Frederico van Cabala “Antropofagia”: 150 anos de visões e revisões de uma ideia


A presente comunicação pretende abordar reflexões sobre a “Antropofagia” na literatura e, em menor medida, nas artes visuais do Brasil. Para tal, a apresentação fará um balanço dos últimos 150 anos e terá como foco quatro “momentos decisivos”, nos quais a expressão foi utilizada, repensada e questionada por escritores e artistas. O primeiro momento a ser levado em consideração está no romance Ubirajara, publicado por José de Alencar em 1874. Esse livro, que encerra a chamada “trilogia indianista” do autor, apresenta considerações significativas em relação à ideia de “Antropofagia” e, conforme pensa João Cezar de Castro Rocha, até mesmo antecipa algumas considerações que seriam postas na mesa no modernismo brasileiro, 50 anos depois. O segundo passo desta comunicação se localiza justamente na escrita do “Manifesto Antropófago”, publicado em 1928 por Oswald de Andrade, a fim de vislumbrar como a valorização do conceito se coaduna com a proposição de uma nova perspectiva estética e cultural. Como terceiro ponto, passaremos pela revalorização do conceito de “Antropofagia” nos anos de 1960, principalmente com apropriações de movimentos da contracultura brasileira ligados a artistas como Hélio Oiticica e José Celso Martinez Corrêa. Por fim, chegaremos à atualidade imediata, com a percepção de ecos da Antropofagia nos agudos questionamentos realizados por artistas indígenas contemporâneos brasileiros, como Denilson Baniwa, que utiliza o termo Reantropofagia, e Jaider Esbell. A partir desse panorama, espera-se contribuir com reflexões de como a ideia de “Antropofagia” passa por diversas ressignificações e se apresenta como ponte importante para a compreensão de diferentes perspectivas culturais brasileiras.


Frederico van Erven Cabala é doutor em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Possui mestrado em Literatura Brasileira e Teoria da Literatura também pela UFF. É autor dos livros As voltas de O rei da vela no teatro brasileiro moderno (Editora Alameda, 2024) e Arquitetos da decadência: Lúcio Cardoso e Nelson Rodrigues (Editora Pangeia, 2024) e possui ainda capítulos e artigos em periódicos dedicados sobretudo às relações entre teatro brasileiro, modernismos e historiografia. Desde 2023, atua como Professor Substituto de Literatura Brasileira na Universidade Federal Fluminense.