Ao falar deste estabelecimento (...), impus a mim mesmo o dever de começar por evocar o nome do seu fundador, o senhor Joaquim Guedes da Silva, figura de rara sensibilidade, prestigiado livreiro do seu tempo, autodidata e meu venerando e nunca esquecido mestre.
Parece-me estar a ouvir os seus ensinamentos. Nunca se cansava de dizer que era necessário tratar os livros com respeito e carinho.
A Livraria Académica foi fundada em 16 de novembro de 1912 e começou a atividade na Rua das Oliveiras, n.º 75, transferindo-se um ano depois para a Rua dos Mártires da Liberdade n.º 10, onde ainda hoje se encontra.
Foi no mesmo ano da sua fundação que surgiu na cidade do Porto o notável movimento cultural que dava pelo nome de "Renascença Portuguesa", com sede na Rua dos Mártires da Liberdade, n.º 178, duzentos metros acima da Livraria Académica. Não podemos falar da "Renascença Portuguesa" sem lembrar o seu órgão literário oficial, que foi "A Águia" – revista literária, filosófica, científica e artística, que a partir da implantação da República procurou, no dizer dos críticos, criar uma superestrutura mental em Portugal, adequada ao novo regime, ou que procura satisfazer, do dizer de Jaime Cortesão, "a necessidade sentida por todos, de dar um conteúdo renovador e fecundo à revolução republicana".
Dizia o senhor Joaquim Guedes da Silva que figuras de grande prestígio, tais como Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Teixeira de Pascoes, Raul Brandão, Teixeira Rego e outros, quando se dirigiam à sede da "Renascença Portuguesa" faziam escala na Livraria Académica e aí trocavam impressões sobre os mais variados assuntos.
Eu, atual proprietário, no dia 11 de outubro fui aceite, como marçano, e aqui me encontro desde essa data.
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Nuno Canvavez