Zlatka Timenova Nora Mitrani: um retrato /im/possível


O que sabemos de Nora Mitrani? Muito pouco, mas o suficiente para despertar a curiosidade. O objetivo da nossa comunicação é fazer um esboço de retrato de Nora Mitrani. Digamos logo que os espaços vazios serão mais do que os espaços preenchidos. Porém, não é o vazio que atrai a atenção, que dá origem ao desejo de saber mais? Nora Mitrani situa-se num cruzamento de terras (nasceu em Sofia, Bulgária, viveu em França, passou por Lisboa, morreu em Suíça), de eventos históricos trágicos, de várias convicções e estudos (passou pela fé católica, estudou filosofia, literatura, sociologia) para chegar ao porto do Surrealismo. Toda a peregrinação do seu pensamento e das suas experiências apontava para um final deste género.  A vinda de Nora a Portugal no final da década de 40, o encontro com os surrealistas portugueses e, sobretudo, o discurso que ela proferiu em Lisboa, marcam um importante momento na evolução das suas ideias sobre o Surrealismo. De regresso a Paris, Nora Mitrani publica um conjunto de reportagens sobre o Portugal que conheceu. Mais tarde. nas páginas da revista Le surréalisme, même 2, aparece um texto de Nora Mitrani sob o título Poésie, Liberté d’être, que apresenta Fernando Pessoa ao público surrealista. Portanto, a visita de Nora Mitrani a Portugal não ficou sem continuação no seu regresso a Paris. Mas quem foi Nora Mitrani?  André Breton admirava-a e dizia da escrita dela que “era um belo conjunto do nobre e do grave com o ardente”.  


Zlatka Timenova. Vive e trabalha em Lisboa. É doutorada em Línguas e Literaturas Modernas - Literatura Francesa, pela Universidade de Coimbra. Ensinou Língua e Literatura Francesas e Língua e Cultura Búlgaras na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É investigadora integrada no CLEPUL e coordenadora da Linha 2 (GI 4) Estudos Luso-Eslavos. É representante para Portugal da AIAM (Associação Internacional dos Amigos de Malraux). Os seus interesses de investigação situam-se na área da Crítica Literária, Literaturas Comparadas e Teoria da Tradução. Publicou vários artigos e capítulos de livros nas áreas mencionadas. Estudou as marcas da censura na tradução para português do romance Germinal d’Émil Zola, as formas do silêncio na escrita de Marguerite Duras, a tradução para o búlgaro dos versos de António Ramos Rosa, publicou uma análise comparativa das características do haïku búlgaro e português, estudou o eco do haïku na poesia de Fernando Pessoa-Alberto Caeiro, etc. Escreve e publica haikus, tem 8 livros publicados em Portugal, Bulgária, Marrocos e França.