem 430 associados, que praticam futebol de salão, ginástica e atletismo e participam em torneios de pesca e ténis de mesa.
Texto retirado do livro "Coletividades de Lisboa Freguesia dos Prazeres" da Câmara Municipal de Lisboa