Jacqueline Kaczorowski [via ZOOM] Modernismos Periféricos: Apontamentos sobre particularidades brasileiras e angolanas 


A crítica literária brasileira, ao longo de seu desenvolvimento, precisou lidar com o deslocamento de formas modernas de suas condições sociais de origem e os desajustes decorrentes na produção artística nacional. A especificidade do desenvolvimento histórico brasileiro, que engendrou “um tipo desconcertante de progresso, que reproduzia as desigualdades anteriores, pré-modernas, em estágios cada vez mais novos, sem nunca dissolvê-las” (2010, p. 240), segundo Roberto Schwarz, constituiria um padrão “chave das peculiaridades da cultura brasileira, com sua queda tanto pelo modernismo mais radicalquanto pelas infindáveis acomodações” (2010, p. 240). Ao passo que no Brasil a assimilação das vanguardas artísticas europeias do início do século XX assumiu caráter formativo – em desacordo com sua função destrutiva original, uma vez que se deu num momento em que era preciso ainda construir uma ideia de identidade nacional –, em Angola a linguagem modernista chegou também somada às experiências brasileiras, adicionando, portanto, outros repertórios. As modificações que estas tradições literárias impuseram às formas importadas por necessidade expressiva de sua matéria, posto que era preciso nos dois casos, embora de formas distintas, lidar com o dado colonial e a inadequação destas formas, parecem aspecto mobilizador de reflexões de interesse sobre estéticas modernistas e suas heranças.



Jacqueline Kaczorowski Doutora Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH – USP), soborientação da Profa. Dra. Rita Chaves. Realizou estágio de pesquisa na Universidade de Lisboa sob supervisão da Profa. Dra. Ana Paula Tavares e atualmente é membro dos grupos de pesquisa PIELAFRICA (Pactos e impactos do espaço nas literaturas africanas de língua portuguesa – Angola e Moçambique), vinculado à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e GEHISLIT, vinculado ao Departamento de História da PUC-Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais).